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segunda-feira, 21 de julho de 2014

Pará

Quer saber?
Vou-me para o Pará.
Não Belém!
Quem sabe Marabá...

Pegar um trem
Aquele de Carajás!
Queria ontem,
Mas vou já!

Estrada de ferro
Coração de aço
Ar de minério
Me dê um abraço

Meia passagem,
Uma ida.
Meia viagem,
Uma vida.

Ôh Sônia, Ôh Sônia
Preciso te encontrar.
Na Amazônia
Ou qualquer lugar.



sexta-feira, 4 de julho de 2014

Amélie

Hoje vi um filme bem novo. Deve ter só mais de uma década que foi lançado... hahaha
Da série coisas que se faz quando se está de férias.

Le fabuleux destin d' Amélie Poulain (O fabuloso destino de Amélie Poulain)

Conhecem? Imagino que quase todo mundo já teve a oportunidade de ver esse filme na última década. Por todos esses anos tive uma curiosidade inexplicável de ver esse filme; um fascínio anormal. Até mesmo algumas músicas da trilha sonora eu já tinha baixado da internet, mesmo sem ver a obra.


A primeira impressão? Uma obra delicada. Extremamente delicada, aliás. Um filme tão delicado quanto sua protagonista. Cada mínimo detalhe, cada personagem, tudo muito bem trabalhado. Por certo, para quem curte filmes mais objetivos, "O fabuloso destino de Amélie Poulain" é um filme chato, arrastado. De fato, é um filme meio paradão. Mas esse paradão é justamente um reflexo do modo de vida dos personagens da obra. 

Aí é que está o grande charme dessa película: os personagens. Seres comuns. Pessoas normais. Mas tão normais que parecem exóticos. É exatamente isso que a apresentação de cada personagem, dizendo o que eles gostam e detestam parece mostrar. Mostra que seres comuns, na sua intimidade, gostam de coisas incomuns, como enfiar a mão bem fundo em um saco de grãos, mas detestam coisas triviais, como que seus dedos enruguem após um banho quente. Pessoas comuns são apresentadas como se fossem excêntricas. É como se a obra quisesse dizer que, de alguma forma, mesmo as pessoas mais "normais" possuem suas "loucuras".

Amélie é uma menina de vida sem graça. Como tantas pessoas que cruzam conosco todos os dias. Uma menina de trajes simples, de beleza simples e de agir comum. Até que um acontecimento incomum, muda todo o seu destino. Na verdade, não é o destino dela que muda ao encontrar uma caixinha escondida em um buraco de seu quarto, mas o jeito dela conduzir a vida e, consequentemente, de construir seu destino. A personagem passa a fazer coisas incomuns. A fugir do óbvio.


Não consegui segurar as risadas com as traquinagens de Amélie com o quitandeiro e, sobretudo, com seu próprio pai. É hilária a história das viagens do anão de jardim!

É interessante notar que ao mudar sua forma de agir no dia a dia, Amélie passa a alterar a vida de todas as pessoas comuns que estão ao seu redor. Ela passa a produzir novidades, boas e ruins, na vida de todos eles. Passa a tira-los do costume. Tira-lhes do conforto, do marasmo. Mas ao mesmo tempo que muda a vida de todos, Amélie segue mantendo-se omissa em relação aos destinos de sua vida. Não se decide sobre sua vida afetiva. É contraditório. Ela rompe a inércia em direção ao rapaz que lhe atrai, mas quando consegue coloca-lo na sua zona de influência, quase deixa, por inércia, escapar a possibilidade de se relacionar com ele. Ela o conquista com suas condutas de ousadia, porém foge do contato, da relação amorosa, quando percebe que o conquistou.


Amélie tem coragem de lançar novas cores sobre a vida de todos, mas não tem coragem de iluminar sua própria vida. É intrigante. Ela é uma menina boba e atrevida ao mesmo tempo. O mundo precisa de mais meninas como Amélie. Na verdade, acho que devem existir muitas, mas elas devem estar escondidas por aí, ainda se escondendo da vida, dos contatos e dos relacionamentos. Aliás, se eu achar uma "Amélie" que fale francês, eu caso com ela sumariamente. Como é doce e agradável ouvir uma mulher falando francês...

E a atriz? Nunca tinha ouvido falar dela antes, contudo, preciso reconhecer que ela é de uma beleza apaixonante. Beleza simples. Em geral não acho bonito mulheres de cabelo curto como o dela, mas consegui abrir uma exceção. Não sei porque, mas eu achei o rosto da atriz muito igual ao da Catherine Zeta-Jones mais nova. Eu sei, elas não se parecem...

      
                                             Catherine                                          Audrey Tautou

Voltando à personagem, Amélie é fabulosa. Aliás, todos os personagens são fabulosos. Pessoas normais, de vida chata e sem graça até o dia que Amélie começa a criar novidade na vida deles. E aí fica a grande mensagem do filme. A vida é cheia de pontos de conforto. De momentos em que escolhemos não se arriscar e se entregar ao comodismo das coisas que se repetem e não nos exigem novas respostas e atitudes. E os anos passam dessa forma repetitiva e só depois vemos o quanto desperdiçamos. Pessoas normais tendem a ser vegetais, a perguntar "tudo bem" sem realmente se importar com a resposta; a dizer que o tempo está quente só para não ter que movimentar uma conversa de verdade.

"O fabuloso destino de Amélie Poulain" é um filme de história delicada. Que nos toca com sutileza se nos dispormos a analisar cada pequeno detalhe da história. Aliás, são muitos os pequenos detalhes que tornam o filme algo que foge ao roteiro comum do que costumam ser as películas românticas.

Amélie nos convida à vida. A nos expormos um pouco mais. A sairmos de dentro da concha e a nos atirar com ousadia para construirmos nossos próprios destinos fabulosos.

domingo, 26 de janeiro de 2014

[Dando Uma] Serra Pelada

Mais uma crítica irresponsável de cinema.

Hoje quero dar pitaco sobre um dos poucos filmes que vi no cinema no ano de 2013: "Serra Pelada". Desde o dia que eu vi esse filme eu quis fazer uma postagem sobre ele, mas a certeza de que nem 5% dos leitores incertos deste blog teriam assistido ao mesmo me fez desistir da ideia. Então eis que a Rede Globo, para meu espanto, resolveu exibir esse filme como uma espécie de minissérie no começo deste ano, fato que renovou minha esperança de ter público para esta postagem.

Pois então. É sempre bom reforçar, sobretudo para os navegantes de 1ª viagem neste blog, que eu sei tanto de cinema quanto a maioria das pessoas sabe sobre as regras do golfe, a ponto de eu sequer saber ao certo o que faz um diretor. Ah, mais uma vez, essa não é uma sinopse de filme, logo não se destina a resumir a história, portanto, a leitura será mais proveitosa para quem já tiver assistido ao longa metragem. Na realidade, acho que vou falar mais da verdadeira Serra Pelada do que do filme... Mas enfim, vamos lá!


Não precisa ser um expert em cinema pra perceber que "Serra Pelada" foi uma produção bem pobre financeiramente. Elenco principal pequeno, poucos atores medalhões, poucos cenários etc. Mas o que mais me intrigou não foi isso, e sim o fato de terem explorado tão porcamente uma história tão rica. Serra Pelada é a história de um Eldorado em pleno século XX, no meio do nada e em meio aos perigos da floresta amazônica; a história de milhares de homens vindos de diferentes pontos do Brasil que largaram tudo para perseguir um incerto sonho dourado, o sonho de enriquecer achando ouro, mesmo sem nunca na vida terem sequer garimpado. Em síntese, como dito no próprio filme, é a história da maior concentração de trabalho humano desde a construção das pirâmides do Egito.


Pelo menos esse aspecto geral o filme conseguiu demonstrar. Conseguiu mostrar como esse sonho dourado foi capaz de contaminar tanta gente - dos mais variados tipos, diga-se de passagem. Os protagonistas do filme são um espelho disso: duas pessoas que deixaram São Paulo em direção a um garimpo desconhecido no interior do Pará, de onde corria Brasil afora a notícia de haver muito ouro a ser extraído. Aliás, até que a história dos protagonistas é interessante, consegue prender a atenção, mas ainda assim, os verdadeiros personagens de Serra Pelada mereciam um pouco mais.


É claro que "Serra Pelada" é um filme de ficção, e não um documentário, mas explorar tão pouco alguns detalhes da Serra Pelada verdadeira foi um pecado. Falaram tão pouco das loucuras feitas pelos bamburrados, das visitas ilustres de mulheres como Rita Cadillac em um ambiente no qual elas eram as únicas mulheres em um raio de quilômetros, assim como das dificuldades de se viver no interior do Pará - no meio da floresta amazônica, em meio à malária e outras sérias doenças, em meio ao calor infernal etc. Digo isso mal acostumado por histórias de filmes bem feitos como "Carandiru", que mesmo em meio a tantos detalhes a serem explorados, conseguem contar satisfatoriamente a história de muitos personagens simultaneamente. Mas pensando bem, não se pode exigir muito de um filme financeiramente pobre...

[Para quem quiser conhecer um pouco mais sobre a verdadeira Serra Pelada, recomendo esta reportagem especial feita pela Rede Record, dividida em duas partes: Parte 1 e Parte 2. O que mais me intriga nessa reportagem são as histórias do bamburrado que bancou um voo exclusivo de Belém pro Rio de Janeiro, sozinho em um avião no qual cabia mais de 100 pessoas e pagando mais de cem mil reais (em dinheiro atualizado), e do cara que depois de ser milionário hoje vive miseravelmente e mesmo assim diz que se pudesse voltar no tempo gastaria tudo de novo! São essas coisas que me atraem tanto na história de Serra Pelada]

Enfim. Serra Pelada é muita história para um filme de pouco orçamento. De qualquer forma, valeu a tentativa. Algumas coisas são extremamente boas no filme, como, por exemplo, a trilha sonora, sobretudo das cenas passadas no "30"; músicas que se encaixam muito bem com o contexto regional e social. Gamei nesta música aqui, de um artista falecido que descobri se chamar Frankito Lopes (também conhecido como "o índio apaixonado"):



O filme também consegue tratar muito bem a questão da violência naquele cenário amazônico onde sobrava testosterona. São cenas muito boas de corre-corre, tiros e gritaria. E a Sophia Charlotte (acho que é assim que se escreve, não vou pesquisar)? Pessoalmente não acho ela uma grande atriz e muito menos uma das mais bonitas. Pensei que ela seria muito europeia pra fazer o papel que lhe deram no filme. Mas vou te dizer, no final das contas ela é a cereja do bolo no filme. Acho que como era o primeiro filme dela ela tava topando fazer tudo. Sem rodeios, ela mostrou ser bem gostosa. Belos peitos! Sobre a atuação dela? Sei lá. Acho que nem reparei. Como é que você vai reparar em interpretação numa hora dessas?

 

Se é pra falar de verdade sobre interpretação, posso dizer que mais uma vez Wagner Moura deu show. Um personagem pitoresco, cheio de trejeitos e de cenas inesquecíveis. Uma pena que talvez a melhor cena desse personagem não foi mostrada na minissérie da globo. Aliás, lamentável essa minissérie... O filme em si já é de enredo meio pobre, e com cenas cortadas então, virou quase uma sequência de fotografias. Creio que quem viu o filme só na Globo teve a sensação de que o filme era pior do que realmente era. Uma pena...

Um aspecto que me chamou a atenção no dia que vi o filme no cinema era a monotonia da história em razão dos poucos personagens e cenários. No entanto, isso tem um aspecto interessante, pois o filme consegue, ainda que involuntariamente, passar a quem o assiste a mesma monotonia que devia marcar a vida dos homens que viviam naquele garimpo amazônico, no meio do nada. Entende? É como se a pobreza de enredo fosse justamente para reproduzir a monotonia daquela vida de poucos cenários que aqueles homens tinham.

É um filme pobre cuja maior qualidade é a história de fundo: a história do garimpo de Serra Pelada. Foi justamente essa a motivação que me fez ir ao cinema ver esse filme. Eu nem sabia qual era a história dos personagens do filme e tampouco conhecia direito o elenco. Meu negócio mesmo era ver aquela loucura de 100 mil homens fervendo no meio da floresta em busca de um sonho tão incerto. Nesse aspecto, o filme merece uma menção honrosa, pois conseguiu mostrar bem como a busca pelo ouro era insana, como mexia com os valores daqueles homens, a ponto deles mesmo depois de conseguirem dinheiro suficiente para voltar para casa preferirem ficar lá para tentar conseguir ainda mais. É um ciclo vicioso. Nunca chega a hora de voltar, até que você perca todas as suas fichas. Serra Pelada se mostra como uma droga, como o vício em jogo, no qual após ganhar uma quantia significativa o jogador prefere reinvestir tudo o que ganhou para tentar ganhar mais.


Os protagonistas do filme vivem essa realidade. Acham ouro, mas preferem reinvestir para achar mais, tornando-se, assim, donos de barranco. Joaquim (vulgo "professor"), mesmo vendo, através de fotos, sua única filha crescer sem ele em São Paulo, resiste por anos em retornar para casa. Aquilo que era só uma aventura - ir, achar ouro e voltar - se torna algo viciante. Não há outra palavra além de "ganância" que seja capaz de explicar a escolha dos personagens em se deixar ficar voluntariamente naquele fim de mundo.

Sobre esse aspecto a reportagem da Record destacada anteriormente é um primor. Mostra a história de homens que nunca mais voltaram para suas terras depois de pisar em Serra Pelada. Homens que vivem há décadas naquela região ainda na esperança de poder pegar o ouro que talvez ainda exista abaixo daquela terra. Homens que não sabem mais como viver se não for sonhando com o ouro de Serra Pelada, que seriam incapazes de voltar "pra casa" depois de tantos anos. Homens para os quais Serra Pelada se tornou casa e continuará sendo mesmo se ainda conseguirem bamburrar numa improvável última garimpagem no local.

É o poder dos sonhos. Muitas vezes aquilo que era sonho se torna ilusão, mas não conseguimos perceber ou relutamos em aceitar.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

PARE

OLHE



ESCUTE

Dias de Malásia.
Vai.
Vai pra cima.
Não deixe de ir.
O tempo é escasso e a inércia tira a sensibilidade.
Se suje. Se enlambuze. Só não fique limpo.
Jogue-se. Se precisar rasteje pelas trincheiras. Só não fique parado.
Encare. Finja. Seja duro mesmo na fraqueza.
Decisões precisam ser rápidas e aparentarem ser corretas, ainda que erradas.
Ninguém nota, mas todos fingem se importar.
As mãos precisam ser mais rápidas do que hábeis.
Produção em larga escala.
Se hesitar vai atrapalhar. Se pensar demais vai estragar.
Faça. Como eles não fazem. Do seu jeito.
Rompa. Chute a porta. Entre sem bater.
Faça acontecer.
Só não fique esperando pra ver.
Não pague. Pule.
Tome tiro, mas não tome bomba.
Vença mesmo perdendo.
Perca para aprender a vencer.
Mas vença.
Tudo em meia hora ou nada.
Tudo.

SIGA

"Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito." (Martin Luther King. Jr.)

sábado, 10 de março de 2012

[FILÉ COM FRITAS] Brasil: o país do amanhã.

[FILÉ]

Definitivamente, o Brasil é o país do amanhã. O país do amanhã eu faço.

Cada dia mais me surpreendo com a capacidade do povo brasileiro de deixar tudo sempre para a última hora. Não sei se é algo cultural, genético ou sei lá o quê. Mas não é segredo para ninguém que, em regra, gostamos sempre de enrolar para resolver as coisas.

Somos a 6ª economia do mundo e em breve seremos a 5ª, dizem os especialistas. Em tese, seremos um dos grandes países do amanhã, juntamente com outros países emergentes, dizem os economistas. Contudo, me espanta como os economistas são tão confiantes em relação a isso. São todos cegos! Veem apenas o lado econômico da coisa, acreditam que uma economia forte faz um país ser grande. Partem de um pressuposto errado? Não. Só esquecem que esse pressuposto é válido apenas para países desenvolvidos, países que alcançaram elevados níveis de desenvolvimento social após aquelas décadas do chamado Estado do Bem-Estar Social; esquecem que abaixo da linha do pecado, digo, do Equador, o nível de desenvolvimento econômico não acompanha o desenvolvimento da educação, dos serviços públicos...

Para mim, no Brasil não tivemos a época do chamado Estado do Bem-Estar Social. Vivemos há décadas um sistema híbrido que alia liberalismo econômico com paternalismo social. E pagamos caro por isso. Queremos evoluir no campo social, mas os liberais ficam dizendo que isso é ideia retrógrada, que a época disso já passou, que o negócio é ser neoliberal, como os países desenvolvidos, aí ficamos no meio do caminho: entramos de cabeça no sistema neoliberal fingindo que já tivemos (como os países desenvolvidos efetivamente tiveram) um período de Estado Social. Resultado: temos crescimento econômico e queremos manter os avanços sociais que pensamos termos feito nas décadas passadas. Vai dizer que nunca ouviu algum especialista dizer que o SUS é o melhor sistema PÚBLICO de saúde do mundo e que precisamos mantê-lo cada vez melhor? Para mascarar os avanços sociais que não tivemos ficamos inventando bolsas migalhas por aí, auxílios assistencialistas que achamos que podem resolver de imediato as falhas crônicas do nosso sistema social. Queremos sempre mascarar o agora para resolver, se der, depois.

Essa parece ser a tônica da nossa política. Vivemos de promessas. Por quê? Porque acreditamos em promessas. Acreditamos sempre que alguém fará amanhã; e digo mais, nos contentamos em ter a esperança do amanhã. Acontece, entretanto, que desde os anos 70 somos o tal país do amanhã. De um amanhã que nunca chega e, para mim, enquanto continuarmos nesse espírito de resolver no futuro, nunca chegará. Voltando às promessas, destaco que também acreditamos nelas porque levamos nossas próprias vidas “na promessa”. Repito: não sei se é cultural, mas a verdade (pelo menos a minha) é que gostamos de deixar tudo para depois e só quando o depois está prestes a estourar na nossa fuça é que tomamos uma atitude enérgica. Até lá gostamos de “cozinhar o galo”. Para alguns, isso é preguiça, razão pela qual dizem que somos um povo preguiçoso, conclusão que cada vez mais luto para não ter.

Numa democracia representativa como a nossa, os governantes não são nada mais do que um espelho de quem os elege. Partindo dessa premissa como verdade, tenho que se o Poder Público sempre que pode retarda ações efetivas para resolver os problemas nacionais, é porque isso é reflexo do que os brasileiros costumam fazer para resolver seus próprios problemas. Talvez isso explique, em parte, a nossa paixão pelos “jeitinhos”, afinal, eles não são nada mais do que meras soluções improvisadas para problemas imediatos. Problemas que muitas vezes poderiam ter sido evitados se no passado tivéssemos agido de modo mais enérgico quando o problema ainda era pequeno. Costumamos esperar um vazamento virar um desmoronamento para agirmos de alguma forma efetiva. É comum, por exemplo, situações em que o Poder Público faz uma obra, deixa de herança um buraco mal tampado e só volta para fechá-lo efetivamente quando alguém cai nele e morre. Só agimos com pressão. Só rompemos a inércia quando se omitir já não dá mais; já não é mais opção. Por que esperar diversas pessoas serem atropeladas numa rodovia antes de se construir uma passarela? Por que esperar o corrupto roubar de novo para reclamar dele depois? Não o eleja então, cacete! Por que esperamos as coisas acontecerem do pior modo possível ou ficarem prestes a chegar nesse nível para agirmos?

E a burocracia? Quantas vezes você já teve a sensação de que ela existe só para você desistir de fazer algo? Parte do objetivo dela é este mesmo: desestimular cobranças por ações imediatas; dar tempo para o Poder Público enrolar para resolver o problema. O negócio é enrolar. Enrolar ou deixar para outra pessoa resolver amanhã; transferir o agir para depois e, de preferência, para outra pessoa.

Tenho me divertido muito com as obras da Copa do Mundo. Tudo muito lento e parecendo que não vai ficar pronto a tempo. O mundo civilizado está morrendo de medo de nós (da selva) não termos obras prontas para o mundial. Eles não nos conhecem... Eles não sabem que tudo aqui tem que “ter emoção”, ser feito com jeitinho e sufoco. Não teria graça ter feito tudo com 1 ano e meio de antecedência. Não seria uma copa brasileira; seria uma copa alemã ou japonesa no Brasil. Relaxem, gringos! Vai ficar tudo pronto (ainda que o cimento da arquibancada fique seco no dia do 1º jogo). Relaxem. Vocês vão poder se divertir na 6ª (ou até 5ª) economia do mundo. Semana passada o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, disse que precisávamos de um chute na bunda para acelerar as obras. Nossa! “Ui! Como somos delicados...” Para o governo brasileiro isso foi quase uma declaração de guerra. Pergunto: Que mentira o homem branco do norte disse? Ele disse apenas que somos muito tranquilos para fazer as coisas urgentes. Que estamos retardando mais do que deveríamos obras que já deveriam estar prontas (tanto estádios como infra-estrutura: estradas, aeroportos...). Nós somos muito engraçados mesmo: adoramos sermos bajulados; queremos ter razão, mesmo estando com a tarefa de casa atrasada. E ainda queremos justificar o porquê! Foi um puxão de orelha merecido! E digo mais, deveríamos ter vergonha por estarmos assumindo frente ao mundo todo que só estamos tentando resolver problemas de infra-estrutura porque temos que parecer bem organizados ao mundo durante a Copa e as Olimpíadas. Noutros termos, só estamos saindo da inércia para não passar vergonha, para aparentar sermos um país organizado. Não estaríamos movendo uma palha do lugar para melhorar os aeroportos e as estradas se não tivéssemos que receber o mundo em 2014 e 2016.

Somos assim. Desde muito tempo. Pensamos que tudo pode se ajeitar depois; quem sabe amanhã. Mas eu ainda acredito que o nosso amanhã vai chegar, afinal, como consta no título de um dos filmes de 007: O amanhã nunca morre.

A você que não sei (e "nunca" soube) se sente o mesmo que eu.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Queda Livre


ca.ir
(lat cadere) vti e vint 1 Descer no espaço, em virtude da gravidade, quando libertado da suspensão ou suporte: Cair ao solo. A pedra caíra na sala. Os soldados iam caindo pelo despenhadeiro abaixo. O suicida caiu sobre um transeunte. Caíra e morrera.
(Dicionário Michaelis - versão digital)

Cair.
Tá para existir sensação mais estranha.
Mais estranha que os 19 significados apontados pelo Dicionário Michaelis para a palavra cair.
Ufa!
Digo cair no sentido de ir ao chão.
De perder todo o referencial por uns minúsculos segundos e encontrar o solo.

O chão é o limite, Senhores.
O limite horizontal.
O limite que nos dá um ponto de partida e um ponto de chegada.
Mas esquecemos.
Esquecemos que o chão existe e que está ali só pra isso.

Você está todo seguro de si e de repente...
Chão.
Um flash nas alturas/Um flash no chão.
Tudo muitíssimo rápido.
Aí você acorda.
Percebe que você não é essa Coca Cola toda.
Que você é fraco.
Que você - todo poderoso e seguro de si - não é capaz de impedir uma simples queda.
Por quê?
Porque você não sabe quando pode cair.

Ué?
Por que nos seguramos em algo/alguém quando achamos que podemos cair?
Por que tanto medo? Mesmo quando a queda parece ser incapaz de gerar qualquer lesão.
É o medo da sensação de cair.
O medo da impotência proporcionada por cair.
É preciso sempre estar por cima, vivendo no limite da verticalidade, longe da horizontalidade.

Um dia o horizontal caiu sobre meu vertical.
Um pedaço do teto da minha casa caiu sobre mim.
É verdade.
Fiquei sujo de terra e com gosto de reboco na boca.
Um gosto ruim. Tão ruim quanto a sensação de cair.
Não queremos a terra.
A origem de tudo.
Não queremos perder os referenciais.
Mesmo aqueles que nem percebemos.
Querems a segurança.
Não queremos o gosto da terra.
Eu devia ter lambido a terra que ficou em meus lábios.
Era o gosto da queda.
Não da minha.
Era a queda do horizontal sobre o vertical.

A verdade é que não estamos prontos para cair.
Não queremos a impotência.
A sensação da fragilidade.
Coisas frágeis caem e quebram.
Não se pode quebrar.

Somos feitos para durar.
Mas temos medo de quebrar.
Cair é isso.
É
quando se é libertado da suspensão ou suporte.
Não sou eu quem digo.
É o Michaelis.
Meu velho amigo Michaelis.

Por isso eu digo:
É preciso cair.
Não! Não vou dizer que o importante é levantar depois!
Mas é preciso cair.
Não para se levantar.
Mas para lembrar que se está vivo.

Para lembrar que não somos eternos.
Para lembrar que somos mortais.


A Dan Wheldon e Marco Simoncelli
, que fizeram do limite a vida e nos lembraram que (ainda) somos mortais.

sábado, 13 de agosto de 2011

Smell

É o cheiro. Dizem que ele está por toda parte. Quem tem nariz, cheire.

Cheiro de podridão. O cheiro civilizado da Europa me dá náuseas. É cheiro de excremento. O cheiro das veias abertas da América Latina cheias de bosta. O cheiro do sangue ralo das crianças africanas derramado. No fim, se você balançar direitinho a taça de vinho ainda dá pra sentir um pouco do cheiro da pólvora. Cheire.

Cheiro de ferrugem. Ideias velhas para trazer o novo. Cheiro dos dentes podres do cão que ladra e não morde. Cérebros cheios de ideias vazias. Marx tem mau hálito e barba cheirando à marofa. Aroma de silêncio em meio aos gritos. Cheire.

Cheiro de gente. À venda por alguns xelins ou vendida sem olhar os dentes. Por toda a parte. É o cheiro da liberdade do Novo Mundo. Buenos aires trazem o cheiro amadeirado de sangue com plata. Cheiro de hipocrisia com falso moralismo e... deixe eu adivinhar... corrupção! Que delícia! Cheire.

Enquanto isso, contorno a Sainte Devote em direção à Mirabeau sentindo o leve frescor da Riviera Francesa dissipando o cheiro da gasolina do meu V8. É um cheiro frutado de juros e dividendos misturado com cabernet sauvignon. Se você cheirar bem dá pra sentir um aroma silvestre de carne humana em pratos africanos de fome. Bon Appetit. Cheire.

Cheiro de fumaça. O futuro está nas pontas dos charutos. Cheiro de tarde vazia cheia de balas e doenças. Cheiro de corpos ao chão. Os urubus esperam sem pressa a refeição da tarde caminhar nua em meio a ossos e moscas. O tempo não pára. Aroma de morte. Smells like Somalia. Cheire.

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6Dmf0gpYXxIdZrLPS19BV0VKto2qeuBeJp2PzU9g483VB7xeCfLAXaXdSVRoxxBisuuKx2GNCfAjPiGEvtgO29Ag7RcxU8HKFCC41TbtCNO3IsN2KtWGWVVqEGzfbJVv9juZwTEklHOk/s1600/criancas%2520na%2520somalia.jpghttps://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSRT5sRCxGXxprjdurHYIQGc8oOaJcbU2zk7koh0Ih0xH3AM7Bq-6HWsSycdtePirUZLwmjxuP_zfs9xQI1713lKcWYrD-w-fCH9VZ7Tqr46KFDkZOypgCvUvW6Dlv72I7FWYd3PoZcqs/s400/urubu+e+crian%C3%A7a.bmp

http://www.ufjf.br/ladem/files/2011/08/abre05082011.jpghttp://www.onu.org.br/img/07-05-somali1.jpg

Às crianças somalis que todos os dias deixam vidas que nunca começaram.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Sim City

As rugas e a longa barba branca não escondiam que o tempo havia passado impiedosamente, mas o tempo não importava para ele. Ele possuía todo o tempo do mundo, apesar disso, em algum momento que ele não se lembrava mais quando foi, ele se cansara daquilo tudo e resolveu: terminei. Havia terminado. Estava ali, ao alcance dos seus olhos semi-cerrados e de suas mãos sujas, ainda que limpas.

Aquele momento era todo deles. Artista e criação. A mão esquerda ainda estava suja, mas isso não fazia a menor diferença naquele momento. Era só ele e ela. O adorável cheiro de coisa nova tomava conta do ar. Mas ainda não era o cheiro das fábricas chinesas que vem dentro das embalagens de plástico, até porque os chineses ainda nem existiam. Ele era a única fábrica, a sua própria fábrica. O mesmo vento que sacudia a sua longa barba e os fios compridos de cabelo que cobriam a sua cabeça também espalhava aquele cheiro original pelo ar. Ela estava ali. Diante dos seus olhos.

Foi tudo muito de repente. O suor que ele derramava enquanto criabalhava era a própria seiva da vida. Uma hora ele se deu conta de que não precisava de mais nada. Estava pronto. Simplesmente, pronto. Não havia ninguém com quem compartilhar aquele momento. Era só ele e ela. Ele estava nela e ela era ele de alguma forma. Mas por que mostrar? Por que ter alguém para mostrar? Quem é alguém? Ela existe! Isso bastava para ele. Ela simplesmente existe.

Depois de contemplar o trabalho feito ele resolveu que era hora de deixá-la só. Deixá-la ir (ainda que ficando) e se fazer. Se reconstruir. Laissez faire, laissez passer! Allez le bleus! E assim ele foi-se indo... indo... e acabou fondo...

Para dizer que não foi ingrato, interrompeu seus vagorosos passos e deu uma última olhada para trás, por cima dos ombros. Como aquilo tudo era lindo. Como era boa a sensação de ter feito, de ter acabado. Mas era preciso seguir. Era preciso ir, mesmo que deixando um pedaço de si para trás. Após a última olhadela com o canto mais no canto do olho esquerdo, ele não pôde deixar de balbuciar no canto mais no canto dos lábios:

"And I think to myself, what a wonderful world"

http://roundtheworld.webs.com/trevo_3_folhas_simbolo_da_irlanda.jpg

E se foi.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Você sabe, não me pergunte

Enrolei para tratar do assunto de hoje, mas não o tiro da cabeça há mais de um ano. Prestes a escrever aqui fui chamado por outro tema recorrente em meus pensamentos abstratos, o pseudointelectualismo (é tudo junto mesmo!), mesmo doido para encher os pseudointelectuais, que com certeza devem zanzar pelo meu blog também, eu resisti e mantive-me no tema que eu acordei hoje pensando em tratar aqui.

Diante disso, hoje farei algo novo, avisarei o próximo tema: o pseudointelectualismo, que creio ser uma das patologias do século XXI. Vamos parar de introdução e vamos aos finalmentes, o tema de hoje; confesso que detesto tratar sobre esse tipo de tema, acho sentimentalista demais, muito existencial, até meio afrescalhado, além disso, eu odeio falar sobre meus sentimentos, mas às vezes eu não resisto e cedo ao pensamento abstrato, cedo pensando em você.

PERDÃO, MAS USAREI ABAIXO A PALAVRA "VOCÊ" MUITAS VEZES E DE MODO REPETITIVO, FOI A MANEIRA MAIS CLARA DE PASSAR A MENSAGEM...

Sabe uma pergunta que odeio? Uma bem assim: Quem é você? Não me refiro à pergunta sobre quem é o palhaço que escreve por detrás do pseudônimo "Don Quasímodo", até porque adoro falar disso com quem não sabe quem sou. Me refiro a essa pergunta com o tom existencial. Sim. Sobre quem eu acho que sou como pessoa. Odeio porque não sou eu quem deve responder, mas você.

http://fc09.deviantart.com/fs5/i/2004/360/4/f/Uncle_Sam_by_kaneda99.jpg

Explico: Você se conhece, não digo que se conhece completamente, até porque para isso você levaria 2 vidas ou mais, dada a complexidade humana. Mas garanto que você se conhece melhor do que ninguém, tem ideia do quê e de quem gosta, do quê e de quem não gosta, de seus defeitos, de suas fraquezas, de suas melhores qualidades, de seus sonhos etc. Mesmo não sabendo com certeza absoluta, ninguém sabe mais disso do que você.

Até aí tudo beleza, você tem juízos sobre si próprio (os mínimos, pelo menos). Mas já reparou que na realidade esses juízos têm pouco ou nenhum valor? Sim. Ninguém olha para você e faz juízos a partir do que você pensa sobre si. Cada um que olha para você e desenvolve ideias próprias sobre quem é você. Para exemplificar: EU me considero um cara tímido (principalmente, com as garotas), mas para alguns amigos a minha imagem é a de um cara bem falante e palhaço, já para outras pessoas eu sou um cara que fala pouco por ser muito sério; outro exemplo, EU me considero uma pessoa que não gosta de se gabar em nada, mas para outras pessoas eu sou soberbo. EU não me considero um cara bonito (nem vem com esse papo de " se você não se achar, ninguém vai te achar"), já para algumas pessoas eu sou bonito (sim, hahaha, incrível não?). Para algumas pessoas, eu sou um gênio, mas EU acredito que não passo de um cara que tenta se dedicar nos estudos, sem nenhuma genialidade, longe disso...

Entendeu a lógica? Você pode pensar o que quiser sobre si, mas isso não influirá no julgamento alheio sobre você. Trocando em miúdos, você não é o que você pensa que é, mas o que os outros dizem que é. Você não EXISTE sozinho, você só EXISTE em sociedade. É necessário que alguém diga que você existe, não basta somente você achar. Já pensou se as pessoas olhassem para você e jurassem que é um fantasma (mesmo você não sendo)? Não ia adiantar, você não ia existir, mesmo que você tivesse certeza que você fosse humano. Então, não adianta vir com esse discurso de que eu não ligo para o que acham de mim, pois é exatamente isso que é você, o que os outros dizem que você é. Por exemplo, ninguém te contrata pelo que você diz que é, mas pela imagem que você passa sobre você ao avaliador, é o julgamento dele que vale, não o seu. Por isso você pode ser muitas coisas para diferentes pessoas (aquele papo de vilão para uns e heroi para outros). Não adianta, você precisa convencer as outras pessoas de que você é de fato aquilo que você pensa que é, se não convencê-las no seu agir cotidiano você corre o risco de ser visto de modo totalmente oposto ao que você acha sobre si, e isso é desconfortável, desanimador, permite aos outros nutrir pré-conceitos sobre você. Se preocupe com a imagem que passa de si, odeio dizer isso, mas esse é você para o mundo...

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Radical, não? Repito, você é o que falam de você, não o que você acha que é, o que você acha sobre si só interessa a você e, talvez, aos psicólogos, que adoram perguntar: Quem é você (usando termos mais sutis, obviamente)? Eles devem fazer isso para tentar entender você a partir de você, exatamente o caminho contrário desse texto, que tenta mostrar que na prática o "seu achar" não interessa socialmente, mas somente a você. Não nego a necessidade de você ter ideias sobre si mesmo, isso é fundamental para o seu desenvolvimento PESSOAL, mas isso não vale para fins SOCIAIS. Ah, só para constar, eu não gosto muito da maioria dos psicólogos, evito-os, com todo respeito, mas muitos deles não aplicam o que aprenderam, usam de um senso comum barato e querem nos enganar com ele. Só para deixar claro, NÃO ESTOU GENERALIZANDO, a generalização é a mãe de uma centena de burrices, que eu já protagonizei por sinal.

Uma coisa interessante, hoje, as pessoas não sabem responder quem são (apesar disso não ter valor algum para quem pergunta). As pessoas dizem, por exemplo, assim sobre si: "Eu? Ah, eu sou um estudante de 20 anos." Não entendem que é o que elas são como pessoas, não o que fazem da vida, não captam o sentido profundo da pergunta. Ah, só para constar, eu respondi assim no meu perfil do blog, mas fiz isso porque não interessa a você saber quem eu acho que sou, pois você vai ter sua própria noção, independente da minha...

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Diante disso, odeio responder quem sou, a resposta não diz de fato para o ouvinte quem sou, pois a partir de minha opinião ele vai criar sua própria imagem de mim, independente da minha. Eu posso me dizer "X" e você me achar "Y". Não me pergunte quem sou, você sabe, você tem seus próprios juízos sobre mim, na verdade, eu é que quero saber quem sou para você, pois assim posso saber se passo na vivência social aquilo que eu penso sobre mim mesmo.

PS: Cada vez mais eu acho perfeita a definição dada Jesus, quando diz, após ser perguntado sobre quem ele é (se não me engano, no Evangelho de São João): "Eu sou aquele que sou."

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A Teoria do João-Bobo

Acho, ops, acredito ("achar é mania de boteco" - palavras de um professor de uma de minhas escolas antigas) que depois desse texto você não vai ler mais nada que eu escrever, vai achar-me doido ou na melhor das hipóteses, um bobo, mas leia e, se puder, comente.

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Sabe aqueles dias em por algum motivo (razoável ou não) você está muito irritado e é capaz de surrar alguém? O que você faz nesses dias? Age com ódio do mundo ou apenas fica remoendo sua fúria internamente? Seja lá qual foi sua resposta, você age errado! Sim, hermano, você age errado! Por quê? Vou tentar te convencer...

A raiva é algo natural em qualquer pessoa (nossa, agora descobri a pólvora...), todavia a maneria de reagir a ela é sempre variável de pessoa para pessoa, enquanto uns simplesmente estouram com o primeiro infeliz que atravessa a sua reta, outros (mais frios) preferem guardar esse sentimento e ficar ruminando que nem vaca. Considero que estourar imediatamente seja a saída menos pior (apesar de eu sempre optar pela segunda solução no dia a dia - nova ortografia); quando se tem raiva temos uma energia extra para agir, uma energia que não deve ser simplesmente desperdiçada sendo armazenada, mas usada o mais rápido possível. O certo é que essa energia, mesmo não usada logo, ou seja, sendo armazenada, não se perde, mas é bem provável que você não consiga controlá-la e faça uma besteira sem querer quando não queria.

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Assim, guardar sentimentos de fúria por muito tempo é sempre um problema, afinal, alguma hora você pode simplesmente surtar e ter um ataque de fúria (não é exagero meu) e acabar vitimando inocentes. O surto pode até tardar, mas não é evitável (a não ser que você passe por algum episódio que seja capaz de matar toda sua energia "raivosa", algo que lhe leve ao "nirvana" e lhe deixe zen em seu cotidiano de uma hora para outra). A verdade é que a maioria dos acumuladores de fúria surtam e geralmente por alguma razão bem idiota; creio que não estou sendo muito claro, então imagine isso: a fúria é um líquido e uma pessoa um balde vazio; uma pessoa que guarda sua fúria não colocando-a para fora no momento em que ela surgiu vai guardando-a dentro de si, vai enchendo o balde de líquido, até que chega o momento em que o balde fica cheio de fúria acumulada por dias, meses ou anos e transborda, um transbordamento que pode ser gerado por um copo americano de fúria ou por uma humilde e singela gotinha (como é um pisão levado no ônibus). O que quero dizer? Quero dizer que ao acumular muito no balde você pode colocar tudo pra fora de uma vez por causa de uma simples gota, ou seja, você pode ter uma reação muito furiosa por causa de algo idiota e agir desproporcionalmente.

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Tá, então estourar na mesma hora do fato desencadeador da raiva é o melhor, né? Mais ou menos, pois estourar imediatamente é sempre um risco, porque você, dado o nível de raiva e o descontrole natural dela, pode descarregá-la toda sobre algum inocente que não tem nada a ver com a origem de sua fúria, mas que atravessou a sua frente no exato momento em que você se irou. Ou seja, você pode colocar sua raiva pra fora logo, mas contra quem não devia... Aí já era, a besteria tá feita, o desconhecido já foi xingado, você já trocou empurrões com um qualquer, você já ofendeu um amigo ou um parente, isso se não tiver feito coisa pior. Aí é a hora que você me pergunta: Ok, seu mané metido a filósofo, mas então como é que você me manda estourar imediatamente se eu posso acabar fazendo merda? (se o Lula já falou a palavra "merda" em um discurso, então tá liberado o uso dessa palavra, agora falta o Manoel Carlos colocá-la no linguajar de sua novela das 8 para que as pessoas deixem de pudor de falá-la em público)

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Aí entra a parte da minha loucura. A minha solução é: João-Bobos (acho que esse plural tá errado, mas, ah, você entendeu) para todos!!! Hã? Como assim? Ao invés de descontar a fúria em outras pessoas, simplesmente espancaríamos nossos João-Bobos. Todos teriam os seus, ou melhor, teríamos João-Bobos públicos. Que maluquice é essa?

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Imagine você chegar em casa todos os dias e ter em quem descontar sua energia raivosa! Alguém disposto a receber toda a sua raiva que está louca para sair de você. Alguém em quem você pode descontar sua fúria sem medo e receio. Alguém que todos os dias pode assumir uma face diferente (um dia pode ser um professor que não leu seu trabalho, outro dia o seu emprego chato, outro dia um primo que não vai embora de sua casa, outro dia ele pode ser o Obina, e por aí vai...). Ah, só pra esclarecer, creio que a raiva, ao contrário de outros sentimentos, como o amor, não precisa de outro ser humano para ser expressada, pode ser expressada por meio de objetos. Então: NÃO APOIO AMAR ROBÔS E NEM FAZER AMIZADE COM ELES!

Voltando... Imagine descartarmos nossa raiva todos os dias, nunca acordar com raiva, nunca dormir com raiva. Imagine não pegar aquele ônibus bem cedo no qual o motorista, com raiva da mulher, frea bruscamente toda hora só pra descontar sua raiva. Imagine não ter uma professor que dá uma prova difícil só porque tá com raiva da turma. Imagine não encarar seu irmão mal-humorado logo de manhã. Imagine não levar bronca de graça de alguém nervoso. Imagine não levar porrada de graça do policial que tem raiva do emprego e do salário que tem. Imagine quantos crimes deixariam de ocorrer, quantas vidas se manteriam preservadas. Imagine...

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Só mais duas observações: Para descontar sua raiva num João-Bobo, você teria que guardar a sua raiva por alguns minutos ou horas, só até encontrar algum João-Bobo na rua ou chegar em casa e surrar o seu. Esse armazenamento não seria ruim como aquele que questionei acima, mas benéfico, o único acúmulo de raiva benéfico. Outro ponto a esclarecer: Não acho que devemos ser passíveis diante das coisas, ser ovelhinhas tranquilas, só acho que não devemos punir inocentes por coisas que não deram causa, descontarmos nossa raiva em quem não merece, daí a utilidade dos João-Bobos, são meros canalizadores neutros de energia raivosa, só isso, não algo para tornar as pessoas passivas diante do mundo.

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João-Bobo é mais paz na sua cidade! É mais paz na sua casa! João-Bobo é emprego nas fábricas! É comércio sempre movimentado (afinal, eles não são eternos e seriam 180 milhões de unidades, fora os que seriam públicos). Adote um João-Bobo! Dá até nome de um programa social: "Meu 1º João-Bobo".

Brincadeiras à parte, pense na ideia (sem acento agora).