domingo, 19 de setembro de 2010

A Igreja Católica precisa mudar?

[POLÊMICO]

Estou numa semana bem inspiradora, seria capaz de escrever uns 4 ou 5 textos com temáticas diferentes, mas o tempo não me permite. Mesmo sem dever, estou aqui, neste momento, somente porque quero dar um pouco mais de tempo à minha vida, deixando-me fazer o que der vontade e entregando-me mais aos impulsos dela (sem rasgação de seda ou quaisquer interesses escusos, dedico essa nova postura às reflexões que tive após ler o texto "Do que quero" do blog "
Lentiflor com Orégano").

Cheguei da igreja há cerca de 15 minutos e vim no caminho de volta pensando loucamente em escrever sobre um tema em especial, a intolerância com a Igreja Católica. Eu jurei a mim mesmo quando comecei o blog que não usaria esse espaço para falar de religião ou futebol, pois são dois temas que geralmente envolvem argumentos muito apaixonados e pouco racionais, criam muita discussão e dificilmente alguém entra nela disposto a ouvir os argumentos alheios e quiçá a mudar de posição. Mas não resisto; ao futebol eu já cedi em umas 3 postagens, agora cedo à religião: seja o que Deus quiser!

Para início de conversa: sou católico e me recuso a dizer-me praticante, pois ou você é católico ou você não é. Se você não acredita nos ideais dessa igreja, não lê a Bíblia, não participa da comunidade de alguma forma (nem que seja indo à igreja) e por isso se diz católico "não-praticante": você é um fanfarrão, pois isso não existe. Em religião, esse tipo de categoria não existe; ter uma religião não é "usa-la" de vez em quando (não é que nem saber falar uma língua estrangeira, por exemplo), é algo que deve fazer parte da sua rotina e não apenas nas datas comemorativas, como no Natal.

Dois. Sou favorável que cada um tenha sua própria religião livremente e sem criticar as alheias, pois religião é algo muito íntimo, que transcende o entendimento puramente racional (o que até dificulta discussões muito científicas sobre o tema). É preciso respeitar aquilo que é capaz de fazer alguém transcender sem entorpecentes, isso é coisa séria. Assim, apesar de achar um tanto quanto triste, respeito a falta de religiosidade de um número cada vez maior de pessoas. O que me interessa é que sua religião pregue o BEM ao próximo ou que você, sem religião, guie suas condutas pela prática do BEM, fora isso eu me reservo no direito de discordar dos rumos da sua vida, o que não significa discriminar. O que importa é a prática do BEM, isso não sou eu quem diz, eu já li isso na Bíblia e no Alcorão (Al BÁCARA - 2ª SURATA - "62. Os fiéis, os judeus, os cristãos, e os sabeus, enfim todos os que crêem em Deus, no Dia do Juízo Final, e praticam o bem, receberão a sua recompensa do seu Senhor e não serão presas do temor, nem se atribuirão."), provável que outros livros sagrados também digam algo parecido.

Penso que você não precisa nem acreditar em um Deus, ir à igreja ou fazer sei lá o quê, você só precisa guiar suas práticas pelo BEM. Posto isso, eu gostaria muito que os fiéis de outras religiões ou os sem religião, respeitassem as religiões alheias...

Minha igreja (a católica) tem dogmas e princípios um tanto rígidos. Muito se discute sobre as posições dela quanto ao celibato, ao homossexualismo, ao divórcio e ao sexo sem fins de procriação. Eu não concordo tanto com todas as posições, mas entendo-as perfeitamente e concordo com a rigidez da igreja. Para exemplificar, vou abordar o tema do sexo sem fins de procriação. Sou jovem, tenho hormônios à flor da pele como qualquer outro, tenho desejos, mas concordo que saí por aí querendo sexo a torto e a direito não é das condutas mais corretas. A Igreja Católica, desde os seus primódios, sempre defendeu a base familiar, então me diz: agora, 2010 anos depois, ela deve mudar de posição, defender a livre prática sexual sem casamento, só porque há menos de um 1 século tornou-se tolerável socialmente sair transando com qualquer um? A igreja não é cega, ela sabe que pessoas pegam AIDS e que os jovens não vão deixar de transar antes de casar só porque a igreja não permite; ela sofre pelos contaminados, mas sabe que deixar transar com preservativo é admitir a prática sexual sem vínculos familiares, o que seria uma afronta à família (aquela mesma que ela defende desde sempre).

Vamos pensar como a Igreja Católica: nosso livro de ensinamentos tem mais de 2010 anos, ele é um dos alicerces de toda a nossa estrutura. Podemos ir contra o que ele dispõe? Abrir precedentes? É claro que MUITAS regras (principalmente do Velho Testamento, pois eram regras de comportamento da época) não se aplicam mais, mas as do Novo Testamento, com a sua licença, estão, em grande parte, válidas, afinal, Jesus vem com um discurso que rebate grande parte dos costumes rígidos do Velho Testamento, ele ensina novos valores, mas ainda assim a família continua sendo protegida. Aposto que alguém já vem com algum exemplo do VELHO TESTAMENTO para tentar derrubar minha argumentação de que a Bíblia se opõe ao sexo antes do casamento. Mas segura sua onda aí, outro dia a gente discute mais sobre a Bíblia, primeiro você lê, depois faz uma análise sistemática (como um todo - NOVO e VELHO TESTAMENTO) do que está escrito e depois vem me dizer se ela se opõe ou não a tal prática, antes disso, guarde seu exemplo.

É claro que seria muito mais cômodo para a igreja ceder ao clamor social, ela ia "ficar bem na foto", ganhar novos fiéis e etc. Mas ela NÃO pode fazer isso, pois ela iria contra um de seus alicerces centrais, a Bíblia, correndo, assim o risco de perder a sua razão de ser. É tão verdade, que mesmo condenado a prática de sexo sem fins de procriação, ela desenvolve, por exemplo, programas de auxílio aos doentes com DST's e AIDS e com as crianças abandonadas por mães adolescentes: ela não se fecha a essas pessoas, apesar de não concordar com o agir que as deixou assim. O mesmo se diga dos gays: nunca vi um aviso na porta da minha igreja proibindo-os de frequentar a comunidade, pelo contrário, devem ter muitos por lá; nunca vi um sermão que dissesse para expulsarmos-os de lá, digo mais, não vejo olhares tortos para eles. Também nunca vi portas fechadas para divorciados e mães solteiras, caso assim fosse, eu e minha mãe nunca teríamos entrado. Então me diz: cadê a intolerância que afirmam que temos com essas pessoas? Uma coisa é se opor a práticas que ferem os ensinamentos da Bíblia, outra coisa é discriminar aqueles que agem assim. A Igreja Católica até pode se opor, mas não discrimina. Sacou?

Você está entendendo? Ela até enxerga as mudanças culturais, mas ela precisa ser engessada, pois a base dela nunca foi o que é socialmente mais bem visto. Ela sempre afrontou grande parte dos hábitos da sociedade ao longo de sua história, isso desde os primórdios, basta lembrar os motivos que levaram Jesus à crucificação. A Igreja Católica não deve ceder à sociedade, mesmo que isso signifique ser alvo de críticas e até de chacotas. Ela não pode se preocupar com o número de fiéis, ela não deve atirar em um de seus pés para atrair mais fiéis, por isso ela perde fiéis (ela sabe disso). A Igreja Católica sabe que aquilo que sempre pregou não pode mudar só por que a sociedade muda. Não é o HOJE que sustenta a Igreja Católica há tanto tempo, mas o SEMPRE. Se fosse pelo HOJE, ela já teria caído há muitos séculos.

Senhores, não se exautem! Eu não sou fascista e nem democrata cristão, mas também não sou tonto a ponto de achar que a minha igreja deve mudar só porque as pessoas querem. Na verdade, o que deve mudar é a postura das pessoas, não a Igreja Católica. As pessoas só devem buscar a Igreja Católica se sentirem-se identificadas com os valores defendidos por ela (ninguém é obrigado a seguir ideais que não quer) e não a Igreja que deve mudar só para PARECER bonita no quadro social fudido que temos. É fato notório que ela deve tentar se aproximar mais das pessoas, mas para isso não precisa mudar suas bases, essas não devem mudar NUNCA, sob pena de fazermos um transplante de cerébro nela e ela deixar de ser a Igreja Católica para tornar-se a Igreja do Querer Social. Peço sua boa vontade para um exercício mental: imagine que num mundo hipotético todas as pessoas concordassem com a Igreja Católica e só fizessem sexo depois do casamento, você acha que o mundo estaria tão zoneado no aspecto familiar e social? Não, né? Pois é, a igreja pensa o mesmo que você, por isso ela não muda, ela quer aquilo que parece melhor para a sociedade. Mesmo que pareça algo utópico.

Enfim, como eu te disse antes, eu não concordo em tudo com a minha Igreja, muitas vezes me pego indo contra o que ela defende, mas ENTENDO perfeitamente a POSIÇÃO dela. Ela precisa manter-se assim, rígida em alguns temas, mesmo eu preferindo (egoísticamente) que não fosse assim, afinal ia doer menos na MINHA consciência algumas condutas. Mas o jogo é esse, as regras já estão na mesa (desde a morte de Cristo), quem quiser aceitá-las venha até a Igreja Católica; quem não quiser: arrume outra Igreja, crie sua própria Igreja (uma que sempre vá apoiar os seus atos) ou não tenha religião alguma (mas pratique o BEM), só não me venha reclamar da minha Igreja: Ah, isso não!

Escrito por um cara que pensou em ser padre, quis ser professor de História e que vem tentando fazer Direito direito.

2 comentários:

Fernando Colombi disse...

Bom,

respeito bastante seu texto e tua opinião.
Vou colocar apenas dois apontamentos.
1 - é difícil nos posicionarmos perante a conduta de alguém pois alguns conceitos não são universais. E o conceito de "bem" é um deles. Você pode ter certeza que em alguns lugares, decepar os dedos de quem rouba é um bem para ela, a fim de aprender a nunca mais roubar. Eu particularmente acho isso bem "mau".
2 - O sexo. Ah, o sexo! referente a esta questão, só faço a seguinte pergunta: Um casal, já casado, fazem sexo apenas por procriação? Ou o fazem pelo prazer? Creio que o fazem muito mais por prazer do que para gerarem filhos. Esta é uma questão importante, pois grande parte dos argumentos contrários a homossexualidade vindos da igreja, se referem ao ato do sexo como um ato de nascimento, de procriação. Ora, se fosse assim, minha mãe mesmo depois de ter ligado as trompas deveria parar de ter feito sexo com meu pai. Quem acha que deve ser assim? Creio até que 99,99% dos casais católicos não partilham desta visão fática da realidade.
Talvez esteja enganado, pois é possível que depois de cada relação sexual, os dois vão se confessar para o padre...

Don Quasímodo disse...

Valeu pelo comentário, rapaz!
Só não precisava vir com uma artilharia tão pesada! (zuera) hehe

Quanto ao conceito de "bem", concordo plenamente com você acerca da falta de universalidade que o caracteriza, mas quando eu o utilizei no texto eu o usei para me referir àquelas condutas gerais que são universalmente bem vistas, exemplo: não mentir; não querer levar vantagem sobre o outro; agir com honestidade. Tais condutas, imagino que são tidas como "boas" em qualquer lugar.

Quanto ao sexo sem fins de procriação, vou dizer algo que não sei se serei compreendido na plenitude. O meu texto visa demonstrar porque a igreja não deve mudar, nem naquelas situações que parecem ser consenso, como o fato de o sexo entre um casal já casado visar, na maioria das vezes, apenas o prazer. Eu, de verdade, discordo de muitos posicionamentos da minha igreja, mas tentei demonstrar que há uma lógica por detrás de não mudar. Tentei demonstrar que a Igreja Católica não é uma instituição irracional e cega à realidade. Enfim, é como se eu tivesse advogando por uma causa que eu não concorde muito com o ponto de vista que tenho que sustentar, apesar de eu entender, olhando sob o ponto de vista do atacado, o posicionamento adotado por ele. Às vezes é necessário estar do lado que sempre apanha calado, afinal, ele também precisa exercer a sua defesa. É mais ou menos isso...

Volte mais vezes!
Abraço.