segunda-feira, 11 de maio de 2015

Dia 01

Ainda existe vida lá fora e aqui neste blog.

Eu não quero mais escrever poemas (talvez por um tempo).

Meu negócio é prosa. Muita prosa, diga-se de passagem. Dois dedos não são suficientes. Gosto daquela prosa marota, sobre "isso tudo que tá aí", passando pela crise política e terminando nas incertezas humanas.

Quando escrevo poesia, tenho recordações, algo me inspira (uma música, uma musa, sei lá, até mesmo a falta de inspiração). Mas quando eu proseio não! É diferente. Eu grito qualquer coisa e pronto/ponto. É quando me perco na prosa que me encontro.

25 anos. 

Com o tempo minhas ideias se organizam mais facilmente. 

Porém, não consigo falar de poesia sem falar dela. Às vezes ainda penso nela, raramente, para dizer a verdade, mas ainda penso. Meu maior medo era que ela se tornasse uma Capitu. Não pela dúvida traiu/não traiu, mas pela dúvida "será que ela já gostou de mim? Estive perto de conseguir? Faltou pouco?" Pois é... Acho que conscientemente deixei que ela se tornasse uma Capitu. Aliás, talvez eu até tenha achado mais fácil fazer assim e cultivar uma dúvida. Nunca perguntei e a dúvida ficou e ficará até os dias em que eu encontre uma certeza mais forte que essa dúvida. Por algum motivo inexplicável gostei (muito) da Paula. Não me lembro de nada concreto que justificasse o surgimento de tamanho afeto. Foram só coincidências que fizeram com que nos encontrássemos por aí no quintal de Deus. Mas sabe? Foi uma coisa meio de alma, senti muito facilmente uma empatia natural por ela. Havia certamente outras garotas mais bonitas, mais próximas, mais amigas... mas não adiantava. Isso eu só sentia por ela. E olha que nem éramos tão próximos. Contudo, esse afeto diferenciado eu nunca senti ser mútuo, nunca senti reciprocidade (e ela não tem culpa disso, afinal, afeto apenas se sente), por isso nunca me esforcei, nunca fui contundente e deixei que a dúvida fosse naturalmente cultivada dentro de mim. Por quê? Talvez apenas para que eu tivesse uma contínua fonte de inspiração. Vai saber... Ainda penso nela, mas sempre rapidamente, como quem insiste em tentar não esquecer um rosto que não vê há muito tempo. Não faço projeções, apenas a imagino feliz, sentindo-se em condições de se realizar como pessoa e de concretizar seus objetivos. Isso me basta. Mais ou menos, na verdade. Mas a vida segue e precisa seguir.

No mais, não vejo telejornais. Só assisto futebol e filmes. Me informo confrontando notícias na internet e tento, mais uma vez, iniciar um período sabático (de estudos) vivendo numa cidade de interior, na qual não existe Big Mac, não há trânsito e vou ao trabalho andando, existe mototáxi, pessoas despacham bicicletas ao invés de bagagens quando viajam de ônibus e existem mais restaurantes japoneses por metro quadrado do que na capital.

Amanhã é o dia 01. 

Mais um dia de recomeço, de aprimoramento pessoal, de experiências adquiridas que me salvarão em momentos de sufoco, mas também de novas experiências, coisas e gente nova. Às vezes é bom viver longe de "casa". Em um lugar onde nada se conhece e nada se sabe. É bom se perder nas ruas e saber que precisa achar o caminho de volta. É bom perder referenciais e ter que diariamente buscar novos. Mas também é bom saber que se pode voltar para "casa" e continuar uma vida interrompida há uns 7 meses. Sabe uma das coisas que mais gosto de fazer quando volto alguns dias pra "casa"? Comer um Big Mac na véspera de voltar embora. É como uma última ceia antes de partir; um último encontro com algo que não sei quando comerei de novo. É um separador de vidas.

Gosto muito de uma passagem bíblica que diz que onde está o seu tesouro, lá está o seu coração. Concordo muito com isso, mas sabe? Hoje, meu coração vai onde eu vou. Minha vida é onde estou, seja em "casa" ou aqui. Quando estou na cidade velha que considero minha "casa", estou 100% lá, sem ressentimentos, sem saudosismos, apenas me deixo estar. Quando estou aqui, também estou "firmão", decidido, sem desespero em voltar. Como um camaleão que muda de cor conforme muda de ambiente, um anfíbio que gosta do molhado, mas também vive bem no seco. Sou intenso, não sei me deixar pelas metades. Meu traço é grosso, meus cabelos são escuros como se fossem tingidos e sou firme como uma rocha no que acredito. Sou ideológico. Gente assim não vive se não for com intensidade. Boto meu coração naquilo e em quem acredito. Boto meu coração no que faço.

Isso é prosa.