terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come

Às vezes eu acho que sou um pouco atormentado da cabeça por ficar pensando em coisas assim. Espero que eu não seja o único desocupado que já parou para pensar sobre isto.

Aqui na região metropolitana de Vitória os ônibus intermunicipais (creio que todos) têm bancos amarelos especiais na metade do veículo; bancos reservados para idosos, gestantes, lactantes... e obesos. Quero me reservar a falar apenas do último grupo. Cara, há um critério objetivo para definir o que seria uma pessoa obesa? Tipo, para os idosos o critério é 65 anos, para as grávidas é a barriga, para as lactantes são as crianças de colo, mas e para os obesos? Você deve estar pensando: "O critério também é objetivo; é o peso." Mais ou menos. Qual peso define um obeso?

Eu pessoalmente penso que há uma objetividade implícita, ou seja, há casos em que a obesidade é incontestável, qualquer pessoa com meio cérebro consegue concluir que é um grave problema de peso. Mas, em regra, não é fácil estabelecer um critério. Se o critério for ter condições de entalar na roleta, ainda assim ele não será claro, porque muita gente razoavelmente gorda (fora dos casos que entendo serem extremos) tem sérias dificuldades para encarar a roleta.

Aonde quero chegar? Quero chegar no ponto de que se você estiver sentado num dos bancos amarelos e entrar uma pessoa gorda, fora daqueles casos EXTREMOS que são incontestavelmente quadros de obesidade, você nunca vai saber ao certo se deve oferecer o lugar para a pessoa gorda ou se deve esperar ela pedir o lugar.

 

É constrangedor para ambas as partes. Pode ser constrangedor para mim que ofereço um lugar a quem preciso atribuir, segundo meus próprios critérios, o rótulo de obeso, bem como para a pessoa convidada a sentar-se, que caso não seja obesa ou tenha algum tipo de problema em se aceitar assim, irá se sentir ofendida. Já no caso inverso, ou seja, no caso de o obeso pedir para eu me levantar para ele sentar-se, a situação será igualmente constrangedora, só que mais para ele do que para mim.

Enfim, os bancos amarelos não nasceram para ser usados por obesos. Nunca vi ninguém oferecendo-os a alguém possivelmente obeso ou então uma pessoa efetivamente nessa situação pedindo para sentar-se neles. Ninguém se arrisca a criar ou a passar por esse constrangimento. Resultado: os gordos, inclusive os flagrantemente obesos, ficam dividindo bancos espremidos com passageiros "comuns" ou ficam em pé suportando suas dores nas articulações. É um direito que ninguém parece poder usar ou aplicar sem ter que se submeter a um dano, ainda que leve, de ordem moral.

E tem mais. Quem tem coragem de após sentar-se em uma cadeira comum, ao lado de uma pessoa que não imaginava ser tão gorda, levantar-se inexplicavelmente e seguir a viagem em pé? Melhor seguir espremido ou levanter-se e deixar em evidência que o peso da pessoa é o que me impede de me sentar ao lado dela? Será que não seria um favor eu me levantar e deixar a pessoa pesada mais confortável sentada só?

Da série: Dúvidas cruéis que só devem existir na cabeça de um cara atormentado como eu.