sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Tragam as crianças para casa

- Quixote, diga adeus à Dulcinea. Deixe-a ir.


Fiquei quieto e fui deixando as coisas acontecerem. Os amigos mais próximos parecem ter percebido que eu fiquei praticamente silente sobre este assunto desde o dia em que a presença dela em minha vida tornou-se semanal ao invés de sazonal. Contraditório, né? Afinal, era agora que eu deveria estar cheio de histórias para contar. Mas não. Eu, categoricamente, tenho sido omisso sobre o assunto. Mas chegou a hora de falar e fechar o tema. Falo agora porque em menos de um mês ela escorregará mais uma vez de meus olhos e sabe-se lá quando voltarei a vê-la novamente (se é que voltarei). Tudo voltará a ser como sempre foi antes do últimos 3 meses. Ser definitivo é mera pretensão, afinal, o destino só Deus sabe.

Quis esse mesmo destino que eu passasse a vê-la semanalmente. Foi assim por 3 meses. E nesse período não toquei mais nesse tema neste blog. 3 meses depois e há menos de um mês de não vê-la mais preciso dizer.

Preciso dizer que não deixei de gostar dela. Mas que aprendi a gostar de um jeito diferente. Ela era quase como uma santa da qual eu era devoto. Só de vê-la de longe meu coração mudava o ritmo. Bastava ver uma foto dela e eu ganhava o dia. Ela exercia um fascínio inexplicável sobre mim, sempre tão racional. Então eis que aqueles contatos (ainda que rápidos) que antes eu tanto queria tornaram-se frequentes. Pronto. Será que eu teria um infarto toda vez que a visse? Assim não dá, né?

Pois então. Aprendi a me controlar. Amadureci. E isso se tornou lindo. Tudo se tornou melhor. Pude conhecer mais aquela pessoa por detrás daquela imagem que eu tinha congelado há algum tempo na cabeça. Pude ouvir a voz dela, perceber que possui diferentes entonações. Vi que ela é gente. Tem carne e osso. Ela existe, Quixote! Ela existe!

Passei a torcer pelo sucesso dela. Ela parece ter talento, ter nascido para brilhar. Não cabe na palma de uma mão, precisa de espaço para evoluir, se desenvolver, caminhar. E eu descobri, felizmente, o meu lugar. É na plateia. É vendo o crescimento dela. É não atrapalhando; no máximo incentivando. O meu coração já não dispara mais quando a vejo, embora eu ainda goste dela. E cada dia mais intensamente. Mas é diferente. E também é igual. Eu passei a vê-la em contexto. No espaço e no tempo. Isso mudou muito meu entendimento sobre as coisas. Eu adoraria ter alguma coisa com ela, ainda que apenas por 5 minutos, mas por outro lado, cada vez menos eu sonho com isso e cada vez mais passo a ficar feliz apenas de vê-la evoluindo e fazendo o que gosta, ainda que ela nem sequer saiba que eu gosto dela e que eu desejo que algo entre nós seja possível. Entende? É um gostar diferente. Um gostar de quem apenas quer vê-la feliz e bem, indepedente de que seja distante de mim. É meio fraternal. É um pouco surreal. Ela é assim.

Ela não me faz ganhar o dia. Não penso nela. Respeito-a cada vez mais, assim como as escolhas e o espaço dela. Ela precisa de espaço para respirar, para poder VIVER. Apenas curto cada instante ao lado dela. Me contento com o gargalhar juntos, com o beijinho de despedida na bochecha. Me contento com o contemplar, embora eu adorasse poder participar. Mas isso não faz falta. Não incomoda mais. Se tornou uma questão de: "se o destino permitisse eu faria tudo para ser bom, mas se a realidade não deixa, também não há problemas, pois a vida continua completa". É contraditório, mas hoje é assim. E eu fico feliz apenas de vê-la feliz. Pode isso? Pode. Isso é demais. E vai acabar em breve, quando não mais a encontrarei uma vez por semana. E o que pensarei ao final: "Foi bom! Foi muito bom! Mas voe. Você precisa voar rumo ao infinito. Chegue mais longe que puder, ainda que eu te perca de vista. Voe. Voe. Se um dia voltar, vou adorar, mas se não der, saiba que na minha mente irei sempre imaginar que você terá chegado lá."

Definitiva.
Uma postagem final acerca desse assunto.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Queda Livre


ca.ir
(lat cadere) vti e vint 1 Descer no espaço, em virtude da gravidade, quando libertado da suspensão ou suporte: Cair ao solo. A pedra caíra na sala. Os soldados iam caindo pelo despenhadeiro abaixo. O suicida caiu sobre um transeunte. Caíra e morrera.
(Dicionário Michaelis - versão digital)

Cair.
Tá para existir sensação mais estranha.
Mais estranha que os 19 significados apontados pelo Dicionário Michaelis para a palavra cair.
Ufa!
Digo cair no sentido de ir ao chão.
De perder todo o referencial por uns minúsculos segundos e encontrar o solo.

O chão é o limite, Senhores.
O limite horizontal.
O limite que nos dá um ponto de partida e um ponto de chegada.
Mas esquecemos.
Esquecemos que o chão existe e que está ali só pra isso.

Você está todo seguro de si e de repente...
Chão.
Um flash nas alturas/Um flash no chão.
Tudo muitíssimo rápido.
Aí você acorda.
Percebe que você não é essa Coca Cola toda.
Que você é fraco.
Que você - todo poderoso e seguro de si - não é capaz de impedir uma simples queda.
Por quê?
Porque você não sabe quando pode cair.

Ué?
Por que nos seguramos em algo/alguém quando achamos que podemos cair?
Por que tanto medo? Mesmo quando a queda parece ser incapaz de gerar qualquer lesão.
É o medo da sensação de cair.
O medo da impotência proporcionada por cair.
É preciso sempre estar por cima, vivendo no limite da verticalidade, longe da horizontalidade.

Um dia o horizontal caiu sobre meu vertical.
Um pedaço do teto da minha casa caiu sobre mim.
É verdade.
Fiquei sujo de terra e com gosto de reboco na boca.
Um gosto ruim. Tão ruim quanto a sensação de cair.
Não queremos a terra.
A origem de tudo.
Não queremos perder os referenciais.
Mesmo aqueles que nem percebemos.
Querems a segurança.
Não queremos o gosto da terra.
Eu devia ter lambido a terra que ficou em meus lábios.
Era o gosto da queda.
Não da minha.
Era a queda do horizontal sobre o vertical.

A verdade é que não estamos prontos para cair.
Não queremos a impotência.
A sensação da fragilidade.
Coisas frágeis caem e quebram.
Não se pode quebrar.

Somos feitos para durar.
Mas temos medo de quebrar.
Cair é isso.
É
quando se é libertado da suspensão ou suporte.
Não sou eu quem digo.
É o Michaelis.
Meu velho amigo Michaelis.

Por isso eu digo:
É preciso cair.
Não! Não vou dizer que o importante é levantar depois!
Mas é preciso cair.
Não para se levantar.
Mas para lembrar que se está vivo.

Para lembrar que não somos eternos.
Para lembrar que somos mortais.


A Dan Wheldon e Marco Simoncelli
, que fizeram do limite a vida e nos lembraram que (ainda) somos mortais.