sábado, 12 de dezembro de 2015

Até quando?

Este blog anda muito introspectivo ultimamente. Anda me faltando aquele "sangue nos olhos" para falar mal das coisas. Talvez eu seja um crítico dos tempos de silêncio, daqueles sem escândalos políticos, desastres ambientais, ataques terroristas... Me causa preguiça compartilhar pensamentos que já circulam aos montes por aí em tempos agitados como os atuais. 

Me resta a introspecção.

Me resta ouvir Johnny Cash, o homem de preto.

Quantos dias 01 esperei desde http://meuspensamentosabstratos.blogspot.com.br/2015/05/dia-01.html? Quantas vezes falhei? Quantos meses se passaram desde aquele dia 01 que não foi dia 01? Talvez eu tenha salvado vidas, levado palavras de esperança àqueles à minha volta. Mas não comecei meu dia 01. Quantas coisas perdi e deixei de fazer? 

É difícil quando se tira a faca do meio dos dentes. É difícil quando depois de vinte e tantos anos de luta, batalhas diárias, se consegue um porto seguro para repousar e respirar. É difícil reconquistar a disposição para voltar a lutar. Não dá vontade de voltar ao mar e suas batalhas. Lutar se tornou uma dúvida, quando antes era sinônimo de sobrevivência. O que fazer? No meu porto seguro vivi experiências que alteraram meu plano de rota e não estavam no roteiro de viagem.

Neste retorno tenho mais uma chance de tentar um novo dia 01. Até quando me serão dadas chances de tentar? Até quando Deus não irá se zangar das vezes que deixei de fazer o que sabia ser devido? O tempo se tornou um inimigo. Cada dia ele rouba um pouco do que tenho para voltar a lutar. Uma hora poderá ser tarde demais, ou melhor, difícil demais, a ponto de o dia 01 se tornar uma miragem ao invés de uma chance ao simples alcance das mãos.

É preciso dar o pontapé inicial. Em 2016? Não. Em 2015. Falta um pouco da inspiração, da "água batendo na bunda". Felizmente. Ou não. É difícil não se deixar seduzir pelos tantos elogios. Já dizia Santo Agostinho: "Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me adulam, porque me corrompem". É difícil, sobretudo quando os elogios são resultado de sua dedicação naquilo que faz. É difícil ser o improvável "menino de ouro" aos 25 anos, sobretudo quando se sabe que ainda não se atingiu o patamar ouro, talvez apenas o patamar madeira de lei. Elogiar todo mundo pode, mas ninguém vai fazer minha barba e meu bigode.

É preciso não se deixar levar. É preciso voltar a guerrear, a "dar tapa na cara de argentino", "ir pra trocação", virar cachorro louco.

"Que Deus me guarde, pois eu sei que ele não é neutro. Vigia os rico, mais ama os que vem do gueto."

É preciso voltar. Parar de anunciar e não lutar. Parar de começar e não terminar.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Carta

Esta última semana me falaram de você, referindo-se como sendo a "mulher da minha vida". Achei estranho, pois já não te vejo há não sei quanto tempo e não sinto mais o que sentia por você. Mas quando meu amigo disse que tinha algo a dizer sobre a "mulher da minha vida", sabia que só poderia estar falando de você. 

Sorri amarelamente. Expliquei a ele sobre a mudança de sentimentos, relatei brevemente sobre alguns affairs que vivi enquanto estive longe daqui e tentei lhe convencer de que não sentia mais nada por ti. Não sei se convenci. Ele me disse que te encontrou em um evento e que você estava divinamente linda. Ponderei, marotamente, que você nem é tão bonita, tem o corpo magro... mas ele insistiu que ainda assim você estava linda.

Guardadas as devidas proporções e considerando se tratar de uma infeliz comparação, foi como falar de drogas com um dependente que está há pouco tempo "limpo". Tentei tratar a situação com indiferença, afastar o rótulo de "mulher da minha vida". De fato, não penso mais em você e não idealizo nada, como outrora. Vivi affairs depois que parei de lembrar de você. Me envolvi e até tristeza por outra senti. 

Mas você não se apaga, segue como uma estranha lembrança que insiste em permanecer. Eu sei porque: é uma história mal resolvida, parada no capítulo de introdução. Você é minha Capitu, deixou a eterna dúvida se eu teria conseguido algo com você ou não. E tem um problema. Eu detesto coisas mal resolvidas e não sossego enquanto não dou um jeito de resolver. Talvez eu te veja como um problema a resolver ou uma história a terminar de escrever.

Hoje sou mais objetivo. Lapidado pelas experiências. Se voltar a te encontrar e conseguir algum espaço, talvez eu não vá enrolar muito tempo e vou tentar logo resolver, escrevendo uma conclusão até sem antes passar pelo enredo. Agora é diferente. A introdução já foi escrita lá pelos idos de 2000 e qualquer coisa, não tem como apagar. Contudo, minha filha, se eu tiver interesse de escrever o enredo antes de partir pra conclusão, vou escrevê-lo de forma surpreendente. Tenho menos purismo, arcadismo e inocência em relação a você. Tenho mais objetivismo e, quem sabe, mais "safadismo". Não tenho mais a pretensão de te ter para sempre. Aprendi que umas beijocas, para quem tem língua, é sentimento. Infelizmente. Talvez seja apenas isso que você queira.

Não espero mais nada. Não penso em te encontrar. Mas sei que agora que voltei para a cidade, qualquer hora em um 514/532 desses, isso pode se realizar. Que não falem mais de você como "mulher da minha vida", porque toda vez que falam, isso me faz voltar a lembrar. Talvez você seja o gatilho que preciso ou só um fantasma que vez ou outra eu tenho que encarar.

Minha conclusão é a de que ainda te quero, mas não te quero mais, te quero menos. Daqueles quereres que só temos de vez em quando.

Hoje não.

sábado, 19 de setembro de 2015

Apenas escreva

É preciso escrever. Falar mais. Escrever menos. Mas não parar de escrever.

Nos falamos na ponta dos dedos, sem nos tocar. Mas, sem nos tocar nos tocamos de muita coisa. É o fluxo da vida. Distâncias encurtadas, momentos curtidos, proximidade diminuída. Na ponta dos dedos, mas sem cuidados - aqueles que dispensamos às coisas que tocamos com a ponta dos dedos. Os dedos já não são mais os mesmos.

Escrevemos. Não escrevemos cartas. Vou te enviar uma carta. Pelo telefone. Sem cheiro, sem marca, sem borrão, sem letra, sem nada. Letra não é fonte. Queria usar minha letra. Não em papeis que só eu leio ou assinaturas. Todos os dias escrevo páginas, sem nem borrar os dedos de tinta. Sujo as telas brancas e depois despejo tinta preta.

Todo dia é assim.

Não preciso mais escrever. Talvez seja mais útil dançar. Por que as pessoas precisam saber dançar? Não precisam saber falar, desde que saibam dançar. E se você souber falar, mas não souber dançar... É preciso interagir. Na ponta dos dedos conta. Hahaha sem rir. =P nem tente reproduzir.

Estou falando coisa com coisa. É bom. Melhor seria no papel, mas iria se perder. Então escrevo aqui, para um dia esquecer. Dia desses vi que tinha passado de 100 postagens. Escrevi pra caralho, nem vi. Falei muita besteira, coisa que nem sei quando escrevi. Se disserem que fui eu, eis me aqui. Mas se me perguntarem, nem vi. Acho que amei. Em algum momento fiz um jubileu de poesia pra uma garota. Tenho vergonha deste momento. Mas foi verdadeiro e tudo que se escreve/fala de verdadeiro não pode ser jogado pra escanteio. Tenho vergonha, mas assumo. É preciso ser intenso, apertar o lápis, não negar as origens, o que se falou, ter honra. Quem nega se desonra. Quem muda, às vezes também. Hoje resolvi comer o que gosto, beber o que gosto, sem querer agradar, fazer sala pra ninguém.

O pior pecado é a omissão. O pior castigo é o desprezo. Quando não se age, não se cria, não se muda, não se assume, não vira o mundo. Ou vira, mas do jeito errado. Quem cala, não deixa viver, não deixa ocorrer, impede que o que tem força possa acontecer. Deixa haver covardia, desonestidade, tudo quanto é sacanagem. Melhor pecar pela intensidade do que pela falta de vontade. Se disse que não gosta, está dando uma resposta. Se não disse nada, está criando uma teia de incerteza. Incerteza é como raiz, cresce, enrola, quebra calçada e pula pra fora.

Pra quem quiser ver:


sábado, 18 de julho de 2015

Mon Dieu

Acelere!
Para viver.
Acelere!
Para sobreviver.

A vida pode ser veloz,
Não há tempo a perder.
Acelere no limite
Ainda que sem vencer.

Numa manhã estranha,
De tristeza tamanha,
Não deu para ganhar
E a morte ultrapassar.

Um choque forte
Que na TV não se pôde ver.
Silêncio obscuro,
Sem festa e lazer.

Assim se foi...
Mais um herói humano,
Um desafiante de máquinas,
Um domador de motores.

Foste bravo em Monaco,
Geraste alegria com dois pontos.
A lembrança dessa singeleza
Afasta um pouco da tristeza.

É hora de acelerar em outras pistas,
Vencer inesquecíveis corredores,
Contornar as curvas celestes
E beber champagne de outros sabores.

Vá, Bianchi!
O sofrimento acabou.
Será um eterno jovem
Na mente do torcedor.

Em memória de Jules Bianchi
Jules Bianchi

sábado, 11 de julho de 2015

Quem precisa de heróis?

Pretendo ser breve neste retorno forçado.

Sabe uma coisa que me incomoda muito? Heróis. Não os fictícios, dos quadrinhos e desenho animado.

Tenho como uma das máximas de minha vida profissional fazer o que precisa ser feito, aquilo que sou pago para fazer, sem choro nem vela. Mas tem muito gente que não é assim.

Por mais que se diga que não, algumas profissões possuem graus maiores de importância/responsabilidade do que outras. Nessa categoria, sem dúvidas, estão as carreiras de policial e bombeiro. 

Arriscar sua própria vida por outra pessoa, tendo que lutar contra chamas ou tiros, com certeza é um ato de bravura louvável. No entanto, na minha opinião, realizar tal ato profissionalmente, ou seja, sendo remunerado para tal finalidade, não torna ninguém herói. Penso que se você é pago para salvar vidas isso se torna um dever profissional e, dentro daquela máxima que citei anteriormente, se torna um apenas "fazer o que precisa ser feito".

Quem escolhe ser policial ou bombeiro não escolhe (ou não deveria escolher) ser herói, mas somente escolhe um ofício, ainda que de singular importância. 

No entanto, vivemos hoje (ou talvez sempre vivemos) uma era de capitães "Nascimento", na qual colocar uma arma na cintura se tornou sinônimo de licença para ser herói. Muitos policiais, infelizmente, pensam que quando vestem uma farda vestem na verdade uma roupa de super-herói e devem usar a arma que carregam consigo contra vilões. É uma imagem até romântica, pois os policiais, muitas vezes, sentem que podem salvar a sociedade apenas na base do tiro, prendendo "malfeitores que não são dignos de viver em liberdade".


Acontece que o crime é um fenômeno social cuja origem vai além do mero desejo individual de roubar, matar, estuprar... Apenas prender ou matar o máximo possível de pessoas que cometem crimes não resolve o problema da criminalidade, uma vez que esse problema passa pela pobreza, pela falta de acesso a serviços públicos e desemboca no desejo individual de delinquir. Assim, punir quem comete um crime é como atirar na ponta de um iceberg achando que destruí-la será capaz de eliminar o gigantesco bloco de gelo que está embaixo d'água.

A sociedade, em geral, espera heroísmo dos policiais, dentro daquela visão romântica de eliminação de vilões; por isso, ela se frustra toda vez que sente que os vilões estão vencendo. E os policiais, muitas vezes, compram essa história e acreditam nela. Talvez por causa disso sejam recorrentes na classe policial os sentimentos de que os policiais não são reconhecidos e de que os meios de comunicação sempre querem apenas denegrir a corporação perante a sociedade.

Vejo diariamente policiais e simpatizantes reclamando nas redes sociais que erros policiais são expostos à exaustão na imprensa e que ela não mostra os casos nos quais policiais fizeram partos de gestantes, salvaram animais, velhinhas indefesas e etc. Ora, meus caros, ser policial é salvar vidas e não querer louros por isso. É salvar vidas em vielas escuras e não se importar se alguém viu, noticiou etc. Por quê? Porque esse é seu trabalho. Lembra daquela máxima de fazer o que é pago a você para fazer? Pois é... Infelizmente é assim que funciona no mundo profissional dos seres humanos não heróis.

Sem querer ser desagradável, a imprensa é filha da puta com todo mundo, seja com o médico exemplar, mas que por um descuido deixou um paciente morrer ou com um policial espetacular, mas que matou por equívoco um inocente. É duro, eu sei, porém salvar criancinha, animais, velhinhas não dá nem a terça parte da audiência gerada por tragédias, erros humanos e por aí vai. Não é perseguição com a classe policial, pode acreditar.

Por isso eu realmente não entendo essa obsessão que a classe policial tem de querer ser tratada pela sociedade com heroísmo. A morte de um policial não o torna herói e não justifica uma reportagem jornalística em homenagem.

O que se deve perseguir é uma maior valorização salarial da carreira, o oferecimento de melhores condições de trabalho pelo Estado, mais treinamento e etc, haja vista que essa classe profissional se submete a riscos maiores do que praticamente todas as outras. Mas sério, exigir tratamento de herói pela sociedade e pela imprensa, com todo respeito que nutro pela profissão, é algo que não vejo o menor sentido.

Como disse, ninguém escolhe ser herói. As pessoas escolhem profissões.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Dia 01

Ainda existe vida lá fora e aqui neste blog.

Eu não quero mais escrever poemas (talvez por um tempo).

Meu negócio é prosa. Muita prosa, diga-se de passagem. Dois dedos não são suficientes. Gosto daquela prosa marota, sobre "isso tudo que tá aí", passando pela crise política e terminando nas incertezas humanas.

Quando escrevo poesia, tenho recordações, algo me inspira (uma música, uma musa, sei lá, até mesmo a falta de inspiração). Mas quando eu proseio não! É diferente. Eu grito qualquer coisa e pronto/ponto. É quando me perco na prosa que me encontro.

25 anos. 

Com o tempo minhas ideias se organizam mais facilmente. 

Porém, não consigo falar de poesia sem falar dela. Às vezes ainda penso nela, raramente, para dizer a verdade, mas ainda penso. Meu maior medo era que ela se tornasse uma Capitu. Não pela dúvida traiu/não traiu, mas pela dúvida "será que ela já gostou de mim? Estive perto de conseguir? Faltou pouco?" Pois é... Acho que conscientemente deixei que ela se tornasse uma Capitu. Aliás, talvez eu até tenha achado mais fácil fazer assim e cultivar uma dúvida. Nunca perguntei e a dúvida ficou e ficará até os dias em que eu encontre uma certeza mais forte que essa dúvida. Por algum motivo inexplicável gostei (muito) da Paula. Não me lembro de nada concreto que justificasse o surgimento de tamanho afeto. Foram só coincidências que fizeram com que nos encontrássemos por aí no quintal de Deus. Mas sabe? Foi uma coisa meio de alma, senti muito facilmente uma empatia natural por ela. Havia certamente outras garotas mais bonitas, mais próximas, mais amigas... mas não adiantava. Isso eu só sentia por ela. E olha que nem éramos tão próximos. Contudo, esse afeto diferenciado eu nunca senti ser mútuo, nunca senti reciprocidade (e ela não tem culpa disso, afinal, afeto apenas se sente), por isso nunca me esforcei, nunca fui contundente e deixei que a dúvida fosse naturalmente cultivada dentro de mim. Por quê? Talvez apenas para que eu tivesse uma contínua fonte de inspiração. Vai saber... Ainda penso nela, mas sempre rapidamente, como quem insiste em tentar não esquecer um rosto que não vê há muito tempo. Não faço projeções, apenas a imagino feliz, sentindo-se em condições de se realizar como pessoa e de concretizar seus objetivos. Isso me basta. Mais ou menos, na verdade. Mas a vida segue e precisa seguir.

No mais, não vejo telejornais. Só assisto futebol e filmes. Me informo confrontando notícias na internet e tento, mais uma vez, iniciar um período sabático (de estudos) vivendo numa cidade de interior, na qual não existe Big Mac, não há trânsito e vou ao trabalho andando, existe mototáxi, pessoas despacham bicicletas ao invés de bagagens quando viajam de ônibus e existem mais restaurantes japoneses por metro quadrado do que na capital.

Amanhã é o dia 01. 

Mais um dia de recomeço, de aprimoramento pessoal, de experiências adquiridas que me salvarão em momentos de sufoco, mas também de novas experiências, coisas e gente nova. Às vezes é bom viver longe de "casa". Em um lugar onde nada se conhece e nada se sabe. É bom se perder nas ruas e saber que precisa achar o caminho de volta. É bom perder referenciais e ter que diariamente buscar novos. Mas também é bom saber que se pode voltar para "casa" e continuar uma vida interrompida há uns 7 meses. Sabe uma das coisas que mais gosto de fazer quando volto alguns dias pra "casa"? Comer um Big Mac na véspera de voltar embora. É como uma última ceia antes de partir; um último encontro com algo que não sei quando comerei de novo. É um separador de vidas.

Gosto muito de uma passagem bíblica que diz que onde está o seu tesouro, lá está o seu coração. Concordo muito com isso, mas sabe? Hoje, meu coração vai onde eu vou. Minha vida é onde estou, seja em "casa" ou aqui. Quando estou na cidade velha que considero minha "casa", estou 100% lá, sem ressentimentos, sem saudosismos, apenas me deixo estar. Quando estou aqui, também estou "firmão", decidido, sem desespero em voltar. Como um camaleão que muda de cor conforme muda de ambiente, um anfíbio que gosta do molhado, mas também vive bem no seco. Sou intenso, não sei me deixar pelas metades. Meu traço é grosso, meus cabelos são escuros como se fossem tingidos e sou firme como uma rocha no que acredito. Sou ideológico. Gente assim não vive se não for com intensidade. Boto meu coração naquilo e em quem acredito. Boto meu coração no que faço.

Isso é prosa.