quinta-feira, 9 de junho de 2016

Praça de Guerra

Diga-me o que tu escolhes e te direi quem és. Eu acredito em Deus, sabe? Talvez até o dia que a ciência consiga explicar porque o "Big Bang" só foi capaz de criar racionalidade na espécie humana entre trocentas espécies vivas; até lá, acreditar que, entre tantas espécies criadas, as reações fisioquímicas da grande explosão só privilegiaram a nossa espécie, com todo respeito, me soa tão insano ou sem sentido quanto acreditar em Deus. Então, se é pra escolher em qual "fantasia" acreditar, prefiro acreditar em Deus mesmo.

Mas não é de Deus que quero falar não. Quero falar de escolhas. Mas por que falei de Deus? Porque acredito que a ampla liberdade de escolha foi o maior dom dado por Deus à espécie humana, capaz de levar o homem ao sucesso ou à perdição. 

A vida humana é mágica justamente por causa desse poder de escolhas. São elas que tornam a vida tão imprevisível. Viver é um constante escolher; até respirar se pode escolher. Só não se escolhe nascer ou morrer, sendo que, nesse último caso, a escolha feita por um terceiro pode fazê-lo salvar sua vida antes mesmo que você consiga por fim a ela.

Eu acredito em vida de três esquinas. Tipo o centro daquela cidade horrorosa chamada Belo Horizonte. Nunca existem somente duas escolhas, na minha opinião. Sabe o "sim" e o "não"? Eu também acredito no "são", que, coincidentemente, remete ao verbo "ser". Acredito em Deus e na ciência; em coisas inexplicáveis à ciência pode haver Deus, assim como que pode haver ciência na religião. Acredito que entre os extremos tem sempre o meio termo que alia os dois, como é o ser humano em relação ao "bem" e ao "mal".

Mas essa terceira esquina é como viajar para Hogwarts pela plataforma 9 3/4, aquela que só os bruxos conseguiam ver por dentro de uma pilastra de concreto. Às vezes, é preciso ser míope na vida, pois só assim conseguimos ver o que foge ao olhar comum e ver a terceira esquina. Escolhas intermediárias, muitas vezes, são mais do que ficar em cima do muro, são a picareta para implodir o muro que nos separa de resultados e de nós mesmos.

O mundo pode ser muito mais legal com três opções. Porém, é preciso cuidado. Assim como a velha Belo Horizonte, quando se escolhe uma das esquinas e penetra profundamente por ela, desfazer a escolha e retornar à encruzilhada inicial de decisão nem sempre é fácil. Na vida, cada quadra percorrida envolve cruzar por mais um cruzamento de três esquinas, sendo que essas esquinas não são facilmente identificáveis e é difícil se saber de qual rua se partiu inicialmente. 

Escolher é um constante ir em frente, sendo que desfazer uma escolha já traz em si uma outra escolha. Nunca é um simples voltar atrás. Cada esquina traz em si uma chave de combinações possíveis, envolve uma análise combinatória. Lembra? Pois é. É difícil se saber para onde vai e mais difícil ainda conseguir voltar ao exato status anterior à medida que levamos à frente nossas escolhas cruzando por novas encruzilhadas decisórias.

Contudo, uma é a certeza, qual seja, a de que, aconteça o que acontecer, você colhe os resultados do que escolheu e é fruto de suas próprias escolhas. Se Deus existe, como acredito, esse foi o maior dom deixado ao homem, um dom que não assegura que seremos santos, mas que nos garante força criativa. Se você acredita só no "Big Bang", sem Deus, que sorte incrível essa que só nossa espécie teve após a explosão.

Viver às vezes envolve virar esquinas "cegas", aquelas de muro alto que viramos sem conseguir ver o que está do lado de lá. Entretanto, nessas horas, é preciso respirar fundo e virar, e seja o que tiver que ser.

Nenhum comentário: