Mostrando postagens com marcador religião. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador religião. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Em silêncio

Há vida no silêncio.

E desejo. Desejo de que o apocalipse se concretizasse de modo repentino, sem aviso prévio, sem anticristo e tudo mais. Que o céu pudesse se abrir e ceifar toda essa gente que vive em e de desgraça. Sei que eu iria junto para o inferno, mas se sadismo é pecado, eu ao menos teria o prazeroso pecado de ver certas pessoas sofrerem. Em meio ao caos do apocalipse, me restaria um sentimento de justiça, de dever cumprido, uma contraditória leveza da alma, enquanto me afastaria gradativamente da beleza da divina luminosidade celeste rumo aos confins dos porões do inferno.
Eu queria o apocalipse, ainda que ele pudesse custar minha vida.
É a escolha mais covarde entregar a Deus e aos anjos a esperança e a humanidade que não somos capazes de concretizar. Não me importaria de ter meus projetos interrompidos pelo repentismo do juízo final. Aliás, até gostaria.

Mas enquanto o apocalipse não vem, resta o silêncio; a indiferença. Não a desistência. Nada a falar, nenhuma vontade de provocar. O coração nem balança.

O silêncio e a indiferença; quanto aos rumos do país, quanto às escolhas alheias, quanto aos sentimentos. Aliás, no silêncio há mais instinto do que sentimento. O instinto de sobrevivência que se sobrepõe a tudo que possa representar perigo. O silêncio instintivo que anseia por previsibilidade, por segurança e que não se sujeita ao vexaminoso constrangimento que um "não" afetivo é capaz de proporcionar. O instintivo silêncio de quem só quer andar na linha e se auto-preservar, tentar chegar até o final sem se pôr a pensar sobre qual final.

Seguir. Com a força do preto. Sem modismo ou rock and roll. Só preto. A imponência e a presença de quem se põe em preto. No silêncio do preto não tem mimimi, sacanagem ou deslealdade; há só seriedade. Há vida.

As tristezas do coração são como esterco. Fazem florescer a alma. Num jardim de sentimentos não correspondidos, a indiferença é a chuva que faz a alma frutificar. Não há nada que seja digno de se falar, nem convite que seja merecedor de se arriscar. É preciso silenciar, não se constranger, não se envergonhar. Se para sorrir depois é preciso chorar antes, melhor não querer sorrir, para não ter que chorar.

Não falar, não escrever. 

Delirar.

terça-feira, 27 de março de 2018

Esquina da vida

Em meio ao lixo da noite,
Um corpo se oferece:
Uma alma pura
Cujo corpo perece.

Em uma esquina escura,
Um veículo aparece.
Por disparos de preconceito
Seu corpo desfalece.

Cápsulas,
Um corpo,
E sangue.
Tudo pelo chão.

Dez tiros.
Alguém ouviu.
De quem?
Ninguém viu.

O que dirão os homens?
Mais uma estatística.
Um crime sem resposta,
E sem interesse da polícia.

Vi seu corpo,
Como não gostaria de ver.
Me restam as lembranças
Daquela tarde com você.

Um mês depois...
Você me perdoa?
Só vi porque senti.
Não te esqueci.

Pessoa de bons adjetivos,
Mas será julgada sem razão.
Desculpe-me pelos vivos.
Por eles te peço perdão.

Deus perdoa;
Foi homem,
Viveu o abandono
E morreu de injustiça.

Que na imensidão da morte
Abra-se o caminho da vida,
Cicatrizem-se as feridas
E Sua alma encontre a paz.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Justo

Hoje, em meio a um momento de melancolia, me peguei pensando sobre o sentido do que seria justo.

Dizia um professor meu, daqueles arrogantes de bochechas rosadas, que justo são os sutiãs, pois oprimem os grandes e levantam os caídos... Coisa tosca. Até isto a gente tem que ouvir em uma universidade pública... Mas enfim, não é dessa gente que venho lhes dizer.

O que é justo, meu Deus? Assistindo ao noticiário, estava vendo o semi-desfecho da história de um cara de classe média alta que num surto, sob efeito de drogas, agrediu violentamente a faxineira de seu prédio, deixando-a com várias sequelas físicas e psicológicas após mais de 1 ano do fato.

Não pude deixar de pensar no quanto eu sou um cretino quando digo que estou sempre nos lugares certos, mas nas horas erradas. Cara, esta mulher deu um azar do caralho. Sabe?! Encontrou um louco em um momento de loucura e ele praticamente acabou com a vida dela. E a Justiça dos homens, o que disse? Disse que ele continua preso e será levado a Júri Popular. E o que vai acontecer? Ele vai ser punido, penso eu, de modo exemplar com uns bons anos de prisão. Mas e a faxineira espancada até quase a morte? Fazem 2 meses que ela começou a receber um auxílio-doença do INSS, após uns 10 meses tendo que depender de uma filha para sobreviver. Ah, mas ela vai ganhar, após uns bons anos de espera, uma indenização gorda no processo que deu entrada na Justiça Cível. Então está "tudo certo"; cada um terá o que lhe cabe por Justiça...

O que é justo, meu Deus? Por um momento, pensei no que passa na cabeça desta faxineira. Será que foi capaz de perdoá-lo de verdade e só quer mesmo que ele fique preso e lhe indenize? Ou será que ela só teria paz e sentimento de Justiça caso soubesse que ele foi morto?

Veja. A medida do que é justo é muito subjetiva. A Justiça dos homens aplica trocentas leis para tentar reger o mundo de forma que ele aparente ser justo e que as pessoas possam ter paz. Mas, por diversos fatores, é só uma falsa sensação de paz.

Em uma sociedade cada vez mais individualista, justo é o que eu acho ser justo. Cada um quer medir as coisas com sua própria régua de Justiça: "Eu matei porque ele mereceu morrer"; "Eu não vou pagar NADA porque o serviço não está do jeito que eu quero"; "Eu quero terminar com você porque você não é como eu queria que fosse."...

Somos injustos quando queremos fazer a nossa Justiça. 

Às vezes, somos injustos com nós mesmos. Não nos achamos dignos de vivenciar algo, de receber algum reconhecimento/elogio, de amar ou de ser amado por alguém e por aí vai. E esta, talvez, seja uma das maiores injustiças. Porque quando assim agimos, boicotamos a nós mesmos e, algumas vezes, também as pessoas que estão ao nosso redor. Boicotamos as oportunidades que a vida, gratuitamente, nos oferece. E quando dizemos "não" a uma oportunidade, às vezes impedimos que pessoas também possam usufruir desta oportunidade ou dos reflexos dela junto conosco. Quando somos injustos com nós mesmos pensando que estamos sendo justos e exercitando nossa maturidade e senso crítico, às vezes também somos injustos com os outros. 

Me refiro a muitas coisas. Por exemplo: quem nega uma boa proposta de emprego por insegurança, medo de não ser capaz, às vezes nega a si e a sua família uma oportunidade de uma vida melhor; quem nega a oportunidade de viajar com os amigos porque acha que não consegue dar conta de tudo o que tem que fazer até a viagem, nega a si e a eles momentos inesquecíveis juntos; quem nega o amor de uma pessoa por não saber se é capaz de corresponder a tamanho afeto, às vezes nega a si e ao outro a oportunidade de viver um amor que pode ser o "amor de toda a vida"; quem nega a um estranho um pedido de ajuda por medo de ser roubado, às vezes nega ao outro um auxílio no momento mais crítico da vida.

Veja. Todas essas negativas são escolhas que fazemos com a sensação de que são justas, afinal, sentir-se inseguro aparenta quase sempre ser um motivo justo para não fazer algo. Mas esta escolha justa, no entanto, acaba, muitas vezes, sendo injusta com nós mesmos e com os outros. Óbvio que existem medos justificáveis e que se confirmam, mas quando damos somente voz aos nossos medos, eles sempre aparentam conduzir à decisão justa, mesmo àquelas que não são.

No fim, a vida é um constante andar dentro de um túnel escuro no qual a única certeza é que há uma luz em seu final. Caminhamos todos, inseguros, em direção a essa luz. No caminho, para ganhar coragem de seguir, nos apegamos a coisas que achamos que trazem segurança para seguir (família,  dinheiro, religião, afeto...). Algumas vezes, enquanto caminhamos, percebemos que algumas dessas coisas não trazem a segurança que esperamos delas e ficamos inseguros em meio às incertezas deste grande túnel escuro. Sentimos medo. Ouvimos outras pessoas gritando de medo e outras dizendo que não adianta seguirmos porque o túnel escuro não tem fim. Desanimamos. Desacreditamos. Sucumbimos às decisões medrosas que parecem ser as mais seguras e justas. Nos isolamos por medo de não saber se estamos pegando na mão de pessoas confiáveis em meio à escuridão. E este isolamento, muitas vezes, nos faz bater cabeça por longo tempo perdidos dentro do túnel. Somos injustos com nós mesmos por não confiarmos nas pessoas e, ao negarmos nossas mãos, muitas vezes deixamos que os outros também fiquem perdidos sozinhos, como nós, tentando chegar ao fim do túnel. E assim, alguns, após longo isolamento, viram bicho, perdem a humanidade, tornam-se frios e insensíveis, perdendo até mesmo a capacidade de ver a luz.

No fim, para quem acredita, só Deus sabe onde está a justiça de nossas decisões. Só Ele sabe o que o grande túnel escuro ainda nos reserva pela frente. Mas somos dotados da capacidade de vencer, de superar cada pequena batalha diária (aquelas que só nós vemos e sabemos quais são). Fomos feitos à imagem e semelhança do Criador, logo, temos força transformadora, somos capazes de transformar e vencer o que nos cerca. Deus, como ser onisciente, sabe que não somos justos como Ele em nossas decisões, pois somos seres falhos. Então, talvez por isso, o que ele realmente espera de nós é que não decidamos guiados pela segurança dos nossos medos, mas que tenhamos coragem: coragem de seguir em meio às incertezas do túnel; coragem de arriscar diante das oportunidades; coragem de ajudar, se propor, viver e amar. Porque quando agimos com coragem, buscamos força, e quando buscamos força, buscamos a Deus e, assim, somos capazes de ser instrumentos de sua Justiça e de sua vontade em nossas vidas e nas das outras pessoas.

domingo, 3 de dezembro de 2017

Gratidão

Esta semana eu me lembrei de um dia muito singular de minha vida; o dia em que quase passei fome. Eram tempos difíceis, eu tinha lá meus 13 anos de idade e, juntamente com minha mãe e um ex-companheiro dela, morava em uma casa alugada. Nesta época, embora o ex-companheiro de minha mãe tivesse emprego, ele quase não ajudava em casa e minha mãe mantinha a casa quase que sozinha, com o dinheiro das unhas que ela fazia até aos domingos.

Mas um dia não deu.

O ex-companheiro da minha mãe, brigado com ela, viajou para trabalhar fora do estado por alguns dias e não deixou nem um puto de um centavo.

Era o último dia da Festa da Penha e eu e minha mãe íamos à missa de encerramento no parque da Prainha. Na hora de sair de casa, minha mãe me disse para beber água antes de sairmos, pois não tínhamos dinheiro para comprar uma garrafinha de água mineral no local da missa, afinal, só tínhamos, sei lá, uns R$ 3,00, e precisávamos comprar pão no dia seguinte.

Naquele dia, eu entendi o que minha mãe, com a delicadeza das mães, quis me dizer simbolicamente. Quis me dizer indiretamente que, diferentemente dos anos anteriores, eu não poderia comer pipoca, cachorro quente ou alguma outra coisa no local da festa, pois a gente não tinha dinheiro e, se nada diferente ocorresse, passaríamos fome nos próximos dias.

Esta lembrança me traz lágrimas nos olhos neste momento.

Talvez este tenha sido o momento mais crítico de minha vida, o momento em que estive mais perto da fome. Mas esta não é uma lembrança só minha. Todos os anos, quando vamos em algum momento à Festa da Penha, mencionamos a lembrança deste dia: do dia que não tínhamos dinheiro para comprar nem água. E estava quente neste dia... Água, só em casa. Lembramos com gratidão, porque no dia seguinte, apareceram clientes como peixes na rede lançada pelos discípulos de Jesus e os R$ 3,00 multiplicaram-se.

Deus e o trabalho de minha mãe nos salvaram da fome. Mas nem todos têm a mesma "sorte". A impotência da fome é desumana, não podemos permitir que alguém ainda viva e morra por algo assim.

Quando fiz Direito, nunca sonhei em ser nada (juiz, promotor, advogado...). Tudo que eu queria era só chegar onde desse para chegar e ter um salário decente. É estranho um jovem estudar para um concorrido vestibular, entrar em uma universidade, sem sonhos profissionais. Enquanto alguns colegas discutiam comissão de formatura, eu não queria nem formar, para não perder minha bolsa estágio de R$ 800,00.

Quando vejo o que conquistei hoje, vejo o quanto fui agraciado por Deus. É verdade que não ganho R$ 10.000,00 por mês, mas ganho um salário que me garante uma vida digna, decente e com conforto. Nunca sonhei ser rico. Sempre sonhei apenas ter alguma segurança financeira, capaz de não me deixar em dúvidas entre comprar uma garrafa de água mineral ou o pão do dia seguinte e capaz de me possibilitar comprar as coisas que realmente preciso sem passar grandes sufocos. E isto Deus me deu e tem me dado.

Quando rezo, geralmente o que mais faço é agradecer e pedir perdão. Não porque eu não tenha coisas a pedir, mas porque eu não consigo começar se não for agradecendo (geralmente pego no sono ainda nesta parte, inclusive).

Mas não agradeço somente os ganhos financeiros. Deus foi muito bom comigo e tem sido! Tenho o mau costume de dizer que chego nos lugares certos, mas nas horas erradas. Uma baita heresia. Sou um agraciado! Seja pela minha saúde, seja pelas oportunidades e conquistas e seja pelas pessoas que Deus sempre colocou em minha vida.

Nunca tive um pai, mas também nunca faltaram pessoas para cuidar de mim, me ajudar de todos os modos que alguém pode ser ajudado. Sempre as pessoas certas e nas horas certas. Sempre. Pessoas que me ofereceram um teto para dormir durante meus estudos; o cobrador que me vigiava quando minha mãe precisava me embarcar sozinho, aos 10 anos de idade, em um ônibus intermunicipal para que eu pudesse estudar; pessoas que me ajudaram a ter uma infância feliz quando minha condição social não me permitia; pessoas que ajudaram a custear os meus estudos; pessoas que me ajudaram a desenvolver-me profissionalmente; e as pessoas que hoje me protegem afetivamente. Muita gente cuidou e ainda cuida de mim. Isto é amor, em sua forma mais pura. Só tenho a agradecer a essas pessoas.

Ainda espero a mulher com quem eu construirei uma família e terei filhos, vivendo a felicidade e o amor. Mas isto acontecerá no tempo certo. Aliás, preciso saber esperar e lidar melhor com esta espera, afinal, o afeto que me cerca, de diferentes maneiras e de diferentes pessoas, já é uma grande graça em minha vida.

Sou um agraciado!

Quando penso racionalmente em meus problemas atuais, vejo o quanto são pequenos. São problemas de "gente branca de olhos azuis". E sempre que me deparo com esta constatação, tomo coragem, perco a ansiedade e me sinto mais forte que o mundo. Nada consegue me irritar, me chatear ou me deixar verdadeiramente preocupado, quando lembro daquele dia que não dava nem para comprar uma garrafa de água mineral. É preciso nunca esquecer, para sempre valorizar o presente.

Não é preciso muito esforço para se considerar um agraciado. Às vezes não damos o devido valor para coisas como ter um teto para abrigar-se, ter um alimento qualquer para matar a fome, ter dinheiro para pagar uma passagem de ônibus, ter saúde, ter água para beber e tomar um banho, ter pessoas que nos querem bem... Precisamos ser mais gratos e não deixar que as dificuldades momentâneas nos tornem incapazes de ver o quanto somos privilegiados e de entender que a vida pode melhorar, apesar dos obstáculos.

Hoje eu estava vendo uma entrevista do Adriano "Imperador", aquele ex-jogador de futebol que desistiu do futebol no auge, que voltou da Europa diretamente para sua comunidade pobre. Ele foi e ainda é muito julgado por isto, como se tivesse feito a escolha mais burra da vida ao optar por andar descalço na "quebrada" onde cresceu, vivendo ao lado de seus familiares e amigos de infância, ao invés de ganhar ainda mais milhões e títulos como jogador de futebol. Ele é um cara que financeiramente pode ter tudo o que quiser, poderia ter ainda mais, mas preferiu não se preocupar com isto em nome de ser feliz na vida. Jogar futebol não o fazia mais feliz. Isto me fez pensar no quanto somos injustos com os "Adrianos" que vemos por aí, por exigir que eles deem às coisas erradas o mesmo peso grande que damos a elas, quando na realidade são os "Adrianos" é que estão dando o peso certo para as coisas que realmente importam na vida. Eles é que estão certos. Eles é que estão felizes, ao passo que nós...

Problematizamos demais a vida. No fim, não precisamos de "muita" coisa para sermos agraciados. Precisamos somente de um mínimo existencial que alimente e mantenha nosso corpo e nossa alma saudáveis e vivos com dignidade.

Isto não quer dizer que não devemos lutar por uma vida ainda melhor, mas que, no fim, isto não tem muito sentido se não formos capazes de sermos instrumentos para que aqueles que nos cercam também possam ter uma vida plena daquilo que realmente importa.

Obrigado, Deus!

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Praça de Guerra

Diga-me o que tu escolhes e te direi quem és. Eu acredito em Deus, sabe? Talvez até o dia que a ciência consiga explicar porque o "Big Bang" só foi capaz de criar racionalidade na espécie humana entre trocentas espécies vivas; até lá, acreditar que, entre tantas espécies criadas, as reações fisioquímicas da grande explosão só privilegiaram a nossa espécie, com todo respeito, me soa tão insano ou sem sentido quanto acreditar em Deus. Então, se é pra escolher em qual "fantasia" acreditar, prefiro acreditar em Deus mesmo.

Mas não é de Deus que quero falar não. Quero falar de escolhas. Mas por que falei de Deus? Porque acredito que a ampla liberdade de escolha foi o maior dom dado por Deus à espécie humana, capaz de levar o homem ao sucesso ou à perdição. 

A vida humana é mágica justamente por causa desse poder de escolhas. São elas que tornam a vida tão imprevisível. Viver é um constante escolher; até respirar se pode escolher. Só não se escolhe nascer ou morrer, sendo que, nesse último caso, a escolha feita por um terceiro pode fazê-lo salvar sua vida antes mesmo que você consiga por fim a ela.

Eu acredito em vida de três esquinas. Tipo o centro daquela cidade horrorosa chamada Belo Horizonte. Nunca existem somente duas escolhas, na minha opinião. Sabe o "sim" e o "não"? Eu também acredito no "são", que, coincidentemente, remete ao verbo "ser". Acredito em Deus e na ciência; em coisas inexplicáveis à ciência pode haver Deus, assim como que pode haver ciência na religião. Acredito que entre os extremos tem sempre o meio termo que alia os dois, como é o ser humano em relação ao "bem" e ao "mal".

Mas essa terceira esquina é como viajar para Hogwarts pela plataforma 9 3/4, aquela que só os bruxos conseguiam ver por dentro de uma pilastra de concreto. Às vezes, é preciso ser míope na vida, pois só assim conseguimos ver o que foge ao olhar comum e ver a terceira esquina. Escolhas intermediárias, muitas vezes, são mais do que ficar em cima do muro, são a picareta para implodir o muro que nos separa de resultados e de nós mesmos.

O mundo pode ser muito mais legal com três opções. Porém, é preciso cuidado. Assim como a velha Belo Horizonte, quando se escolhe uma das esquinas e penetra profundamente por ela, desfazer a escolha e retornar à encruzilhada inicial de decisão nem sempre é fácil. Na vida, cada quadra percorrida envolve cruzar por mais um cruzamento de três esquinas, sendo que essas esquinas não são facilmente identificáveis e é difícil se saber de qual rua se partiu inicialmente. 

Escolher é um constante ir em frente, sendo que desfazer uma escolha já traz em si uma outra escolha. Nunca é um simples voltar atrás. Cada esquina traz em si uma chave de combinações possíveis, envolve uma análise combinatória. Lembra? Pois é. É difícil se saber para onde vai e mais difícil ainda conseguir voltar ao exato status anterior à medida que levamos à frente nossas escolhas cruzando por novas encruzilhadas decisórias.

Contudo, uma é a certeza, qual seja, a de que, aconteça o que acontecer, você colhe os resultados do que escolheu e é fruto de suas próprias escolhas. Se Deus existe, como acredito, esse foi o maior dom deixado ao homem, um dom que não assegura que seremos santos, mas que nos garante força criativa. Se você acredita só no "Big Bang", sem Deus, que sorte incrível essa que só nossa espécie teve após a explosão.

Viver às vezes envolve virar esquinas "cegas", aquelas de muro alto que viramos sem conseguir ver o que está do lado de lá. Entretanto, nessas horas, é preciso respirar fundo e virar, e seja o que tiver que ser.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Quantos mais?

Quantos mais precisarão vagar sem sul nem norte pelas ruas?
Quantos mais precisarão viver como mortos?
Quantos mais precisarão ser passageiros no próprio corpo?
Quantos mais precisarão acender cachimbos na escuridão?

CRACK

Quantos mais precisarão se tornar esqueletos de carne?
Quantos mais precisarão transformar fios de cobre em pedra?
Quantos mais precisarão fazer filhos sem ninguém para criar?
Quantos mais precisarão furtar para se viciar?

CRACK

Quantos mais precisarão se vender para fumar?
Quantos mais precisarão mexer no lixo para se alimentar?
Quantos mais precisarão ir para a cadeia para não mudar?
Quantos mais precisarão se internar para não se tratar?

CRACK

Quantos mais precisarão ter abstinência para pirar?
Quantos mais precisarão se agredir na madrugada para incomodar?
Quantos mais precisarão matar sem se lembrar?
Quantos mais precisarão morrer para se salvar?

CRACK

Quantos mais deixaremos?

_______________________________________________________________________
Que nesta páscoa possamos refletir sobre a vida, sobre quantas estamos dispostos a salvar com nossas próprias vidas, sobre quantos "mortos" estamos dispostos a ressuscitar.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Maldita sea la intolerancia

Século XXI...

Dizem que representa uma Era de Liberdade e Tolerância, na qual, a grosso modo, cada um pode ser aquilo que quiser e todos os demais são obrigados a tolerar.

Isso parece ser bom. Mas pra quem? 
Ora, pois! É bom para todos! Não?!
Não. É bom para todos, menos alguns.

Historicamente, minorias são alvo de toda forma de discriminação e precisam lutar muito mais do que as maiorias para poder gozar dos mesmos direitos. Hoje, felizmente, vemos um Brasil no qual cada vez mais as minorias têm voz, direito de se expressarem. Isso é bom? Não. isso é ótimo! O problema, a meu ver, é outro. A estranha sensação que tenho é a de que algumas minorias, quando conquistam voz, passam a fazer com maiorias aquilo que elas historicamente sofreram e lutaram contra. Trocando em miúdos, aqueles que antes lutavam por tolerância passam a agir com intolerância.

Sou católico e me sinto extremamente incomodado com a forma com que os evangélicos foram execrados nos últimos meses por causa do Pastor Feliciano e daquelas que seriam suas supostas ideias homofóbicas. É verdade que esse senhor fez algumas declarações infelizes? Sim. Mas, na minha opinião, isso não justifica a forma preconceituosa com que pessoas adeptas de outras religiões ou de nenhuma religião passaram a tratar os evangélicos, como se todos compartilhassem das mesmas visões de mundo do aludido pastor.

Fizeram com os evangélicos o que há alguns anos fizeram com os comunistas durante a ditadura brasileira. Só faltaram dizer que evangélicos comiam criancinhas (acho que não falaram isso porque preferem dizer que isso é coisa de padre católico). Sinceramente, o que alguns membros da minoria gay e adeptos de religiões não evangélicas fizeram com essas pessoas me soou tão intolerante quanto as ideias rotuladas de intolerantes do Feliciano.

É preciso que não se confundam as coisas: ideologia religiosa é diferente de discriminação.

Quero dizer o seguinte: eu posso, por questão de ideologia religiosa ser contra o casamento gay, mas não ser um cara preconceituoso. Esse é exatamente o meu caso. Vejamos: sou católico e, com fulcro nas ideias que sigo da minha igreja, não devo apoiar o casamento de pessoas do mesmo sexo. Por outro lado, como jurista, não vejo porque em um Estado laico e plural como o nosso esse tipo de casamento ser proibido. Em suma, no exercício de minha profissão jurídica e em respeito ao espírito igualitário de nossa Constituição Federal devo lutar pelo direito dos gays, sem preconceitos, não obstante eu tenha convicções pessoais contrárias a esse tipo de casamento. Ou seja, tendo em vista a liberdade de crença que me é assegurada pelo art. 5º, inciso VI, da Constituição Federal, tenho o DIREITO de ser contra o casamento gay por opção religiosa. Por outro lado, tendo em vista o caput do mesmo art. 5º da Constituição (para quem não é da área jurídica, o caput é a primeira frase que está do lado do art. 5º no link que eu coloquei, ou seja, antes do inciso I), eu tenho o DEVER de lutar por leis que assegurem a todos um tratamento igualitário. É meu dever como cidadão brasileiro.

Assim sendo, posso ser contra o casamento gay por convicção religiosa, mas não tenho o direito de discriminar quem seja gay (aliás, além de ser contra a lei, também seria contra a Bíblia eu discriminar alguém por ser gay. Pra quem não conhece a Bíblia, tem um trecho bem assim: "Deus não faz distinção de pessoas" Rm 2,11). Tenho o dever de tolerar a liberdade sexual, assim como quem não é católico tem o dever de tolerar a minha liberdade de crença religiosa. A senha do dia é: TOLERÂNCIA.

 Infelizmente, no entanto, a liberdade religiosa tem sido alvo de ataques ferrenhos nos últimos tempos. Se tornou quase que sinônimo de falta de inteligência seguir uma religião. Os evangélicos em especial são vistos como acéfalos por existir quem siga pastores como o Waldomiro ou o Feliciano. Se tornou "pecado" ter religião. É como se os evangélicos fossem os responsáveis pelo atraso das leis brasileiras por causa da bancada evangélica em Brasília. Eu te garanto que se hoje tivesse um plebiscito sobre o casamento gay e sobre a legalização da maconha, por exemplo, não seriam os evangélicos os responsáveis pela vitória do NÃO. A verdade é que a MAIORIA nos meios de comunicação e nas redes sociais (ou seja, a MAIORIA que tem espaços midiáticos para voz) que defende a legalização da maconha, a liberdade sexual, o ateísmo, o desarmamento etc é MINORIA entre a população como um todo. Somos um país atrasado não por causa de uma suposta mentalidade religiosa acrítica e sem racionalidade da MAIORIA, como uma MINORIA que se julga "iluminada" tenta alardear de modo intolerante. O nosso atraso deriva de diversos fatores, reduzi-lo à religião é simplismo demais.

Voltando à intolerância, poucas coisas me soaram tão intolerantes nos últimos tempos quanto esta foto:
 
Duas mulheres se beijam durante uma visita de Feliciano a uma igreja evangélica em Belém Foto: Facebook / Reprodução
 clique na foto para ler sobre o fato
 Por quê? Porque essas duas garotas se beijaram durante um culto evangélico com o claro propósito de desafiar o pastor Feliciano que falava no palco. Pra mim, isso é um ato de intolerância religiosa, de intolerância com quem quer pensar diferente. Quer defender seu direito, utilize os espaços democráticos disponíveis para tanto, proteste na rua, entre na política, sei lá, só não viole um culto religioso, não seja intolerante.

Veja bem. Não estou apoiando as declarações de cunho racista ou homofóbico eventualmente feitas pelo pastor Feliciano, mas estou apoiando o direito que os adeptos da igreja dele têm de serem contrários ao comportamento homoafetivo. Ser contrário a algo e ser preconceituoso são coisas DIFERENTES. Como dizia Voltaire: "Discordo daquilo que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito de o dizeres."

É uma pena que estejam plantando em um país de tradição pacífica como o nosso a semente da intolerância religiosa. Não penso que possamos chegar a ter uma guerra religiosa, sobretudo porque nosso "problema" religioso não se confunde com questões de diferenças étnicas, mas temo pelo discurso intolerante de minorias que se defendem da intolerância atacando com a intolerância. A matemática é simples: INTOLERÂNCIA RELIGIOSA + INTOLERÂNCIA SEXUAL = 2 INTOLERÂNCIAS

A luta das minorias deve sempre ser por tolerância e pelo respeito a seus direitos, e não pelo direito de serem intolerantes como as maiorias costumam ser.

Bendita sea la potencia de la tolerancia.

domingo, 15 de maio de 2011

[FILÉ COM FRITAS] Estamos aí

[FILÉ]

Há muito tempo tenho me perguntado por que será que temos medos e somos inseguros? A conclusão a que cheguei foi, em linhas gerais, que temos medos e insegurança porque não sabemos de onde viemos e nem para onde vamos. Concluí que essa seria a base de todo o caos, a razão que antecederia todas as demais. É claro que algum "peito de aço" que por aqui passe pode se manifestar no sentido de que "eu não tenho medo de nada" ou de que "sou sempre um cara seguro de meus atos e escolhas". Mas eu questiono: será mesmo? Você nunca se questionou antes de tomar uma decisão? Ou então, você nunca se arrependeu de uma escolha feita? Esses dois momentos, ainda que sutis, já representam uma insegurança, ou não?

Enfim, a minha opinião é a de que todos somos inseguros (alguns mais, outros menos) e temos medos (desde os mais mesquinhos e individualistas até os mais genéricos). E qual a razão central? Ou seja, qual é a razão de todos os medos e insegurança? A incerteza acerca de onde viemos e para onde vamos. Explico.

Você pode me dizer que sabe de onde veio, afinal, tem sobrenome (logo, uma linhagem familiar) e veio da barriga de su mama. Mas analisando você, como Ser Humano, você é capaz de dizer com certeza por que existe ou por que o mundo existe? Vamos abrir um parênteses. Se você crê em uma entidade criadora do Universo com propósitos que só ela conhece, mas que você talvez imagine quais sejam, você se sente mais seguro quanto ao seu passado, sente certa firmeza no chão em que pisa. Se você crê no Big Bang como origem de tudo, você também tem certa segurança quanto à sua origem. Ou seja, seja pela fé ou pela ciência, temos um pouco de certeza sobre de onde viemos, ou melhor, um pouco menos de incerteza. Mas por outro lado, isso não resolve muita coisa, porque surge outra questão: por que eu estou aqui? Qual a minha finalidade? Aí o chão fica mole de novo. Enfim, as pessoas evitam se perguntar coisas desse tipo, porque acendem tantas dúvidas que tudo o mais passa a se tornar sem sentido.

Dessa forma, uma conclusão que já destaco é a de que o passado não contribui tanto quanto o futuro para as nossas inseguranças e medos, afinal, evitamos mexer muito com o passado para sempre termos algo no que pisar. Mas ainda assim contribui, pois sempre que vamos "cavucando" demais nossas origens como Ser Humano vamos perdendo um pouco da nossa segurança. Melhor então acharmos que sabemos de onde viemos, ainda que seja com base em verdades que abraçamos com todas as nossas forças.

"O bicho pega" mesmo é quando pensamos no "pra onde vamos?". Alguém deve ter pensado logo: "Ué, vamos morrer!". Concordo, vamos morrer. Mas o que é a morte? (Agora fudeu). Abro um novo parênteses. Ainda que tenhamos convicções religiosas sobre o que acontece após a morte e sobre o que ela pode ser, ainda assim tais conclusões se baseiam em verdades que abraçamos, mais uma vez, diga-se de passagem. Mesmo tendo como certeza ao olhar para frente a existência da morte, a questão é: o que vai acontecer até chegarmos lá? Não sabemos nem quando ela vai chegar... É muita incerteza junta! Dá pra surtar ou até pirar. É como se estivéssemos num túnel onde se olharmos para trás vemos um foco de luz ao fundo e se olharmos para frente não há luz, só trevas. É isso que dá medo e insegurança (na minha opinião): ter pouca certeza sobre de onde veio e menos ainda sobre para onde vai. Caminhamos em direção ao escuro sem saber o que pode acontecer. Isso não gera medos e inseguranças?

E o mundo nos cobra escolhas, nos cobra um constante andar para frente em direção à escuridão. Cada um acaba se virando como pode para conseguir caminhar no breu, sendo que basta um grito de alguém no túnel e tudo aquilo que construímos com um ar de certeza e solidez balança e, às vezes, cai. Por quê? Medo do escuro. Precisamos ir construindo nossas vidas sobre bases aparentemente sólidas para irmos ganhando confiança no túnel, o problema é que, como já dizia Marx (segundo o Google), tudo o que é sólido se desmancha no ar. Somos todos inseguros e medrosos que buscam solidez nas coisas para avançar na vida.

Pensando assim, por exemplo: o ladrão e o corrupto roubam porque são inseguros (como todos) e buscam na riqueza a segurança (solidez) para avançar no túnel; eu rezo porque a fé me dá solidez para avançar; você busca em sua família, em seus amigos, em sua namorada (ou seu namorado) segurança para ir à frente. E assim por diante.

Desde que nascemos temos medo, isso é normal da condição humana; há os que temem a morte, a miséria, a fome, a solidão... Comecei com esses pensamentos sobre os medos e inseguranças de cada um vendo um diálogo da peça "Auto da Compadecida" (de Ariano Suassuna - segundo o google) na forma de filme. Na parte final da peça/filme os personagens principais estão todos mortos (exceto Chicó) e sendo julgados por Jesus (Manuel) e pelo Diabo (Encourado), nesse instante João Grilo pede que Nossa Senhora (A Compadecida) interceda por ele e pelos demais. Segue o diálogo:

_____________________________________________________________

A COMPADECIDA
Intercedo por esses pobres que não têm ninguém por eles, meu filho. Não os condene.
MANUEL
Que é que eu posso fazer? Esse aí era um bispo avarento, simoníaco, político...
174
A COMPADECIDA
Mas isso é a única coisa que se pode dizer contra ele. E era trabalhador, cumpria suas obrigações nessa parte. Era de nosso lado e quem não é contra nós é por nós.
MANUEL
O padre e o sacristão...
Gesto de desânimo.
A COMPADECIDA
É verdade que não eram dos melhores, mas você precisa levar em conta a língua do mundo e o modo de acusar do diabo. O bispo trabalhava e por isso era chamado de político e de mero administrador. Já com esses dois a acusação é pelo outro lado. É verdade que eles praticaram atos vergonhosos, mas é preciso levar em conta a pobre e triste condição do homem. A carne implica todas essas coisas turvas e mesquinhas. Quase tudo o que eles faziam era por medo. Eu conheço isso, porque convivi com os homens: começam com medo, coitados, e terminam por fazer o que não presta, quase sem querer. É medo.
ENCOURADO
Medo? Medo de quê?
BISPO
Ah, senhor, de muitas coisas. Medo da morte...
175
PADRE
Medo do sofrimento...
SACRISTÃO
Medo da fome...
PADEIRO
Medo da solidão. Perdoei minha mulher na hora da morte, porque a amava e porque sempre tive um medo terrível da solidão.
MANUEL
E é a mim que vocês vêm dizer isso, a mim que morri abandonado até por meu pai!
A COMPADECIDA
Era preciso e eu estava a seu lado. Mas não se esqueça da noite no jardim, do medo por que você teve de passar, pobre homem, feito de carne e de sangue, como qualquer outro e, como qualquer outro também, abandonado diante da morte e do sofrimento.
(grifo nosso)
_____________________________________________________________
Enfim, senhores, nossa existência tem fundamentos muito frágeis, somos pequenos diante da complexidade do Universo. É natural que tenhamos medos e incertezas em nossas vidas, afinal, não sabemos nem mesmo para onde caminhamos. Como poderíamos ser seguros e não ter medos numa situação dessas? É preciso se apegar em algo, seja na religião, seja na riqueza, seja nas pessoas... Ou então, melhor nem pensar nessa incerteza cruel quanto ao nosso futuro, afinal, às vezes mascarar incertezas dá coragem para seguir, ainda que seja apenas temporariamente.
Portanto, nesse contexto de tantos medos e inseguranças por não sabermos de onde viemos e para onde vamos, o melhor a se fazer é se apegar no que dá segurança. Por isso, creio que nunca devemos esquecer nossas "origens", de onde imediatamente e superficialmente viemos (nosso passado conhecido). Devemos sempre nos lembrar e respeitar nossa família, nossa origem social, nossos amigos de outrora. Essa é a nossa base "concreta", o nosso porto seguro, aquilo que compõe aquele chão (ainda que meio mole) no qual pisamos e do qual necessitamos para seguir. Isso é o que não se apaga, independente de para onde caminharmos e de quanto nos afastarmos de nossas "origens", isso pode ser aquela luz no início do túnel, porque de resto não sabemos para onde vamos. Apenas estamos aí, esperando sabe-se lá o quê para irmos embora para sabe-se lá onde. Apenas estamos aí...

* apesar do texto até certo ponto sem referenciais religiosos, saliento que tenho minhas convições e verdades religiosas acerca do assunto. Todavia, respeito quem não possui tais convicções e busca verdades em outros lugares, como na ciência, por exemplo.


quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Obrigado

Deus não é sorte.
Deus não é coincidência.
Deus não é acaso.
Deus não é destino.
Deus é apenas Deus.

Isso é o que torna tudo tão difícil ao entendimento. Essa incompreensão pode ser o tormento de uns e ao mesmo tempo o que faz tudo tão maravilhoso para outros. Somos apenas pequenos pedaços de matéria em um Universo mui extenso, por isso, não seja tão soberbo ao buscar explicações racionais para tudo. Quem é você diante da complexidade da existência? É preciso saber que há muitas coisas que transcendem o nosso limitado entedimento, por mais que isso possa parecer um discurso acomodado com a ordem das coisas. No fim, por mais paradoxal que possa ser, você vai concluir que a resposta para muitos dos seus questionamentos é ele mesmo: Deus - por mais que você relute em acreditar que isso possa ser possível. Ele vai preencher aquele vazio que existe em você e que você nunca conseguiu preencher, aquele vazio que de forma silenciosa sempre te incomodou, gerou incertezas, mas que você sempre acreditou ter o controle sobre ele.

Você pode não acreditar em Deus, mas ele sempre estará acreditando em você.

Obrigado, Deus!

Sem fins artísticos.

A caminho da postagem final...

domingo, 19 de setembro de 2010

A Igreja Católica precisa mudar?

[POLÊMICO]

Estou numa semana bem inspiradora, seria capaz de escrever uns 4 ou 5 textos com temáticas diferentes, mas o tempo não me permite. Mesmo sem dever, estou aqui, neste momento, somente porque quero dar um pouco mais de tempo à minha vida, deixando-me fazer o que der vontade e entregando-me mais aos impulsos dela (sem rasgação de seda ou quaisquer interesses escusos, dedico essa nova postura às reflexões que tive após ler o texto "Do que quero" do blog "
Lentiflor com Orégano").

Cheguei da igreja há cerca de 15 minutos e vim no caminho de volta pensando loucamente em escrever sobre um tema em especial, a intolerância com a Igreja Católica. Eu jurei a mim mesmo quando comecei o blog que não usaria esse espaço para falar de religião ou futebol, pois são dois temas que geralmente envolvem argumentos muito apaixonados e pouco racionais, criam muita discussão e dificilmente alguém entra nela disposto a ouvir os argumentos alheios e quiçá a mudar de posição. Mas não resisto; ao futebol eu já cedi em umas 3 postagens, agora cedo à religião: seja o que Deus quiser!

Para início de conversa: sou católico e me recuso a dizer-me praticante, pois ou você é católico ou você não é. Se você não acredita nos ideais dessa igreja, não lê a Bíblia, não participa da comunidade de alguma forma (nem que seja indo à igreja) e por isso se diz católico "não-praticante": você é um fanfarrão, pois isso não existe. Em religião, esse tipo de categoria não existe; ter uma religião não é "usa-la" de vez em quando (não é que nem saber falar uma língua estrangeira, por exemplo), é algo que deve fazer parte da sua rotina e não apenas nas datas comemorativas, como no Natal.

Dois. Sou favorável que cada um tenha sua própria religião livremente e sem criticar as alheias, pois religião é algo muito íntimo, que transcende o entendimento puramente racional (o que até dificulta discussões muito científicas sobre o tema). É preciso respeitar aquilo que é capaz de fazer alguém transcender sem entorpecentes, isso é coisa séria. Assim, apesar de achar um tanto quanto triste, respeito a falta de religiosidade de um número cada vez maior de pessoas. O que me interessa é que sua religião pregue o BEM ao próximo ou que você, sem religião, guie suas condutas pela prática do BEM, fora isso eu me reservo no direito de discordar dos rumos da sua vida, o que não significa discriminar. O que importa é a prática do BEM, isso não sou eu quem diz, eu já li isso na Bíblia e no Alcorão (Al BÁCARA - 2ª SURATA - "62. Os fiéis, os judeus, os cristãos, e os sabeus, enfim todos os que crêem em Deus, no Dia do Juízo Final, e praticam o bem, receberão a sua recompensa do seu Senhor e não serão presas do temor, nem se atribuirão."), provável que outros livros sagrados também digam algo parecido.

Penso que você não precisa nem acreditar em um Deus, ir à igreja ou fazer sei lá o quê, você só precisa guiar suas práticas pelo BEM. Posto isso, eu gostaria muito que os fiéis de outras religiões ou os sem religião, respeitassem as religiões alheias...

Minha igreja (a católica) tem dogmas e princípios um tanto rígidos. Muito se discute sobre as posições dela quanto ao celibato, ao homossexualismo, ao divórcio e ao sexo sem fins de procriação. Eu não concordo tanto com todas as posições, mas entendo-as perfeitamente e concordo com a rigidez da igreja. Para exemplificar, vou abordar o tema do sexo sem fins de procriação. Sou jovem, tenho hormônios à flor da pele como qualquer outro, tenho desejos, mas concordo que saí por aí querendo sexo a torto e a direito não é das condutas mais corretas. A Igreja Católica, desde os seus primódios, sempre defendeu a base familiar, então me diz: agora, 2010 anos depois, ela deve mudar de posição, defender a livre prática sexual sem casamento, só porque há menos de um 1 século tornou-se tolerável socialmente sair transando com qualquer um? A igreja não é cega, ela sabe que pessoas pegam AIDS e que os jovens não vão deixar de transar antes de casar só porque a igreja não permite; ela sofre pelos contaminados, mas sabe que deixar transar com preservativo é admitir a prática sexual sem vínculos familiares, o que seria uma afronta à família (aquela mesma que ela defende desde sempre).

Vamos pensar como a Igreja Católica: nosso livro de ensinamentos tem mais de 2010 anos, ele é um dos alicerces de toda a nossa estrutura. Podemos ir contra o que ele dispõe? Abrir precedentes? É claro que MUITAS regras (principalmente do Velho Testamento, pois eram regras de comportamento da época) não se aplicam mais, mas as do Novo Testamento, com a sua licença, estão, em grande parte, válidas, afinal, Jesus vem com um discurso que rebate grande parte dos costumes rígidos do Velho Testamento, ele ensina novos valores, mas ainda assim a família continua sendo protegida. Aposto que alguém já vem com algum exemplo do VELHO TESTAMENTO para tentar derrubar minha argumentação de que a Bíblia se opõe ao sexo antes do casamento. Mas segura sua onda aí, outro dia a gente discute mais sobre a Bíblia, primeiro você lê, depois faz uma análise sistemática (como um todo - NOVO e VELHO TESTAMENTO) do que está escrito e depois vem me dizer se ela se opõe ou não a tal prática, antes disso, guarde seu exemplo.

É claro que seria muito mais cômodo para a igreja ceder ao clamor social, ela ia "ficar bem na foto", ganhar novos fiéis e etc. Mas ela NÃO pode fazer isso, pois ela iria contra um de seus alicerces centrais, a Bíblia, correndo, assim o risco de perder a sua razão de ser. É tão verdade, que mesmo condenado a prática de sexo sem fins de procriação, ela desenvolve, por exemplo, programas de auxílio aos doentes com DST's e AIDS e com as crianças abandonadas por mães adolescentes: ela não se fecha a essas pessoas, apesar de não concordar com o agir que as deixou assim. O mesmo se diga dos gays: nunca vi um aviso na porta da minha igreja proibindo-os de frequentar a comunidade, pelo contrário, devem ter muitos por lá; nunca vi um sermão que dissesse para expulsarmos-os de lá, digo mais, não vejo olhares tortos para eles. Também nunca vi portas fechadas para divorciados e mães solteiras, caso assim fosse, eu e minha mãe nunca teríamos entrado. Então me diz: cadê a intolerância que afirmam que temos com essas pessoas? Uma coisa é se opor a práticas que ferem os ensinamentos da Bíblia, outra coisa é discriminar aqueles que agem assim. A Igreja Católica até pode se opor, mas não discrimina. Sacou?

Você está entendendo? Ela até enxerga as mudanças culturais, mas ela precisa ser engessada, pois a base dela nunca foi o que é socialmente mais bem visto. Ela sempre afrontou grande parte dos hábitos da sociedade ao longo de sua história, isso desde os primórdios, basta lembrar os motivos que levaram Jesus à crucificação. A Igreja Católica não deve ceder à sociedade, mesmo que isso signifique ser alvo de críticas e até de chacotas. Ela não pode se preocupar com o número de fiéis, ela não deve atirar em um de seus pés para atrair mais fiéis, por isso ela perde fiéis (ela sabe disso). A Igreja Católica sabe que aquilo que sempre pregou não pode mudar só por que a sociedade muda. Não é o HOJE que sustenta a Igreja Católica há tanto tempo, mas o SEMPRE. Se fosse pelo HOJE, ela já teria caído há muitos séculos.

Senhores, não se exautem! Eu não sou fascista e nem democrata cristão, mas também não sou tonto a ponto de achar que a minha igreja deve mudar só porque as pessoas querem. Na verdade, o que deve mudar é a postura das pessoas, não a Igreja Católica. As pessoas só devem buscar a Igreja Católica se sentirem-se identificadas com os valores defendidos por ela (ninguém é obrigado a seguir ideais que não quer) e não a Igreja que deve mudar só para PARECER bonita no quadro social fudido que temos. É fato notório que ela deve tentar se aproximar mais das pessoas, mas para isso não precisa mudar suas bases, essas não devem mudar NUNCA, sob pena de fazermos um transplante de cerébro nela e ela deixar de ser a Igreja Católica para tornar-se a Igreja do Querer Social. Peço sua boa vontade para um exercício mental: imagine que num mundo hipotético todas as pessoas concordassem com a Igreja Católica e só fizessem sexo depois do casamento, você acha que o mundo estaria tão zoneado no aspecto familiar e social? Não, né? Pois é, a igreja pensa o mesmo que você, por isso ela não muda, ela quer aquilo que parece melhor para a sociedade. Mesmo que pareça algo utópico.

Enfim, como eu te disse antes, eu não concordo em tudo com a minha Igreja, muitas vezes me pego indo contra o que ela defende, mas ENTENDO perfeitamente a POSIÇÃO dela. Ela precisa manter-se assim, rígida em alguns temas, mesmo eu preferindo (egoísticamente) que não fosse assim, afinal ia doer menos na MINHA consciência algumas condutas. Mas o jogo é esse, as regras já estão na mesa (desde a morte de Cristo), quem quiser aceitá-las venha até a Igreja Católica; quem não quiser: arrume outra Igreja, crie sua própria Igreja (uma que sempre vá apoiar os seus atos) ou não tenha religião alguma (mas pratique o BEM), só não me venha reclamar da minha Igreja: Ah, isso não!

Escrito por um cara que pensou em ser padre, quis ser professor de História e que vem tentando fazer Direito direito.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Acabou o Natal?

O Natal é uma festa religiosa, dado o valor que possui para o Cristianismo, porém ao analisarmos com atenção como essa data tem sido tratada na sociedade contemporânea veremos que o sentido original da festividade foi significativamente alterado e abalado.

O que se observa é que hoje a data encontra-se veículada diretamente ao consumismo no mês de dezembro, pois ela é apresentada pelas mídias às pessoas mais com um sentido comercial do que religioso em si; isso não significa que as pessoas desconheçam o sentido religioso do Natal, porém significa que dado o bombardeio de mensagens que induzem ao consumo nas datas que antecedem o Natal as pessoas acabam esquecendo o verdadeiro sentido da festa e vendo-a como sinônimo de troca de presentes. Não nego que a troca de presentes seja uma parte da festa, contudo, não traduz toda a significatividade dessa data. Papai Noel não resume tudo, ele é só uma parte do conjunto.

Em nome de uma necessidade de presentear amigos e familiares vendida pelos meios de comunicação, as pessoas acabam comprando a idéia de que sem isso não há Natal, esquecem todo aquele espírito de humanidade e bondade para com os outros e acabam fazendo da festa que é uma confraternização de todos algo egoísta, na qual o que importa é comprar presentes e ser presenteado, sendo a ceia um mero detalhe, uma oportunidade para comer bem e beber bastante álcool.

Nessa altura do texto é possível que você ache que estou exagerando, mas saia na rua para fazer compras nas datas mais próximas do Natal (já que comprar presentes não é o problema que discuto, se é que você me entende) e experimente o espírito natalino das pessoas que estão fazendo compras, principalmente se for uma loja com promoções; talvez você consiga ver pessoas brigando por coisas idiotas (pessoas podem até trocar empurrões para levar uma última mercadoria, por exemplo) e vai entender o que quero dizer quando falo que o espírito de Natal foi trocado pelo desejo de fazer compras. Não nego que isso possa ser algo inconsciente nas pessoas, mas afirmo que isso está aumentando gradativamente, a ponto das crianças associarem Natal diretamente com Papai Noel, esse tal de Jesus é só um pretexto para Papai Noel vir trazer presentes. As crianças são como folhas em branco, crescem e aprendem a cada dia algo ensinado a elas, não aprendem nada sozinhas, logo, se elas pensam assim do Natal, é porque alguém as ensinou a pensar assim ou o contexto ao redor incutiu essa mentalidade nelas.

De repente me vejo jogando pedras no, já espancado por todo metido a revolucionário (não me acho um, pois para eles: "na dúvida, culpe o Neoliberalismo e a ordem econômica vigente como causa para qualquer problema"), Capitalismo e quase esqueço o que mais me motivou a escrever esse texto: o consumo excessivo de álcool no Natal. Vi pessoas passarem a noite de Natal dentro de bares, como se aquela data fosse mais um pretexto para beber, será que o Natal não representa mais nada para os homens? Tudo bem que vejo essa situação por uma ótica cristã, mas partindo do pressuposto que essa é uma festa cristã, não estou errado. Talvez o Natal seja a data na qual os homens mais deveriam se aproximar uns dos outros, mas ao contrário disso muitos preferem beber excessivamente e fazer questão de esquecer a vivência com seus amigos e familiares nessa festa, como se essa fosse uma festa comum a ser levada pelo álcool para as brumas da memória. Sem contar as brigas que ocorrem no Natal em razão de alguém que bebeu demais e as mágoas entre parentes que duram por anos em virtude de um mal entedido causado pelo consumo de álcool em excesso. O problema não é beber, porque isso é uma forma de festejar, mas o problema é passar dos limites e pôr todo o sentido da festa a perder.

Sinceramente tenho medo das pessoas de hoje, elas são capazes de pisar e matar outras pessoas (como ocorre todo ano nos EUA) na entrada de uma loja para fazer compras de Natal; capazes de passar o Natal em uma taberna; e de até matar na noite de Natal. Mais vale fazer pessoas conhecidas felizes com presentes do que pisotear estranhos? Será que a noite de Natal, uma das datas mais importantes dos cristãos deve ser passada dentro de um bar ou de um motel? Será esse o sentido do Natal? Cada um tem a sua própria consciência sobre essa data, mas na minha humilde opinião não há lógica em comemorar hipócritamente como sendo religiosa uma data que só serve para dar e ganhar presentes e beber bastante, pois isso pode ser a festa de aniversário de qualquer um. Acho que Jesus é superior a tudo isso e por isso necessita de um pouco mais de respeito por parte de cada cristão. O Natal deve unir a Humanidade em torno de bons sentimentos e boas ações, nem que seja por um só momento, se não for assim, não há motivo em falar-se em Natal, por isso o que uma parte significativa das pessoas dizem ter comemorado não foi o Natal, talvez comemoraram apenas uma boa ocasião para o comércio lucrar e para poderem beber mais do que geralmente bebem e satisfazer seus próprios desejos.

Talvez esse seja o texto de alguém inocente que ainda acredita em velhas tradições religiosas, mas se for pelo menos saiba que é o texto de alguém que vê o Natal como uma oportunidade de união de todos para fazer e comemorar o bem, até porque creio que fazer o bem seja a missão de cada um de nós nesse planeta.