sábado, 16 de julho de 2016

Nos deixem sonhar

Aos 26 anos, não se é tão jovem quanto se imagina ser e nem tão adulto quanto se parece ser. 

Mas na essência, ainda me imagino jovem como há uns 6 anos. Inclusive, politicamente.

Desde 2010, tenho me alinhado politicamente às ideologias de partidos que comumente são rotulados de "extrema esquerda". Tudo bem, sou canhoto, isso explica em parte minha inclinação para a esquerda. Mas mais do que isso, eu ainda sou jovem.

Quando se é jovem, a cabeça pensa para frente, com os olhos no futuro. E quando um jovem pensa em futuro, ele pensa com liberdade, projetando sonhos, ideais e utopias. Ou ao menos assim deveria sempre ser.

O jovem não pode ter compromisso com a ordem comum das coisas. Não tem patrimônio e privilégios a proteger e, por isso, politicamente, tem liberdade para se aliar com os ideais de partidos que não são conservadores e não estão comprometidos com a manutenção do status atual das coisas. Ser jovem é olhar, com esperanças, para o longo futuro que tem pela frente.

Me arrisco a dizer que uma sociedade que sufoca os sonhos, ideais e utopias de sua juventude não tem futuro. O futuro de longo prazo é construído pela juventude e não pela atual geração adulta, que só consegue ver o futuro até onde a neblina de preocupações deixa ver. O jovem é imprudente, ousado, consegue enxergar além, embora não saiba ao certo distinguir o que seja futuro do que seja fantasia. Mas é assim que deve ser. A juventude precisa sonhar, precisa acreditar em teorias incertas.

E se a "extrema esquerda" tiver errada? Ela terá errado como todos os grandes partidos que se revezam no Poder têm errado. Os erros se sucedem porque os mesmos partidos e ideologias se revezam ao invés de se sucederem. Nunca saberemos se a esquerda está errada se nunca a deixarmos governar. Ah, não me venha com essa de que PT era governo de esquerda, porque no dia que Lula indicou Henrique Meirelles para o Banco Central em seu primeiro mandato, ele deixou bem claro qual era a política econômica do PT.

Quando o jovem defende socialismo, ele não defende o socialismo de Stalin, de Fidel... A atual juventude não viveu esse socialismo. Ela defende o socialismo que acredita ser possível e não o socialismo que não assistiu. Essa é a dificuldade que a geração adulta tem de entender como ainda se pode acreditar em socialismo. Eles não conseguem ver o socialismo além do socialismo que viram acontecer, perderam a capacidade de sonhar, idealizar.

Uma hora, todos nós, paramos um pouco de acreditar nos sonhos e em ideologias. Contudo, não podemos impedir as pessoas, sobretudo os jovens, de continuar sonhando e acreditando.

Talvez em mais alguns anos eu deixe de ser um jovem no coração e me torne um liberal, daqueles que defende a confiança do "mercado", a necessidade de privatizar os serviços essenciais. Porém, nesse dia, se eu esquecer, me lembre de não impedir ninguém mais jovem do que eu de sonhar, mesmo naquilo que pareça sem qualquer sentido.

Nunca me esqueci do dia que eu estava fazendo a mão um fichamento avaliativo sobre um texto de umas 150 páginas e ouvi, sentado na mesa da copa, sem poder parar para ver a TV que estava na sala, o discurso mais inspirador que um jovem da minha idade poderia ouvir. Nesse dia, fiquei com lágrimas nos olhos e continuei meu fichamento com a inspiração de que aquele sofrimento não era mais forte do que meu poder de sonhar.