sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

[Curtinha] Um peso. Duas medidas.

Já faz algum tempo que tenho ouvido por aí gente dizendo aos quatro cantos que o mundo é bi e que pessoas modernas são bissexuais. Pra mim, sinceramente, quem diz que alguém é moderno porque é bissexual incorre no mesmo preconceito que comete o heterossexual que diz que alguém é inferior por ser homossexual. Usa-se o mesmo peso (orientação sexual) para diminuir o outro grupo. A diferença é que ainda soa estranho conceber que um heterossexual possa ser alvo de preconceito por quem não é. Ora, desde quando opção sexual é sinônimo de vanguarda ou de atraso? É por essas e outras que sempre vejo com certa reserva o tema discriminação.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

República Popular das Bundas

Responda-me o mais rápido que puder à seguinte pergunta: quanto custa uma bunda no Brasil? Não me refiro a uma prótese de silicone e tampouco ao custo do sexo anal no mercado do sexo. Me refiro ao valor potencial de uma bunda; àquilo que se pode conquistar neste país tendo um generoso pedaço de carne na parte traseira do corpo. Desculpe se estou sendo um pouco grosseiro perguntando algo assim neste blog, mas sério, eu gostaria, sinceramente, de poder mensurar o valor de uma boa bunda na nossa sociedade.

Essa dúvida se tornou cada vez mais presente na minha vida no mês passado, durante o concurso Miss Bumbum 2012. Ver as concorrentes desse concurso exibindo a bunda em rede nacional pedindo votos não é o que me deixou incomodado durante o período que antecedeu esse concurso, e sim, a relação que as bundudas mantinham com suas próprias bundas; o quanto pareciam ser dependentes delas. Por um segundo tive a sensação de que perder as duas mãos não seria mais traumático para aquelas mulheres do que sofrer uma queimadura de 3ª grau nas nádegas. Por quê? Porque aquelas mulheres tiravam a sobrevivência delas de seus próprios bumbuns. Sem mãos elas talvez não pudessem estudar ou trabalhar, mas com bundas elas poderiam dominar o mundo (ao menos o Brasil), mesmo sem mãos.

Acompanhando as muitas entrevistas dadas pelas mulheres tanajuras durante o período que antecedeu o fim do concurso percebi que cuidar de suas nádegas (malhação, tratamentos estéticos, etc.) era a atividade que consumia a maior parte dos dias delas, algo que, aliás, era dito com um certo ar de orgulho por cada uma delas. Elas viviam em função de suas bundas e não pareciam querer e ter outra opção na vida.

Sendo mais razoável, se o corpo (ou parte dele) é o instrumento de trabalho dessas mulheres, é natural que elas tenham que ter cuidados com ele além daqueles tidos pelas pessoas que não dependem da estética corporal para pagar suas contas. Ou seja, é de se esperar que elas dediquem horas de seus dias cuidando de seu meio de trabalho. Isso não é o que me incomoda. Digo mais, simplesmente por trabalharem licitamente essas profissionais merecem meu respeito. No entanto, isso não me impede de fazer algumas objeções.

O que realmente me deixou desconfortável "acompanhando" o Miss Bumbum 2012 foi perceber o quanto se pode conquistar neste país tendo SÓ uma bunda bonita (apenas a bunda já é o suficiente, aliás, uma parte considerável das concorrentes do Miss Bumbum tinham rostos feios) e o quanto isso pode motivar algumas pessoas a não buscar se qualificar de outra forma que não acumulando carne e músculo no traseiro. Tive a sensação de que uma mulher bunduda precisa apenas ter bunda e saber utilizá-la de "n" maneiras quando necessário for. Não precisa sequer saber ler e escrever. Tive a sensação de que neste país é mais fácil vencer investindo no próprio corpo do que correndo atrás de um diploma. As "raimundas" são preparadas como os jogadores de futebol nas categorias de base. Não precisam estudar; não enquanto forem capazes de se manter com seus próprios bundões. E digo mais, aposto que hoje muita garota já percebeu que é mais fácil subir na vida com um belo corpo do que com estudo. Preconceito? Machismo? Se for, não é só meu, porque é assim que a sociedade trata as popozudas. Como gostamos delas neste país... Gretchen, Carla Perez, Rita Cadillac, mulheres frutas e outras mais não me deixam mentir. Acho que se um dia eu tiver uma filha vou estimulá-la desde jovem a não estudar e a investir tudo na "poupança" (brincadeira). Parece que no Brasil se pode tudo com uma bunda grande; basta querer e tentar que se consegue (emprego, dinheiro, casamento, fama etc). Somos a República Popular das Bundas. Como dizíamos na infância em uma brincadeira na escola: "Ordem e progresso. Abaixe as calças e faça sucesso".

O que quero afinal falando desse tema? Quero acabar com as potrancas? Não. De forma alguma. Melhor uma bunda bem cuidada na TV do que uma bunda em braille. No entanto, o que gostaria, sinceramente, é que não fôssemos tão cegos por bundas no Brasil e que as bundudas não dependessem tanto disso para sobreviver neste país. Gostaria que fôssemos capazes de colocar cada coisa no seu devido lugar e dar a elas o valor que fazem por merecer. Bundas são boas, mas não devem ter mais atenção do que merecem. É meio complicado falar disso, envolve comportamento, mercado, instintos e blá blá blá. De verdade, gostaria apenas que as moças do Miss Bumbum tivessem estudo/qualificação suficiente para conseguir sobreviver sem meia banda de bunda se precisarem algum dia. Desejo, de coração, o melhor para todas elas. Sonho com o dia em que seremos capazes de remunerar melhor quem faz esse país crescer do que quem consegue apenas fazer suas próprias nádegas aumentar.

E aí? Já sabe me dizer quanto custa uma bunda no Brasil?