Mostrando postagens com marcador Old School. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Old School. Mostrar todas as postagens

sábado, 24 de novembro de 2018

Maria Sofia

Amanhã, na alvorada do dia, vou para meu julgamento racial. Quis o destino que o tribunal fosse no mesmo lugar onde tudo se tornou possível, atrás dos muros do local que mudou minha vida, para sempre.

Mas não é de cor, de raça (no sentido de força criativa) ou de "choro no banho" que venho falar desta vez. 

Venho falar de humildade.

Meu julgamento racial me fez pensar no quanto hoje somos tão bélicos, tão conflitantes e pouco dispostos a aceitar decisões e escolhas sem recorrer. Além do senso crescente de irresponsabilidade que torna ninguém responsável por nada, vivemos uma época em que ninguém aceita nada. E isto, muitas vezes, é fruto de um orgulho fudido que cega as pessoas e faz com que elas não tenham humildade de reconhecer que podem não estar certas.

Isto se reflete em todas as áreas.

Na Era da Informação, todo mundo se sente meio dono da razão e do conhecimento, capaz de, muitas vezes sem embasamento algum, não aceitar as decisões/opiniões daqueles que têm muito mais conhecimento sobre algo do que nós mesmos. Recorre-se até sem saber do quê, muitas vezes.

Não se respeita o conhecimento alheio. Não se aceita a opinião alheia.

Isto, a meu ver, é uma puta falta de humildade. Ser humilde não é tudo aceitar sem questionar, mas reconhecer que não temos todo o conhecimento, que estamos errados e os outros estão certos em diversas ocasiões. Óbvio que temos nossos portos seguros, aqueles assuntos dos quais somos profundo conhecedores. Porém, mesmo esses assuntos, não sabemos tudo. Precisamos estar abertos a ouvir e, principalmente, a aprender.

Quando uma pessoa perde a capacidade de ser humilde, ela perde a capacidade de aprender. E quando se perde a capacidade de aprender, se perde a capacidade de evoluir como ser humano e tornar-se melhor. Não sei se a origem da palavra "humildade" é a mesma da palavra "humano", mas penso que muito perdemos de nossa humanidade quando nos deixamos levar por um orgulho cego, por uma vaidade inconsequente e por um enganoso senso de superioridade. Ninguém perde tanto com o orgulho desmedido como nós mesmos. Ser orgulhoso nos torna fechados ao outro, nos fecha ao conhecimento que não temos, nos fecha ao mundo.

Não digo só sobre respeitar o conhecimento alheio. Digo também sobre respeitar a autonomia do outro em sua vida. Quem somos nós para avaliar o acerto ou o desacerto das decisões que as pessoas fazem em suas vidas? Claro que muitas vezes já passamos pela mesma situação e nos sentimos mais experientes e sabedores do que o outro sobre uma decisão de vida, mas as vidas são tão singulares , diferentes umas das outras, que qualquer avaliação sobre o que o outro escolheu fazer de sua vida deve trazer em si a humildade do reconhecimento de que podemos estar errados.

Uma vez, em um debate virtual com um ex-colega de escola, ele escreveu para mim, com o horrendo capslock: "ERRADO! 100% ERRADO!". Deus! Como alguém pode realmente pensar algo assim sobre qualquer coisa acima da terra e abaixo do céu? Como alguém pode ter tanta convicção sobre alguma coisa? Nem sobre nós mesmos somos capazes de ter convicções 100% certas. Quanto mais sobre temas que envolvem divergência de conhecimento.

O mundo precisa de mais humildade. Isto é uma forma de respeito ao outro. Se tudo se sabe, nada faz muito sentido em nossa existência terrena. Deve ser difícil ser Deus. O não saber move, motiva, incentiva. O mundo precisa disto. A humanidade precisa disto.

Uma vez, ao perguntar a profissão de uma pessoa para quem eu prestava meu serviço jurídico, esta pessoa me respondeu um nome de profissão bem estranho, que nem lembro ao certo. Algo do tipo "auxiliar de frios". WTF? Óbvio que perguntei a ele o que um "auxiliar de frios" fazia. Ele ficou emotivo com minha curiosidade, com meu interesse em entender uma profissão tão simples, que consiste em organizar produtos gelados nas prateleiras de supermercados. Tentei explicar para ele que todo conhecimento é válido e que o que ele sabe fazer, eu, com meus 5 anos de universidade, não tenho a menor ideia de como fazer. Tentei explicar para ele que não há hierarquia no saber e que é preciso haver respeito entre os diferentes conhecimentos. Há cerca de um mês eu sequer sabia calibrar um pneu de carro, um conhecimento simples para alguns, mas que eu dependi de um amigo para me acompanhar, me ensinar e eu aprender.

Saberes diferentes não se hierarquizam, mas se complementam e se trocam.

A vida é uma constante troca, inclusive de conhecimento. E isto torna a vida solitária algo incompatível com a essência do que é ser humano.

É preciso humildade para entender que não sabemos tudo, que há coisas que não somos capazes de resolver ou entender sozinhos e que as escolhas/decisões do outro não são passíveis de serem julgadas com certeza de acerto por nossas convicções pessoais.

A vida flui com mais tranquilidade quando se aprende a aceitar que o outro pode deter conhecimentos que não temos. A vida flui com mais tranquilidade quando se aprende que o outro pode ser aquilo que não somos.

Amanhã, aceitarei qualquer julgamento racial, sem recorrer.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Justo

Hoje, em meio a um momento de melancolia, me peguei pensando sobre o sentido do que seria justo.

Dizia um professor meu, daqueles arrogantes de bochechas rosadas, que justo são os sutiãs, pois oprimem os grandes e levantam os caídos... Coisa tosca. Até isto a gente tem que ouvir em uma universidade pública... Mas enfim, não é dessa gente que venho lhes dizer.

O que é justo, meu Deus? Assistindo ao noticiário, estava vendo o semi-desfecho da história de um cara de classe média alta que num surto, sob efeito de drogas, agrediu violentamente a faxineira de seu prédio, deixando-a com várias sequelas físicas e psicológicas após mais de 1 ano do fato.

Não pude deixar de pensar no quanto eu sou um cretino quando digo que estou sempre nos lugares certos, mas nas horas erradas. Cara, esta mulher deu um azar do caralho. Sabe?! Encontrou um louco em um momento de loucura e ele praticamente acabou com a vida dela. E a Justiça dos homens, o que disse? Disse que ele continua preso e será levado a Júri Popular. E o que vai acontecer? Ele vai ser punido, penso eu, de modo exemplar com uns bons anos de prisão. Mas e a faxineira espancada até quase a morte? Fazem 2 meses que ela começou a receber um auxílio-doença do INSS, após uns 10 meses tendo que depender de uma filha para sobreviver. Ah, mas ela vai ganhar, após uns bons anos de espera, uma indenização gorda no processo que deu entrada na Justiça Cível. Então está "tudo certo"; cada um terá o que lhe cabe por Justiça...

O que é justo, meu Deus? Por um momento, pensei no que passa na cabeça desta faxineira. Será que foi capaz de perdoá-lo de verdade e só quer mesmo que ele fique preso e lhe indenize? Ou será que ela só teria paz e sentimento de Justiça caso soubesse que ele foi morto?

Veja. A medida do que é justo é muito subjetiva. A Justiça dos homens aplica trocentas leis para tentar reger o mundo de forma que ele aparente ser justo e que as pessoas possam ter paz. Mas, por diversos fatores, é só uma falsa sensação de paz.

Em uma sociedade cada vez mais individualista, justo é o que eu acho ser justo. Cada um quer medir as coisas com sua própria régua de Justiça: "Eu matei porque ele mereceu morrer"; "Eu não vou pagar NADA porque o serviço não está do jeito que eu quero"; "Eu quero terminar com você porque você não é como eu queria que fosse."...

Somos injustos quando queremos fazer a nossa Justiça. 

Às vezes, somos injustos com nós mesmos. Não nos achamos dignos de vivenciar algo, de receber algum reconhecimento/elogio, de amar ou de ser amado por alguém e por aí vai. E esta, talvez, seja uma das maiores injustiças. Porque quando assim agimos, boicotamos a nós mesmos e, algumas vezes, também as pessoas que estão ao nosso redor. Boicotamos as oportunidades que a vida, gratuitamente, nos oferece. E quando dizemos "não" a uma oportunidade, às vezes impedimos que pessoas também possam usufruir desta oportunidade ou dos reflexos dela junto conosco. Quando somos injustos com nós mesmos pensando que estamos sendo justos e exercitando nossa maturidade e senso crítico, às vezes também somos injustos com os outros. 

Me refiro a muitas coisas. Por exemplo: quem nega uma boa proposta de emprego por insegurança, medo de não ser capaz, às vezes nega a si e a sua família uma oportunidade de uma vida melhor; quem nega a oportunidade de viajar com os amigos porque acha que não consegue dar conta de tudo o que tem que fazer até a viagem, nega a si e a eles momentos inesquecíveis juntos; quem nega o amor de uma pessoa por não saber se é capaz de corresponder a tamanho afeto, às vezes nega a si e ao outro a oportunidade de viver um amor que pode ser o "amor de toda a vida"; quem nega a um estranho um pedido de ajuda por medo de ser roubado, às vezes nega ao outro um auxílio no momento mais crítico da vida.

Veja. Todas essas negativas são escolhas que fazemos com a sensação de que são justas, afinal, sentir-se inseguro aparenta quase sempre ser um motivo justo para não fazer algo. Mas esta escolha justa, no entanto, acaba, muitas vezes, sendo injusta com nós mesmos e com os outros. Óbvio que existem medos justificáveis e que se confirmam, mas quando damos somente voz aos nossos medos, eles sempre aparentam conduzir à decisão justa, mesmo àquelas que não são.

No fim, a vida é um constante andar dentro de um túnel escuro no qual a única certeza é que há uma luz em seu final. Caminhamos todos, inseguros, em direção a essa luz. No caminho, para ganhar coragem de seguir, nos apegamos a coisas que achamos que trazem segurança para seguir (família,  dinheiro, religião, afeto...). Algumas vezes, enquanto caminhamos, percebemos que algumas dessas coisas não trazem a segurança que esperamos delas e ficamos inseguros em meio às incertezas deste grande túnel escuro. Sentimos medo. Ouvimos outras pessoas gritando de medo e outras dizendo que não adianta seguirmos porque o túnel escuro não tem fim. Desanimamos. Desacreditamos. Sucumbimos às decisões medrosas que parecem ser as mais seguras e justas. Nos isolamos por medo de não saber se estamos pegando na mão de pessoas confiáveis em meio à escuridão. E este isolamento, muitas vezes, nos faz bater cabeça por longo tempo perdidos dentro do túnel. Somos injustos com nós mesmos por não confiarmos nas pessoas e, ao negarmos nossas mãos, muitas vezes deixamos que os outros também fiquem perdidos sozinhos, como nós, tentando chegar ao fim do túnel. E assim, alguns, após longo isolamento, viram bicho, perdem a humanidade, tornam-se frios e insensíveis, perdendo até mesmo a capacidade de ver a luz.

No fim, para quem acredita, só Deus sabe onde está a justiça de nossas decisões. Só Ele sabe o que o grande túnel escuro ainda nos reserva pela frente. Mas somos dotados da capacidade de vencer, de superar cada pequena batalha diária (aquelas que só nós vemos e sabemos quais são). Fomos feitos à imagem e semelhança do Criador, logo, temos força transformadora, somos capazes de transformar e vencer o que nos cerca. Deus, como ser onisciente, sabe que não somos justos como Ele em nossas decisões, pois somos seres falhos. Então, talvez por isso, o que ele realmente espera de nós é que não decidamos guiados pela segurança dos nossos medos, mas que tenhamos coragem: coragem de seguir em meio às incertezas do túnel; coragem de arriscar diante das oportunidades; coragem de ajudar, se propor, viver e amar. Porque quando agimos com coragem, buscamos força, e quando buscamos força, buscamos a Deus e, assim, somos capazes de ser instrumentos de sua Justiça e de sua vontade em nossas vidas e nas das outras pessoas.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Do Lavoro

Nas últimas semanas me peguei pensando sobre o sentido do trabalho; lembrando da entrevista do jogador de futebol camaronês que chocou o mundo do futebol ao dizer que não gosta de futebol e que ele é somente a sua profissão, o que ele faz para sobreviver. O mundo gritou incrédulo. "Ora pois! Todo menino sempre sonhou em ser jogador de futebol, em viver de sua diversão, e este sujeito vem e aparece dizendo que não gosta de jogar bola, apesar de ser jogador de Copa do Mundo... Como pode?" Quer saber? Certo estava ele.

Sabe, damos um valor demasiado ao trabalho, a ponto de, ao conhecermos alguém, não demorar nem 5 perguntas até soltar o famoso "e você faz o quê? Trabalha em qual área?" - como se o trabalho fosse algo intrínseco ao ser, como se não existisse o "ser" sem o "fazer".

Andei pensando que, no fim das contas, os socialistas estavam certos ao analisarem a história da sociedade sob o viés do trabalho. Tudo é trabalho. Como se sem trabalho você tivesse todas as suas possibilidades como ser humano limitadas ou impossibilitadas.

Mas o que é o trabalho, afinal? Para mim, nada mais do que algo que nos atribui uma função social. Trabalho é produção. Se você não trabalha, você não produz e se você não produz, lhe falta uma função na sociedade e você se torna um ser descartável e sem valor socialmente.

Esta minha visão não muito romântica sobre o que seria o trabalho me fez, nos últimos tempos, ver de um modo muito especial, o que é o meu trabalho. Eu não amo e não sinto tesão pelo Direito. E isto é errado? Geralmente causo espanto aos desavisados quando exponho minha total falta de romantismo pela minha função social produtiva.

E me faz muito bem não sentir tesão pelo meu trabalho. Eu acho, pelo menos. Para mim, como eu disse, trabalho é só uma questão de produção. Minha profissão reflete algo que sou capaz de produzir, com algum nível de qualidade. Para ser bom em algo não é preciso necessariamente amor, mas é preciso sempre algum nível qualificação. Eu me considero bom e dedicado no que faço. Quiçá faça meu trabalho melhor do que muitos apaixonados pelo Direito fariam. 

Sinto que esta minha "frieza" profissional me ajuda a ver o que faço de um modo mais objetivo, como quem limpa um peixe: mete a faca, tira as tripas e guarda o corpo.Chego lá, faço o que preciso fazer e volto embora para casa. Simples assim. O nosso trabalho é o que sabemos produzir e o que assegura nossa subsistência, nada mais do que isso.

Sabe aquele papo de se fazer o que gosta? Deve ser legal também, mas com o tempo deve enjoar, o amor deve ser vulgarizado, virar algo sem glamour como mijar de portas aberta na frente do "amor da sua vida". Imagine amar fotografar. Imaginou? Imagine ter que fotografar gente chata, enjoada, lugares sem graça, festas burocráticas para sobreviver... O tesão resiste? É natural que se vá perdendo o encanto, como para quase tudo na vida.

Não gostar do que se faz torna o trabalho o que ele é: algo que não se confunde com o seu ser. Você não é o que você produz remuneradamente. Não gostar da minha área de formação me tornou mais compreensivo com a chatice do que é o Direito. Me fez parar de buscar paixão onde não é preciso ter paixão. Me fez aceitar que o Direto é chato e parar de ficar me torturando sofrendo por fazer algo que eu queria que fosse legal. Me fez entender que só preciso ser bom no que produzo e meu papel social está feito. O Direito não precisa ser legal, eu só preciso fazer bem feito e voltar para casa, deixando o trabalho lá, no lugar dele. Não preciso andar de mãos dadas com o meu trabalho e apresentá-lo junto com minha apresentação como pessoa. Eu sou eu e ele é ele. Eu aqui e ele lá.

Pensar assim deve parecer bem estranho, mas faz muito bem, ao menos para mim. Chego muito focado no trabalho, compreendendo que o que ele quer de mim é só produção; que eu chegue lá e faça. Então é isto que eu faço. Chego e faço, sem crises existenciais. E depois, volto para casa, sabendo que, fora do trabalho, eu ainda tenho muita vida a viver, tenho toda uma existência, um universo de possibilidades como ser humano; muito além do que produzo socialmente.

Me tornei um profissional muito melhor e mais profissional ao separar o amor da produção. Me trouxe maturidade profissional. Esta separação diminui as chances de frustração com nós mesmos, com as escolhas profissionais que fazemos. Eu sempre quis ser professor, mas fico pensando, quantos anos eu conseguiria dar aula sem broxar com a rotina e o desgaste? Se é para ser rotina, que ao menos seja com algo que eu não aspire grande coisa.

Será possível viver muitos anos com este sentimento de resignação? De descrença com o que se faz? É possível ser motivado e resignado ao mesmo tempo? Sim. Desde que não se espere do trabalho mais do que ele seja, desde que se saiba separá-lo do que nós somos de verdade como ser humano. Trabalhar é uma necessidade porque produzir é necessário para sobreviver. E só. Desde os primórdios. Dedicar horas a algum trabalho é uma necessidade, como dedicar horas ao sono. Produza bem e aumente sua chance de sobrevivência. Talvez gostar do que se faz facilite a conquista da qualificação, mas não é o determinante, penso eu. Sem essa de "faça o que amas e não trabalharás mais nem um dia de sua vida". Vai trabalhar sim, amando ou não e com mais chances de se frustrar se quiser manter o amor em meio ao desgaste da vida produtiva.

Que saibamos viver e entender que nossa dignidade não está no que fazemos socialmente, mas no que somos como ser humano.

sábado, 16 de julho de 2016

Nos deixem sonhar

Aos 26 anos, não se é tão jovem quanto se imagina ser e nem tão adulto quanto se parece ser. 

Mas na essência, ainda me imagino jovem como há uns 6 anos. Inclusive, politicamente.

Desde 2010, tenho me alinhado politicamente às ideologias de partidos que comumente são rotulados de "extrema esquerda". Tudo bem, sou canhoto, isso explica em parte minha inclinação para a esquerda. Mas mais do que isso, eu ainda sou jovem.

Quando se é jovem, a cabeça pensa para frente, com os olhos no futuro. E quando um jovem pensa em futuro, ele pensa com liberdade, projetando sonhos, ideais e utopias. Ou ao menos assim deveria sempre ser.

O jovem não pode ter compromisso com a ordem comum das coisas. Não tem patrimônio e privilégios a proteger e, por isso, politicamente, tem liberdade para se aliar com os ideais de partidos que não são conservadores e não estão comprometidos com a manutenção do status atual das coisas. Ser jovem é olhar, com esperanças, para o longo futuro que tem pela frente.

Me arrisco a dizer que uma sociedade que sufoca os sonhos, ideais e utopias de sua juventude não tem futuro. O futuro de longo prazo é construído pela juventude e não pela atual geração adulta, que só consegue ver o futuro até onde a neblina de preocupações deixa ver. O jovem é imprudente, ousado, consegue enxergar além, embora não saiba ao certo distinguir o que seja futuro do que seja fantasia. Mas é assim que deve ser. A juventude precisa sonhar, precisa acreditar em teorias incertas.

E se a "extrema esquerda" tiver errada? Ela terá errado como todos os grandes partidos que se revezam no Poder têm errado. Os erros se sucedem porque os mesmos partidos e ideologias se revezam ao invés de se sucederem. Nunca saberemos se a esquerda está errada se nunca a deixarmos governar. Ah, não me venha com essa de que PT era governo de esquerda, porque no dia que Lula indicou Henrique Meirelles para o Banco Central em seu primeiro mandato, ele deixou bem claro qual era a política econômica do PT.

Quando o jovem defende socialismo, ele não defende o socialismo de Stalin, de Fidel... A atual juventude não viveu esse socialismo. Ela defende o socialismo que acredita ser possível e não o socialismo que não assistiu. Essa é a dificuldade que a geração adulta tem de entender como ainda se pode acreditar em socialismo. Eles não conseguem ver o socialismo além do socialismo que viram acontecer, perderam a capacidade de sonhar, idealizar.

Uma hora, todos nós, paramos um pouco de acreditar nos sonhos e em ideologias. Contudo, não podemos impedir as pessoas, sobretudo os jovens, de continuar sonhando e acreditando.

Talvez em mais alguns anos eu deixe de ser um jovem no coração e me torne um liberal, daqueles que defende a confiança do "mercado", a necessidade de privatizar os serviços essenciais. Porém, nesse dia, se eu esquecer, me lembre de não impedir ninguém mais jovem do que eu de sonhar, mesmo naquilo que pareça sem qualquer sentido.

Nunca me esqueci do dia que eu estava fazendo a mão um fichamento avaliativo sobre um texto de umas 150 páginas e ouvi, sentado na mesa da copa, sem poder parar para ver a TV que estava na sala, o discurso mais inspirador que um jovem da minha idade poderia ouvir. Nesse dia, fiquei com lágrimas nos olhos e continuei meu fichamento com a inspiração de que aquele sofrimento não era mais forte do que meu poder de sonhar.


domingo, 24 de abril de 2016

Histeria!!!

Tempos de intolerância, nos quais sair às ruas de vermelho pode ser ato de subversão e andar de amarelo é sinal de cidadania.

Baile de favela. Ops. Baile das cores. Vermelho, cor de gente ruim. Amarelo, cor de gente do bem.

Fui trabalhar de vermelho no dia pós-golpe e fui olhado, mais do que quando eu usava vermelho no ano passado. Atualmente, quando me visto de vermelho, me sinto, de certa forma, praticando um ato atentatório, quase um terrorista. Mas me sinto livre e bem comigo mesmo. Sei lá, morenos ficam bem de vermelho.

A democracia não tem cor, ela tem, na realidade, a pluralidade de todas as cores. Mas se vermelho se tornou a cor da democracia, é de vermelho que vou, ainda que não sendo PT ou comunista.

Vivemos tempos de histeria. E não é pelos Beatles.

É preciso gritar histericamente. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

Apontar o dedo para "ladrões", "corruptos", "defensores de bandido". Gritar palavras de ordem. Pedir a volta da ditadura ou da monarquia (juro que até hoje não entendi o que pensam as pessoas que levam bandeiras do Brasil Império para manifestações patriotas. Até se fossem bandeiras portuguesas eu entenderia melhor). Como no livro "1984", quem não participa dos "dois minutos de ódio" deve ser olhado como suspeito.

Tempos loucos em que cores podem significar coisas que não passam pela mente; tempos de caça àqueles que pensam diferente; tempos de violência (intelectual, física, espiritual).

Me considero um pouco profeta por causa deste texto, porém ser profeta não costuma ser algo muito bom, principalmente em tempos de histeria coletiva. Gosto da palavra "histeria", parece exprimir caráter mais doentio do que a palavra "loucura", talvez porque muitos "loucos" não são loucos, mas gente histérica é sempre gente histérica.

A corrupção não nasceu em 2003 e tampouco os petistas do governo federal são mais corruptos do que os vereadores, prefeitos, deputados, governadores, todos ladrões, dos mais variados partidos, que temos aos montes por aí. Aliás, tampouco os petistas do governo federal são mais corruptos do que os tucanos do longínquo governo anterior. Inclusive, você já viu um tucano? Coisa mais covarde do mundo escolher uma ave tão linda, original, de cores tão vibrantes, para representar ideias tão conservadoras.

Não acredito muito em manifestações de rua para cobrar alguma coisa em nível federal, justamente porque tenho a sensação que em Brasília as coisas são decididas influenciadas somente, e digo, único e exclusivamente, por motivos políticos, por benesses possíveis de serem auferidas pelos políticos e seus tão estimados familiares. Se lixam se estamos nas ruas, como fizeram na época das "Diretas Já". Manifestações de rua com fins federais não mudam voto de indecisos e nem geram leis; no máximo, dão voz à quem quer gritar e não quer esperar até as eleições.

Mas manifestações contra problemas locais podem mudar muita coisa, visto, por exemplo, que, quando pressionados por câmaras cheias de gente, os vereadores de várias cidades "ficam com medo" e votam contra seus aumentos salariais que já estavam combinados nos bastidores políticos. Contraditoriamente, no entanto, raramente vamos às ruas contra problemas locais. Vai entender.

Acredito que serve mais à "luta" qualificar gente comum, que veio do povo, para ocupar cargos com poderes decisórios, seja no Judiciário, em escolas, na área médica e por aí vai. É como o golpe de 2016; ele não é feito pelas pessoas de amarelo nas ruas, mas por pessoas de aparência asséptica, cheias de ideologia, com poder para fazer o golpe independente e contrariamente da vontade da maioria. Dentro dessa lógica, por exemplo, as cotas são uma puta estratégia de revolução, de tentativa de mudar o país pelas instituições, criando oportunidade de colocar gente "de cor", que sabe o que é a vida fora do ar condicionado, em cadeiras que hoje, infelizmente, são ocupadas quase que na totalidade por quem não representa os interesses da maioria da população e tem alergia ao povo.

Eu realmente me assusto com a cisma que pessoas histéricas têm com o governo PT, com o MST, com os sindicatos. As pessoas não conhecem como funciona reforma agrária e, mesmo assim, se sentem no direito de dizer que MST é cheio de gente à toa, que tem preguiça de trabalhar e quer terra de graça para vender. No domingo passado, quando Cunha comandava o culto do golpe, encontrei uma vizinha no elevador que me disse que tinham saído vários ônibus do ES rumo à Brasília para acompanhar a votação e que "devia ser tudo gente do MST". Será que patriotas não viajam de ônibus? Deve ser mesmo coisa de esquerda, de gente pobre, esse negócio de viajar de ônibus. Sinceramente, não consigo nem argumentar com gente assim, prefiro ficar mudo e deixá-la pensar que me convenceu, ou não, enquanto torço para descer logo no meu andar.

Tem gente que pede, urgentemente, que "libertem o Brasil"; tem gente que diz que "não podemos deixar o Brasil virar uma Venezuela". Sempre me espanto com essas comparações. Você já foi ou conhece alguém que vive/viveu na Venezuela? O que você conhece da Venezuela além do que relatos? E da Coreia do Norte? Tenho como filosofia de vida que não dá para emitir opinião bem fundamentada sobre lugares e gente que não conhecemos. A Venezuela pode ser uma merda, ou não. Macri, o novo presidente argentino, por exemplo, tá fazendo um monte de reformas liberais, que podem não dar certo, e dizem que o Brasil precisa virar uma Argentina. Oi? Ninguém sabe o resultado das reformas feitas por ele, até porque não houve tempo para resultados seguros, e querem nos comparar à Argentina como modelo. Seja com Venezuela ou com Argentina, não dá. O PT quer implantar uma ditadura de esquerda no Brasil, com as maiores taxas de juros do mundo e permitindo que bancos tenham lucros bilionários? Realmente, se o PT tá querendo fazer isso aqui virar uma ditadura de esquerda usando desses métodos tão capitalistas, merece mesmo ser tirado do poder por incompetência.

Em tempos de histeria popular, Hitler fez sabões de judeu e os alemães apoiaram ou estavam tão cegos de histeria que nem perceberam.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

"Livre", mas sem luz para guiar-se

Toda vez que passo um tempo fora de casa sinto desejo de escrever por aqui, você imagina por quê? É algo meio óbvio. A resposta é que tenho a oportunidade de ver melhor a realidade ao redor, já que é uma oportunidade de abondonar minha redoma de vidro. Foi assim que tive a oportunidade de observar a falta de rumo da juventude brasileira nas periferias.

Jovens totalmente desorientados, sem noções mínimas de valores morais, de respeito ao próximo e quase sempre tentando estar anestesiados da realidade. Viva aos tempos modernos! Viva à liberdade total! Pelo visto fazem muito bem à nossa juventude. Não nego que a juventude de hoje é mais livre para escolher seus rumos, contudo não posso deixar de salientar que não se pode escolher seus próprios rumos quando não se tem as direções mínimas para isso. Você não entendeu o que eu quis dizer? Explico.

A quem cabe a educação das crianças? (Essa pergunta ainda tem sentido, afinal, o homem ainda crê que as crianças precisam ser educadas, apesar delas parecerem cada vez mais independentes) Você diria que cabe à família, mas você já reparou que essa instituição está em crise? A desagregação familiar é fato concreto em nossa sociedade, não podemos fingir, não sejamos hipócritas! Quando falo em desagregação, penso em: filhos sem pai; jovens grávidas na adolescência; adolescentes com mais de um filho para criar; mulheres pobres com muitos filhos; pais sendo modernamente escravizados, ops, trabalhando o dia todo e sem tempo para os filhos; violência doméstica; pai e/ou mãe que chega(m) sempre alcoolizado(s) em casa; prostituição; abusos sexuais; e por aí vai...

Ok, creio que essa "família" moderna não tá dando conta de educar os filhos, a quem você apela para educar as crianças? Igreja? Eu diria que sim, afinal, no passado a família e a igreja andavam juntas na educação das crianças, e isso costumava funcionar bem. Tá bom, você vai alegar que era uma educação que estimulava o medo, pode até ser, mas ela ensinava algo que não se ensina mais tanto: respeito aos pais e ao próximo. Acontece é que nessa onda de independência e de liberdade total (Viva à liberdade total!) o homem passou a ver a igreja como um obstáculo à liberdade do homem civilizado e evoluído, como algo que a todo tempo prega que os melhores e mais fáceis meios para prosperar financeiramente na vida são errados, ou seja, o homem passou a ver a igreja como um grilo chato que fica gritando ideias antiquadas à ética do homem capitalista. O que fez o tão sábio homem moderno? Tem se mantido o mais afastado possível da igreja e tem afastado seus filhos dela também. Resultado, os pais perderam um importante aliado na educação de seus filhos.

Logo, o pepino de educar a molecada sem base familiar e religiosa sobrou para quem? Para a fantástica escola pública. Os moleques estão chegando na escola sem respeitar os pais, você acha que eles estão respeitando os professores e obedecendo-os? Você acha que eles estão dando valor para os esforços que os seus professores fazem para ensiná-los num cenário de escola pública sem estrutura? NÃO!

Diante da falta de educação familiar, religiosa e escolar, as crianças estão aprendendo muito com as mídias, afinal, estamos na era das comunicações, e nada consegue chamar mais a atenção dos mais jovens e incutir ideias capitalistas mais rapidamente do que os meios de comunicação. O que as mídias ensinam? "Se você quer ser alguém, você deve consumir os melhores produtos"; "Você deve ser sempre o mais esperto"; "Você precisa ter dinheiro para poder curtir a vida"; "Busque os meios mais fáceis e rápidos para enriquecer"; "Veja o outro como um obstáculo para seu sucesso". Tudo bem que as mensagens não são assim tão diretas, mas na prática querem dizer isso. Tais ideias são assimiladas pelos jovens da periferia, assim como por todos nós, contudo, no caso desses jovens que cresceram sem a devida educação e orientação, tais ideias são ainda mais sedutoras e parecem descrever algo 100% real, o que aumenta ainda mais a sensação de exclusão e acentua a necessidade de ter que de alguma forma tentar entrar para o mundo dos sonhos, o mundo da grana, pois só consumindo pode-se ser feliz.

É aí que aparecem as drogas, afinal, elas anestesiam a juventude pobre do sofrimento de fazer parte do mundo real e não daquele mundo dos carros e motos importados, das mansões, das famílias ricas e felizes, mundo de ilusões mostrado a todo tempo pelas mídias; por alguns momentos as drogas levam os jovens para um outro mundo. Elas também podem significar prosperidade econômica para essa juventude pobre e sem a devida formação escolar, já que o narcotráfico sempre está precisando de mão-de-obra e paga mais do que muitos empregos formais. O que atrai o jovem para esse "negócio" não é só a possibilidade de ter uma atividade que lhe remunere sem exigir estudo, mas a possibilidade de prosperar nesse ramo e de assim poder ter mais facilmente o acesso a produtos caros e de "marca", o que seria uma passagem de ida para o mundo dos sonhos capitalistas, uma passagem paga na maioria das vezes com a própria vida.

Essa grande cadeia explica em parte o crescente aumento do consumo de drogas nas periferias e consequentemente da violência nos grandes centros urbanos, onde as mídias são mais presentes. O engraçado é que os veículos de comunicação discutem o fenômeno alegando a falha estrutural das famílias brasileiras e a má gestão dos políticos, que gera desigualdades e que é incapaz de permitir a todos viver dignamente e em iguais condições de vida. Não discordo dos argumentos deles, mas eles esquecem de coisas fundamentais: das ideologias consumistas que veiculam; de como estimulam o consumo de futilidades que apresentam como sendo indispensáveis na vida; de como suas mensagens mercadológicas influênciam na vida dos jovens sem perspectivas de vida; entre outras coisas. Os meios de comunicação esquecem da colaboração deles porque é mais cômodo dar lição de moral, por meio dos telejornais, jogando a culpa na sociedade e no Estado e ficar vendendo ideias e produtos fúteis nas novelas, nos programas e nos comerciais. Hoje as mídias não dependem de fatos para exitirem, mas sim da venda de futilidades.

E aí? Aonde chegamos nesse grande pensamento abstrato em forma de bola de neve? O fato concreto é que os jovens da periferia estão cada vez mais desorientados, já que não têm mais bases familiares e nem religiosas, e, que estão: cada vez mais alienados pelas ideias que lhe são vendidas pelas mídias; cada vez menos ligados a valores morais mínimos para uma convivência pacífica em sociedade; e dispostos a roubar e matar para poder fugir de sua exclusão social e poder sonhar com as belezas do mundo capitalista.

Assim concluo que de que adianta gritarmos com todo o vigor que somos homens "livres", que derrubamos as ditaduras da igreja e dos governos e que podemos escolher nossos próprios rumos? A falta de uma educação familiar, religiosa e escolar que forneça os valores mínimos que um homem deve ter para viver em sociedade está fazendo com que apesar do poder de escolha aparentemente ilimitado trazido pelo século passado, os jovens da periferia não saibam escolher os melhores rumos, falta orientação! Essa falta de orientação protegida pela ideia de uma total liberdade irá trazer sérios problemas para esses jovens e consequentemente para toda a sociedade, logo, ou deixamos de hipocrisia e assumimos que não somos e não estamos prontos para sermos totalmente livres no atual estágio da sociedade capitalista, e, que ainda necessitamos educar e incutir valores morais nos jovens ou senão iremos ver nossa juventude caminhar na escuridão em direção ao abismo da "Falsa liberdade".

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Tempo, tempo, tempo...

Faz dias que eu estava desejando parar um instante para falar sobre o tempo. Sim, do tempo. Já perdi as contas de quantas vezes parei para tentar entendê-lo e continuei sem respostas. O homem tem a pretensão de ter controle sobre tudo que lhe cerca, para isso a ciência é sua principal ferramenta, mas o tempo, podemos até ter tentado controlar , só que ainda não conseguimos e talvez jamais consigamos; eu sinceramente acho que essa será sempre uma eterna pretensão, talvez seja mais fácil fazer algum metal virar ouro do que controlar o tempo. Isso me lembra diretamente a busca incessante pela fonte da juventude no passado (tão mostrada no mundo fantástico dos desenhos animados), se bem que hoje ainda buscamos essa fonte em diversos produtos, muitas vezes sem perceber.

O tempo rege a vida de todos sem nenhuma distinção, passa para todos, talvez seja uma das poucas coisas que todos encaram em comum e que não é um fenômeno da natureza. O que mais me intriga em relação a esse assunto é que tudo a esse respeito é uma incógnita, é surpresa. Um dos exercícios que mais gosto de fazer é tentar lembrar o que eu fazia e vivia há um ano atrás, o que me assusta muitas vezes, pois me faz ver como tantas coisas mudaram, como desejos se tornaram realidade, como idéias foram trocadas por outras que pareciam tão distantes e como algumas coisas se mantêm exatamente da mesma forma com que estavam, mesmo comigo tentando mudá-las. Vivemos tantas mudanças e nem nos damos conta. Isso tudo me intriga.

Sobre esse assunto eu não poderia esquecer de tratar sobre como às vezes sentimos que o tempo voa e outras vezes sentimos que parece que ele teima em não passar, mais uma vez demonstrando o total descontrole que temos sobre ele. Ué? O homem não se diz o senhor de sua vida nos tempos modernos? Mas e o tempo? Por que será que ele não controla? Me parece que temos a pretensão de sermos eternos, por essa razão queremos ter controle sobre tudo, será que teria graça em viver se pudéssemos controlar o tempo? Se pudéssemos, por exemplo, fazê-lo não passar para o nosso corpo, será que teríamos motivação para seguir? Talvez o maior prazer na vida seja seguir com um prazo de validade que não conhecemos, agirmos rumo ao desconhecido, sem saber o que nos espera, sabendo que só o tempo trará a resposta e que a qualquer momento podemos ter nosso tempo expirado. Imagine como seria monótono poder prever tudo que iria nos acontecer e não envelhecer nunca, seríamos como robôs, com açõs programadas, sem sermos surpreendidos por nada novo, isso não seria ser humano, pois não teríamos sensações novas e não estaríamos sempre nos modificando.

Muitos veem (nova ortografia) o tempo como algo dotado de vida própria, eu sinceramente lhe conecto com Deus, ou seja, tenho Deus como o senhor do tempo, sendo o tempo o instrumento usado por Deus para fazer valer seus planos na vida de cada um, creio que a chave do descontrole humano sobre o tempo é essa. Isso não me fecha os horizontes de discussão sobre o tema, contudo, creio que para quem não acredite em Deus o horizonte seja ainda mais amplo.

De modo geral, o tempo sempre nos traz surpresas, isso é o que o faz tão atraente, e o pior é que no final tudo parece fazer sentido, coisas que passamos longas épocas sem entender, o próprio tempo nos responde, tudo acaba se encaixando como num grande quebra-cabeça (isso não é papo de quem quer te convencer que Deus age em nossas vidas, tente ver isso mesmo sem a presença de Deus, a conclusão é a mesma), a ponto de eu, por exemplo, viver confiando nas surpresas do tempo e com calma para esperar o momento certo para entender o que acontece hoje, pois ele parece trazer as respostas na ocasião certa, parece saber o que nos traz, contudo, não me parece sensato viver imóvel esperando os desígnios dele, pois apesar de não termos controle sobre ele, de alguma forma o tempo parece depender das ações humanas para nos ofertar algo, parece depender do que fazemos e poder usar de ações alheias para trazer respostas e mudanças em nossas vidas, sendo algo como uma grande rede onde um influencia, por meio de suas ações individuais, na vida do outro em alguma ocasião.

Logo, ao fim desse pequeno pensamento abstrato que não traz nenhuma informação que você não conseguiria tirar sozinho de sua própria cabeça se quisesse, concluo que não cheguei a nenhuma resposta concreta sobre o tempo. Ué? Não chegar à respostas é ruim? Eu, como metódico assumido, não gosto muito de pensar e não chegar a nenhuma resposta concreta, pois pareço um indivíduo desligado do tempo e do espaço que não quer mudar nada, que como um filósofo só que entender algo, satisfazer egoísticamente um desejo próprio enquanto podia está fazendo algo produtivo para sua vida e a dos outros; apesar disso, reconheço que isso tem sua importância, pois assim se constroem as novas idéias nessa nossa cabeça camaleônica.

É aquela velha discussão sobre as perguntas sem respostas dos filósofos, longe de mim ser filósofo, posso ter filosofado um pouco, mas não queria, acabou saindo, como mais um dos meus pensamentos abstratos. Agora volto aos pensamentos concretos, já perdi muito tempo, ou pouco tempo, não sei, os minutos que se passaram foram os mesmos de sempre, eu que não fui.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Acabou o Natal?

O Natal é uma festa religiosa, dado o valor que possui para o Cristianismo, porém ao analisarmos com atenção como essa data tem sido tratada na sociedade contemporânea veremos que o sentido original da festividade foi significativamente alterado e abalado.

O que se observa é que hoje a data encontra-se veículada diretamente ao consumismo no mês de dezembro, pois ela é apresentada pelas mídias às pessoas mais com um sentido comercial do que religioso em si; isso não significa que as pessoas desconheçam o sentido religioso do Natal, porém significa que dado o bombardeio de mensagens que induzem ao consumo nas datas que antecedem o Natal as pessoas acabam esquecendo o verdadeiro sentido da festa e vendo-a como sinônimo de troca de presentes. Não nego que a troca de presentes seja uma parte da festa, contudo, não traduz toda a significatividade dessa data. Papai Noel não resume tudo, ele é só uma parte do conjunto.

Em nome de uma necessidade de presentear amigos e familiares vendida pelos meios de comunicação, as pessoas acabam comprando a idéia de que sem isso não há Natal, esquecem todo aquele espírito de humanidade e bondade para com os outros e acabam fazendo da festa que é uma confraternização de todos algo egoísta, na qual o que importa é comprar presentes e ser presenteado, sendo a ceia um mero detalhe, uma oportunidade para comer bem e beber bastante álcool.

Nessa altura do texto é possível que você ache que estou exagerando, mas saia na rua para fazer compras nas datas mais próximas do Natal (já que comprar presentes não é o problema que discuto, se é que você me entende) e experimente o espírito natalino das pessoas que estão fazendo compras, principalmente se for uma loja com promoções; talvez você consiga ver pessoas brigando por coisas idiotas (pessoas podem até trocar empurrões para levar uma última mercadoria, por exemplo) e vai entender o que quero dizer quando falo que o espírito de Natal foi trocado pelo desejo de fazer compras. Não nego que isso possa ser algo inconsciente nas pessoas, mas afirmo que isso está aumentando gradativamente, a ponto das crianças associarem Natal diretamente com Papai Noel, esse tal de Jesus é só um pretexto para Papai Noel vir trazer presentes. As crianças são como folhas em branco, crescem e aprendem a cada dia algo ensinado a elas, não aprendem nada sozinhas, logo, se elas pensam assim do Natal, é porque alguém as ensinou a pensar assim ou o contexto ao redor incutiu essa mentalidade nelas.

De repente me vejo jogando pedras no, já espancado por todo metido a revolucionário (não me acho um, pois para eles: "na dúvida, culpe o Neoliberalismo e a ordem econômica vigente como causa para qualquer problema"), Capitalismo e quase esqueço o que mais me motivou a escrever esse texto: o consumo excessivo de álcool no Natal. Vi pessoas passarem a noite de Natal dentro de bares, como se aquela data fosse mais um pretexto para beber, será que o Natal não representa mais nada para os homens? Tudo bem que vejo essa situação por uma ótica cristã, mas partindo do pressuposto que essa é uma festa cristã, não estou errado. Talvez o Natal seja a data na qual os homens mais deveriam se aproximar uns dos outros, mas ao contrário disso muitos preferem beber excessivamente e fazer questão de esquecer a vivência com seus amigos e familiares nessa festa, como se essa fosse uma festa comum a ser levada pelo álcool para as brumas da memória. Sem contar as brigas que ocorrem no Natal em razão de alguém que bebeu demais e as mágoas entre parentes que duram por anos em virtude de um mal entedido causado pelo consumo de álcool em excesso. O problema não é beber, porque isso é uma forma de festejar, mas o problema é passar dos limites e pôr todo o sentido da festa a perder.

Sinceramente tenho medo das pessoas de hoje, elas são capazes de pisar e matar outras pessoas (como ocorre todo ano nos EUA) na entrada de uma loja para fazer compras de Natal; capazes de passar o Natal em uma taberna; e de até matar na noite de Natal. Mais vale fazer pessoas conhecidas felizes com presentes do que pisotear estranhos? Será que a noite de Natal, uma das datas mais importantes dos cristãos deve ser passada dentro de um bar ou de um motel? Será esse o sentido do Natal? Cada um tem a sua própria consciência sobre essa data, mas na minha humilde opinião não há lógica em comemorar hipócritamente como sendo religiosa uma data que só serve para dar e ganhar presentes e beber bastante, pois isso pode ser a festa de aniversário de qualquer um. Acho que Jesus é superior a tudo isso e por isso necessita de um pouco mais de respeito por parte de cada cristão. O Natal deve unir a Humanidade em torno de bons sentimentos e boas ações, nem que seja por um só momento, se não for assim, não há motivo em falar-se em Natal, por isso o que uma parte significativa das pessoas dizem ter comemorado não foi o Natal, talvez comemoraram apenas uma boa ocasião para o comércio lucrar e para poderem beber mais do que geralmente bebem e satisfazer seus próprios desejos.

Talvez esse seja o texto de alguém inocente que ainda acredita em velhas tradições religiosas, mas se for pelo menos saiba que é o texto de alguém que vê o Natal como uma oportunidade de união de todos para fazer e comemorar o bem, até porque creio que fazer o bem seja a missão de cada um de nós nesse planeta.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O começo

Faz muito tempo que penso em pôr no papel algumas reflexões minhas sobre o mundo em que vivemos; quando falo em reflexões não me refiro ao sentido filosófico das coisas, mas à maneira com que elas se apresentam a mim, ou seja, ao modo com que sinto a realidade que me cerca. Não espero que tenha muito a acrescentar ao pensamento da Humanidade, pois não me proponho a isso, mas espero unicamente poder expor publicamente o que sinto ao ver o nosso tempo de alienação e de desrespeito às pessoas; a exposição pública que faço representa o meu não conformismo com o que vejo atentamente, logo, representa uma pequena forma de protesto, uma forma de ação.

Nesse sentido, o blog caiu como uma luva aos meus anseios, pois aqui posso refletir o que desejar com liberdade, algo que não poderia nem se tivesse uma coluna em um jornal (o que não aspiro ter, dada a minha pouca habilidade para isso), pois até nelas os escritores estão limitados a certos interesses e de certa forma condicionados a manifestar idéias que muitas vezes não são suas próprias, mas que agradam a terceiros e/ou conseguem fazer vender jornal.

Contudo, não digo que um blog é um espaço democrático, seria hipocrisia ignorar que a maioria absoluta dos brasileiros ainda não têm acesso à internet e por esse motivo não podem ter acesso ao o que é dito nos blogs.

O fato é que os blogs são espaços de liberdade e não de democracia, pois apesar de não ser algo acessível à leitura de todos, aqui pode-se falar sobre qualquer assunto e manifestar qualquer ponto de vista, levando-se em conta certas regras fundamentais que visam o respeito ao próximo. É certo que essas regras limitam a liberdade de pensamento de quem escreve, mas não nego a importância dessas regras, já que o respeito à dignidade do próximo deve ser inquestionável se quisermos construir uma sociedade mais humana, visto que o respeito ao outro deve pautar nossas ações individuais.

Por fim, quero manifestar minha intenção de escrever de um modo que não agrida profundamente a língua portuguesa, mas como não sou um "Doutor" na minha língua-mãe, tolere meus possíveis erros, pois te garanto que me esforçarei para atrair mais sua atenção com meu pensamento do que com meus possíveis erros de português, apesar de saber que isso será difícil, pois temos o mau hábito de prestarmos mais atenção nas falhas alheias do que nas suas qualidades, principalmente na escrita.

Por muito tempo discriminei os blogs, mas tenho que admitir que estou revendo meus conceitos, pois como ser humano devemos sempre estar em mudança, atentos aos novos tempos e aos novos pensamentos, é nesse sentido que espero aproveitar ao máximo tudo o que um blog tem de bom a oferecer, se em algum momento sentir que ele não serve exatamente ao que pensei, não hesitarei em largá-lo e buscar outra forma de expressar meus pensamentos sobre o mundo. Pois creio ser da natureza humana se aprimorar e buscar sempre o melhor.