terça-feira, 14 de julho de 2009

Você é esperto?

O brasileiro é o povo mais esperto do mundo. Sim, o mais esperto, mas não o mais inteligente. Nossa cultura valoriza a esperteza, não a inteligência. Ué, não são a mesma coisa? Creio que não. Leia, reflita e concorde ou não comigo.

Quando me refiro à inteligência, refiro-me a um elevado nível de conhecimento sobre qualquer assunto (capaz de fazer alguém estar acima da média), sendo o fator distintivo desse saber o fato dele ser perene. Um conhecimento perene não se desmancha espontâneamente de uma hora para outra e não pode ser adquirido facilmente, exige tempo e dedicação; a única possível exceção a essa regra (a única que eu cogito) seriam os casos de pessoas que já nascem com uma aptidão natural para algo, contudo, mesmo essas pessoas não descobrem suas aptidões rapidamente, elas necessitam desenvolver melhor suas aptidões e só assim construir um saber que possa atribuir-lhes dignamente o adjetivo de inteligente. Assim, todos podem ser inteligentes, afinal, todos podem construir conhecimentos perenes que atinjam um grau singular em relação ao saber das outras pessoas sobre um assunto, mas poucos realmente se interessam e buscam desenvolver seus saberes, são as causas disso que pretendo analisar aqui.

O brasileiro comum não almeja ser inteligente em algo, afinal, isso leva tempo; o que importa é ser esperto, é saber macetes, é saber jeitinhos. Muitos alegam que isso é exigência do mercado de trabalho, que é reflexo da deficiência das escolas, não discordo totalmente, mas o capitalismo e o Governo não podem e não devem ser apontados como os responsáveis por todos os males que vivemos em nossa sociedade, acusar sempre os dois é agir como alguns idosos que só têm um assunto: reclamar de doença. É ser um disco travado! O simples fato de não pensarmos em outras causas já representa o típico problema que pretendo apontar aqui, um problema que todos têm vergonha de assumir: o brasileiro tem preguiça de pensar!



Hã? Você achou uma ofensa? Não se ofenda comigo. Eu explico. É mais cômodo não pensar, pensar dá trabalho, toma tempo, pode não trazer respostas logo e cansa... Vamos parar de pensar e ir fazer outra coisa? Pode falar, é tentador parar aqui né, o texto é muito grande... última chance hein... 1...2...3... OK! Você resistiu, então vamos seguir. Quando digo preguiça de pensar eu não me refiro a ser burro, como erroneamente possa parecer, mas me refiro a ser muito prático e querer sempre levar alguma vantagem. Gostamos (eu me incluo, afinal, também sou brasileiro) de fórmulas feitas, gostamos de nos destacarmos pela esperteza, gostamos de crescer sem esforço, gostamos de dinheiro rápido e fácil, ou seja, gostamos da rapidez e da facilidade. Ser esperto é mais fácil do que ser inteligente, dá menos trabalho.


Exemplos disso podem ser visto em todas as faixas etárias, para exemplificar eu posso citar a galera (cada vez com mais adeptos) que se julga mais INTELIGENTE que os colegas e que o próprio professor ao passar com uma nota alta colando nas provas e não tendo que estudar. Sim, eles se acham INTELIGENTES. Hahahahaha. Eu não me contenho, eles são muito engraçados... Se fossem inteligentes eles iam se preocupar em aprender e não em colar, afinal, colando você não aprende, no primeiro vento tudo que você decorou ou colou é levado embora de você. Outros exemplos não faltam, olhe ao redor, todo mundo parece pensar assim, até você, a culpa é sua? Talvez em parte, mas todos são culpados, o problema é tão feio que parece até que a esperteza é algo genético do brasileiro. O problema é que já nos acostumamos a achar isso normal, até por isso nos sentimos tentados a agir assim, enquanto acharmos isso normal não vamos evoluir, pois essa mania de esperteza está corroendo nosso país, está corrompendo nossas instituições políticas, está corrompendo nossos servidores públicos, está corrompendo nossos estudantes, está corrompendo os ainda honestos, está corrompendo nossos valores morais.




O brasileiro está mais preocupado com o presente do que com o futuro, por isso prefere saber o suficiente para o momento em que vive, ele não pensa em aperfeiçoar o que já sabe, ele quer o saber momentâneo, ele quer a solução do agora, ele não quer saber soluções para diversas situações futuras. Devemos viver o presente, mas em matéria de conhecimento devemos pensar no futuro, é mais seguro ter um saber perene, afinal, o que você aprende ninguém mais te tira, faz parte de seu patrimônio pessoal. Achar soluções temporárias baseadas na esperteza dá prazer, dá uma sensação de que se é muito inteligente, mas é pura ilusão.

Nossa cultura acha bonito resolver tudo com esperteza, valorizamos os espertos como se fossem gênios, ninguém sabe, por exemplo, os nomes dos maiores cientistas do país, mas dos bandidos que deram grandes golpes sabemos e sentimos prazer em saber, mas quem engana a lei não é inteligente, pode no máximo ser esperto, afinal, alguma hora da vida ele sofrerá as consequências de seu saber temporário.


Até no futebol valorizamos mais os jogadores que conseguem enganar a arbitragem cavando faltas do que aqueles que persistem em tentar fazer uma jogada quando tocados pelo adversário

Cultuamos a esperteza e mal sabemos que assim cavamos nossa cova, estamos construindo um país que aparenta ao mundo ser confiável, forte e rico, mas por dentro estamos podres em nossa composição, só nós sabemos disso, mas não queremos acreditar. Podemos ficar mais ricos, mas em razão da esperteza de alguns, só uns poucos vão ter acesso a essas riquezas, coisas de um país de gente esperta...

Ainda é tempo de fazer algo, de tentar mudar esse vício cultural que NÃO É GENÉTICO do brasileiro, podemos mudar essa concepção de mundo aceita como natural em nossa sociedade, ah, mas sabe de uma coisa? Deixa isso pra lá, vai dar trabalho pensar no que fazer, vamos pro Orkut ou ver Big Brother, depois a gente pensa...