quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Hã?

PRETO ao BRANCO
PRETO de BRANCO
PRETO em BRANCO
PRETO à la BRANCO
PRETO pra BRANCO
PRETO no BRANCO
PRETO e BRANCO
PRETO embora BRANCO
PRETO do BRANCO
PRETO sem BRANCO
PRETO mais BRANCO
PRETO ou BRANCO
PRETO com BRANCO
PRETO é BRANCO
hã?
O nada é o tudo?
Não entendi.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Mamando en las tetas

Quando você ainda era criança, o que você queria ser quando crescesse? Eu, conforme alguns amigos próximos já sabem, queria ser padre. Por quê? Eram dois os motivos fundamentais: 1 - padre não é assaltado e nem sequestrado (como eu era inocente); 2 - ser padre daria a certeza de que eu iria para o céu. O resto era blá blá blá ou mi mi mi, pois essas eram de fato as minhas motivações mais concretas. Por incrível que pareça eu tive esse desejo por mim mesmo, mas é claro que todo mundo achava isso muito "bonitinho" quando eu ainda era um niño. Passaram-se os anos e eu comecei a perceber que aquelas duas motivações iniciais para ser padre não tinham muita sustentação.

No ensino fundamental eu era bom aluno em praticamente tudo, logo, eu tinha um leque muito grande de profissões em aberto. Eu tinha fortes inclinações a ser engenheiro, apesar de eu não saber exatamente o que um fazia. Todavia, o Ensino Médio me mostrou que eu não era bom no que eu gostava (matemática) e meu vasto leque foi diminuindo até eu perceber que eu só tinha algum futuro em coisas envolvendo história ou geografia. O que dá pra ser com essas habilidades? Hã... Hum... Ah, já sei! Professor. Professor? Sim, professor (para o desespero da minha mãe...) Ao mesmo tempo em que me apaixonei pelo magistério da história, percebi que não seria justo com o esforço da minha mãe ao longo de tantos anos, eu, no fim das contas, virar professor de história, ganhando uma merreca e sem condições de dar uma vida menos sofrida para ela. Convém salientar que até os 45 do 2º tempo ainda cogitei ser padre, mas vi que apesar da vontade espontânea que me movia nessa direção, eu, como filho único de uma mãe solteira não deveria largá-la, de certa forma, no desamparo financeiro, apesar de saber que ela sentiria um orgulho tremendo de um filho padre, ainda que em troca tivesse que se rasgar de trabalhar até os 70 anos.

Ah, queria deixar um agradecimento: Obrigado, Brasil, por não dar aos seus filhos a possibilidade de serem o que sonham sem correr o risco de não conseguirem viver dignamente. Obrigado, Brasil!

Então eis que abri mão da paixão e me entreguei à necessidade. Fui bater na porta do Direito, sem saber muito o que encontrar, é verdade, mas pelo menos vendo uma possibilidade de luz no fim do túnel. Embarquei em mais um típico sonho brasileiro. Fui atrás do Eldorado. E de repente percebi que eu não era o único. Em meu 1º período na Universidade eu nem sabia ao certo o que eu queria com o Direito, enquanto alguns colegas já diziam confiantes quererem ser concurseiros. Alguns largaram outros cursos, outras profissões, tudo em busca da incerta vida de concurseiro. Com o tempo eu percebi que eu precisava entrar nessa também, pois é muito difícil, por exemplo, advogar sem um empurrão inicial de alguém da área. Com o tempo percebi e cedi. Vou ser concurseiro também, apesar de ter nojo de afirmar isso. Explico.

Ninguém vira concurseiro no Direito por inocência. Sabe aquele sonho infantil de ser alguma coisa quando crescer? Você abre mão dele ao virar um concurseiro no Direito. Não venha me dizer que alguma criança sonha em ser, por exemplo, Auditor Fiscal, Analista Judiciário, Técnico Judiciário, Juiz Substituto. Acho que não, né? Ao fazer Direito pensando em ser um concurseiro, as pessoas, em geral, têm em mente algumas ideias centrais como estabilidade no emprego e financeira e poder. Elas abrem mão de suas aspirações mais antigas (de seus sonhos) e todo o resto torna-se secundário, o que é o grande risco a meu ver. As pessoas passam a "sonhar" em ter trabalhos burocráticos e chatos em troca de alguns mil réis por mês ao invés de levar a vida fazendo aquilo que realmente sentem prazer em fazer. Ah, o trabalho é chato, eu não tenho vocação pra isso, mas foda-se, dane-se vocação, o que importa é que vou ter dinheiro pra aproveitar a vida nas horas livres. Vale a pena essa troca? Acho que a maioria das pessoas pensa que sim, afinal, se não fosse assim, não teríamos tantos novos concurseiros na praça.

No fundo, no fundo, as pessoas querem passar num concurso para não precisarem mais trabalhar. E depois disso poder "viver". Sim, no fundo o pensamento é esse. Passar num concurso público tornou-se algo como ter a vida ganha. Passar e mamar pelo resto da vida nas tetas do Estado. Não pode ser assim, senhores. Esse pensamento é muito individualista e esquece que o Estado precisa satisfazer às necessidades mínimas da sociedade. É pensando assim que temos um Estado obeso de servidores, muitos pouco produtivos e cagando para os que dependem de seus serviços. A moralidade administrativa e a eficiência tornam-se palavras a se decorar para passar em provas de concursos e a se esquecer quando passar nelas. Foda-se a sociedade, foda-se se um Estado gordo e gastador fica sem dinheiro para atender a necessidades mínimas como saúde, educação, segurança, cultura, emprego. Foda-se o Estado. Foda-se o mundo. Eu só preciso ganhar R$ 15.000,00 por mês e mamar muito nas tetas do Estado. Resultado: um bando de cargos ocupados por gente sem vocação para o serviço público e sem interesse e comprometimento em fazê-lo melhor. Isso porque estou falando apenas dos cargos concursados, nem estou focando meu discurso nos cargos em comissão, porque aí o desleixo é total e entra todo tipo de gente para mamar, ainda que temporariamente, na grande teta do Estado brasileiro...

Não pode ser assim. Pouco se fala, por exemplo, que um aprovado em concurso passa por um estágio probatório no qual ele pode não ganhar estabilidade no cargo caso se mostre inapto às funções dele. Parece que é só passar e mamar eternamente. Mesmo sem saber o que um profissional daquele cargo faz, o concurseiro se inscreve disposto a matar para ocupá-lo, mesmo que o ofício seja chato e burocrático como assinar e carimbar folhas. Dane-se a vocação. Essa palavra não existe para um legítimo concurseiro. Para ele tudo é muito utilitário. Os valores e princípios que norteiam o direito só servem para serem decorados para fazer provas, o que vale é saber que a dignidade da pessoa humana e o valor social do trabalho estão elencados pela CF como fundamentos da República Fedetativa do Brasil, mesmo que ele nunca tenha parado para analisar, por exemplo, o que seria essa tal dignidade humana. No fim, o que vale é a segurança de ter sempre uma teta brasileira para mamar. Talvez isso ainda seja um pouco daquela mentalidade dos imigrantes que vieram desde 1500 a compor o povo dessa terrinha. O Brasil sempre foi um ótimo lugar para pessoas interesseiras atrás de riqueza. No fundo, no fundo, as pessoas sempre viram esse país como local de garimpagem. Lugar de extrair tudo até a última gota e depois se mandar. Acontece que o tempo passou, a mentalidade ficou e os garimpeiros do século XXI não querem se mandar, pois essa terrinha pode ser muito prazerosa para aqueles que têm muito dinheiro para usufruir dos prazeres dela. Isso explica muita coisa: desde os condomínios fechados dos ricaços (ilhas onde podem se isolar daquele bando de gente pobre e feia que estraga a vida sossegada e prazerosa no Brasil) até o descaso geral com a construção de uma nação igualitária capaz de oferecer a TODOS uma vida digna.

Se fosse só a questão do leite e da teta tava bom, mas o negócio muda de figura quando se percebe que mais do que dinheiro e estabilidade, alguns querem apenas o status de alguns cargos públicos, ou seja, querem apenas PODER. Esses são os piores, os mais egoístas e utilitaristas, pois pelo desejo de ter poder se corrompem, se vendem e atropelam todos que puderem, ainda que remotamente, atrapalhar a sua escalada ao poder. É por causa desses caras que temos tantos corruptos ocupando cargos públicos, tantos promotores sem o menor tato para entender a realidade social por detrás da criminalidade e tantos juízes sem a menor aptidão para decidir os rumos da vida das pessoas comuns. Fecho esse parágrafo com a frase de um colega de curso mais velho que apesar de não precisar fazer Direito para ter uma vida financeira estável quis mais status e dinheiro. Diz o profeta com a sua poética visão do mundo: "Só existe uma coisa melhor do que fuder: é mandar, é ter poder." Bravo! Bravo! Bravo! De pé, senhores! Quero muito encontrá-lo ocupando um cargo público daqui a alguns anos... Ele tem um tato espetacular para o serviço PÚBLICO.

Eu fico envergonhado por dizer isso, mas também estou atrás de um pedaço da teta do Estado, talvez com motivos mais nobres do que os de alguns (o que não muda tanto as coisas), mas estou... Talvez como consolo, eu digo que quero mais. Eu também (olha o segundo plano que eu falei antes) quero trabalhar para e pela sociedade. Eu quero ajudar a construir um mundo mais justo (dentro das minhas possibilidades). Talvez dê para unir o meu lado padre com o meu lado professor e ainda ganhar dinheiro, quem sabe? O que tenho de concreto no momento é que abri mão de meus sonhos, assim como os milhares (quiçá milhões) de concurseiros que têm por aí, e que estou na luta ao lado deles.

Obrigado, Brasil, por criar uma geração sem sonhos e utilitarista!

Deixo um abraço especial para todos aqueles que não venderam seus sonhos à necessidade ou à cobiça e que estudam para ser o que sempre sonharam, assim como àqueles que dão duro todos os dias, mas sobrevivem do ofício que amam. Vocês são heróis no Brasil. Os verdadeiros heróis! Um abraço especial aos professores!

Àqueles recém-chegados ao Direito que vieram atrás do Eldorado, que vieram para ser concurseiros (único e exclusivamente): sejam bem-vindos. Apenas queria fazer um pedido a vocês: não sejam tão utilitaristas, pensem um pouco também acerca do significado daquilo que estudamos todos os dias, sintam as leis. Com certeza isso não te aprovará num concurso, mas talvez te fará um profissional melhor quando passar em um.

Aos que já mamam en las tetas e que não querem e não sabem fazer outra coisa além disso, deixo a mensagem dada por Maradona à imprensa argentina depois de classificar a equipe à Copa da África: "QUE LA CHUPEN Y QUE LA SIGAN CHUPANDO".