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domingo, 3 de dezembro de 2017

Gratidão

Esta semana eu me lembrei de um dia muito singular de minha vida; o dia em que quase passei fome. Eram tempos difíceis, eu tinha lá meus 13 anos de idade e, juntamente com minha mãe e um ex-companheiro dela, morava em uma casa alugada. Nesta época, embora o ex-companheiro de minha mãe tivesse emprego, ele quase não ajudava em casa e minha mãe mantinha a casa quase que sozinha, com o dinheiro das unhas que ela fazia até aos domingos.

Mas um dia não deu.

O ex-companheiro da minha mãe, brigado com ela, viajou para trabalhar fora do estado por alguns dias e não deixou nem um puto de um centavo.

Era o último dia da Festa da Penha e eu e minha mãe íamos à missa de encerramento no parque da Prainha. Na hora de sair de casa, minha mãe me disse para beber água antes de sairmos, pois não tínhamos dinheiro para comprar uma garrafinha de água mineral no local da missa, afinal, só tínhamos, sei lá, uns R$ 3,00, e precisávamos comprar pão no dia seguinte.

Naquele dia, eu entendi o que minha mãe, com a delicadeza das mães, quis me dizer simbolicamente. Quis me dizer indiretamente que, diferentemente dos anos anteriores, eu não poderia comer pipoca, cachorro quente ou alguma outra coisa no local da festa, pois a gente não tinha dinheiro e, se nada diferente ocorresse, passaríamos fome nos próximos dias.

Esta lembrança me traz lágrimas nos olhos neste momento.

Talvez este tenha sido o momento mais crítico de minha vida, o momento em que estive mais perto da fome. Mas esta não é uma lembrança só minha. Todos os anos, quando vamos em algum momento à Festa da Penha, mencionamos a lembrança deste dia: do dia que não tínhamos dinheiro para comprar nem água. E estava quente neste dia... Água, só em casa. Lembramos com gratidão, porque no dia seguinte, apareceram clientes como peixes na rede lançada pelos discípulos de Jesus e os R$ 3,00 multiplicaram-se.

Deus e o trabalho de minha mãe nos salvaram da fome. Mas nem todos têm a mesma "sorte". A impotência da fome é desumana, não podemos permitir que alguém ainda viva e morra por algo assim.

Quando fiz Direito, nunca sonhei em ser nada (juiz, promotor, advogado...). Tudo que eu queria era só chegar onde desse para chegar e ter um salário decente. É estranho um jovem estudar para um concorrido vestibular, entrar em uma universidade, sem sonhos profissionais. Enquanto alguns colegas discutiam comissão de formatura, eu não queria nem formar, para não perder minha bolsa estágio de R$ 800,00.

Quando vejo o que conquistei hoje, vejo o quanto fui agraciado por Deus. É verdade que não ganho R$ 10.000,00 por mês, mas ganho um salário que me garante uma vida digna, decente e com conforto. Nunca sonhei ser rico. Sempre sonhei apenas ter alguma segurança financeira, capaz de não me deixar em dúvidas entre comprar uma garrafa de água mineral ou o pão do dia seguinte e capaz de me possibilitar comprar as coisas que realmente preciso sem passar grandes sufocos. E isto Deus me deu e tem me dado.

Quando rezo, geralmente o que mais faço é agradecer e pedir perdão. Não porque eu não tenha coisas a pedir, mas porque eu não consigo começar se não for agradecendo (geralmente pego no sono ainda nesta parte, inclusive).

Mas não agradeço somente os ganhos financeiros. Deus foi muito bom comigo e tem sido! Tenho o mau costume de dizer que chego nos lugares certos, mas nas horas erradas. Uma baita heresia. Sou um agraciado! Seja pela minha saúde, seja pelas oportunidades e conquistas e seja pelas pessoas que Deus sempre colocou em minha vida.

Nunca tive um pai, mas também nunca faltaram pessoas para cuidar de mim, me ajudar de todos os modos que alguém pode ser ajudado. Sempre as pessoas certas e nas horas certas. Sempre. Pessoas que me ofereceram um teto para dormir durante meus estudos; o cobrador que me vigiava quando minha mãe precisava me embarcar sozinho, aos 10 anos de idade, em um ônibus intermunicipal para que eu pudesse estudar; pessoas que me ajudaram a ter uma infância feliz quando minha condição social não me permitia; pessoas que ajudaram a custear os meus estudos; pessoas que me ajudaram a desenvolver-me profissionalmente; e as pessoas que hoje me protegem afetivamente. Muita gente cuidou e ainda cuida de mim. Isto é amor, em sua forma mais pura. Só tenho a agradecer a essas pessoas.

Ainda espero a mulher com quem eu construirei uma família e terei filhos, vivendo a felicidade e o amor. Mas isto acontecerá no tempo certo. Aliás, preciso saber esperar e lidar melhor com esta espera, afinal, o afeto que me cerca, de diferentes maneiras e de diferentes pessoas, já é uma grande graça em minha vida.

Sou um agraciado!

Quando penso racionalmente em meus problemas atuais, vejo o quanto são pequenos. São problemas de "gente branca de olhos azuis". E sempre que me deparo com esta constatação, tomo coragem, perco a ansiedade e me sinto mais forte que o mundo. Nada consegue me irritar, me chatear ou me deixar verdadeiramente preocupado, quando lembro daquele dia que não dava nem para comprar uma garrafa de água mineral. É preciso nunca esquecer, para sempre valorizar o presente.

Não é preciso muito esforço para se considerar um agraciado. Às vezes não damos o devido valor para coisas como ter um teto para abrigar-se, ter um alimento qualquer para matar a fome, ter dinheiro para pagar uma passagem de ônibus, ter saúde, ter água para beber e tomar um banho, ter pessoas que nos querem bem... Precisamos ser mais gratos e não deixar que as dificuldades momentâneas nos tornem incapazes de ver o quanto somos privilegiados e de entender que a vida pode melhorar, apesar dos obstáculos.

Hoje eu estava vendo uma entrevista do Adriano "Imperador", aquele ex-jogador de futebol que desistiu do futebol no auge, que voltou da Europa diretamente para sua comunidade pobre. Ele foi e ainda é muito julgado por isto, como se tivesse feito a escolha mais burra da vida ao optar por andar descalço na "quebrada" onde cresceu, vivendo ao lado de seus familiares e amigos de infância, ao invés de ganhar ainda mais milhões e títulos como jogador de futebol. Ele é um cara que financeiramente pode ter tudo o que quiser, poderia ter ainda mais, mas preferiu não se preocupar com isto em nome de ser feliz na vida. Jogar futebol não o fazia mais feliz. Isto me fez pensar no quanto somos injustos com os "Adrianos" que vemos por aí, por exigir que eles deem às coisas erradas o mesmo peso grande que damos a elas, quando na realidade são os "Adrianos" é que estão dando o peso certo para as coisas que realmente importam na vida. Eles é que estão certos. Eles é que estão felizes, ao passo que nós...

Problematizamos demais a vida. No fim, não precisamos de "muita" coisa para sermos agraciados. Precisamos somente de um mínimo existencial que alimente e mantenha nosso corpo e nossa alma saudáveis e vivos com dignidade.

Isto não quer dizer que não devemos lutar por uma vida ainda melhor, mas que, no fim, isto não tem muito sentido se não formos capazes de sermos instrumentos para que aqueles que nos cercam também possam ter uma vida plena daquilo que realmente importa.

Obrigado, Deus!

domingo, 15 de janeiro de 2017

A volta dos que não foram

Acharam que era o fim? Aí sim foram surpreendidos novamente! Estamos aqui de volta

Somos o maior amigo e o maior inimigo de nós mesmos. Conhecemos segredos de nós mesmos que nem o terceiro mais próximo, mais íntimo, é capaz de saber. Diante disso, creio que sabemos de antemão boa parte daquilo que nos desestabiliza, nos tira a paz e o norte, e, por esse motivo, também sabemos de antemão o que precisamos fazer para não deixar que isso possa ocorrer. Estamos em luta constante contra nossos impulsos que sabemos que nos fazem mal, mas ainda assim, conscientemente, nos deixamos sucumbir, aceitamos o preço e os riscos de deixar a besta de nós mesmos sair.


Guiados por nossos impulsos ruins, nos afastamos da margem, pisamos em terrenos incertos e quando nos damos conta estamos em mar aberto, com a água acima do nível de segurança. Nessa hora percebemos o quanto nos afastamos daquilo que sabemos em nosso íntimo ser o que nos traz paz e segurança e percebemos o quanto fizemos mal a nós mesmos e aos outros.

É comum ouvir frases do tipo "desde o início eu sabia que isso não ia dar certo", "se eu tivesse seguido minha consciência eu não teria feito isso". Somos videntes de nós mesmos, capazes de salvarmos a nós mesmos de muitas coisas e de nos levarmos ao lugar certo pelo caminho mais previsível e seguro.

Mas também somos os inimigos de nós mesmos. E é difícil controlar nossa vontade incontrolável de seguir nossos impulsos, por mais claramente idiotas que possam parecer a uma análise com um pingo de racionalidade.

Às vezes perdemos dias, semanas, meses, anos, dando cabeçadas e, quando enfim percebemos, perdemos uma parte considerável de nossas vidas, daquelas que não cabe mais reembolso.

domingo, 18 de agosto de 2013

Metalinguagem esquecida

Chegamos ao ponto.
À indiferença.
Um texto bom ou ruim
Sem qualquer audiência.

Saias curtas em meio a carroceiros,
Posso dizer e você não verá.
Então irei escrever,
Mas você não vai escutar.

A porta bate,
O último que sair apague a luz!
Não apagaram
Então fiquei de voyeur.

Eu ainda falo
Pra quem quiser ouvir,
Mas só tem eu aqui.
Assim é ruim.

A rima é pobre,
Mas nunca foi rica.
Agora é mais flagrante
Que preto não é sua cor favorita.

A história foi escrita.
Venceu quem faz dela sua vida.
Agiu. Levou.
Respeite quem pode chegar onde a gente não chegou...

Faltou poesia,
Sobrou prosa.
Faltou ação.
Não teve paixão.

Agora dá!
Mas não pode mais.
Perdi o voo.
Sobraram navios.

Viva Rio!
Rio de Piracicaba.
Como um menino
Indo pra Pindamonhangaba.

Bom é assim:
Plateia vazia;
Caneta livre.
Só eu li.

Àquele campeão que disse que as melhores corridas dele foram aquelas que ninguém viu.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Devaneio prussiano 82%

Olhando nos olhos dela via mais do que a alma dela; via mais do que devia e mais do que podia. Via o futuro. Um futuro cheio de novidades. O que teria e o que nunca teve.

Cheiro de rum.

O toque de outra pele lhe causava choque. Era estranho. Não sabia muito bem como era sentir o contato com uma pele mais macia que a sua. Parecia pecado. Algo proibido. Só o sentir das mãos já era incrível. Ele adorava mãos, sempre reparava nelas. Mas as mãos de uma mulher nas suas ainda causava choque, afinal, a maior parte de seus dias foram sem tocar na pele de qualquer mulher.

Os dedos dela estavam retorcidos.

Pintas. Ela as tinha aos montes. No pescoço sobravam, o que criava um belo contraste com sua pele alva. Pintas marrons que se afogavam.

Naquela época joelhos ainda eram bonitos. Os dela eram lindos. Ao mesmo tempo em que escondiam algo maior eles também deixavam escapar.

Era muita doidera de uma vez só.

Ele a preferia sem maquiagem. Assim conseguia ver melhor a pele e aqueles sedutores e convidativos lábios rosados tão delicados. Dava vontade de mordê-los. Engoli-los. Ele nunca os beijaria.

Precisava partir. A campanha lhe chamava. Mas antes de ir precisava vê-la uma última vez naquele vestido rosa. Mas que lindos joelhos. Como eram saudáveis.

Bebeu o último gole e largou o desconhecido rumo ao infinito.



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Os dias nublados se tornavam convidativos dias ensolarados próximos à lagoa. Os bueiros e os morteiros inimigos não explodiam embaixo dos pés dela. As sandálias dela eram capazes de trazer a paz mundial mesmo àquelas trincheiras imundas da Prússia.

Ela flutuava ao vento. Levantava voo em pleno vendaval. Domava a tempestade com o balançar de seus braços e ainda tinha tempo de seduzir com seus cabelos negros ao vento. Na foto que recebera dela ela abraçava o poeta, mas ele não conseguia parar de olhar para as pernas finas bem torneadas naquelas vestes. Vontade de apertar. Ela dizia que o poeta havia parado de escrever e posto seu livro de poesias embaixo dos braços só para vê-la melhor. É preciso estar atento com esses poetas. De bobo eles não têm nada. Sentia o calor do abraço dela só de olhar a foto.

Saudade de comer aquela ambrosia que só ela sabia fazer. Se Cristovão Colombo tivesse provado antes, talvez nunca tivesse querido ir à América aplicar sua matemática pura.

Era preciso ir devagar. A floresta oferecia muitos perigos para um jovem soldado prussiano. Ela poderia estar escondida entre os arbustos. Não queria acordá-la. A floresta o recebeu de braços abertos. Lá de cima os alpes eram verdes de neve e ela era feia. Descabelada. Parecia ter icterícia. Mas ainda tinha um quadril convidativo. Pela primeira vez conseguia ver as pernas dela com nitidez. Lá de cima o mar era o céu e o céu era o mar. Havia uma ponte entre eles. Ela sumira. De repente, tudo ficou negro. Por seis vezes.



Esperou e o silêncio não se rompeu. E lá se foi a caminhada na praia.

Obrigado, Ray.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Tragam as crianças para casa

- Quixote, diga adeus à Dulcinea. Deixe-a ir.


Fiquei quieto e fui deixando as coisas acontecerem. Os amigos mais próximos parecem ter percebido que eu fiquei praticamente silente sobre este assunto desde o dia em que a presença dela em minha vida tornou-se semanal ao invés de sazonal. Contraditório, né? Afinal, era agora que eu deveria estar cheio de histórias para contar. Mas não. Eu, categoricamente, tenho sido omisso sobre o assunto. Mas chegou a hora de falar e fechar o tema. Falo agora porque em menos de um mês ela escorregará mais uma vez de meus olhos e sabe-se lá quando voltarei a vê-la novamente (se é que voltarei). Tudo voltará a ser como sempre foi antes do últimos 3 meses. Ser definitivo é mera pretensão, afinal, o destino só Deus sabe.

Quis esse mesmo destino que eu passasse a vê-la semanalmente. Foi assim por 3 meses. E nesse período não toquei mais nesse tema neste blog. 3 meses depois e há menos de um mês de não vê-la mais preciso dizer.

Preciso dizer que não deixei de gostar dela. Mas que aprendi a gostar de um jeito diferente. Ela era quase como uma santa da qual eu era devoto. Só de vê-la de longe meu coração mudava o ritmo. Bastava ver uma foto dela e eu ganhava o dia. Ela exercia um fascínio inexplicável sobre mim, sempre tão racional. Então eis que aqueles contatos (ainda que rápidos) que antes eu tanto queria tornaram-se frequentes. Pronto. Será que eu teria um infarto toda vez que a visse? Assim não dá, né?

Pois então. Aprendi a me controlar. Amadureci. E isso se tornou lindo. Tudo se tornou melhor. Pude conhecer mais aquela pessoa por detrás daquela imagem que eu tinha congelado há algum tempo na cabeça. Pude ouvir a voz dela, perceber que possui diferentes entonações. Vi que ela é gente. Tem carne e osso. Ela existe, Quixote! Ela existe!

Passei a torcer pelo sucesso dela. Ela parece ter talento, ter nascido para brilhar. Não cabe na palma de uma mão, precisa de espaço para evoluir, se desenvolver, caminhar. E eu descobri, felizmente, o meu lugar. É na plateia. É vendo o crescimento dela. É não atrapalhando; no máximo incentivando. O meu coração já não dispara mais quando a vejo, embora eu ainda goste dela. E cada dia mais intensamente. Mas é diferente. E também é igual. Eu passei a vê-la em contexto. No espaço e no tempo. Isso mudou muito meu entendimento sobre as coisas. Eu adoraria ter alguma coisa com ela, ainda que apenas por 5 minutos, mas por outro lado, cada vez menos eu sonho com isso e cada vez mais passo a ficar feliz apenas de vê-la evoluindo e fazendo o que gosta, ainda que ela nem sequer saiba que eu gosto dela e que eu desejo que algo entre nós seja possível. Entende? É um gostar diferente. Um gostar de quem apenas quer vê-la feliz e bem, indepedente de que seja distante de mim. É meio fraternal. É um pouco surreal. Ela é assim.

Ela não me faz ganhar o dia. Não penso nela. Respeito-a cada vez mais, assim como as escolhas e o espaço dela. Ela precisa de espaço para respirar, para poder VIVER. Apenas curto cada instante ao lado dela. Me contento com o gargalhar juntos, com o beijinho de despedida na bochecha. Me contento com o contemplar, embora eu adorasse poder participar. Mas isso não faz falta. Não incomoda mais. Se tornou uma questão de: "se o destino permitisse eu faria tudo para ser bom, mas se a realidade não deixa, também não há problemas, pois a vida continua completa". É contraditório, mas hoje é assim. E eu fico feliz apenas de vê-la feliz. Pode isso? Pode. Isso é demais. E vai acabar em breve, quando não mais a encontrarei uma vez por semana. E o que pensarei ao final: "Foi bom! Foi muito bom! Mas voe. Você precisa voar rumo ao infinito. Chegue mais longe que puder, ainda que eu te perca de vista. Voe. Voe. Se um dia voltar, vou adorar, mas se não der, saiba que na minha mente irei sempre imaginar que você terá chegado lá."

Definitiva.
Uma postagem final acerca desse assunto.

sábado, 2 de julho de 2011

[JUBILEU] Xepa

Ele estava em uma semana decisiva em sua vida, mas ainda assim queria encontrar tempo para presenteá-la, o problema era que ele não sabia o que fazer, ou melhor, como fazer. Antes de tudo, precisava encontrá-la, o que não seria nada fácil. Procurou, fuçou, revirou, mas não achou. É... Não tinha muito a se fazer. Apesar disso, sabe como é, né? As vontades têm vida própria e vêm e vão quando bem entendem.

Então, ao fim de mais um incomum dia frio naquela cidade litorânea, sentou-se todo agasalhado à mesa, pegou uma xícara do café requentado do dia anterior e começou a matutar o que poderia fazer para presenteá-la. No frio da madrugada, enquanto o vento travava uma feroz luta contra o vidro das janelas, lá estava ele fazendo fluxogramas, gráficos, mapas... Pensou em chamá-la pra sair: quem sabe uma caminhada na praia ao entardecer? Ou então uma ida ao cinema? Quiçá uma ida ao estádio? Calculou as probabilidades. Poucas. E esbarrou, mais uma vez, na dificuldade em encontrá-la...

Os primeiros raios de sol já viam dançando pelos céus, quando, enfim, Eureka! Chegou a uma ideia após meter a mão nos bolsos do casaco e encontrar alguns Cruzados e duas moedas de centavos de Real. Decidiu presenteá-la com palavras.

Levantou-se rapidamente da mesa. Pegou as chaves sobre o sofá. Desceu os quatro andares de escadas e saiu correndo pelas ruas às 5:30 da manhã. E corria; e como corria! Encarava o vento frio das ruas ainda desertas com o peito. Ia pegando todas as palavras que via nas calçadas, nos letreiros, nos prédios, nos outdoors. Ia correndo sem destino. Correndo. Livre pelas ruas, caçando a liberdade das palavras.

Ao fim de 30 minutos, já havia feito a xepa. Já havia pegado todas as palavras que viu pelas ruas. Palavras simples, sem sofisticação, algumas até erradas. Chegou em casa com a adrenalina à flor da pele e sem esboçar qualquer cansaço, apesar da noite em claro e da caçada enlouquecida pelas ruas. Jogou as palavras todas sobre o papel. E começou.

Foram dias assim. Escrevendo. Escrevendo. Escrevendo. Juntando. Separando. Não dormia. Não sentia fome, nem sede. Alimentava-se das palavras e elas lhe bastavam. Era preciso comemorar o jubileu que se aproximava, preparar uma homenagem para ela. Só pensava nisso e em mais nada. E assim fez. Foram 6 dias assim. Um texto para cada dia. Até chegar a esse aqui. Ele sabia que ela não iria receber a homenagem, mas ainda assim quis fazer uma singela e silenciosa homenagem ao seu jubileu de zircão.

Terminado o último texto, ele pegou as palavras que ainda tinham sobrado e as jogou pela janela, para que voassem. Voassem. Voassem. Voassem. E chegassem ao mais longe que pudessem.

Talvez algum dia ela descobra a homenagem, mas isso não é o mais importante.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

[JUBILEU] Fio de voz

Não tenho voz,
Mas preciso lhe dizer.
Eu tento gritar
E você finge não entender.

Preciso de voz
Ou de um megafone;
Talvez de um viva voz
Ou quem sabe do seu telefone.

Alô,
Tem alguém aí?
Consegue me ouvir?
Tu tu tu tu...

Se eu tivesse apenas um fio de voz
Eu virava o jogo;
Eu ganhava a eleição,
Eu tornava tudo novo.

O que sai é apenas uma voz entalada,
Embargada,
Sem força,
Sem nada.

Quero apenas um fio,
Ainda que fino.
Com ele teço uma conversa
E te trago ao meu mundo.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

[JUBILEU] O Texano e o Quadrado

Duelo.
Dois mundos num só.
De um lado o Texano
De outro um qualquer.

Rosa de tão branco
De cabelos loiros rebeldes ao vento
Com ar de relaxado
Posa de bem humorado.

De outro lado o comum.
A cor misturada
A atmosfera cerrada
Brilho nenhum.

O mundo do Texano é um mundo green
Onde tudo é sempre blue
Sem reais preocupações na vida
Tudo é azul.

De outro lado o bobo
Suas preocupações com o mundo
A prosa agressiva
O não poder perder nenhum segundo.

Mas é isso aê!
Diversidade é assim:
Um lúcido na madrugada
Outro bebendo umas geladas...

Vivas ao Texano!
À poesia!
Ao mundo de vidro!
À hipocrisia!

terça-feira, 28 de junho de 2011

[JUBILEU] Arc de Triomphe

E lá se vai mais um pedaço:
Uma parte que fica,
Uma parte que vai.
E parece que tudo ficou pra trás.

O ar de dever cumprido
A sensação de ir ao extremo
O silêncio da satisfação
A leveza da liberdade.

O corpo que dança estático
Os batimentos ao som da adrenalina
A coragem à flor da pele
O grito da transpiração.
Superação.

The answer, my friend, is blowin' in the wind
The answer is blowin' in the wind

segunda-feira, 27 de junho de 2011

[JUBILEU] Não vai subir ninguém!

É preciso ir.
Ainda que ficando.
Então diga ao povo que fico,
Ainda que andando.

Sendo vou estando,
Vou andando ficando,
Vou indo sendo,
Vou estando andando.
Vou.

Pra onde soul?
Dois pra cá.
Quem vou?
Dois pra lá.

Quer saber?
Isto é tudo fuleragem!
Larga mão de ser besta!
Vai indo ficando
E acaba com essa viadagem.

Cansei!
Este negócio de ir ficando
É puro problema verbal.
No fim, quem vai sempre fica,
Quem fica sempre vai.

À garota de nariz torto

sexta-feira, 22 de abril de 2011

[FILÉ COM FRITAS] Monólogo dialogado II

[FRITAS]

*
o diálogo abaixo é fictício e pode ser bem chato para quem não está com saco para textos sentimentalóides (é sério). Sinceramente, se fosse em outro blog e o texto não fosse meu, talvez eu nem lesse... (não estou fazendo doce)


ESTAÇÃO I - Caminito

http://eltonpacheco.files.wordpress.com/2008/05/caminito.jpg

Eu conhecia aqueles olhos suficientemente para saber que eles estavam - mais uma vez - inseguros. Eu via a insegurança naquela escuridão que me puxava aos confins, às retinas. Eu sabia que se não me manifestasse, não saberia o teor daquela incerteza tão explícita naquela implicitude, afinal, ele não entregava facilmente as suas emoções. Então perguntei, sem rodeios (com aquela cumplicidade típica dos amigos):

- Qué pasa, hermano? Aconteceu algo?
- Cara, você acha que um não pode ser um sim? - perguntou-me com um frágil ar de dúvida
- Ah, cara. Você sabe como eu sou bem quadrado. Logo, pra mim, não é não e sim é sim. Caso contrário, não haveria razão para existirem as duas palavras.
- Sim, isso é óbvio. Mas, saindo desse mundo linguístico no qual você está se apegando, ou seja, falando do mundo real; você não acha que uma pessoa pode dizer um não querendo dizer um sim e esperando que o não seja assim entendido? - perguntou ele tentando convencer-me
- Ou seja, se acredito que uma pessoa diga um querendo dizer o outro de propósito? Querendo ser entendida nas entrelinhas? - questionei
- Sim! - disse ele
- Talvez, mas ainda assim, creio que isso seja meio difícil de acontecer, porque a pessoa que faz isso está arriscando-se demais ao querer contar com o feeling da outra pessoa para ser bem entendida. Mas por que essa enrolação toda? Qual é o seu problema, afinal? - perguntei sem muita paciência com os rodeios dele
- Sei que você não gosta de falar sobre mulheres, mas é um problema envolvendo algo dito por uma delas a mim. - retrucou parecendo contar com a minha piedade
- Aff. Ainda bem que você sabe que não tenho muito saco pra ficar falando de mulher, afinal, esse papo é muito imaginativo, não conduz a conclusões e só cria mais dúvidas.
- É... eu sei desse seu bizarro ponto de vista. - respondeu-me entre risos e com um ar mais descontraído
- Aproveite então que estou de boa vontade e me conte o que a guria te fez.


ESTAÇÃO II - O mergulho na Eau Rouge

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6Rc7_u45E4Z0QXSx5z3qWPFo52U6m2Jds2cAqBHegXhJYphuEwgbjbQTpsjNjMIMiDel2WhyphenhyphenQbSaqU8iS5huoG472bFMI44XRhUuQF-2_ixgKhcmiQcFRROuSRxsHD_LXKDPYKEhHnykN/s1600/Eau-Rouge.jpg

- Tipo, eu cheguei numa garota que há tempos eu estava em dúvidas se deveria chegar. Pensei que talvez eu tivesse alguma chance, afinal, ela está há mais de um ano solteira e somos um pouco próximos.
- Hum... - disse eu, dando linha para ele seguir o tango argentino
- Pensei que talvez ela estivesse livre para viver novas experiências com pessoas diferentes e mergulhei na desafiante Eau Rouge.
- Eau Rouge? Que bela alegoria... - retruquei rindo.

Brincando um pouco mais com a alusão feita por ele, falei:
-Você sabe que poucos têm coragem para mergulhar na Eau Rouge com o pé embaixo até que ela chegue ao fim, né?
- Pois é, eu não tive aqueeeela coragem e mergulhei nela todo receoso. Resultado: ganhei um duvidoso não. Um não meio frio, mas embasado em argumentos tão plausíveis que soou como um "tente mais um pouco". Acho que apesar do não, ela quis me dar um sinal verde para acelerar um pouco mais e tentar um novo mergulho - falou-me com o ar de esperança daqueles que estão dispostos a recorrer de uma sentença


ESTAÇÃO III - Alcatraz

http://www.inetours.com/Pages/images/Alcatraz/Alcatraz-Columbus_9617.jpg

Antes que eu falasse algo, ele emendou:

- Eu não consigo imaginar que uma guria tão disposta a viver novas coisas possa estar acorrentada há mais de 1 ano a um ex-namorado que parece não querer nada com ela. O não dela só pode ser um sim!
- Tá vendo porque não gosto de falar de mulher. Não tem o menor sentido ficar perdendo tempo tentando entender a cabeça delas. É perda de tempo, porra! - falei manifestando minha contrariedade em discutir o tema
- Talvez você tenha razão, mas eu preciso de uma orientação, cara. Tipo, o ex dela parece amar todas, mas ela, por algum motivo ilógico de mulher e ainda que não tenha mais nada com ele, parece ainda esperar uma decisão dele. O mais contraditório é que ela gosta de aparentar estar toda segura de si e de ter toda uma vida livre a experimentar.
- Ah, cara... Deixa ela resolver a vida dela com o ex então. Pula fora desse embrolho!
- Mas eu gosto dela! Além disso, não resta nada a se resolver entre ela e o ex; só ela parece ainda não ter percebido! Ela não vê que ela mesma se tranca numa prisão enquanto aguarda uma formal autorização de liberdade para conhecer outros caras. - disse-me como uma metralhadora giratória de argumentos
- Bicho, mulher tem dessas coisas; são muito sensíveis. Se autoflagelam por relacionamentos finalizados, sofrem de modo interminável por essas coisas. Sei lá, elas sofrem demais, falam de marcas, cicatrizes... É claro que eu nunca vivi um fim de relacionamento, mas não consigo imaginar que essas coisas do coração sejam tão dolorosas. Pra mim, apesar das boas lembranças de algo, tudo tem naturalmente uma validade e é preciso saber viver em meio a tantas despedidas: o fim é o fim e ponto. Pra mim, a pior dor é aquela da incerteza, não a de algo que chegou ao fim.
- Num é? Nisso eu concordo com você: o fim é o fim e ponto. É preciso saber se permitir; ter uma nova vida após o final de um relacionamento. É preciso sair da prisão!
- Avançamos um pouco então. - retruquei


ESTAÇÃO IV - O cantar do galo

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- É por isso que acho que o não dela só pode ser um sim! Um não que saiu acriticamente de alguém que se acostumou a dizer não desde que saiu de um relacionamento, já que sem perceber ela se manteve presa. - insitiu ele
- Pera lá, cara! De verdade, acho que você é que está se prendendo. Você está se agarrando às últimas esperanças para querer, como um alquimista, transformar um não em um sim. Talvez, essa garota precise de ajuda para se libertar de uma prisão, mas nada impede que ela, simplesmente, não queira nada com você. É triste, mas pode e tem grandes chances de ser apenas isso. Essa é a solução mais simples, a sua é que é muito complexa... - falei com a certeza de quem enfiava um punhal no peito dele
- Não, cara. Ela pode ter se feito de durona pra mim esperando eu insistir para depois me dar um sim! - falou com o ar descontrolado de quem tenta se segurar às últimas esperanças
- Lamento, cara, mas um não é sempre um não, ainda que sutil. - disse eu, certo de estar cravando ainda mais fundo o punhal
- Eu quero mostrá-la que posso tirá-la da prisão. Eu quero uma chance apenas, apenas uma... - contestou com o esforço daqueles que dão seus últimos suspiros
- Entendo, mas acho que você precisa respeitar o não dessa guria, ainda que ele seja apenas uma decorrência da prisão na qual ela pode ter se lançado ao terminar com o ex. Sabe por que? Um não é sempre um não...


ESTAÇÃO V - Chernobyl

http://hojemacau.com.mo/wordpress/wp-content/uploads/2011/04/Chernobyl.jpg

Depois disso, mergulhamos num sepulcral silêncio. E voltamos a estudar, afinal, isso é o que realmente importa.

Às vezes, o melhor a se fazer é silenciar algumas sensações...

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Transe

Foi, sem sombra de dúvidas, uma das sensações mais estranhas que já senti. Eu não sentia minhas pernas, apesar do fato de que eu estava andando no meio da rua naquele exato momento. Na verdade, eu não andava, eram elas que iam me puxando. Por alguns segundos eu percebi que eu sabia para onde ia, mas que eu não estava indo voluntariamente. Elas me puxavam. Ali, naquele momento, no meio dos carros e de toda a agitação da Enseada do Suá, eu percebi que eu DESPERTEI. Percebi a agonia de minhas pernas; percebi que elas pareciam ter desistido de mim em algum momento, pareciam ter percebido que eu estava em transe e que não cabia a elas nada além de me levar aos lugares de sempre; elas pareciam cansadas e sem forças para lutar contra o transe.

Enfim, eu acordara de uma hipnose que durava desde abril. Três anos antes eu já havia sido hipnotizado, mas o desespero para entrar na UFES era tão grande que eu nem sei ao certo se realmente eu estive hipnotizado. Sem perceber eu fui hipnotizado pela bela sirena, eu não dei ouvidos ao Ulisses e não coloquei cera em meus ouvidos, ou melhor, em meus olhos para não vê-la. Também não me amarrei ao mastro para resistir, eu me entreguei por vontade própria ao canto dela.

Desde abril, aquele estado de delírio que ia e vinha com pouca frequência há três anos tornou-se diário. Eu via o rosto dela em todos os lugares; escutava a voz dela por toda parte; ela estava em todo canto. Na verdade, ela não estava. Eu via onde não havia; eu imaginava o que não existia; eu figurava lugares onde a levaria; pessoas a quem a apresentaria; noites frias em que com ela estaria. Eu tinha sem ter. O pior, senhoras e senhores, era que eu realmente acreditava nisso tudo... Por 4 longos meses eu tive crises diária desse jeito. Imagino agora o desespero de minhas pernas ao ver que só elas restavam sãs nesse corpo em transe.

Mas eu acordei, acordei graças à monotonia, ao comum de cada dia. Acordei ao me deparar com um dia comum, um dia parecido (nunca igual) com os outros, no qual eu pude ver que aquele era o real, não havia aquela dimensão que eu imaginei existir por 4 meses enquanto eu fazia o de sempre sem perceber. Eu vivia como aquela pessoa que não tem o que comer e morde o prato imaginando que ali tem uma suculenta coxa de frango. Eu mastigava pedra pensando que comia algo sofisticado. Acordei quando cuspi um dente pra fora. O comum me chamou de volta. Mas não foi tão rápido quanto parece.

Precisei ter um grande azar para perceber que era sorte. Pensando numa luta de boxe, esse episódio de azar que foi de sorte, foi como um direto no meio do meu nariz no começo da luta, um golpe num momento que eu nem me defendia por não achar que precisava. Acusei o golpe. Passei o resto do 1º Assalto (acho mais legal do que round) me segurando nas cordas, até esbocei sair para a luta, mas o gongo soou e fui para o corner. Quando já começava a administrar a dor do soco inesperado, recebo logo mais um no meio da nuca. Ei! Isso não vale, seu juiz, é antidesportivo. Ele fingiu não ver e abriu contagem para mim. Eu ouvia o som da música, percebia, caído ali na lona, que eu fui enganado por mim mesmo, que achei que aguentava entrar naquela luta. A música tocava bem alto, parecia que era para eu ouvir com bastante atenção e entender tudo. Percebi que ninguém dava atenção para a minha agonia no chão, todos pareciam apenas esperar eu admitir logo que não iria continuar na luta, um resultado esperado. Foi nesse dia, quando recebi o segundo golpe, que percebi as minhas pernas perdidas pelas ruas. Foi nesse dia que o comum me chamou de volta ao real. Naqueles segundos em que estive caído no chão sentindo aquela dor silenciosa do 2º golpe, percebi o quanto eu havia me enganado, o quanto eu havia delirado. Mas eu levantei, eu queria acabar a luta em pé (como diria Reginaldo: se é para morrer, que morra em pé!). Voltei à luta, grogue pelos golpes, tudo parecia rodar um pouco, mas eu ainda ouvia a música tocando; então eis que soa o gongo e eu volto para o meu corner pensando que havia, enfim, acordado.

Tarde demais. Apenas ganhei um ar extra, aquele para me levar de volta ao ringue para apanhar mais. Quem ficou até o fim ainda viu um 3º golpe de despedida, daqueles bem vorazes. Fui à lona, enfim. Senti o gosto da derrota, aquele que deixa a boca seca, que tira a voz, mas que te faz acordar de vez, te faz perceber que você errou em algum momento. Eu errei quando deixei, voluntariamente, a sirena me encantar novamente.

O que importa é que nesta semana eu saí do transe (eu acho), o monótono me chamou de volta ao real. Digo às minhas pernas que não têm mais o que temer, eu as guiarei novamente.

sábado, 12 de junho de 2010

O que é, o que é?

Às vezes eu me pergunto até quando a paciência de vocês comigo vai durar. Vou testá-los mais uma vez entrando em uma temática incomum por aqui... Mas relaxa, podia ser pior, pois eu quase fiz o texto em formato de narrativa.

Sabe um jogo chato? Não, não estou me referindo a algum jogo da Copa do Mundo, até porque sou incapaz de achar qualquer jogo dela ruim, mesmo que seja entre Eslováquia e Nova Zelândia ou entre Argélia e Eslovênia! Falo de um outro tipo de jogo, um jogo cujas regras não são nada claras, se é que há regras. Um jogo que você não pede para jogar e quando percebe já está envolvido nele, jogando ativamente com a "faca entre os dentes".

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO JOGO: Algumas pessoas começam a jogá-lo ainda criança (de maneira bem inocente), outros um tempo depois, mas em regra as pessoas não chegam à idade adulta sem tê-lo jogado pelo menos uma vez. Você pode escolher com quem jogar ou ser escolhido para jogar. Geralmente só duas pessoas jogam simultaneamente, mas não é incomum que mais pessoas estejam jogando também sem você saber. Esse jogo tem tudo para não ser chato, afinal, não é monótono, envolve muitas variantes, muitas surpresas e costuma ser bem dinâmico. A única certeza é quanto ao objetivo a que se persegue.

Eu, volta e meia, me vejo tentando jogá-lo, é algo natural, mas descobri que não o suporto por muito tempo, perco muito facilmente a paciência, "jogo a toalha" com certa rapidez, não suporto o excesso de incertezas que o caracterizam, a sensação de que posso estar sendo feito de trouxa, perdendo tempo, além de estar jogando (eu sei que isso é gerundismo, mas deixa pra lá) por muito tempo sem ver grandes mudanças. Você pode se envolver muito, jogar de boa-fé, investir todo o seu tempo e esforços sinceros, usar diferentes táticas ao mesmo tempo e... não sair do lugar. Confesso que mesmo nessa fase sem vitórias você pode sentir muitas sensações gostosas, mas ainda assim não acho isso algo tão sedutor. Por quê? Muitas vezes você parece estar jogando sozinho com a pessoa que você convidou para praticar, afinal, pela ausência de regras ela pode te ignorar em pleno jogo, nem olhar para você enquanto você acha que está jogando com ela, pode não ouvir as suas palavras, fingir não ver a sua vontade de jogar. Isso me faz, cada vez mais, achar esse jogo chato. Até falar dos jogadores com quem jogo ou joguei eu tenho evitado. Não quero gastar meu tempo com jogadores que nem ao menos reparam que estão jogando ou que preferem jogar com os jogadores errados. Estou cansando.

O problema todo é que as outras pessoas com quem você joga costumam jogar com pouca objetividade, não dão respostas claras, confundem a sua cabeça, ignoram que um dos objetivos finais é haver um consenso entre os jogadores, seja bom ou ruim. Prolongam demais a duração do jogo por não serem mais objetivos... Reconheço que não é um jogo para se jogar objetivamente, isso feriria a essência dele, a sua força motriz. Mas a ausência total de objetividade me incomoda. Eu gosto muito de objetividade e clareza, por isso acabo querendo também tornar esse jogo algo objetivo. Mas sabe o que é pior? Eu posso estar certo, acredito que seria possível ao outro jogador jogá-lo de modo mais objetivo sim, menos complicado, e ainda assim sem ferir a subjetividade que deve guiar boa parte do jogo.

VENCEDOR E PERDEDOR: Ao vencedor, as batatas! Se você vencer, o grande prêmio será a CERTEZA de que o outro jogador aceita repetir todas aquelas boas sensações que vocês sentiram durante o jogo e muitas outras que não puderam ser sentidas. A permanência dessa fase pós-jogo é indefinida, mas deve ser bem aproveitada enquanto durar.

Ao perdedor há muitas possibilidades, a derrota pesa de modo diferente para cada um (varia de acordo com o grau de envolvimento no jogo), sendo que para alguns nem pesam. É mais comum você perder do que vencer, por isso, ao longo da vida você vai ganhando experiência no jogo e vai se importando menos com as derrotas.

É importante ressaltar que mesmo você perdendo, a outra parte não será necessariamente a vencedora, pois não se joga CONTRA o outro jogador, mas EM DIREÇÃO a ele, apesar disso, só é considerado vencedor quem deu o impulso inicial, quem provocou o início do jogo. Vale destacar que há correntes de jogadores, que por considerarem a fase pós-jogo (em caso de vitória) tão boa, acham correto afirmar que os dois jogadores podem ser considerados vencedores. Eu, contudo, creio que esse ponto de vista não pode ser sempre aplicado.

CONCLUSÃO: É evidente que você tem muito mais a ganhar do que a perder se arriscando nesse jogo, o que o faz tão sedutor. Logo, é incomum não querer jogá-lo. Eu também quero jogar! Mas tem me faltado paciência com toda essa incerteza que o guia. Talvez isso se deva ao fato de que tenho jogado uma das piores modalidades desse jogo: à distância, sem contato físico, sem trocar olhares e palavras e sem ter certeza de que o outro jogador (no caso, jogadora) sabe que está convidado a jogar. Tem se mostrado muito chato jogar assim nos últimos tempos.

Preciso jogar outros jogos, jogos com regras mais claras, pensando nisso:

Tobs, traz o WAR do Silva pra gente jogar com a galera. Eu posso ser o exército preto (se você não tiver perdido as peças dele lá na História)
?

terça-feira, 13 de abril de 2010

Incomentável

Geralmente dedico este espaço à razão, mas hoje o dedico às sensações. Não me propus a falar sobre esse tipo de tema no início do blog e garanto que não pretendo seguir nessa linha de textos. Se quiser, não leia, eu o entenderei. Não sou um grande apreciador e nem escritor de poemas, mas acho que somente um deles é capaz de explicar o caldeirão de sensações que vivi hoje (preciso pôr isso para fora, desculpe). Simplesmente incomentável!


ESTAÇÃO 507

Outra vez a covardia,
A inércia forçada e o medo de agir.
De novo NÃO! Eu não queria,
Afinal, esperei tanto por esse dia...
Mas ainda assim ela queria tomar-me para si.

As pernas tremiam, fraquejavam;
Eu chamava o ar, mas ele queria fugir;
O frio na barriga;
Os olhos que não acreditavam no que viam
Brincavam de girar em volta de si.
A covardia vinha, chegava;
NÃO! Hoje NÃO! Deixe-me sentir.
Au revoir, covardia!

Palavras errantes, desajeitadas, teimavam em sair.
Para onde levavam eu não sabia,
Timidez e alegria brigavam dentro de mim.
Ouvi, vi, vi de novo, e vi mais uma vez para garantir, vivi;
Relembrei, nunca esqueci.
Os mesmos olhos tranquilos, os mesmos cabelos envolventes
E a mesma face delicada,
Porém, havia uma pessoa mudada,
Tudo estava em evolução e em reinvenção.
Oh, céus... Queria ser Cronos e segurar cada segundo ali.

Sensações iam e viam
Como numa estação.
Não havia controle, só confusão.
Invadiam sem cerimôinia, todas pareciam precisar estar ali;
Algumas pareciam esperar o trem vir,
Outras esperavam o trem partir
E eu ali, vendo tudo, sentindo tudo.

Quero me enganar nas dúvidas.
Mas por que dúvidas quando tenho certeza?
É a covardia e o medo de agir voltando;
Não consigo evitar, estão voltando a mim!
Dizem: Pare! Não siga mais, o fim da linha é aqui!
Você não tem coragem,
Você não tem permissão para seguir.
Por que ir além? Contente-se.

Contentar-me?
Não, eu quero mais.
Pare! Contente-se!

Foi como numa estação.
Fim da linha? Talvez.
Independente de tudo, eu vi, eu senti.
Aqui jaz um poema, um ato de coragem, não covarde.
Talvez um passo exagerado, mas um basta na incerteza.
Me libertei!

By um exagerado, mas corajoso, enfim


Perdão, leitores! Tive uma recaída.