sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

2011, fique mais um cadinho...

Sei lá, não curto muito o período que antecede o ano novo, fico meio azedo com as pessoas. Não curto muito toda aquela coisa de "que o próximo ano seja melhor do que o que está acabando" ou "quero no próximo ano fazer isso, aquilo...". Sei lá, na minha cabeça somos plenamente capazes de atuar na construção de nosso futuro, embora não possamos controlar tudo que possa ocorrer. O que quero dizer? Quero dizer que você pode mudar "sua sorte" agora. Hoje. Em 2011.

Não é preciso esperar virar o ano ou ficar torcendo para que o "cosmos" lhe traga um ano melhor. Arregace as mangas e comece a construir sua "sorte" desde agora. Não é pecado querer um ano melhor, principalmente quando se teve um ano ruim, afinal, o ser humano é um ser desejante, quer sempre o melhor, condições melhores de vida. É até normal querer um ano melhor.

Mas na minha opinião, foge à lógica apenas desejar/sonhar/torcer/esperar estaticamente que todas as coisas naturalmente possam acontecer em 2012. 1- Você não deve ficar desejando/sonhando/torcendo/esperando um ano melhor, você deve fazê-lo melhor.



2 - Por que as coisas que você quer não podem começar a acontecer em 2011? Isso depende fundamentalmente só de você. Por exemplo, há anos que queria tornar caminhadas/corridas na praia um hábito. O que fiz? Assim que surgiu a primeira brecha (ainda em dezembro) comecei. Não esperei virar o ano para começar algo que poderia começar em 2011. E digo mais aos "esperadores" de 2012: pretendo manter meu saudável hábito de 2011 em 2012. Que abuso, não? E o design deste blog. Reparou? Deu uma louca em 2011 (ao apagar das luzes - 29/12/11), uma vontade de ir para um pub na Irlanda beber cerveja preta e cantar alegremente junto com meus amigos bárbaros, aí como não tinha dinheiro pensei em fazer uma doidera por aqui. Esperar 2012 para quê? Vamos inovar agora, amanhã, depois, dias 31/12, 01/01, 02/01, 28/02...

Engraçado que tenho ouvido um papo (meio irônico, diga-se de passagem) de "viva 2012 como se fosse o seu último ano". Qual é? E se eu te disser que HOJE pode ser o seu ultimo dia! Amigão, você pode morrer a qualquer tempo e nem ao menos chegar ao "fim do mundo - dezembro de 2012". Qual é, brow? Se liga.

Quer saber? Sou azedo demais nesse período que antecede o ano novo! Acordei tão azedo hoje que pensei: "Em dias assim tenho pouco a oferecer às pessoas. Acho que só tenho meu sangue. Então vou lá doar." E assim fiz. Doei tudo que dava para doar. Só esqueci de avisar na triagem que eu estava sofrendo de azedume nesses últimos 3 dias, afinal, vai que passo meu azedume para alguém...

PS: Doe sangue, principalmente nessa época de festas de fim/começo de ano, pois é maior o número de acidentes e menor o de doadores.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Redemption Song

- Tadinho... Ele era um menino de cabeça tão boa. Está cada vez mais maluco o pobrezinho... [disse minha vó lírica depois de ler este texto]

Eles estão por toda a parte. Em pleno século XXI ainda somos escravos. Do quê? Ué, você ainda não reparou? Quanto mais a humanidade evolui e se torna independente, mais dependente ela fica. Hã??? Temos uma liberdade, na melhor das hipóteses, assistida. Não somos plenos, somos parciais. Somos seres humanos pelas metades. Isto é preocupante.

Escravos do tempo. Pessoas que não sabem medir um dia sem saber que ele tem 24 horas. Ora, há liberdade maior do que gozar o dia sem saber que horas são? Sem ter que se adequar às horas? Sem ter que fazer coisas em momentos pré-determinados pelo relógio? E o tal relógio biológico? Você tem? Você usa? Ah tá...

Escravos das obrigações. Pessoas cujas principais atividades feitas ao longo do dia são obrigações. Pessoas que não escolhem o que fazer e precisam a todo o tempo segurar a vontade de fazer o que realmente querem fazer. A escravidão é tão intensa que chega ao extremo de em dados momentos esquecermos que temos vontades e introduzirmos as obrigações dentro de nossas vontades como se de fato elas (obrigações) fossem desde o início aquilo que queríamos. Calamos o grito e nos enganamos dizendo que desde o início nunca quisemos o grito, mas o silêncio (a obrigação do silêncio). Nos podamos para encararmos a rotina como se fosse aquilo que fazemos porque queremos. Nos anestesiamos da impotência que é não poder ocupar o dia com coisas que realmente nos interessam.

Escravos dos meios de comunicação. Pessoas que estão sempre perto de quem está longe, mas sempre distantes de quem está perto. Pessoas que estão mais preocupadas em aparentar ser nas redes sociais do que em ser na realidade social. Escravos da internet. O mundo conectado na ponta dos dedos e a vida off-line em segundo plano. Pessoas que realmente acham que não é possível ficar um dia sem acesso à internet ou ao aparelho celular. Mas você não é livre? Como não consegue viver sem estar na rede mundial? Ah, faz sentido. Fora da rede mundial você não existe, afinal, se a rede não sabe onde você está, você é como um avião que sumiu dos radares. É um fantasma.

Escravos do hedonismo. Pessoas que exercem a liberdade de modo a torná-la escravidão. E essa é das "brabas". É uma escravidão disfarçada de liberdade, afinal, você acha que está sempre no comando da situação, quando na verdade a situação/sensação prazerosa é quem está no controle. Troca-se uma vida inteira por segundos, minutos de prazer. Tudo é feito de modo a lhe direcionar para o prazer. O constante apelo sexual: as mulheres bonitas e gostosas nos programas de TV e nas propagandas mantém os homens quase que num estado de eterna ereção (aqueles que conseguem, diga-se de passagem); as músicas que estimulam a prática sexual; a moda das roupas cada vez mais curtas e justas (dizem que é decorrência do nosso clima...). A vinculação da liberdade com o álcool (antes era com o cigarro, mas a própria sociedade tratou de mascarar essa escravidão proibindo as propagandas tabagistas): o prazer (quase obrigação) de beber uma cerveja todo fim de semana para gozar a liberdade junto dos amigos; o prazer da liberdade de estar bêbado e "no controle". E o prazer de se "libertar" sendo escravo da erva, do pó ou do crack? Preciso nem comentar, né? Percebe? Escravos da sensação de prazer. A felicidade plena só se alcança tendo prazer. Talvez esse seja o tópico mais complicado de explicar. Não nego o prazer, e, sim, a forma com que somos levados a direcionar nossas condutas para alcançá-lo. O prazer pode ser uma expressão de liberdade, mas a sua busca dificilmente é.

Escravos de outras pessoas. Pessoas que têm em outras a sua única razão de existir. Pessoas que não conseguem viver se não for ao lado de outras pessoas específicas. Não me refiro à afinidade. Mas ao buscar no outro a sua ÚNICA motivação de existir. Fazer e logo em seguida parar para pensar o que a outra pessoa vai achar sobre o que fiz. Não saber andar por si próprio. Não buscar no mundo a motivação para viver. Não saber como fazer/viver se não estiver perto de uma outra pessoa específica. Subordinar as suas vontades SEMPRE aos desejos e ordens de outrem. Isso deveria ser crime. Mas é só dependência. É mera escravidão.

Escravos do consumo. Pessoas que fazem do ter a razão de ser. É preciso ter para ser. Pessoas que não têm como viver com o necessário, precisam do desnecessário. Pessoas que consomem tudo que se mexa: desde bundas até ameixas (essa poesia foi pra você J.C.). Sério. Não basta o que é preciso. Minto. Basta ter o que é preciso, mas o problema é que o rol daquilo que é preciso está sempre aumentando. Sempre é preciso TER algo diferente. Aquilo que era preciso ontem virou lixo. A vida que TIVE ontem não é tão boa quanto a vida que quero TER amanhã.

Escravos da alienação. Pessoas que vivem sem saber o que de verdade se passa ao redor e que sustentam a vida em cima de meias verdades. Pra mim é a pior ou uma das piores escravidões. É viver num constante estado de "café com leite". Ser passado para trás e não saber. Acreditar em falácias. Ter uma meia visão do mundo, uma meia liberdade de escolha e uma meia vida. Dizia Rui Barbosa que "sem vista mal se vive. Vida sem vista é vida no escuro, vida na soledade, vida no medo, morte em vida [...]". Acrescento: é vida na escravidão. É vegetar. Não é viver. Me perdoem. Me arranquem um braço, mas não me tirem o criticismo, a consciência da realidade. Queira Deus que eu morra lúcido! Não quero virar boneco na mão dos outros. Ter alguém pensando e decidindo por mim.

Escravos do medo. Pessoas que não sabem viver se não for tendo insegurança. Ora! Medos todos temos, mas há pessoas que não sabem como proceder se não for tendo que tê-los. Pessoas que fazem da covardia um escudo. Pessoas que usam o risco, ainda que natural, como uma justificativa plausível para não serem aquilo que poderiam ser. Pessoas que se escondem. Pessoas que têm na aparência de fraqueza uma escolha de vida. Pessoas que só sabem ser se for para ser vítima. Se recusam a emancipar-se. Aceitam o conforto da escravidão causada pela insegurança. Ué? Faz sentido. Se omitindo você tem mais chances de saber o que vai acontecer do que fazendo (exercendo a sua liberdade de agir). Seria a escolha da proteção proporcionada pelo medo um exercício da liberdade de escolha? Sim. Mas o uso da liberdade para optar pela escravidão.

Domingo, lá pra meia-noite e qualquer coisa, vi na Record News uma matéria analisando o momento ruim vivido pela cantora Vanusa, aquela que errou/inovou a letra do hino nacional numa cerimônia pública. Em dado momento ela disse ao repórter algo como: "Não aguento mais essa realidade fingida na qual todo mundo finge que é feliz. As pessoas compram coisas para serem felizes e depois que compram descobrem que não são felizes. Eu não sei viver nesse mundo. Eu me sinto um ET. Não consigo viver assim." Aí, por um instante pensei: "Caraca, quero ver se o repórter vai ter peito para largar a pose jornalística e num acesso de sinceridade e criticismo apoiar o que ela disse". Qual foi a resposta dele? "A cantora Vanusa está sofrendo de problemas financeiros e de depressão. Precisou se internar numa clínica e blá blá blá". Porra! A mulher falou algo extremamente lúcido e pertinente sobre nossa "feliz" sociedade e o cara vem e desmerece TUDO o que ela falou atribuindo o momento de lucidez dela à depresão e aos problemas financeiros que ela tem vivido! Ainda que seja por depressão, ela não disse nenhuma mentira. Pelo menos eu acho. Talvez eu também esteja deprimido, deve ser isso, né, Record?

Assumo que é natural não sermos 100% livres, afinal, o viver no mundo civilizado impõe uma série de restrições às nossas liberdades, uma certa escravidão. Dizem os teóricos do Estado que esse é o preço de viver em sociedade, que se não aceitássemos restrições em nossa liberdade viveríamos num constante estado de luta de todos contra todos, de predominância da força, insegurança, violência e morte. Seria o mundo animal. Contudo, sinceramente, não sei mesmo se "fizemos" uma boa escolha em viver em uma sociedade civilizada. Temos nos perdido demais. Temos sido cada vez menos livres. Cada passo que damos em "evolução" damos igualmente em escravidão. Isso me assusta. Me assusta como deixamos tudo isso ocorrer de modo tão passivo. Como achamos tão natural sermos cada vez mais dependentes de coisas que nunca fomos antes.

Saudade dos tempos em que erámos apenas escravos de Jó...