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domingo, 22 de julho de 2018

Overtime

Às vezes, a vida é triste como uma eliminação ao fim de uma prorrogação ou de uma série de cobranças de pênaltis.

Na eliminação, não há justiça, só tristeza.

Durante alguns anos, existiu no futebol a figura do "gol de ouro", também conhecido como "morte súbita", segundo a qual, após o empate no tempo normal de jogo, os dois times se sujeitavam a dois tempos extras de 15 minutos (prorrogação), nos quais, o primeiro time a marcar um gol vencia a partida e ela era imediatamente encerrada. Anos de muitas eliminações dolorosas, nascidas de um gol tomado em um curto momento de desatenção e de falha. Um gol inapelável, após o qual não havia mais oportunidade de continuar jogando e tentar vencer. Um gol de despedida, como são os encerramentos inesperados e dolorosos.

Muitas vezes a vida é assim. Somos eliminados sem muita compaixão após um único deslize. Jogar bem nunca garantiu sobrevivência em uma "morte súbita", na qual, como o próprio nome diz, apenas se morre repentinamente, sem maiores oportunidades. Uma eliminação assim é muito dolorosa, impõe a lembrança do erro em looping na memória. Aquele momento de deslize que ocasionou o gol da eliminação é figura recorrente nos pesadelos noturnos. Aquela sensação de boca seca de incredulidade e impotência não passa facilmente. Algumas noites, até se sonha que ao contrário de se tomar o gol da eliminação, foi feito o gol da classificação. Mas ao fim, tudo não passa de um sonho e lá estamos nós novamente, em mais uma manhã, a lamentar o gol sofrido.

Todos nós temos nossos recuerdos dolorosos. Aqueles que não se apagam, como um gol tomado em uma inesperada prorrogação com "gol de ouro". Recuerdos que insistem em não se apagar com facilidade, que deixam sempre mais sentimento de culpa do que de reconhecimento pelo o que foi realizado para levar o jogo até ali.

As noites de eliminação são frias. Tristes. Solitárias. É comum uma lágrima descer e a garganta fechar. A dor do fim e a incerteza de uma nova oportunidade futura, misturada ao apagar dos sonhos que se construiu enquanto a vitória era possível. Nada como o redentor choro de despedida, daqueles que lavam a alma e levam todas as impurezas sentimentais. Queria conseguir chorar neste momento e me sentir livre, mas não consigo. 

Para pôr um fim a esta dolorosa tristeza, eliminou-se a "morte súbita" e manteve-se uma prorrogação na qual os dois times são obrigados a jogar os dois tempos extras de 15 minutos, ainda que um deles marque um gol em algum momento da prorrogação. Justo e reconfortante. Tomar um gol deixou de ser o fim e passou a ser o despertar por uma busca desesperada pelo gol que poderia evitar a eliminação. Muito melhor ser eliminado com o suor convicto de que se lutou até o fim dos 30 minutos de prorrogação do que com as lágrimas de uma eliminação decorrente de um derradeiro gol bobo tomado em um breve momento de desatenção.

Mas, às vezes, uma prorrogação, com ou sem "gol de ouro", não é suficiente para desempatar uma partida. É preciso recorrer-se a uma emocionante disputa de pênaltis.

Às vezes, sinto que chutei para longe o pênalti que decidiu o campeonato. É uma merda. No caminho até a marca do pênalti, tudo o que se pensa, confessam todos os batedores, é se autopreservar, independente que o time vença ou perca. Tudo que se quer é meter a bola na rede e sair com a sensação de que não se foi o culpado pela eliminação do time. Mas, às vezes (talvez a expressão mais usada neste texto), não tem jeito. Isolamos a bola que valia o campeonato.

É doloroso demais perder um pênalti que custa uma eliminação. Um pênalti perdido é uma oportunidade perdida, daquelas que talvez nunca mais tenhamos a chance de reencontrar. Hoje, me sinto um perdedor de pênaltis, daqueles que tem chutado para fora todas as oportunidades de vitória e arrancado lágrimas de quem assiste. Um pênalti carrega em si os sonhos de muita gente, inclusive os seus. É um ingresso de entrada para uma nova batalha rumo à vitória final ou uma porta que se fecha, até daqui a quatro anos ou para sempre.

Quando se perde um pênalti, nunca se sabe o quanto ele realmente custou. Às vezes (de novo), pela idade, pelos envolvidos e pelas circunstâncias, até se sabe que foi a última chance. Às vezes, ainda resta a esperança de uma nova oportunidade. E quem garante? Muitas incertezas na derrota e poucas respostas na tristeza.

A vida é assim.

Entre as lágrimas de uma eliminação, pode até haver abraços de amizade ou aplausos de reconhecimento. Mas o que fica é a culpa pela oportunidade desperdiçada, a incerteza do futuro e los recuerdos dolorosos.

Pênalti, só perde quem bate, quem se oferece a bater. Só sofre quem apresenta coragem de encarar e confiança de vencer. Mesmo com coragem, com bravura, com heroismo, se pode perder. E perder é sempre perder, com ou sem merecimento. O resultado é o mesmo e o sofrimento também. Se pode perder sendo amável e honesto, assim como sendo babaca e canalha. O sabor de derrota é o mesmo. Não há justiça na derrota e, às vezes, nem lágrimas. Só tristeza.

Não falo mais de seios.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Pode tocar que é nossa

Foi com a frase do título que Carlos Alberto Parreira, técnico da seleção brasileira na Copa do Mundo de Futebol de 1994, desceu as arquibancadas do estádio Rose Bowl em meio aos torcedores e deixando que todos tocassem por um instante na taça de campeão mundial de futebol, em uma das cenas mais singelas e bonitas da história de todas as Copas.



É Copa, pae! Tem que respeitar.

Como tradição neste blog, toda Copa tem seu(s) texto(s). Tô feliz pra caralho! Que Copa, senhoras e senhores. Ela está cada vez mais linda. Se em 2010 ela acordou feia e em 2014 ela acordou arrumada para sair e já de sapatos, como presidenta Dilma; em 2018 ela está na plenitude da beleza, uma beleza natural e encantadora, mas com alguns retoques tecnológicos (quem nunca...).

Em mais de 32 partidas (mais da metade do torneio) só teve um 0x0. Futebol que dá gosto de ver. Partidas disputadas e com gols, para apagar a horrorosa lembrança da Copa de 2010, na África do Sul. Não existe mais bobo no futebol. Pela primeira vez um país asiático venceu um sul-americano, a Coréia do Sul eliminou a temida Alemanha e todos os países, inclusive dentre os eliminados, marcaram gols. Lindo demais! Panamá perdeu de 6x1 para a Inglaterra e vibrou o único gol feito como se fosse o do título. O México venceu a Alemanha e vibrou como em final de Copa. Tite deitou e rolou no gol suado do Brasil contra a Costa Rica. Os alemães, argentinos e uruguaios festejaram gols decisivos no final de suas partidas de maneira contagiante. Professor Óscar Tabarez e sua doença degenerativa que lhe faz comandar o Uruguay usando muletas. A volta do Peru a uma Copa após mais de 30 anos e uma vitória na bagagem.

E o V.A.R.? Polêmico. Mas diminuiu (sem eliminar) os erros, penso eu, e tornou os resultados mais justos (ao menos na maioria dos jogos). Injustiças sempre acontecem no futebol, mas o V.A.R. veio para diminuí-las. Minha bronca é mais com a falta de critério da arbitragem em sua utilização, o que alimenta erros e a sensação de injustiça mesmo com uso da tecnologia. O ideal, penso eu, é que fosse seguido o modelo do vôlei, do basquete americano e do futebol americano, nos quais os times é que solicitam quando que querem o uso da tecnologia em algum lance (desafio à arbitragem). O ideal, penso eu, é que se pudesse solicitar pelos times em, sei lá, 3 lances de cada tempo, para não virar uma coisa a ser pedida a toda hora e a arbitragem não escolher em seu subjetivismo os lances a serem confrontados com a tecnologia.

E a geração Neymar e cia? Uma geração de mimados... Uma pena. Muito talentosos, mas muito mimados. Ainda inexperientes para ganhar uma Copa, embora fossem ainda mais em 2014. Podem perder a cabeça em um jogo muito adverso e perdermos a Copa, mais uma vez, pelo lado psicológico. Mas podemos ganhar se o talento deles suplantar a inexperiência. Esta seleção é estranha, repleta de jogadores que jogam no exterior, foi incapaz de fazer um amistoso de despedida no Brasil antes de partir para a Rússia, como outras seleções fazem. Preferiu embarcar escondida e jogar os últimos amistosos em Londres, para inglês pagar. E apesar de ser uma seleção de "estrangeiros" e mercenária até nos amistosos, não resistimos e torcemos para ela. Como dizia Tim Maia: "Este país não pode dar certo. Aqui prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante se vicia e pobre é de direita".

No geral, não consigo apontar uma seleção favorita, sobretudo diante do equilíbrio da maioria absoluta das partidas. Resultados muito inesperados. Vai ser muito divertida e emocionante essa fase final. Como profetizou Xico Sá, "todas as retrancas serão castigadas". E estão sendo. Times que querem segurar empates e se defender estão indo embora aos montes nesta Copa.

São tantas emoções...

Copa é diferente. É uma vez só a cada 4 anos. Justifica toda a paixão mundial. O encontro dos povos, o encontro dos melhores no esporte mais querido do planeta. Lindo demais. Emocionante demais. Para perceber isto, é preciso ver a Copa como mais que um campeonato de "pão e circo". É preciso ver as histórias por trás de cada país, entender o que aquele momento representa para cada povo participante. É entender, por exemplo, que no Irã as mulheres não podem ir a um estádio de futebol, mas que foram assistir sua seleção na Rússia. Isto é simbólico demais. É muito mais que só futebol. Isto justifica você querer assistir todos os jogos, até mesmo um movimentado Japão x Senegal. Ninguém é obrigado a gostar de futebol, mas quando se percebe o verdadeiro sentido de uma Copa, se entende que ela é tão deliciosa, ou mais, que uma Olimpíadas. O futebol não é o culpado dos problemas de nenhum país, não somos o que somos politicamente por causa do futebol. Ele, no fim, apenas torna nossos dias menos duros e tristes.

E a Rússia? Um país grandioso não só em tamanho, mas em tudo. Um país que é tão grande quanto misterioso, meio esquisito, às vezes. O país que nos deu os cosmonautas, que venceu a 2ª Guerra Mundial para o Ocidente, que nos deu a experiência socialista, que nos deu a beleza do balé, que convive entre a linha tênue do alcoolismo institucionalizado e do conservadorismo. A Rússia é encantadora em seus mistérios e em suas bizarrices. Muito deu ao mundo e muito ainda tem a aprender com o mundo.

A Copa abriu a Rússia ao mundo (sempre aos poucos, como de costume) e o mundo abriu a Rússia, trazendo para dentro dela um universo plural de raças, religiões, sexualidade e etc. A Copa está fazendo muito bem aos russos, que, espia só, parecem estar menos frios. Suspeito que estejam gostando de tanta gente diferente em meio à fria e pouco plural vida russa. A Rússia é encantadora. O mundo ocidental, para variar, pintou previamente a imagem dos russos como "devoradores de criancinha", racistas e preconceituosos, alertou sobre os riscos de alguns comportamentos despertarem reações agressivas nos russos e até na polícia russa. Mas, ao menos até agora, não ouvi falar de nenhum episódio nesse sentido. Ao contrário, os russos parecem estar lidando muito bem com o mundo. Não descarto a possibilidade de que possam estar contando as horas para se livrarem dos visitantes e voltarem a viver o peculiar modo de vida russo. Mas prefiro acreditar na sinceridade da lágrima que a ursa Misha derramou delicadamente ao se despedir do mundo ao fim das Olimpíadas de Moscou em 1980.


Desta vez, nós é que sentiremos saudades. E ainda mal está na metade.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Goleiro

Dos 9 anos de idade até os 23 anos de idade, o futebol nunca me ofereceu nada além de ser um goleiro; um razoável goleiro, é verdade. Mas poucas coisas me fizeram tão bem ao longo de todos estes anos.

Os goleiros são como os anjos. Voam pelos ares como se tivessem asas e exercem a nobre missão de proteger sem nenhum sentimento de vaidade.

O goleiro é um destemido. Um bravo. Atira-se em bolas violentas e nos pés de adversários sem medo de machucar-se.

Ao goleiro, só interessa proteger a sua meta e garantir a vitória ao seu time. Todo o resto é bobagem. Não lhe preocupam as lesões.

Os goleiros são heróis. Alguns são santos, fazem milagres. Salvam. Garantem a alegria do povo. Evitam derrotas. Pegam pênaltis. Conquistam títulos. Estes momentos, raros na maior parte do tempo, são sublimes. Toca-se o céu com as pontas dos dedos, sem luvas. E um goleiro jamais esquece.

Mas o goleiro também é um coitado. Falha. Sofre. Vai do céu ao inferno em uma fração de segundos. É criticado, desmerecido, acusado, vaiado, xingado. É o vilão. Quando um gol é perdido, é o time quem perdeu um gol e a responsabilidade se dilui. Contudo, quando um goleiro toma um gol, ele é o principal responsável pela meta violado, no sentir dos torcedores.

No fim, o goleiro é só um homem.

Vence, mas sofre. Mais sofre do que recebe louros. Tem consciência da importância do que é e do que faz. Conhece a dureza de seu ofício. Lembra dos rápidos momentos de vitória, sem esquecer da realidade de joelhos ralados, hematomas, dedos entortados e dos ossos quebrados. Ninguém dentro de um campo imagina as angústias e tristezas que habitam o coração silencioso de um goleiro. Los recuerdos dolorosos. As derrotas e os gols que não se pôde evitar. Um voo mal calculado, um salto retardado, um momento de afobamento ou de excesso de confiança: GOL. A bola está dentro da rede. Resta um olhar resignado para trás. 

Não se deixe enganar. Ser goleiro é conviver com a brevidade do sucesso e a certeza do fracasso. Ser goleiro é uma luta constante contra o insucesso. Saber que mesmo que o time vença, somente ele viverá o fracasso de ter sido vencido em um ou mais gols sofridos. Cada gol tomado é um fracasso, ainda que o time vença. Cada gol que não pôde ser evitado, apesar de todo o esforço, é um fracasso. Uma bola a ser buscada no fundo das redes com o silêncio do coração. Mas um goleiro nunca pode deixar de acreditar, mesmo após mais um fracasso.

No fim das contas, nesta vida, todos somos um pouco goleiros. Temos que lidar com mais frequência com os momentos de fracasso e de dor do que com breves momentos de sucesso e glória.

Porém, somente alguns aceitam a responsabilidade que é ser goleiro nesta vida. Ser goleiro é cuidar e proteger, ainda que sem ser notado. É ser o responsável por proteger o amor de alguém, ainda que em silêncio. Ser goleiro é se machucar, se ralar, se quebrar, mas não deixar a vida de alguém se esvaziar. O sucesso desta empreitada traz ao goleiro grande satisfação pessoal, ainda que uma satisfação silenciosa.

Ocorre que, como dito, os goleiros falham e causam tristeza, mágoa ou chateação, ainda que não tenham agido com más intenções.

Ser goleiro também é admitir seus próprios erros.

Me desculpe.

domingo, 15 de maio de 2016

Sonho

De novo?! Sim! Hoje sim, hoje sim! Todo domingo agora é assim, dia de "coluna" no blog. Semana agitada esta que acabou, derrubaram nossa presidente, tiraram o povo do poder. Era sobre isso que eu já ia escrevendo até que, ao ouvir as músicas que terminei de baixar, ouço Andrea Bocelli cantando isso aqui. Aí lembrei do milagre de segunda-feira dia 02/05/2016: Leicester City campeão. Todos os comentaristas, sites esportivos e demais profissionais do futebol já teceram longas linhas sobre o milagre de Leicester, por que não eu?

Quando penso em Leicester campeão, me sinto orgulhoso, sem nunca ter ido em Leicester, sem jamais conhecer alguém que um dia lá esteve. Quando começou nos fins de 2015 o campeonato nacional de futebol mais valioso do planeta Terra, ninguém, talvez só o mais bêbado dos ingleses, seria capaz de apostar que o nanico Leicester City FC, que nunca antes conquistara um título de expressão na Inglaterra e que brigara para não ser rebaixado no último campeonato, poderia escandalizar o mundo e vencer a tradicional Premier League.

Durante todo o campeonato, enquanto o Leicester teimava em brigar pelas primeiras posições, o mundo esportivo tratava com desdém as chances do clube ser campeão, afinal, o que poderia fazer o pequenino Leicester contra clubes tão tradicionais, campeões e ricos?

Mas foram chegando as rodadas finais, o pequeno clube inglês foi resistindo à força dos clubes mais ricos do mundo e atrasando o relógio da carruagem da cinderela, fazendo o mundo começar a suspeitar que o conto de fadas poderia ser uma história real. E assim foi rodada a rodada, com cada vez mais torcedores ao redor do mundo torcendo pelo sucesso do pequeno inglesinho frente à artilharia pesada dos multicampeões times da terra da rainha, até a inesquecível segunda-feira dia 02/05/2016, quando o Leicester sagrou-se campeão.

A história do Leicester é um conto de fadas do futebol, no qual um time formado por jogadores baratos rejeitados por grandes clubes, muitos mais acostumados em jogar as divisões secundárias do futebol inglês do que a primeira divisão, conseguiu sagrar-se campeão da liga nacional mais cara do planeta. É a história de um treinador italiano que nunca havia conquistado um grande título de verdade, que foi chutado em sua última experiência profissional e que apostou pizzas com seus jogadores em caso de vitórias durante a temporada, vindo agora, no fim da carreira, a ganhar respeito.

O milagre de Leicester é um pouco do milagre de nós mesmos, da gente comum, que precisa ter coragem para todos os dias disputar espaço com aqueles que são mais privilegiados financeiramente e intelectualmente, que precisa trabalhar firme para ter uma chance de sonhar, que precisa saber resistir nos momentos críticos que indicam não ser possível prosseguir. O sonho de Leicester representa aquele sonho que uma pessoa simples acha ousado até de sonhar e que, quando acontece, não se consegue nem acreditar.

Em um futebol moderno de cifras milionárias, Leicester representa a magia do esporte, a chama que não se apaga no coração dos amantes do esporte e da vida.

Andrea Bocelli prometeu ao seu amigo Claudio Ranieri, técnico italiano do Leicester, que cantaria no último jogo do time em casa, caso ocorresse o improvável título; e cumpriu. Em uma cena de arrepiar, Bocelli, que descobri ser cego, cantou para um estádio cheio de pessoas que mal acreditavam que o sonho tornou-se realidade. Bocelli, um cego, que carrega na voz o canto daqueles que fizeram e fazem, diariamente, aquilo que a lógica diz não ser possível, fechou de modo triunfante esse sonho da vida real. Obrigado, Leicester!


Me arrisco a dizer que até os céus pararam para contemplar esse espetáculo.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Mamilos são polêmicos

A Copa do Mundo me fez adquirir um novo comportamento: não consigo assistir os jogos sofríveis do Campeonato Brasileiro sem fazer alguma outra coisa simultaneamente. Neste momento,  enquanto passo os olhos em mais uma derrota do meu time no campeonato brasileiro, escrevo o rascunho da postagem a mão em uma folha de papel.

Tenho muita coisa pra escrever aqui no blog, mas este macaco de camisetas que vos escreve está de mudança para outra cidade em alguns dias em razão da nomeação em um concurso público e por isso está com a cabeça a mil.

Mas então.

O tema desta postagem está meio velho, mas preciso expor minha opinião sobre ele.

Há cerca de um mês, uma garota gaúcha se tornou assunto nacional ao ser flagrada chamando de "macaco", aos gritos, o goleiro Aranha, do time do Santos, durante a vitória desse time por 3x0 sobre a equipe Grêmio, em Porto Alegre/RS.

Esse fato foi amplamente noticiado pela imprensa brasileira, gerando indignação nacional. Resultado: a tal gaúcha foi demitida de seu emprego; teve a casa incendiada por um lunático; está respondendo a inquérito policial; e se tornou alvo de toda sorte de críticas.


Onde quero chegar. Cara, essa gente toda não sabe o que é a atmosfera de um campo de futebol. Não! Não tô dizendo que a gaúcha não praticou um ato de ofensa e tampouco estou apoiando a conduta dela. Mas não consigo ver no ato dela a mesma carga de reprovabilidade que os meios de comunicação deram.

Eu, indivíduo pardo de pai negro, apoiador das cotas raciais e favorável a toda forma de inclusão social da população negra, achei tudo um grande escândalo e espetáculo exagerado.

Quem, como eu, vai ao estádio, ainda que nos estádios amadores do Espírito Santo, sabe que durante uma partida de futebol vive-se tudo muito intensamente (além da racionalidade). Pessoas pacatas são capazes de xingar a mãe do juiz e dos atletas durante todo o jogo, de mandar todos ou alguns dos que estão em campo se foderem (até os jogadores do próprio time). Em resumo, nada é racional em um campo de futebol. Aliás, os próprios jogadores se xingam durante os jogos, tudo para desestabilizar psicologicamente o oponente. As ofensas fazem parte do futebol de maneira tão natural quanto o fato de a bola ser redonda.

Ao pé da letra, xingar o juiz de "filho da puta" é crime, assim como também é chamar um jogador do time adversário de "viado" etc. Mas por que ninguém se revolta com os autores dessas ofensas? É tudo crime, minha gente! Assim como chamar um atleta de "macaco". Só muda o delito, mas são todas condutas criminosas.


GOOOOOOL DO MEU TIME! VAMOS, PORRA! EMPATAMOS O JOGO!

Voltando...

É muita hipocrisia esse povo todo de uma hora para outra achar inaceitável a conduta da gaúcha, mas no domingo essa mesma gente ir no estádio e chamar os jogadores do time adversário de "viados". Ué? "Macaco" não pode, mas chamar de "viado" pode? O peso das ofensas são diferentes?

Onde quero chegar. Pra mim, torcedor é tudo "doente" dentro de um estádio. Alguns mais, outros menos, mas todos "doentes".

GOOOOOOOL DE NOVO! VIRAMOS, CARALHO!

Voltando...

Se a torcida perde o controle racional durante o jogo, quem tem que ser punido pelos excessos é o time. Não UM torcedor individualmente. No caso concreto, o Grêmio foi eliminado da competição por causa do comportamento de sua torcedora e outros ao redor dela. Perfeito! Uma decisão padrão Europa e sem precedentes por aqui, onde tudo acaba em multas ridículas para os times de futebol. Punições ao clubes reprimem os torcedores de fazerem merda.

O torcedor é um "doente" que geralmente ama seu time acima de quase tudo. Por isso, ofende e se excede dentro do estádio. O torcedor prefere não fazer merda e vigiar os outros para também não fazerem se souber que seu time pode ser punido por suas condutas. Já punir UM torcedor individualmente pode até fazer o torcedor punido mudar suas condutas, mas tem efeito quase que nenhum sobre os demais.

Pra mim, foi lamentável a crucificação da gaúcha "doente" pelo Grêmio como se ela fosse uma racista nazista, digna de toda punição. Pra mim, ela errou, cometeu um crime, mas não fez algo que justificasse o tratamento que recebeu de nossa sociedade, que, diga-se de passagem, não é nem um pouco racista em suas práticas cotidianas...

Rotular de racista quem xinga em um campo de futebol, pra mim, é um excesso, haja vista as insanidades que os torcedores gritam sem pensar no calor de partidas de futebol. Veja se isso não é um depoimento de uma pessoa "doente" por um clube:


Ela fala mais do Grêmio, sua paixão, do que efetivamente do que fez. Pra mim, ela é "doente" pelo Grêmio, de fato, e não propriamente uma racista.

E digo mais. É preciso sensibilidade para saber diferenciar a conduta de quem ofende um adversário no calor do jogo daquela conduta de quem, de maneira premeditada, leva uma banana e faixas racistas para um campo de futebol, por exemplo. Pra mim, não dá pra colocar tudo no mesmo balaio.

Porém, infelizmente, nossa sociedade gosta de ser hipócrita, de dar peso igual para coisas diferentes; de achar mais reprovável a conduta individual da gaúcha branca em um campo de futebol do que as condutas de policiais que diariamente discriminam a população negra em suas abordagens de "suspeitos" e dos governantes que fecham os olhos para políticas de inclusão dos negros.

Quem dera se os problemas raciais de nosso país se resumissem a ofensas individuais proferidas por torcedores dentro de estádios de futebol.

A propósito, sabe o jogo que eu tava assistindo enquanto escrevia? Ganhamos daquele time de merda!

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Justiça nos dentes

Quando recebi uma mensagem pelo whatsapp no meio da tarde dizendo que Luisito Suárez havia mordido alguém mais uma vez, pensei que fosse brincadeira. Levei um susto ao chegar em casa e ver que de fato era verdade. Não fazia o menor sentido uma mordida naquelas circunstâncias (não que em outras circunstâncias fizesse algum sentido).


Por um momento tive pena. Pena do atleta que há pouco mais de 1 mês estava em uma cadeira de rodas e fora da Copa do Mundo, mas que deu seu máximo para conseguir entrar em campo e ajudar sua seleção no momento que ela mais precisava dele. Ele iria do céu ao inferno. Eu tinha certeza disso. De herói da classificação a vilão.

Olhando a mordida dada por ele, não achei que foi AQUELA mordida. Italianos são sempre muito dramáticos. Sei lá, achei muito escândalo para pouco dente. Mas por outro lado, foi uma mordida. Um exemplo ruim em uma ocasião para lá de inadequada. Poucas coisas neste planeta têm tanta audiência quanto um jogo de Copa do Mundo. Logo, poucas coisas ganham tanta publicidade quanto algo feito durante uma partida de uma Copa do Mundo.

Um péssimo exemplo. Para as crianças que estão descobrindo a magia do futebol. Um péssimo exemplo no esporte que é capaz de parar guerras. Uma conduta errada no momento mais errado possível. Um mau exemplo visto por milhões de cabeças.

Normal haver uma punição a Luisito. Não se pode deixar impune uma conduta tão fora do mundo do futebol como uma mordida no adversário.

Mas aí começa a festa.


Um monte de gente defendendo Luisito. Como esse senhor da foto, que deu ao mundo o bom exemplo de ser expulso de uma Copa do Mundo por ter sido flagrado no exame antidoping em plena competição.

Sai a punição: quatro meses fora dos gramados e suspensão de nove jogos oficiais pela seleção uruguaia. Pesada? Pela praticamente inexistente lesão ao agredido, por certo a punição se mostra exacerbada. Mas como já disse antes, o ato de Luisito, em uma Copa do Mundo, tem um efeito muito mais nocivo para o futebol como esporte global. Quantas pessoas viram essa cena? Quantas pessoas não irão de alguma forma assimilar essa conduta como algo normal no futebol? Além disso, essa foi nada mais nada menos que a terceira mordida de Suárez contra adversários. Uma pena leve, por certo, não teria muito efeito sobre Luisito.

Mas eis que entra em cena o mundo latino. Digo latino porque não vi a imprensa europeia questionando muito a pena de Suárez. Porém, o mundo latino, viu a punição como quase uma pena de morte. Aí não pude deixar de pensar, como gostamos de ser coniventes com os "pequenos infratores" neste lado do mundo.

"Ah, nem é crime. É só uma contravenção penal."
"Ah, a sociedade aceita. Não dá pra dizer que seja ilegal."
"Ah, é uma mentirinha de leve."

Quem nunca ouviu algo assim por essas bandas? Por que tanta tolerância com as pequenas delinquências? Ah, porque são pequenas, ora! Mas se fosse assim, elas então nem deveriam ser consideradas delinquências. No meu trabalho, tenho a oportunidade de sentir pena de alguns acusados, mas sempre que me pego tendo essa recaída, me pergunto: estou sendo justo com aqueles de quem não senti pena? Em outros termos, ou se sente pena de todo mundo ou não se sente pena de ninguém. É meio radical? Pode ser. Mas dessa forma, se pode ter uma interpretação menos subjetiva das normas.

Eu senti pena de Luisito, como já disse anteriormente. Mas logo depois não pude deixar de considerar que ele errou e mereceu ser punido exemplarmente. Um histórico de três mordidas, sendo uma delas em uma Copa do Mundo, para milhões de telespectadores, não pode passar em branco. Não no mundo europeu. Já nesse nosso mundo onde quem "erra de leve" tem o mesmo tratamento que quem "faz o certo", a punição de Suárez foi um escândalo de cruel. 

Não estou exagerando. A título de exemplo, cito que torcedores do Corinthians mataram um jovem boliviano com um sinalizador durante uma partida de futebol e o time sequer foi desclassificado da competição pela Confederação Sul Americana de Futebol. A "pesada" punição foi ter que fazer alguns jogos em casa sem a presença da torcida e de não poder ter torcedores seus em jogos fora de casa. Na Europa, na época das brigas de torcida, os times  ingleses foram proibidos de jogar a principal competição de futebol daquele continente por cinco anos.

Quer outro exemplo? Neste ano, torcedores de um time peruano imitaram sons de macaco todas as vezes que o jogador Tinga, do Cruzeiro, tocava na bola. Punição ao clube: multa de US$ 12 mil. Sim. Uma multa ridícula para punir atos de racismo! É assim que são as punições na América do Sul. Por isso somos tão simpáticos a Suárez. Achamos tão normal mordidas, socos, xingamentos e empurrões. Levamos a sério aquela frase racista de que "futebol é um esporte de nobres praticado por selvagens".

Ainda temos muito o que aprender com os europeus em alguns aspectos... Acho que Luisito nunca mais vai morder alguém dentro de campo. A pena aplicada, por certo, terá cumprido seu papel punitivo e de prevenção.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Ela está linda

Acharam que eu ia deixar acabar a Copa do Mundo sem escrever nada sobre ela? De jeito nenhum! Acho que em 2010 escrevi mais sobre a Copa porque não havia bom futebol para assistir. Lembra da mulher bonita que acordou toda zuada em 2010, toda descabelada e feia? http://meuspensamentosabstratos.blogspot.com.br/2010/07/acho-que-acabou-ne-odeio-despedidas.html

Pois então! Aquela mulher acordou feia em 2010, mas está linda em 2014. Que grata surpresa é 2014. Gols, gols e mais gols. Até agora, como viciado em futebol, não tenho o que reclamar. O retorno do bom futebol depois de uma Copa do Mundo de bosta como em 2010 é realmente algo para se comemorar.

Aliás, a eliminação precoce da Espanha é um reflexo disso. Já em 2010 (vide link acima) eu tinha alertado que o futebol da então campeã mundial era uma fraude. Tiki-Taka para mim sempre foi sinônimo de não-futebol, de enrolação, de falta de objetividade e de, acima de tudo, falta de gols. Meus filhos, futebol é bola na rede, não há nada no futebol como o grito de GOL. Que os deuses do futebol permitam que esse Tiki-Taka, Titi-Caca, Titica, ou sei lá o quê, nunca mais dê as cartas em uma Copa do Mundo.


Neste exato momento estou escrevendo este texto em um caderno enquanto assisto a Costa Rica vencendo a Itália e cravando uma inesperada classificação para a segunda fase da Copa do Mundo em um grupo no qual todos os experts diziam, antes de a Copa começar, que a briga da Costa Rica seria para não ser goleada por muitos gols pelas três seleções campeãs mundiais de seu grupo (Inglaterra, Itália e Uruguai). Quem esperava por uma Costa Rica tão atrevida? Aposto que nem eles mesmos.

Nesta Copa do Mundo haverá surpresas, senhores! Graças a Deus! Os grupos ficaram muito desequilibrados em razão de times sem muita tradição como Bélgica, Suíça e Colômbia terem sido colocadas como cabeças de chave e de os sorteios terem propiciado a formação de alguns grupos só com seleções medianas e fracas. Isto é o futebol! Talvez o esporte mais imprevisível de todos.

Estou com pouco tempo e escrevendo no puro ímpeto, sem ideias fixas e organizadas. No puro coração! Mas mesmo nessa correria preciso dizer algumas coisas pontuais: 

Que orgulho saber que ninguém lembrará da nossa Copa como aquela em que bolas entraram e o juiz não viu. Já era hora de haver um sistema inteligente gol/não gol. O gol é o que há de mais importante no esporte mais popular do planeta, era uma indecência times serem eliminados ou perderem títulos mundiais (como a Alemanha em 1966) porque não havia tecnologia para dizer se uma bola cruzou a linha do gol ou não.


Um ponto negativo desta Copa, no entanto, são as contusões que tiraram dela jogadores como Ribéry e Falcao García. Outro ponto negativo são os pavorosos jogos de 13 horas! Quem foi o gênio? Futebol às 13 horas em Recife/PE. É brincadeira... Pode ter certeza que vai ter time europeu eliminado "antes da hora" que vai querer reclamar disso - em parte com razão, penso eu.

Mas aí, os ingleses tinham que se fuder mesmo. Povo estranho. A imprensa deles reclamou tanto de Manaus, falando mal da temperatura, da umidade, da distância, do gramado, dos perigos da violência e das doenças... Como se fosse um paraíso aquela ilha eternamente chuvosa e fria, de gente gelada, onde torcedores bêbados se matavam até meados dos anos 1980 sem qualquer motivo e onde um eletricista estrangeiro é confundido com terrorista e morto pela polícia...

Parabéns, ingleses! Desde 1966 vocês não chegam nem em final de Copa do Mundo, seja em solo "civilizado" ou na "selva". Desde 1966 vocês não assustam ninguém, sendo que nos últimos 15 anos suas esperanças se resumiam sobretudo ao futebol de um jogador mais conhecido pela beleza do que pelo futebol. Vocês reclamaram muito em 2014 e esqueceram de jogar futebol.

Viva a Amazônia! Ela mereceu receber jogos de Copa. afinal, também é um pedaço (um dos mais importantes, diga-se de passagem) do Brasil, bem como é o pulmão do mundo. Uma Copa no Brasil sem a Amazônia não seria uma Copa legitimamente brasileira!

Viva a Costa Rica! Ela acabou de vencer outra seleção campeã do mundo e de se classificar para as Oitavas de Final mesmo estando no "grupo da morte". Ah, esse resultado acaba de eliminar em definitivo os ingleses.

Isso é o futebol, bebê!

sábado, 15 de outubro de 2011

Um estádio e outras histórias

Chegue mais perto, preciso lhe contar um segredo. Não é nada muito extravagante, mas eu ainda tenho certo receio em dizer. Está pronto para ouvir? Então eu vou lhe contar.
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"Estou viciado. Desde o início de agosto, todo fim de semana eu tenho ido lá. Ligo para meus amigos, marcamos um horário no Terminal e vamos. Não perdi nenhum jogo da Desportiva Ferroviária em seu retorno ao futebol; fui em todos os jogos da 'TIVA' no Engenheiro Araripe." (Don Quasímodo, 17-09-11)

1. A minha primeira vez
Ainda guardo em minha carteira o registro da minha primeira vez. Comecei em grande estilo numa tarde nublada de domingo em 2008. Eu e meus amigos-irmãos do CEFETES marcamos quase como de zuera e fomos. Mais um daqueles eventos dos nossos últimos suspiros de CEFETES. Nos encontramos no Terminal de Vila Velha, tomamos um 500 e partimos. Descemos na estação, atravessamos a Rodovia e fomos em direção ao "Coliseu". O público era pequeno, é verdade, mas era dia de clássico, e isso por si só já bastava, embora os dois times não tivessem mais chances de disputar a fase final do Capixabão, ou seja, o jogo não valia nada. Perdurava a dúvida se o craque (Sávio - o "anjo loiro da gávea") jogaria ou não, mas ainda assim queríamos ver.

Tudo era novo: desde a ida à bilheteria até o sentar a bunda na arquibancada. Ainda não tinhamos uma preferência sobre pra quem torcer, mas você sabe como é o amor, né? Surge quando a gente não espera. Naquele dia, escolhemos sentar no cantinho reservado à torcida visitante (Desportiva) e assim começou o amor. Eu que já tinha uma certa simpatia, comecei naquele dia o meu processo de "Desportivação". Não vibrava ou esbravejava como os demais torcedores, no máximo ria do descontrole emocional de alguns deles. Estava torcendo, mas mais do que isso, contemplando, vendo como era diferente ver a bola rolar tão próxima dos olhos. Não perdia nenhum detalhe. Naquele dia eu era mais cientista do que torcedor. O jogo em si foi feio. 1x0 para eles num gol aos 10 do primeiro tempo. E ficou nisso. Jogo entediante.
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1.1. O Santo Graal
Dizem que o melhor sempre fica para o final, né? Pois então, eis o grand finale: Acaba o jogo e um torcedor do Rio Branco de uns 60 anos (um típico torcedor do "Asilo" - como comumente chamamos a torcida desse time) entra em campo (sabe-se lá como) segurando o "Santo Graal" (ou, se preferir, uma ave que me pareceu vista da arquibancada ser uma galinha de angola). Direção: Corria dentro do campo em direção ao jovem goleiro da Desportiva com o "Santo Graal" entre os braços. Galinha. Goleiro. Te lembra alguma coisa? Acho que isso também lembrou algo ao goleiro da TIVA, que sem fazer qualquer cerimônia deu logo um empurrão no velho e tentou chutá-lo. Prontamente a polícia interveio e o goleiro, que entrou em campo de luvas, saiu de algemas. Obviamente que não deve ter ficado preso nem 30 minutos, mas essa cena inusitada ficou em minha retina como uma lembrança da minha 1ª vez. Hoje lembro desse episódio com humor, mas na época ele me soou como um "Nunca mais boto o pé nesse antro de amadorismo chamado futebol capixaba!"
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2. Hiato
E assim se fez. Afastei-me por todo o ano de 2009 dos jogos da TIVA. Não assisti a nenhum, nem mesmo a final da Copa ES de 2008, o último grande triunfo da TIVA. Voltei apenas em 2010. Eu e meus amigos do CEFETES presenciamos a campanha do rebaixamento, na qual os pontos altos foram a vitória de 1x0 sobre o campeão Rio Branco e um dramático e cheio de histórias jogo do rebaixamento contra o Espírito Santo de Anchieta (essas histórias eu deixo para outra ocasião). Foi na campanha do rebaixamento que me tornei, em definitivo, um GRENÁ. Fomos rebaixados. E assim, o clube-empresa Desportiva Capixaba encerrou suas atividades, vindo a ser sucedido (após intensas e ainda não finalizadas batalhas judiciais) pela legítima e tradicional Desportiva Ferroviária em meados de 2011, após 1 ano inteiro sem futebol e de incertezas para os seus fiéis torcedores.
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3. A torcida
Como é de se esperar, a maior parte é formada por homens, MAS, também há muitas crianças e mulheres (e elas também gritam, e como gritam! - por falar nisso, minha mãe tá toda animada para ir ao estádio comigo qualquer dia desses, embora ela deteste ver futebol na TV). Há pessoas que parecem ir lá desde os tempos áureos do futebol capixaba. Há velhinhas apoiando o time. Casais. Velhos de muleta. Gente feia. Gente bonita. É interessante ver na torcida pessoas que você nunca imaginou que pudesse ver por lá, como ex-professores, servidores da Universidade etc.
A torcida é sempre muito exigente, seja com os atletas e treinadores, seja com os juízes. Ela quer o espetáculo de míseros R$ 10,00 (R$ 5,00 no meu caso). Mas tá sempre pronta para apoiar. É o estopim da bomba. É sempre interessante observar as reações: olhos vidrados; faces de incerteza e súplica; faces de fúria; bocas de incredulidade; bocas que sorriem ou balbuciam táticas; gestos para todos os lados. Muitas faces e reações por segundo.
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3.1. As organizadas

Eu pessoalmente não curto. Foi um dos meus traumas da minha 1ª vez: um grande tambor descompassado e um bando de moleques cantando gritos de provocação à torcida adversária. Moleques de costas para o campo, ignorando veementemente o jogo, preocupados apenas em provocar. Sensação do primeiro contato: não vieram para torcer. Senti um certo desconforto pela proximidade com eles, embora tenha percebido que as organizadas (mesmo as voltadas para briga) têm certo respeito pelo torcedor comum.

Com o tempo observei que nem todas as organizadas são como aquela que vi no primeiro jogo, pois há aquelas que são da paz e essas fazem um lindo espetáculo: cantam apoiando o time o jogo inteiro; tocam compassadamente o tambor; criam músicas que apoiam o time, mas que também gozam o adversário (sem chamar para a porrada) ou xingam o juiz; lançam papel higiênico e acendem sinalizadores na entrada do time em campo; aplaudem os jogadores. Essas conseguem até animar a torcida comum, que não goza da organização necessária para puxar cânticos, mas no máximo para aplaudir.

Por outro lado, há aquelas organizadas que sempre chegam após o início do jogo, que marcam brigas fora do campo, que criam emboscadas para pegar a torcida organizada rival, que têm no futebol apenas um motivo secundário para brigar. Cães de briga. Chega ao extremo de dia desses eu ver uns 30 moleques virem da Serra para o jogo em Cariacica e nem chegarem a entrar no estádio para assistir o jogo e apoiar o Serra. Motivo: chegaram cantando e provocando, querendo brigar, mas em menos de 3 minutos (juro) foram botados para correr pela torcida organizada rival que os esperava na porta do estádio após o início do jogo. Ou seja, andaram uns 50 minutos ou mais de ônibus para em 3 minutos (!) serem botados para correr, pegarem o ônibus e voltarem para a Serra... Faz sentido? Isso é torcedor?

Tenho que reconhecer uma questão: as organizadas são quem animam as arquibancadas. São quem comandam os cânticos da torcida. Podem tornar o espetáculo muito bonito, desde que venham de fato pra torcer. MAS, considerando que hoje, as torcidas organizadas que surgem parecem voltar-se mais para organizar brigas do que torcer, creio que elas devem ser impedidas de entrar nos estádios. Uma medida extrema que acaba punindo aquelas torcidas que vão para torcer, mas que serve para proteger o espetáculo contra marginais que querem apenas ter o futebol como pano de fundo para brigar.


4. A atmosfera
Os cientistas e os atores que me perdoem, mas perdem no estádio um ótimo laboratório humano; seja para estudo das sensações humanas ou para a criação de diferentes faces para personagens. A atmossfera de um estádio é apaixonante. Por algum motivo que não sei explicar, as pessoas conseguem extravazar uma energia muito forte assistindo a um jogo, seja bom ou ruim. São pessoas no estado in natura, não há essas superficialidades comportamentais que costumamos ver por aí. Parece haver uma ponte instantânea entre emoção e ação. As pessoas oscilam de humor umas 30 vezes dentro de 1 minuto! Raiva. Esperança. Felicidade. Desespero. Incerteza. Desânimo. Inconformismo. Humor. Incentivo. Tudo junto! Você percebe que se contaminou quando começa a sugerir jogadas aos jogadores quando os mesmos pegam na bola, quando começa a levantar a bunda da arquibancada quando o time chega próximo à grande área do adversário, quando começa a esbravejar contra jogadores que erram jogadas e contra os juízes. É estranho. Você xinga alto, faz gestos obscenos para o campo, grita, aplaude (mesmo lances feios), canta desafinado com a torcida, pede falta mesmo sabendo que não foi. Pura insanidade. Você põe tudo pra fora. Sei lá. As sensações ficam à flor da pele. Você sente e reage aos estímulos recebidos em tempo recorde. Eu tenho vergonha de gritar até mesmo para o motorista abrir a porta em um ônibus cheio, mas no meio daquele bando de desconhecidos do estádio eu me sinto à vontade para gritar a plenos pulmões. Por quê? Não sei. Ninguém parece se importar com as reações alheias, até porque todos parecem ser um só. Todos na mesma sintonia e vibração. Seja para incentivar, comemorar ou xingar. Todos respirando o ar da mesma atmosfera. Em menos de um minuto a incerteza e a raiva coletiva pela derrota pode transformar-se no orgasmo da vitória.
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5. O gol
O ápice da ida ao estádio. O momento em que aquele ar que todos prenderam enquanto a bola caminhava para a rede solta-se inesperadamente. É perceptível o sumiço do ar no momento que antecede o gol, parece que todos puxam para poder soltá-lo depois a pleno pulmões. O que se sente neste instante é maravilhoso. É como se por um instante fosse possível sentir o céu com a ponta dos dedos. O gol traz a sensação de poder. De que tudo pode ser diferente. Se a vitória era dúvida, torna-se certeza. Se o time jogava mal, renasce a esperança de vê-lo jogar bem. O feio torna-se belo. Acho que deve ser uma boa hora para pedir uma mulher em casamento (hahaha, principalmente se ela também estiver envolvida na emoção do jogo). E a festa? Só para se ter ideia, lembro de ter abraçado um desconhecido no gol da vitória contra o Rio Branco na campanha contra o rebaixamento.
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E se o gol for do advesário? Silêncio. Uma multidão de mudos. Centenas ou milhares de vozes em silêncio por uns 5 segundos Ouve-se até os sons da comemoração dos atletas dentro do campo. São segundos sepulcrais. É nessas horas que penso como deve ter sido engasturante um Maracanã mudo em 1950 após o 2º gol do Uruguai na final da Copa do Mundo. Muito estranho. É como morrer de olhos abertos. Parece que a respiração some e o coração não bate neste instante. Depois, pode ser que a torcida comece a apoiar o time ou a esbravejar contra um culpado, tudo de modo desarmônico, como uma manada de babuínos. É o momento crítico.

6. A esperança
O que me entristece é que o futebol em nosso estado é tão amador que muita gente que costumava vir ao estádio não mais o faz, assim como aqueles que nunca foram não têm a menor vontade de ir. Sempre que posso, convido amigos que nunca foram ou há tempos não vão. É preciso valorizar o que é da terra, senhores! Quando se fala em futebol, parecemos colônia do Rio de Janeiro. Só se fala em Flamengo, Vasco, Fluminense, Botafogo... Ok, torço para um time de São Paulo, mas te juro que se meu time viesse aqui jogar contra a TIVA, eu iria ao jogo com a camisa da minha TIVA torcer por ela. Acima de tudo, sou capixaba, valorizo o que é da minha terra!
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Mas eu ainda tenho esperança, embora ainda veja coisas absurdas como uma arbitragem amadora como a que apitou o clássico entre TIVA e Rio Branco na tarde de hoje. Um espetáculo visto por tantas pessoas não poderia ter tido o juiz como protagonista. É como bem cantou a torcida grená: ("EEE TEM UM VIADO QUERENDO APARECER") hehe
O que ainda me faz acreditar é ver que embora haja um total descrédito e falta de apoio da imprensa e da iniciativa privada com nosso futebol, as pessoas ainda lembram que aqui se pratica o nobre esporte bretão. Ganhei o dia ao ouvir de uma garota (aquela para quem dediquei os poemas errantes deste blog) que ela conhece o nome de times daqui! Achei surreal, afinal, além de não parecer ser muito fã de futebol, ela mora nesse estado onde as pessoas praticamente não ouvem falar do futebol local. Sem dúvida, ainda há razões para ter esperança em relação ao nosso futebol. Em pleno sábado à tarde as arquibancadas estavam cheias de torcedores e torcedoras querendo ver o clássico local (que há cerca de 1 mês já reuniu 2.500 pessoas numa manhã de domingo)! As pessoas, como aquela garota, já ouviram falar num tal futebol capixaba, só precisam ser cativadas a conhecê-lo. Fiz um pouco da minha parte neste texto, mas reconheço que é preciso um esforço muito maior para sair desse poço de amadorismo. É preciso um esforço coletivo da iniciativa privada e da pública. Quem sabe um dia a minha história do Santo Graal soe como uma lenda em nosso futebol...

Domingo, eu vou ao Araripe
Vou torcer pro time que sou fã,
Vou levar foguetes e bandeira
Não vai ser de brincadeira,
Ele vai ser campeão

Não quero cadeira numerada,
Vou ficar na arquibancada
Prá sentir mais emoção

Porque meu time bota pra ferver,
E o nome dele são vocês que vão dizer
Porque meu time bota pra ferver,
E o nome dele são vocês que vão dizer
(ô, ô, ô ) Ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô TIVA! Ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô TIVA!

sábado, 17 de julho de 2010

Deixando o vício?

Acho que acabou, né? Odeio despedidas, seja de quem ou do quê for. Sempre me bate uma sensação de saudade, mesmo aquilo que tenha sido ruim deixa um certo vazio; por algum motivo que desafia a lógica, mesmo as coisas ruins ou as pessoas que não me trazem grande estima parecem boas e simpáticas na hora da despedida. Até entendo, mas não gosto da sensação de que algo não vai se repetir nunca mais.

http://media.josevitor.blog.br/Imagens/hora_de_dar_tchau.jpghttps://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_ODR9U0ZUr6AeMod1P6Cdv81_N3d16X1-37uUCE1uf3KkvN9a95HfB6wmtv9UTlrGBDPojZhd45fY2VrN689ahjGNec-dJSDEYWEQ19LD-vD1SkSV8iCmpq3BJlzH48SWx-1WvbeAu88/s400/Adeus+amiga.jpeg

Mas dessa vez foi diferente, ela se foi sem deixar muitas saudades. Se foi me deixando a sensação de que foi ruim, o que contraria a minha lógica exposto acima. Sou futebolátra assumido (não daqueles capazes de matar por esse amor, mas apenas de sofrer por ele), logo, a Copa do Mundo representa um momento esperado ansiosamente, é o ápice desse amor, o ápice da loucura que guia os amantes do futebol, comigo não é diferente. Mas essa Copa foi diferente...

A Copa começou com um nível técnico (que não é preciso ser nenhum especialista para saber) fraco, muito ruim. Jogos monótonos; placares apertados; empates sem gols; jogadas sem brilho; parecia uma mulher muito bonita, mas recém-acordada e com os cabelos todos bagunçados. Eu e o mundo todo sabíamos que ela tinha potencial para melhorar (daí a lógica da mulher bonita recém-acordada), afinal, em tese, os melhores do mundo estavam lá, mas isso não se deu da maneira esperada.

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Tudo bem que o nível técnico melhorou após a 1ª rodada, mas ainda era pífio, mesmo para mim, um viciado que tem os seus sentidos e o seu senso crítico um pouco abalados diante da Copa do Mundo. Não digo que não ocorreram jogos emocionantes nessa fase inicial, pelo contrário, ocorreram alguns, mas, Sir, não confunda emoção com qualidade, pois um jogo de futebol pode ser considerado BOM por ser emocionante e ainda assim ter sido em qualidade técnica uma senhora porcaria, assim como um jogo pode ser sem emoção (por exemplo: um time engolir o outro em campo sem dar chances de defesa ao adversário) e ser BOM, em razão da qualidade, em razão da vistosidade do futebol jogado por uma das equipes. Assim, tiveram bons jogos na 1ª fase da Copa, jogos muito emocionantes, mas sem a menor qualidade.

Se foi a 1ª fase, aí pensei: "Será que agora que foram embora os ditos times fracos a Copa terá jogos mais vistosos?" Não. Fui enganado, a melhora foi muito tímida. Eu não vi, mas dizem que Japão e Paraguai personificaram a falta de qualidade dessa Copa em um jogo chato, monótono, estudado, medroso, que só foi decidido nos penaltis, olha que valia uma vaga na próxima fase.

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Foi uma Copa muito estranha! Os sul-americanos (Paraguai e Uruguai) pararam de descer a botinada nos adversários e resolveram "jogar" bola; os africanos jogaram um futebol responsável e tático (bem europeu) e ficaram quase todos na 1ª fase na COPA DO CONTINENTE AFRICANO; os japoneses e os coreanos (do sul, obviamente) conseguiram fazer jogos menos inocentes contra os europeus e até surpreenderam; os alemães jogaram um futebol leve e envolvente como os sul-americanos; os brasileiros começaram a jogar um futebol mais defensivo e previsível; "los pibes" de Maradona começaram a jogar bola após uma eliminatória pífia...

A Jabulani merece até um parágrafo só para ela, talvez tenha sido a maior de todas as esquisitices. Eu acho muito estranho uma bola chamar tanta a atenção em uma Copa do Mundo, é sinal que algo não andava bem. Dizem que ela era leve para aumentar o número de gols e deixar os jogos mais emocionantes, mas me pergunto: se nem ela conseguiu foi porque o negócio tava ruim mesmo. Ela me lembra a fita de Super Nintendo que foi lançada pela FIFA para a Copa de 1994, nos EUA, explico: Não é mistério para ninguém que a Copa de 1994 foi uma tentativa desesperada de popularizar o soccer nos EUA, e parece que tal fita de vídeo game foi no mesmo embalo, por quê? Porque tinha opções de jogo chamadas: "crazy ball" e uma outra que não lembro o nome que descaracterizavam o futebol para agradar os americanos. A "crazy ball" deixava a direção dos chutes tortos e os gols saíam de maneira inesperada e com mais frequência, já a outra opção criava um campo eletromagnético em volta do campo que não deixava a bola sair de campo. Coisas para agradar americano, que nunca entenderam como o mundo inteiro é capaz de amar o soccer, um jogo tão monótono, cujos gols demoram para sair, às vezes nem saem... Pois é, a Jabulani foi uma tentativa, real, de implantar a "crazy ball" e deixar o jogo com mais gols, mas o tiro saiu pela culatra, afinal, ela conseguiu deixar os jogos com ainda menos gols.

Outra bizarrice foi o polvo que adivinhava os jogos, isso mostra o quanto a Copa estava interessante... Pense comigo: quais recordações a Copa da África deixará em sua memória para contar aos netos: a Jabulani (a "crazy ball"); o polvo que adivinhava os jogos; e talvez o som das Vuvuzelas. Futebol mesmo eu garanto que você de pouco lembrará, mas não é culpa sua, o bom futebol esteve ausente a maior parte do tempo. Ah, não serei injusto, contarei aos meus netos (que soberba minha falar de netos nesse estágio da vida...) a história de Uruguai e Gana (um BOM jogo pelo aspecto da emoção, mas também fraco técnicamente), só isso eu lembrarei. Ah tá, lembrarei também de contar da pisada do Felipe Melo no Robben. Só!

http://www.abril.com.br/blog/copa-do-mundo-2010/files/2010/07/polvo-espanha-reuters-550.jpghttp://im.r7.com/outros/files/2C92/94A4/2988/228A/0129/93E5/F1B2/68AD/brasil-melo-pis%C3%A3o-hg-20100702.jpg

Amanhã faz uma semana que a Copa acabou e eu já quase não lembro dela, mal lembro quem ganhou a final. Esse é o capítulo mais trágico! Eu ouvi por 2 anos, desde a Eurocopa 2008, que o futebol espanhol é o melhor do mundo. Me perdoem, eu posso não ser especialista em futebol (apesar de eu acreditar que todos entendem um pouco de futebol, não havendo, assim especialistas, mas homens que ganham dinheiro para falar aquilo que é o óbvio), mas eu tive sono em dois jogos da Espanha, sendo que em um deles, contra a Alemanha, eu "pesquei". Falam do refinado e tático toque de bola espanhol, mas para mim não passa de um time que toca bola eternamente e que NÃO chuta à gol. Eles jogam um futebol burocrático, que toca muito e se der faz gol. Contra a Alemanha tocaram ("magicamente" para os especialistas) por 90 minutos e resolveram o jogo com um gol de cabeça (o que existe de mais bruto e selvagem no futebol) do "técnico" zagueiro Puyol, por que tocar tanto? Para ter que resolver com um gol de zagueiro, de cabeça? Igual fazem os times da Série D, no Brasil? Ah, fala sério... Em tese, o campeão mundial é o melhor do mundo no futebol, mas eu me recuso a considerar merecedor desse título um time que só fez 8 gols em 7 jogos, é como se esse futebol tão superior tivesse ganhado todos os jogos por 1x0. Não me curvo ao título espanhol!


E a Holanda? Desses eu tenho até receio de falar. Futebol robôtico, duro, violento e desleal muitas vezes, nada de especial, só cruzamentos na área e chutes de fora da área. Feio. Ah, mas eles estavem invictos há mais de 15 jogos, e daí? Era um futebol de resultado e só. Em nada lembrava a histórica "laranja mecânica", mesmo os holandeses consideraram essa seleção feia, quem sou eu para ir contra? Apesar disso, eu torci por ela na final, não pelo merecimento, mas pela minha antipatia pelo povo espanhol e para calar os que achavam lindo, esplêndido, delicioso, e técnico o futebol espanhol. Eu confesso que torci pela brutalidade do futebol holandês, pela falta de técnica. Eu quis que o mundo acordasse e visse que a Copa toda foi feia como o futebol holandês. Nada mais justo que o feio vencesse o burocrático.


A final foi como eu esperava: sem emoção, sem graça, chata e (como eu previ) sem gols! Amigo, pense: imagine que você nunca viu futebol e resolve pela primeira vez assistir, escolhe exatamente o jogo final da Copa do Mundo, afinal, em tese, seria o supra-sumo do futebol, o ápice do bom futebol, você iria ver o que o futebol tem em seu melhor. Como você se sentiria após Holanda e Espanha? Eu acho que eu nunca mais iria querer ver futebol. Dois times medrosos em campo, com medo de atacar. Futebol sem objetividade, burocrático. Sem jogadas capazes de tirar aquele suspiro. Futebol sem surpresas, previsível. Futebol defensivo. Faltas em excesso. Nada brilhante. O triunfo da tática sobre a técnica. Juro que chegou uma determinada hora que o meu maior desejo foi o de que alguém (mesmo os espanhóis) fizessem logo o gol só para acabar logo com a tortura. Eu não queria ver tudo decidido, outra vez, nos penaltis! Depois não entendem porque os americanos não gostam de futebol: eles tiveram o prazer de ver uma final de Copa entre Brasil e Itália, em 1994, que terminou em 0x0 após 120 minutos de jogo! E para a surpresa deles ainda tiveram jogadores que conseguiram perder penaltis! Foi muito traumático. Dizia Homer Simpson em um episódio sobre futebol: "Talvez eu dê sorte e consiga ver um gol". A final da Copa de 2010 foi a personificação disso, foi para fechar com chave de bosta uma Copa que foi nesse nível.


Eu, futebólatra, me pergunto: será esse o futuro do futebol? Tática acima da técnica. Eu tive medo nessa Copa, afinal, depois de 12 anos vendo futebol semanalmente, eu, pela primeira vez, consegui visualizar esquemas táticos dentro de campo. Eu vi a Holanda marcando por zona a Espanha! M-E-D-O. Eu nunca observo tática, mas dessa vez tava tudo muito claro, tudo muito mecânico, engessado, era impossível não reparar. Será esse o futuro do futebol? Jogadores brucutus, duros; técnicos obcecados por futebol tático?

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Espero que não! Me sinto como um viciado que foi informado que sua droga vai deixar de ser fabricada do jeito que era, que vai ficar mais fraca. Prefiro acreditar que em 2010 aquela mulher bonita acordou um pouco mais descabelada do que deveria, mas que em 2014 ela voltará a ser bela...