domingo, 2 de junho de 2019

Tokyo

Não haverá Tokyo em 2020. Aliás, não haverá 2020, 2030 e nem 2045, talvez só no Tesouro Direto.

Desta vez, não há que se falar em "treinei muito para ser roubado" e nem em roubo, afinal, não é possível ser roubado daquilo que nunca existiu ou daquilo que nunca se teve nem mesmo a posse. Mas eu me sinto roubado. Por um artista, talvez, ou somente por um cara legal com nome de flor. Ele não! Puta que pariu. Requintes de crueldade. Roubado daquilo que demorei para decidir e sonhar. Em minha alardeada prepotência faltou somente uma semana. Quiçá um mês. Mas faltou.

Nas últimas semanas era tão comum em minhas manhãs como respirar. Um costume, uma mania, o desejo de ver com meus olhos como as coisas caminhavam. Olhos grosseiros procuravam os quilos que prometiam sumir de modo promissor, enquanto os miolos pensavam como seria ser o pai de um Kataguiri. Paguei pela canalhice.

Quando decidi, perdi. Justo. No futebol é assim, a bola pune.

O que resta? Nada, talvez. Resta a dignidade de ser. E ser já é coisa pra caralho. Às vezes, resta isto: Ser. Um ser eu mesmo. Solitário. Resignado. Cumpridor de meus deveres e disposto a fazer o que precisa ser feito a maior parte do tempo. Previsível. Prepotente. Às vezes, muitas vezes aliás, fazer o que precisa ser feito é insuficiente. Erramos mais do que acertamos a maior parte do tempo, mas quem é capaz de saber o que é o certo quando todos estão perdidos?

Estou meio triste. É uma tristeza bandida, daquelas que se sente quando se sabe que é culpado. Dizem que quando o réu é culpado, ele chora. Eu só queria beber. Talvez com a garota mais organizada que eu já conheci na vida. Não sei exatamente o porquê. Só queria talvez não beber sozinho.

Parece que faltou tão pouco. Foi como perder o ônibus quando se estava prestes a conseguir embarcar nele, mas ciente de que o culpado pelo atraso fui eu. Talvez eu devesse estar feliz. Mas me falta um pouco desse altruísmo afetivo. Me resta parar de ver, como já fiz tantas outras vezes para esquecer. Mas quando assim é, me falta maturidade e passo a nutrir uma indiferença daquelas desumanas. Sem Tokyo, ainda me resta uma busca branca a cada novo amanhecer, a qual ainda busco com os olhos por alguma razão prepotente ou sadomasoquista que nem eu consigo entender.

Talvez, "talvez" seja  a palavra mais usada neste texto. Talvez eu só devesse viver minha vida e deixar as pessoas em paz. 

Não haverá Tokyo. Assim como não houve e não haverá outras. 

Às vezes, para não dizer talvez, é chato precisar ficar sóbrio no momento em que mais se precisa não estar.

Estou triste e não tenho uma Bud para beber.