domingo, 24 de abril de 2016

Histeria!!!

Tempos de intolerância, nos quais sair às ruas de vermelho pode ser ato de subversão e andar de amarelo é sinal de cidadania.

Baile de favela. Ops. Baile das cores. Vermelho, cor de gente ruim. Amarelo, cor de gente do bem.

Fui trabalhar de vermelho no dia pós-golpe e fui olhado, mais do que quando eu usava vermelho no ano passado. Atualmente, quando me visto de vermelho, me sinto, de certa forma, praticando um ato atentatório, quase um terrorista. Mas me sinto livre e bem comigo mesmo. Sei lá, morenos ficam bem de vermelho.

A democracia não tem cor, ela tem, na realidade, a pluralidade de todas as cores. Mas se vermelho se tornou a cor da democracia, é de vermelho que vou, ainda que não sendo PT ou comunista.

Vivemos tempos de histeria. E não é pelos Beatles.

É preciso gritar histericamente. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

Apontar o dedo para "ladrões", "corruptos", "defensores de bandido". Gritar palavras de ordem. Pedir a volta da ditadura ou da monarquia (juro que até hoje não entendi o que pensam as pessoas que levam bandeiras do Brasil Império para manifestações patriotas. Até se fossem bandeiras portuguesas eu entenderia melhor). Como no livro "1984", quem não participa dos "dois minutos de ódio" deve ser olhado como suspeito.

Tempos loucos em que cores podem significar coisas que não passam pela mente; tempos de caça àqueles que pensam diferente; tempos de violência (intelectual, física, espiritual).

Me considero um pouco profeta por causa deste texto, porém ser profeta não costuma ser algo muito bom, principalmente em tempos de histeria coletiva. Gosto da palavra "histeria", parece exprimir caráter mais doentio do que a palavra "loucura", talvez porque muitos "loucos" não são loucos, mas gente histérica é sempre gente histérica.

A corrupção não nasceu em 2003 e tampouco os petistas do governo federal são mais corruptos do que os vereadores, prefeitos, deputados, governadores, todos ladrões, dos mais variados partidos, que temos aos montes por aí. Aliás, tampouco os petistas do governo federal são mais corruptos do que os tucanos do longínquo governo anterior. Inclusive, você já viu um tucano? Coisa mais covarde do mundo escolher uma ave tão linda, original, de cores tão vibrantes, para representar ideias tão conservadoras.

Não acredito muito em manifestações de rua para cobrar alguma coisa em nível federal, justamente porque tenho a sensação que em Brasília as coisas são decididas influenciadas somente, e digo, único e exclusivamente, por motivos políticos, por benesses possíveis de serem auferidas pelos políticos e seus tão estimados familiares. Se lixam se estamos nas ruas, como fizeram na época das "Diretas Já". Manifestações de rua com fins federais não mudam voto de indecisos e nem geram leis; no máximo, dão voz à quem quer gritar e não quer esperar até as eleições.

Mas manifestações contra problemas locais podem mudar muita coisa, visto, por exemplo, que, quando pressionados por câmaras cheias de gente, os vereadores de várias cidades "ficam com medo" e votam contra seus aumentos salariais que já estavam combinados nos bastidores políticos. Contraditoriamente, no entanto, raramente vamos às ruas contra problemas locais. Vai entender.

Acredito que serve mais à "luta" qualificar gente comum, que veio do povo, para ocupar cargos com poderes decisórios, seja no Judiciário, em escolas, na área médica e por aí vai. É como o golpe de 2016; ele não é feito pelas pessoas de amarelo nas ruas, mas por pessoas de aparência asséptica, cheias de ideologia, com poder para fazer o golpe independente e contrariamente da vontade da maioria. Dentro dessa lógica, por exemplo, as cotas são uma puta estratégia de revolução, de tentativa de mudar o país pelas instituições, criando oportunidade de colocar gente "de cor", que sabe o que é a vida fora do ar condicionado, em cadeiras que hoje, infelizmente, são ocupadas quase que na totalidade por quem não representa os interesses da maioria da população e tem alergia ao povo.

Eu realmente me assusto com a cisma que pessoas histéricas têm com o governo PT, com o MST, com os sindicatos. As pessoas não conhecem como funciona reforma agrária e, mesmo assim, se sentem no direito de dizer que MST é cheio de gente à toa, que tem preguiça de trabalhar e quer terra de graça para vender. No domingo passado, quando Cunha comandava o culto do golpe, encontrei uma vizinha no elevador que me disse que tinham saído vários ônibus do ES rumo à Brasília para acompanhar a votação e que "devia ser tudo gente do MST". Será que patriotas não viajam de ônibus? Deve ser mesmo coisa de esquerda, de gente pobre, esse negócio de viajar de ônibus. Sinceramente, não consigo nem argumentar com gente assim, prefiro ficar mudo e deixá-la pensar que me convenceu, ou não, enquanto torço para descer logo no meu andar.

Tem gente que pede, urgentemente, que "libertem o Brasil"; tem gente que diz que "não podemos deixar o Brasil virar uma Venezuela". Sempre me espanto com essas comparações. Você já foi ou conhece alguém que vive/viveu na Venezuela? O que você conhece da Venezuela além do que relatos? E da Coreia do Norte? Tenho como filosofia de vida que não dá para emitir opinião bem fundamentada sobre lugares e gente que não conhecemos. A Venezuela pode ser uma merda, ou não. Macri, o novo presidente argentino, por exemplo, tá fazendo um monte de reformas liberais, que podem não dar certo, e dizem que o Brasil precisa virar uma Argentina. Oi? Ninguém sabe o resultado das reformas feitas por ele, até porque não houve tempo para resultados seguros, e querem nos comparar à Argentina como modelo. Seja com Venezuela ou com Argentina, não dá. O PT quer implantar uma ditadura de esquerda no Brasil, com as maiores taxas de juros do mundo e permitindo que bancos tenham lucros bilionários? Realmente, se o PT tá querendo fazer isso aqui virar uma ditadura de esquerda usando desses métodos tão capitalistas, merece mesmo ser tirado do poder por incompetência.

Em tempos de histeria popular, Hitler fez sabões de judeu e os alemães apoiaram ou estavam tão cegos de histeria que nem perceberam.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Não

Quando eu disse "sim", tudo o que eu queria era ter uma oportunidade de tentar. Quando eu disse "sim", tudo o que eu queria era corrigir um erro com anos de atraso, era admitir que eu deveria antes ter seguido a sensação que senti no primeiro dia.

Quando eu disse "sim", tudo o que eu queria era ser um sujeito comum, daqueles que se relacionam normalmente, trocam sentimentos ao invés de apenas dar. Quando eu disse "sim", tudo o que eu queria era mostrar que um negro suado pode conquistar.

Quando eu disse "sim", tudo o que eu queria era adoçar a vida e ter momentos para só discutir. Quando eu disse "sim", tudo o que eu queria era poder ter com quem sonhar.

Quando eu disse "sim", tudo o que eu queria era ter direito a ouvir um "não". Quando eu disse "sim", tudo o que eu queria era ter motivos para mudar e seguir.

Quando eu disse "sim", tudo o que consegui foi mais uma decepção, daquelas que não se conhece a razão.

No fim, ao que parece, é melhor só se dizer "não", acalmar os espíritos, se pedir perdão e clamar por mais razão. Gente branca não tem coração.

 Já são duas da manhã.

domingo, 10 de abril de 2016

7x1

Normalidade nem sempre foi o forte.
Se torna parâmetro para quem o imponderável é sofrimento.

Cenas lamentáveis.
O aperto não suporta a moleza.
O deslumbramento quando se mistura com a insegurança não resulta em naturalidade.
Falsa vitória. Palavras ao vento. Constrangimento.

Ter firmeza nas palavras, afasta.
Ter sinceridade nos olhos, assusta.
Encontrar o que se busca, congela.
Deixa passar.

Entre X e S2, restam as meninas de plantão,
A rapidez da violência sem consciência,
As fotos de ego,
A busca pelo desconhecido.

Vez ou outra um acerto.
O imponderável parece trazer sorte.
Mas quando o sono é mais importante,
O sonho se desfaz na espera silenciosa.

O corpo se marca, como em guerra.
Acende um alerta de azar.
Que siga a diversão.
Tempo é dinheiro.

Para ser indigno basta parecer.
É bom ter alguém para se dispensar.
Oportunidade? Só se for apresentado pelo imponderável
E depois, contraditoriamente, seguir aquela ABNT.

Seguem as fotos, sem cartas,
Mas o que não se vê o coração sente melhor.
Um retorno ao passado para abrir os olhos.
Uma aterrissagem meio atabalhoada.

O imponderável se faz presente
Com o irmão da má compreensão.
Decepção gratuita em abraço de urso.
Barbas de molho.

Dois é bom.

Suor é lágrimas,
Derrama o imponderável,
A desistência inconvicta.
A descontinuação da certeza.

O que virá?
Exige coragem ou dedicação.
Intervalo da vida.
Dormir pouco ou escovar os dentes.

Todos já foram goleados,
Todos menos alguns.
Afinal nem todos são merecedores
Quando se escolhe a quem dar oportunidades.

Quando o fundo do poço tem porão,
Chegar ao fundo é quase um pedido.
A esperança está no fundo,
Onde mais do mesmo não é solução.