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quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Sara

Malandro não para, só dá um tempo...

O mundo anda muito chato ultimamente. Aliás, as pessoas andam muito chatas. Histéricas demais, mais precisamente. Um absoluto descontrole. Gritos, rosnados, mordidas, tiros e tudo mais que seja ariano e impulsivo. Um saco.

As pessoas andam muito extremas, armadas com pistolas ou balanças de julgamento nas cinturas. Primeiro atiram e depois julgam.

Perdi um pouco do encanto de escrever, de debater, de ensinar e (porque não) de aprender. Tudo anda muito à flor da pele. 

Voltamos aos tempos em que as pessoas acreditam em ameaça socialista, em necessidade de combater a expansão dos costumes e ideologias que ameaçam a família. Eu realmente ando sem paciência para conversar com essa gente sobre sociedade/política. Não consigo. Simplesmente não consigo.

Comprei uma piscina de plástico e coloquei na varanda do meu apartamento. Não quero saber de mais nada. Só me interessa assistir mesas redondas de futebol e conversar sobre amenidades.

Por menos praia e mais educação. Menos sol e mais inverno. Os tempos de frio ensinam e os dias de calor desatinam. Talvez seja isto: o aquecimento global queimou nossos miolos e elegemos um cara teimoso e retrógrado. Odeio gente teimosa. Na teimosia falta humildade, sobra orgulho e extremismo e escolhas impulsivas. Mas o que é a vida senão uma sucessão de escolhas burras? O problema é quando nós é que precisamos suportar as consequências das escolhas burras do outros e, pior, ter que corrigi-las.

Um freak show.

Estou me tornando, além de velho, um cara chato e azedo. Mas um cara azedo doce, tipo agridoce (aliás, odeio molho agridoce), para o qual as pessoas ainda olham com olhos de carinho e ternura. Esta é a minha salvação, saber que as pessoas ainda gostam de mim e, inclusive, me leem. Inclusive, se eu pessoalmente te falei deste blog é porque gosto muito de você e confio meus sentimentos e pensamentos a você. Não que seja uma honra, mas uma mostra de profundo respeito e consideração por sua pessoa, afinal, não me interessam os holofotes, elogios e etc em torno do que escrevo por aqui. Em tempos de extremismo, ter alguém com quem compartilhar nossos pensamentos, sem medo de tomar um tiro ou ter o coração pesado na balança de Anúbis, é uma honra.

Mas escrever tornou-se subversivo, coisa de ideologia marxista. Então tenho dedicado meus dias a trabalhos braçais, mesas redondas de futebol, pornografia e ao estudo adestrado para concursos. Daqui a pouco, vou capinar um quintal, pela honra do meu querido Brasil. Então não me julgue e não me espere para o próximo texto, porque pode demorar.

Brasil!

sábado, 16 de julho de 2016

Nos deixem sonhar

Aos 26 anos, não se é tão jovem quanto se imagina ser e nem tão adulto quanto se parece ser. 

Mas na essência, ainda me imagino jovem como há uns 6 anos. Inclusive, politicamente.

Desde 2010, tenho me alinhado politicamente às ideologias de partidos que comumente são rotulados de "extrema esquerda". Tudo bem, sou canhoto, isso explica em parte minha inclinação para a esquerda. Mas mais do que isso, eu ainda sou jovem.

Quando se é jovem, a cabeça pensa para frente, com os olhos no futuro. E quando um jovem pensa em futuro, ele pensa com liberdade, projetando sonhos, ideais e utopias. Ou ao menos assim deveria sempre ser.

O jovem não pode ter compromisso com a ordem comum das coisas. Não tem patrimônio e privilégios a proteger e, por isso, politicamente, tem liberdade para se aliar com os ideais de partidos que não são conservadores e não estão comprometidos com a manutenção do status atual das coisas. Ser jovem é olhar, com esperanças, para o longo futuro que tem pela frente.

Me arrisco a dizer que uma sociedade que sufoca os sonhos, ideais e utopias de sua juventude não tem futuro. O futuro de longo prazo é construído pela juventude e não pela atual geração adulta, que só consegue ver o futuro até onde a neblina de preocupações deixa ver. O jovem é imprudente, ousado, consegue enxergar além, embora não saiba ao certo distinguir o que seja futuro do que seja fantasia. Mas é assim que deve ser. A juventude precisa sonhar, precisa acreditar em teorias incertas.

E se a "extrema esquerda" tiver errada? Ela terá errado como todos os grandes partidos que se revezam no Poder têm errado. Os erros se sucedem porque os mesmos partidos e ideologias se revezam ao invés de se sucederem. Nunca saberemos se a esquerda está errada se nunca a deixarmos governar. Ah, não me venha com essa de que PT era governo de esquerda, porque no dia que Lula indicou Henrique Meirelles para o Banco Central em seu primeiro mandato, ele deixou bem claro qual era a política econômica do PT.

Quando o jovem defende socialismo, ele não defende o socialismo de Stalin, de Fidel... A atual juventude não viveu esse socialismo. Ela defende o socialismo que acredita ser possível e não o socialismo que não assistiu. Essa é a dificuldade que a geração adulta tem de entender como ainda se pode acreditar em socialismo. Eles não conseguem ver o socialismo além do socialismo que viram acontecer, perderam a capacidade de sonhar, idealizar.

Uma hora, todos nós, paramos um pouco de acreditar nos sonhos e em ideologias. Contudo, não podemos impedir as pessoas, sobretudo os jovens, de continuar sonhando e acreditando.

Talvez em mais alguns anos eu deixe de ser um jovem no coração e me torne um liberal, daqueles que defende a confiança do "mercado", a necessidade de privatizar os serviços essenciais. Porém, nesse dia, se eu esquecer, me lembre de não impedir ninguém mais jovem do que eu de sonhar, mesmo naquilo que pareça sem qualquer sentido.

Nunca me esqueci do dia que eu estava fazendo a mão um fichamento avaliativo sobre um texto de umas 150 páginas e ouvi, sentado na mesa da copa, sem poder parar para ver a TV que estava na sala, o discurso mais inspirador que um jovem da minha idade poderia ouvir. Nesse dia, fiquei com lágrimas nos olhos e continuei meu fichamento com a inspiração de que aquele sofrimento não era mais forte do que meu poder de sonhar.


domingo, 24 de abril de 2016

Histeria!!!

Tempos de intolerância, nos quais sair às ruas de vermelho pode ser ato de subversão e andar de amarelo é sinal de cidadania.

Baile de favela. Ops. Baile das cores. Vermelho, cor de gente ruim. Amarelo, cor de gente do bem.

Fui trabalhar de vermelho no dia pós-golpe e fui olhado, mais do que quando eu usava vermelho no ano passado. Atualmente, quando me visto de vermelho, me sinto, de certa forma, praticando um ato atentatório, quase um terrorista. Mas me sinto livre e bem comigo mesmo. Sei lá, morenos ficam bem de vermelho.

A democracia não tem cor, ela tem, na realidade, a pluralidade de todas as cores. Mas se vermelho se tornou a cor da democracia, é de vermelho que vou, ainda que não sendo PT ou comunista.

Vivemos tempos de histeria. E não é pelos Beatles.

É preciso gritar histericamente. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

Apontar o dedo para "ladrões", "corruptos", "defensores de bandido". Gritar palavras de ordem. Pedir a volta da ditadura ou da monarquia (juro que até hoje não entendi o que pensam as pessoas que levam bandeiras do Brasil Império para manifestações patriotas. Até se fossem bandeiras portuguesas eu entenderia melhor). Como no livro "1984", quem não participa dos "dois minutos de ódio" deve ser olhado como suspeito.

Tempos loucos em que cores podem significar coisas que não passam pela mente; tempos de caça àqueles que pensam diferente; tempos de violência (intelectual, física, espiritual).

Me considero um pouco profeta por causa deste texto, porém ser profeta não costuma ser algo muito bom, principalmente em tempos de histeria coletiva. Gosto da palavra "histeria", parece exprimir caráter mais doentio do que a palavra "loucura", talvez porque muitos "loucos" não são loucos, mas gente histérica é sempre gente histérica.

A corrupção não nasceu em 2003 e tampouco os petistas do governo federal são mais corruptos do que os vereadores, prefeitos, deputados, governadores, todos ladrões, dos mais variados partidos, que temos aos montes por aí. Aliás, tampouco os petistas do governo federal são mais corruptos do que os tucanos do longínquo governo anterior. Inclusive, você já viu um tucano? Coisa mais covarde do mundo escolher uma ave tão linda, original, de cores tão vibrantes, para representar ideias tão conservadoras.

Não acredito muito em manifestações de rua para cobrar alguma coisa em nível federal, justamente porque tenho a sensação que em Brasília as coisas são decididas influenciadas somente, e digo, único e exclusivamente, por motivos políticos, por benesses possíveis de serem auferidas pelos políticos e seus tão estimados familiares. Se lixam se estamos nas ruas, como fizeram na época das "Diretas Já". Manifestações de rua com fins federais não mudam voto de indecisos e nem geram leis; no máximo, dão voz à quem quer gritar e não quer esperar até as eleições.

Mas manifestações contra problemas locais podem mudar muita coisa, visto, por exemplo, que, quando pressionados por câmaras cheias de gente, os vereadores de várias cidades "ficam com medo" e votam contra seus aumentos salariais que já estavam combinados nos bastidores políticos. Contraditoriamente, no entanto, raramente vamos às ruas contra problemas locais. Vai entender.

Acredito que serve mais à "luta" qualificar gente comum, que veio do povo, para ocupar cargos com poderes decisórios, seja no Judiciário, em escolas, na área médica e por aí vai. É como o golpe de 2016; ele não é feito pelas pessoas de amarelo nas ruas, mas por pessoas de aparência asséptica, cheias de ideologia, com poder para fazer o golpe independente e contrariamente da vontade da maioria. Dentro dessa lógica, por exemplo, as cotas são uma puta estratégia de revolução, de tentativa de mudar o país pelas instituições, criando oportunidade de colocar gente "de cor", que sabe o que é a vida fora do ar condicionado, em cadeiras que hoje, infelizmente, são ocupadas quase que na totalidade por quem não representa os interesses da maioria da população e tem alergia ao povo.

Eu realmente me assusto com a cisma que pessoas histéricas têm com o governo PT, com o MST, com os sindicatos. As pessoas não conhecem como funciona reforma agrária e, mesmo assim, se sentem no direito de dizer que MST é cheio de gente à toa, que tem preguiça de trabalhar e quer terra de graça para vender. No domingo passado, quando Cunha comandava o culto do golpe, encontrei uma vizinha no elevador que me disse que tinham saído vários ônibus do ES rumo à Brasília para acompanhar a votação e que "devia ser tudo gente do MST". Será que patriotas não viajam de ônibus? Deve ser mesmo coisa de esquerda, de gente pobre, esse negócio de viajar de ônibus. Sinceramente, não consigo nem argumentar com gente assim, prefiro ficar mudo e deixá-la pensar que me convenceu, ou não, enquanto torço para descer logo no meu andar.

Tem gente que pede, urgentemente, que "libertem o Brasil"; tem gente que diz que "não podemos deixar o Brasil virar uma Venezuela". Sempre me espanto com essas comparações. Você já foi ou conhece alguém que vive/viveu na Venezuela? O que você conhece da Venezuela além do que relatos? E da Coreia do Norte? Tenho como filosofia de vida que não dá para emitir opinião bem fundamentada sobre lugares e gente que não conhecemos. A Venezuela pode ser uma merda, ou não. Macri, o novo presidente argentino, por exemplo, tá fazendo um monte de reformas liberais, que podem não dar certo, e dizem que o Brasil precisa virar uma Argentina. Oi? Ninguém sabe o resultado das reformas feitas por ele, até porque não houve tempo para resultados seguros, e querem nos comparar à Argentina como modelo. Seja com Venezuela ou com Argentina, não dá. O PT quer implantar uma ditadura de esquerda no Brasil, com as maiores taxas de juros do mundo e permitindo que bancos tenham lucros bilionários? Realmente, se o PT tá querendo fazer isso aqui virar uma ditadura de esquerda usando desses métodos tão capitalistas, merece mesmo ser tirado do poder por incompetência.

Em tempos de histeria popular, Hitler fez sabões de judeu e os alemães apoiaram ou estavam tão cegos de histeria que nem perceberam.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

God bless America

Volta e meia eu me pego sentindo inveja dos americanos (norte-americanos ou estadunidenses, se você preferir). É estranho sentir inveja de alguém que você não conhece de perto, mas apenas de ouvir dizer. Eu sinto. Sinto inveja da história construída por meio de luta e do sentimento de nação dos americanos. Sinto inveja da história que cada estrela daquela bandeira traz em si.

Mas tem uma coisa que me desperta uma inveja ainda mais acentuada: a maturidade dos meios de comunicação norte-americanos, mais precisamente, a coragem que eles têm de serem parciais. Sim. Eles são parciais. E eu acho isso fantástico, porque eles não têm medo e nem vergonha de serem assim.

Já aqui, abaixo da Linha do Equador (ou do pecado), se uma emissora assume ser parcial, ela é praticamente "excomungada". Aqui, os meios de comunicação, sobretudo os de televisão, enchem a boca para dizer que são imparciais, como se ser parcial fosse um problema. A realidade, senhores, é que nossos meios de comunicação são tão ou até mais parciais do que os americanos, mas não assumem. É aí que reside a covardia, na minha opinião.

Ser um meio de comunicação parcial não é um problema quando o público tem conhecimento deste fato. Nos Estados Unidos é muito interessante ver como algumas emissoras de TV (como a Fox News), alguns programas, apresentadores e jornalistas se posicionam claramente em prol do Partido Democrata ou do Partido Republicano durante as eleições. E eles não sentem vergonha nenhuma disso. Todos sabem previamente que estão diante de uma emissora/programa/jornalista republicano ou democrata. Aliás, é até engraçado ver programas de humor fazendo campanha contra alguns candidatos. Acho isso lindo, porque representa o que de fato é a liberdade de imprensa.

Já aqui, há revistas, canais de televisão e jornalistas anti-governo e pró-governo que fingem que são imparciais e que não têm interesses políticos. Pelo amor de Deus! Por que fazem isso conosco? Por que não assumem de que lado estão? Não aguento esse papo de imparcialidade. Ninguém consegue ser imparcial de verdade. Não tenho prova científica, mas não acredito que somos capazes de agir imparcialmente em nada. A imparcialidade pode e deve ser uma meta (utópica, aliás) a ser observada para a prática de algumas condutas, mas não podemos nos iludir achando que somos capazes de atingi-la. Cada escolha que fazemos já traz em si um pouco de parcialidade, um pouco de nós mesmos, seres parciais por natureza.

E como é que um meio de comunicação, que, além de ser formado por pessoas de concepções de mundo das mais variadas, é alimentado por interesses de seus financiadores, pode se dizer imparcial? É uma piada. Mas não no Brasil. Aqui é um lugar meio estranho pra algumas coisas. Sei que não tem nada a ver, mas lembrei de uma frase de Tim Maia bem assim: "O Brasil é o único país em que além de puta gozar, cafetão sentir ciúmes e traficante ser viciado, o pobre é de direita." Faltou dizer que aqui a imprensa também é imparcial.

O que fazem com a gente é covardia. Por que não se assumem? Por que não dizem logo quem querem que seja o próximo presidente? Aí sou obrigado a ficar vendo William Waack abrindo 8 em cada 10 Jornal da Globo fazendo uma análise crítica (geralmente um breve comentário de uns 15 segundos) contra o governo federal antes de anunciar as manchetes do jornal. Porra! Assume logo. Tá chegando as eleições e já tá começando a campanha partidária disfarçada. No auge do processo eleitoral, os meios de comunicação vão dizer que "estão fazendo uma cobertura imparcial das eleições para ajudar o eleitor a conhecer todos os candidatos e fazer sua escolha democrática". Bla bla bla. E depois de acabar de falar isso, vão fazer coisas como o que fizeram com o candidato que liderava até então as pesquisas pra prefeitura de São Paulo em 2012 (coincidência ou não, ele liderava as pesquisas e depois nem foi pro 2º turno). Só pra constar, a ideia era dar ao candidato a oportunidade de, por alguns minutos, falar de suas propostas para a cidade...


Ser parcial não é um problema, desde que se assuma isso ao público. É um crime enganar os telespectadores dizendo-se imparcial. Eu, como telespectador, gostaria de saber quem apoia quem, porque pelo menos assim saberia ao assistir ao canal "X" que ele está inclinado a favorecer "A" ao invés de "B". Ou seja, eu saberia previamente o que esperar de cada meio de comunicação. Ora, por que a revista Veja não se assume? É pecado dizer que apóia PSDB e DEM e que não gosta do PT? Não é pecado ter um lado, mas é uma tremenda covardia fingir e negar de pé junto que não tem.

Ano que vem vai começar tudo de novo. A mesma historinha de imparcialidade/democracia. Vai começar a festa da hipocrisia. Acabou a ditadura, meus filhos. Democracia requer meios de comunicação livres para serem o que quiserem, inclusive parciais politicamente. Na democracia ninguém precisa fingir nada. Pra mim, mais importante do que se dizer imparcial, um meio de comunicação precisa ter transparência, deixar claro quais são suas verdadeiras convicções.

Mas fazendo um meia culpa. Será que nós, brasileiros, já temos maturidade suficiente para lidar com meios de comunicação assumidamente parciais como nos EUA? Será que não somos nós que de alguma forma ainda preferimos acreditar em imparcialidade e exigimos isso dos meios de comunicação? Você já viu a reação que muitas pessoas têm quando alguém fala daquela revista chamada Carta Capital? Dizem coisas do tipo "Ah, aquela revista é de esquerda, não dá pra dar credibilidade ao que ela diz do governo". Ora, melhor ler sabendo que ela é assumidamente de "esquerda" do que ler achando que ela é imparcial. Pelo menos eu penso assim. Mas às vezes tenho dúvidas se de fato as pessoas preferem isso. Enfim, falei demais.

Por Don Quasímodo, um apoiador assumido dos Sans Culottes.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Mamando en las tetas

Quando você ainda era criança, o que você queria ser quando crescesse? Eu, conforme alguns amigos próximos já sabem, queria ser padre. Por quê? Eram dois os motivos fundamentais: 1 - padre não é assaltado e nem sequestrado (como eu era inocente); 2 - ser padre daria a certeza de que eu iria para o céu. O resto era blá blá blá ou mi mi mi, pois essas eram de fato as minhas motivações mais concretas. Por incrível que pareça eu tive esse desejo por mim mesmo, mas é claro que todo mundo achava isso muito "bonitinho" quando eu ainda era um niño. Passaram-se os anos e eu comecei a perceber que aquelas duas motivações iniciais para ser padre não tinham muita sustentação.

No ensino fundamental eu era bom aluno em praticamente tudo, logo, eu tinha um leque muito grande de profissões em aberto. Eu tinha fortes inclinações a ser engenheiro, apesar de eu não saber exatamente o que um fazia. Todavia, o Ensino Médio me mostrou que eu não era bom no que eu gostava (matemática) e meu vasto leque foi diminuindo até eu perceber que eu só tinha algum futuro em coisas envolvendo história ou geografia. O que dá pra ser com essas habilidades? Hã... Hum... Ah, já sei! Professor. Professor? Sim, professor (para o desespero da minha mãe...) Ao mesmo tempo em que me apaixonei pelo magistério da história, percebi que não seria justo com o esforço da minha mãe ao longo de tantos anos, eu, no fim das contas, virar professor de história, ganhando uma merreca e sem condições de dar uma vida menos sofrida para ela. Convém salientar que até os 45 do 2º tempo ainda cogitei ser padre, mas vi que apesar da vontade espontânea que me movia nessa direção, eu, como filho único de uma mãe solteira não deveria largá-la, de certa forma, no desamparo financeiro, apesar de saber que ela sentiria um orgulho tremendo de um filho padre, ainda que em troca tivesse que se rasgar de trabalhar até os 70 anos.

Ah, queria deixar um agradecimento: Obrigado, Brasil, por não dar aos seus filhos a possibilidade de serem o que sonham sem correr o risco de não conseguirem viver dignamente. Obrigado, Brasil!

Então eis que abri mão da paixão e me entreguei à necessidade. Fui bater na porta do Direito, sem saber muito o que encontrar, é verdade, mas pelo menos vendo uma possibilidade de luz no fim do túnel. Embarquei em mais um típico sonho brasileiro. Fui atrás do Eldorado. E de repente percebi que eu não era o único. Em meu 1º período na Universidade eu nem sabia ao certo o que eu queria com o Direito, enquanto alguns colegas já diziam confiantes quererem ser concurseiros. Alguns largaram outros cursos, outras profissões, tudo em busca da incerta vida de concurseiro. Com o tempo eu percebi que eu precisava entrar nessa também, pois é muito difícil, por exemplo, advogar sem um empurrão inicial de alguém da área. Com o tempo percebi e cedi. Vou ser concurseiro também, apesar de ter nojo de afirmar isso. Explico.

Ninguém vira concurseiro no Direito por inocência. Sabe aquele sonho infantil de ser alguma coisa quando crescer? Você abre mão dele ao virar um concurseiro no Direito. Não venha me dizer que alguma criança sonha em ser, por exemplo, Auditor Fiscal, Analista Judiciário, Técnico Judiciário, Juiz Substituto. Acho que não, né? Ao fazer Direito pensando em ser um concurseiro, as pessoas, em geral, têm em mente algumas ideias centrais como estabilidade no emprego e financeira e poder. Elas abrem mão de suas aspirações mais antigas (de seus sonhos) e todo o resto torna-se secundário, o que é o grande risco a meu ver. As pessoas passam a "sonhar" em ter trabalhos burocráticos e chatos em troca de alguns mil réis por mês ao invés de levar a vida fazendo aquilo que realmente sentem prazer em fazer. Ah, o trabalho é chato, eu não tenho vocação pra isso, mas foda-se, dane-se vocação, o que importa é que vou ter dinheiro pra aproveitar a vida nas horas livres. Vale a pena essa troca? Acho que a maioria das pessoas pensa que sim, afinal, se não fosse assim, não teríamos tantos novos concurseiros na praça.

No fundo, no fundo, as pessoas querem passar num concurso para não precisarem mais trabalhar. E depois disso poder "viver". Sim, no fundo o pensamento é esse. Passar num concurso público tornou-se algo como ter a vida ganha. Passar e mamar pelo resto da vida nas tetas do Estado. Não pode ser assim, senhores. Esse pensamento é muito individualista e esquece que o Estado precisa satisfazer às necessidades mínimas da sociedade. É pensando assim que temos um Estado obeso de servidores, muitos pouco produtivos e cagando para os que dependem de seus serviços. A moralidade administrativa e a eficiência tornam-se palavras a se decorar para passar em provas de concursos e a se esquecer quando passar nelas. Foda-se a sociedade, foda-se se um Estado gordo e gastador fica sem dinheiro para atender a necessidades mínimas como saúde, educação, segurança, cultura, emprego. Foda-se o Estado. Foda-se o mundo. Eu só preciso ganhar R$ 15.000,00 por mês e mamar muito nas tetas do Estado. Resultado: um bando de cargos ocupados por gente sem vocação para o serviço público e sem interesse e comprometimento em fazê-lo melhor. Isso porque estou falando apenas dos cargos concursados, nem estou focando meu discurso nos cargos em comissão, porque aí o desleixo é total e entra todo tipo de gente para mamar, ainda que temporariamente, na grande teta do Estado brasileiro...

Não pode ser assim. Pouco se fala, por exemplo, que um aprovado em concurso passa por um estágio probatório no qual ele pode não ganhar estabilidade no cargo caso se mostre inapto às funções dele. Parece que é só passar e mamar eternamente. Mesmo sem saber o que um profissional daquele cargo faz, o concurseiro se inscreve disposto a matar para ocupá-lo, mesmo que o ofício seja chato e burocrático como assinar e carimbar folhas. Dane-se a vocação. Essa palavra não existe para um legítimo concurseiro. Para ele tudo é muito utilitário. Os valores e princípios que norteiam o direito só servem para serem decorados para fazer provas, o que vale é saber que a dignidade da pessoa humana e o valor social do trabalho estão elencados pela CF como fundamentos da República Fedetativa do Brasil, mesmo que ele nunca tenha parado para analisar, por exemplo, o que seria essa tal dignidade humana. No fim, o que vale é a segurança de ter sempre uma teta brasileira para mamar. Talvez isso ainda seja um pouco daquela mentalidade dos imigrantes que vieram desde 1500 a compor o povo dessa terrinha. O Brasil sempre foi um ótimo lugar para pessoas interesseiras atrás de riqueza. No fundo, no fundo, as pessoas sempre viram esse país como local de garimpagem. Lugar de extrair tudo até a última gota e depois se mandar. Acontece que o tempo passou, a mentalidade ficou e os garimpeiros do século XXI não querem se mandar, pois essa terrinha pode ser muito prazerosa para aqueles que têm muito dinheiro para usufruir dos prazeres dela. Isso explica muita coisa: desde os condomínios fechados dos ricaços (ilhas onde podem se isolar daquele bando de gente pobre e feia que estraga a vida sossegada e prazerosa no Brasil) até o descaso geral com a construção de uma nação igualitária capaz de oferecer a TODOS uma vida digna.

Se fosse só a questão do leite e da teta tava bom, mas o negócio muda de figura quando se percebe que mais do que dinheiro e estabilidade, alguns querem apenas o status de alguns cargos públicos, ou seja, querem apenas PODER. Esses são os piores, os mais egoístas e utilitaristas, pois pelo desejo de ter poder se corrompem, se vendem e atropelam todos que puderem, ainda que remotamente, atrapalhar a sua escalada ao poder. É por causa desses caras que temos tantos corruptos ocupando cargos públicos, tantos promotores sem o menor tato para entender a realidade social por detrás da criminalidade e tantos juízes sem a menor aptidão para decidir os rumos da vida das pessoas comuns. Fecho esse parágrafo com a frase de um colega de curso mais velho que apesar de não precisar fazer Direito para ter uma vida financeira estável quis mais status e dinheiro. Diz o profeta com a sua poética visão do mundo: "Só existe uma coisa melhor do que fuder: é mandar, é ter poder." Bravo! Bravo! Bravo! De pé, senhores! Quero muito encontrá-lo ocupando um cargo público daqui a alguns anos... Ele tem um tato espetacular para o serviço PÚBLICO.

Eu fico envergonhado por dizer isso, mas também estou atrás de um pedaço da teta do Estado, talvez com motivos mais nobres do que os de alguns (o que não muda tanto as coisas), mas estou... Talvez como consolo, eu digo que quero mais. Eu também (olha o segundo plano que eu falei antes) quero trabalhar para e pela sociedade. Eu quero ajudar a construir um mundo mais justo (dentro das minhas possibilidades). Talvez dê para unir o meu lado padre com o meu lado professor e ainda ganhar dinheiro, quem sabe? O que tenho de concreto no momento é que abri mão de meus sonhos, assim como os milhares (quiçá milhões) de concurseiros que têm por aí, e que estou na luta ao lado deles.

Obrigado, Brasil, por criar uma geração sem sonhos e utilitarista!

Deixo um abraço especial para todos aqueles que não venderam seus sonhos à necessidade ou à cobiça e que estudam para ser o que sempre sonharam, assim como àqueles que dão duro todos os dias, mas sobrevivem do ofício que amam. Vocês são heróis no Brasil. Os verdadeiros heróis! Um abraço especial aos professores!

Àqueles recém-chegados ao Direito que vieram atrás do Eldorado, que vieram para ser concurseiros (único e exclusivamente): sejam bem-vindos. Apenas queria fazer um pedido a vocês: não sejam tão utilitaristas, pensem um pouco também acerca do significado daquilo que estudamos todos os dias, sintam as leis. Com certeza isso não te aprovará num concurso, mas talvez te fará um profissional melhor quando passar em um.

Aos que já mamam en las tetas e que não querem e não sabem fazer outra coisa além disso, deixo a mensagem dada por Maradona à imprensa argentina depois de classificar a equipe à Copa da África: "QUE LA CHUPEN Y QUE LA SIGAN CHUPANDO".

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A guerra dos mundos

Era uma vez um mundo verde musgo. Tudo nele era rígido, tradicionalista e repressivo. Um dia esse mundo "caiu" e mudou de cor. Diziam que o mundo que o sucederia seria multicolorido como o povo que habitava esse mundo.

Anos depois e tudo ficou azul. A economia era azul. Diziam que o povo seria pintado de azul. Pintaram as empresas que sempre foram verde e amarelo de blue/bleu//blau/azzurro... Enfim, pintaram tudo que viram de azul, menos o povo. Esse, como sempre, manteve-se esquecido, esperando ansiosamente ser pintado com o mesmo azul que pintava as felizes pessoas que haviam recuperado o status social prejudicado anos antes por uma série de problemas econômicos vividos pelo país antes dele ficar azul. Uns poucos foram pintados de azul. Aqueles, de sempre. Querendo manter tudo azul, os azuis conseguiram por meio de uma manobra, um tanto o quanto marota, criar a possibilidade de reeleição para o cargo de presidente. Era preciso pintar ainda mais de azul aqueles que já eram azuis por natureza. E conseguiram, afinal, aquele bando de gente pintada de invisível tinha muito medo do vermelho em 1998. Sei lá, vermelho assustava, lembrava sangue.

http://veja.abril.com.br/blog/10-mais/files/2009/12/fhc-1998.jpg

E lá fomos nós, para mais 4 anos azuis. Ou melhor. E lá se foram eles para mais quatro anos. Os invisíveis continuaram invisíveis, comendo as migalhas deixadas pelos azuis no prato. Migalhas como um salário mínimo de fome aqui, um tal de bolsa escola acolá. Mas tudo era azul, nunca se esqueça disso.

Então eis que chegamos em 2002 à beira do caos social. Era matar ou morrer. Ou os invisíveis recebiam uma cor ou iriam matar todos os azuis. O vermelho não assustava mais os "sem-cor", mas apenas os azuis. Para aqueles que nunca foram pintados, o vermelho não lembrava mais o sangue, mas a esperança, a esperança era vermelha. O vermelho representava o sangue dos azuis que iria jorrar à força naquele mês de outubro histórico. Aquelas eleições foram algo do tipo luta de classes: pobres invisíveis X ricos e classe média azuis. Os pobres, como maioria, venceram, enfim!

http://www.olhave.com.br/blog/wp-content/uploads/2009/02/posse-de-lula.jpg

E vieram os vermelhos. A porrada vinha de todos os lados. "O país vai quebrar". "A inflação vai voltar". "O Brasil perderá investimentos externos". Sim, senhores. A preocupação era totalmente FINANCEIRA. O medo não era em relação ao nível de vida das pessoas. Sei que a economia é um dos fatores que levam a um bom nível de vida da população, mas não é TUDO (isso é meio óbvio, mas os azuis nunca perceberam isso, até hoje). Mas aquele vermelho não era o mesmo vermelho de anos atrás. Era um vermelho meio azul. Vermelho com azul é roxo? Se for, digo, sem pudor que os vermelhos foram perdendo um pouco daquele fogo inicial e ficando roxos. A economia continuou como era no tempo do mundo azul. Na verdade, ela ficou ainda melhor, afinal, enfim, os invisíveis começaram a aparecer. Foram incluídos na economia nacional. Populismo? Assistencialismo? É fácil dizer isso morando no sudeste e nunca tendo passado fome. Mas garanto que para aqueles que não tinham nem o que comer na época do mundo azul, os programas sociais representaram dignidade, representaram vida, representaram ser vistos pelos caras lá de cima. Para quem nada tem, metade é o dobro, senhores. Não negue o que comer a essas pessoas alegando que isso é assistencialismo e populismo, afinal, os azuis, em nome de não serem taxados de populistas, nunca nem botaram comida no prato de milhões de invisíveis por 8 anos! Prefiro a informalidade,a quebra de regras que alimenta do que o moralismo que causa fome e morte. Veja esse "assistencialismo populista" pelos olhos de quem sempre se acostumou a passar fome desde os primórdios desse país.

http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/imagem/cl_3930.jpg

Corrupção. Mensalão. Dinheiro na cueca. Fizeram o caralho para derrubar os vermelhos. Mas eles nunca caíram. Por quê? Porque eles alimentaram e deram cor àqueles por quem os azuis nunca olharam. Quem antes morria de fome, será eternamente grato aos vermelhos, afinal, não tiveram suas vidas salvas pelos azuis em 8 anos.

Não nego que o governo vermelho não foi perfeito, longe disso. Mas também não sou hipócrita para afirmar que o mundo azul foi melhor.

Mas vamos ao que interessa: 2 º turno das Eleições 2010. Ou melhor. A guerra dos mundos: Mundo Vermelho X Mundo Azul. Não há propostas inovadoras para os velhos problemas. Há apenas uma rinha de galo na qual o Governo Lula duela contra o Governo FHC. Virou um duelo de desempate, algo como: seus 8 anos foram piores que os nossos. Estão discutindo o passado, senhores. Querem que domingo façamos o julgamento de qual governo foi melhor. Querem a prova real (aquela das continhas da 2ª série). Querem o tira-teima. O duelo de desempate, afinal, tá 8 a 8. As propostas de Serra e Dilma somem em meio ao debate de qual governo foi melhor. É como se estivéssemos que votar entre Lula ou FHC no domingo. Ninguém promete o novo, mas apenas retomar o velho. Saudades da 3ª via apontada por Plínio, que tinha razão em afirmar que Serra e Dilma eram muito parecidos. Vou além, a marionete dos intelectuais verdes, ops, Marina Silva, também não passava, no fundo, no fundo,
de um vermelho com azul com uns retoques de verde. Discurso mole para questões sérias. Papo antenado com o século XXI, agradável aos ouvidos jovens e intelectuais, mas que no fundo queria agradar a gregos e troianos com um discurso meio molenga, que dizia querer mudar, mas sem mudanças radicais. Ou seja, ela também era vermelho com azul... Duvida? Pesquise o discurso dos Partidos Verdes da Europa e como eles governam quando no poder. Esse verde bonito e que parece esperança camufla muita coisa dentro...

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Tá ridículo! Agressões recíprocas para todo lado. Até bolinha de papel na careca vira artefato de guerra e ameça à democracia (sim, a VEJA estampou o episódio da bolinha como um atentado à democracia). Os azuis dizem que os vermelhos são corruptos, apoiam Sarney, Collor. Mas e eles que sustentaram ACM (vulgo Toninho Malvadeza) por longos anos? Ah, esqueceram disso? Que partido HONESTO aceita fazer aliança com o DEMOCRATAS (ex-PFL), o partido mais corrupto de todos os tempos? Responda-me. Você acha normal o lema "O Serra é do BEM"? Isso não deveria ser algo presumido em um candidato à presidência? Por que é necessário reforçar essa ideia? Aí tem... Ah, o vice do Serra, Sr. Índio, é um ilustre desconhecido empurrado goela abaixo pelo DEMOCRATAS pra cima do Serra. Pareceu barganha. Quem é esse cara? Tenho medo dos azuis. Tenho medo dos que usam a religião como argumento para ganhar votos no século XXI. Tenho medo daqueles que mostram pastores pedindo votos para um candidato ao invés de propostas. Tenho medo daqueles que falam que se a candidata X ganhar o aborto será liberado. Por favor, alguém poderia avisar ao povo que o Presidente da República não cria leis, e sim o Legislativo? Alguém poderia avisar ao povo que um presidente não pode instituir o aborto por Decreto ou Medida Provisória? Tenho medo dos que exploram a ignorância dos mais humildes para ganhar voto. Tenho medo dos que pregam um futuro de depravações morais caso o vermelho vença (quase o apocalipse). Tenho medo dos que tentam se aproximar dos humildes prometendo um salário migalha maior, digo salário mínimo maior, e um 13º Bolsa Família. Tenho medo dos que chamam os aposentados de vagabundos e anos depois prometem aumentar o salário dos pensionistas em 10%. Tenho medo dos que tentam comprar o povo com esmolas maiores ao invés de projetos de inclusão social.

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Falam que o vermelho tá criando uma ditadura Chavista, que pintar tudo de azul irá oxigenar a política brasileira. Falam que a alternância de poder faz bem à democracia. Mas não foram vocês que criaram a reeleição para presidente? Contraditório... Criticamos a política americana pela falta de alternância no poder e fazemos igualzinho. Azul - Vermelho - Azul (de novo? Isso é alternar?). Pobre Plínio, que pena que daqui a 4 anos será a vez do Verde avermelhado em tons de azul chegar ao poder, queria tanto ver o seu vermelho sangue no poder... Que meu idolatrado Cristovam Buarque não ouça isso...

Só pra terminar, dizem que a Dilma é marionete e não sabemos de quem. É verdade. Marionete ela é. Mas garanto que aqueles que irão manipulá-la não fugirão muito da fórmula que deu tão certo nesses 8 anos, afinal, isso significaria perder o apoio popular. Meu medo é daqueles que estão junto com o Serra, pois esses conhecemos bem e SABEMOS do que são capazes, né, DEMOCRATAS? Sei que Dilma tende a ser 4 anos de estagnação, mas prefiro um mundo vermelho desbotando do que um novo velho mundo azul que irá descolorir todos aqueles que, enfim, ganharam cor a partir de 2002.

Desculpem a franqueza, mas prefiro ser claro no meu voto vermelho, assumir uma posição, do que me dizer imparcial, como a nossa imprensa covarde, e minar um candidato pelas costas, sem os leitores saberem claramente. Essa imprensa desrespeita a nós como público. Prefiro a sinceridade dos meios de comunicação americanos, que sempre assumem, PUBLICAMENTE, uma posição nas eleições. É pecado ser parcial? Não, desde que se avise isso ao público.

E o mundo continuará vermelho por mais 4 anos...

Um dos últimos textos deste blog

sábado, 4 de setembro de 2010

[Filé com Fritas] Ih, começou a palhaçada... (Parte II)

[FILÉ]

Vencida a insanidade do texto anterior, venho aqui dar continuidade às ideias do texto "Ih, começou a palhaçada... (Parte I)". Ah, antes de eu começar, só quero deixar uma pequena reflexão sobre a insanidade. Dia desses, enquanto via na TV um programa especial sobre hospícios, uma funcionária de um deles disse ter ouvido uma frase, mais ou menos assim, de um "louco": "Maluco é aquele que não foi louco o suficiente para resistir à loucura do mundo lá de fora." Faz sentido, né? Pois é, diante disso, não sei se larguei a insanidade de ontem ou se apenas retornei à ela... Mas deixa estar, vamos ao que interessa!

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Quando eu ainda não votava, eu era louco para poder votar, para poder participar, e não entendia como as pessoas não podiam achar isso legal. Eu ainda acho legal, mas entendo perfeitamente a frustração popular com as eleições, mesmo eu que sou tão animado com isso. Os candidatos são tão ruins que acho que votarei nulo para senador e para deputado federal, quanto ao cargo de presidente eu também estou caminhando nesse sentido, afinal, o candidato com as melhores ideias tem apenas um leve defeito: é socialista... hehe

O que o 1º domingo de outubro significa para a maioria das pessoas? A festa da democracia" (conforme dizem na TV)? Não. Eu respondo: um domingo chato em que eu não posso sair de casa sem ter que ir para uma escola cheia de gente votar num desses corruptos que estão por aí. É um dia tão chato que nem bebida é liberada, por sinal, o único dia do ano. Na verdade, tinham que liberar a bebida sim, afinal, tem candidato que para votar nele você precisa antes tomar coragem (tomar uns gorós) e tem outros que a dor na consciência por votar neles é tão grande que só bebendo para esquecer...

Clique nele e veja a propaganda dele na TV (não é vírus) hehe

Mas sério, agora. Se o voto não fosse obrigatório, você acha que a maioria das pessoas iria votar? Eu, sinceramente, acho que ia dar uns 30% ou 40% do eleitorado, isso se não desse menos. Gente, as pessoas estão desiludidas com a política brasileira, não acreditam nos políticos e nem acham que o voto delas pode fazer alguma diferença. Os defensores do voto obrigatório dizem que esse direito foi conquistado com muito esforço, com vidas, com sangue. Pelo povo brasileiro? Não, senhor. Com as vidas de pessoas realmente interessadas num país de voto livre e democrático (os utópicos do século XX). O povão nunca ligou muito para não poder votar para todos os cargos durante a ditadura, ele foi levado a achar que votar poderia ser melhor e acreditou, assim como também julgou que eleger Collor seria o melhor, mas isso se explica, afinal, o povo ganhou um direito que não sabia direito como usar, aí acabou usando de qualquer jeito, resultado: deu Collor! O nosso povo não tinha e ainda não tem uma consciência política desenvolvida, não entende muito o que o voto e os governantes representam.

Se votar é um direito (no sentido usual da palavra), porque eu não posso deixar de exercê-lo? É mais um direito ou dever? Se for direito (como dizem todos aos 4 cantos) eu não posso ser obrigado a exercê-lo, certo? Mas não é isso o que acontece. Sou defensor de que tudo que é feito por obrigação não é feito com muito zelo, inclusive votar. Creio que votar não pode ser uma obrigação, se é direito mesmo, não pode ser obrigação! Que me perdoem os que vão dizer: muitos deram a vida para que o povo pudesse votar, mesmo que seja errado. Eu defendo que conquistamos o direito, mas que não podemos ser obrigados a exercê-lo, afinal, o direito é meu, a escolha nas urnas é minha, eu não preciso fazer uma escolha que eu não quero. O simples fato de eu ter a prerrogativa de votar já é uma vitória, é suficiente, esse direito já é a vitória histórica, o seu exercício é outra questão. Ninguém pode ser obrigado a ser cidadão, no sentido de votar (cidadania engloga muito mais que votar). É recomendável, mas se você não quiser se envolver na vida do país, não se envolva, afinal, esse país é livre e você tem liberdade para fazer suas próprias escolhas. Não está na Constituição que ninguém pode ser discriminado por suas ideologias políticas? Logo, não querer votar é uma opção política e deve ser respeitada.

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Não entendo que o povo vai criar consciência política sendo obrigado a votar, isso não nasce desse jeito, envolve muitas outras questões. A verdade é que se houvesse um plebiscito acerca da obrigatoriedade do voto, o "NÃO" venceria. Considerando que o pilar central da democracia é a vontade popular, creio que a vontade do povo deva ser acatada: o voto deve ser facultativo. O pior de tudo é que enquanto ficamos nesse papo furado de "as eleições brasileiras é o maior evento democrático do mundo", esquecemos que no fundo o que gera a "festa da democracia" é um ato autoritário, não democrático: a obrigatoriedade do voto. Os defensores dessa festa estranha de gente esquisita têm receio de passar vergonha, de ficar escancarado para a sociedade brasileira que a maioria das pessoas "está nem aí" para a política e para o futuro do país. É preciso manter o jogo de aparências. Dar o direito de não votar pode abrir uma "caixa de pandora", afinal, ficará exposto o quanto nosso sistema democrático é falho e quanto não somos maduros para a vida democrática...

Defendo que somente aqueles realmente comprometidos com o país e maduros politicamente votem, afinal, esses eu tenho certeza que não deixarão de votar apenas pelo voto ser facultativo e pensam antes de votar. Digo mais, creio que facultar o voto vai diminuir o número de políticos eleitos à base de mentiras contadas ao povo, afinal, mais difícil do que ganhar votos, será convencer o povo a "perder" o domingo. Pode ser que somente os letrados continuem votando, só as classes mais altas da sociedade, mas isso tenderia a mudar com o tempo, posto que a população mais iletrada, que inicialmente deixou de votar por não entender a necessidade e a importância do voto, iria perceber que seu voto realmente pode mudar a ordem das coisas, iria perceber que aqueles eleitos sem a sua participação não são exatamente aqueles que representam o discurso popular, mas o discurso de um pequeno grupo nacional. Isso já acontece na prática, mas o povo não percebe em razão do "oba-oba" que gira em torno das eleições, em razão desse clima de o "povo" escolhendo. A faculdade do voto vai abrir os olhos do povo para a realidade e fazê-lo perceber que seu voto faz alguma diferença, vai torná-lo mais responsável quando decidir votar espontaneamente.

Hoje, o desgosto em votar é tão grande, que além de não entender o valor do voto, as pessoas têm ficado "putas" por serem obrigadas a fazer uma escolha que não querem, por isso estão zoneando com as eleições. Sim, zoneando, sacaneando, escrotizando com os rumos do país. O brasileiro gosta de fazer piada daquilo que não gosta, por isso está votando em pessoas famosas que não têm nada a oferecer à política. A época das urnas de papel trouxe algumas mostras disso, vide o ano em que "mosquito" foi eleito vereador em Vila Velha; casos assim aconteceram aos montes naquela época por todo o Brasil.

Em síntese, ou a gente para com essas farsas de voto obrigatório e de que temos "a maior festa democrática do mundo" e enxergamos o iceberg enorme que está debaixo de nossos narizes afundando o nosso país: um sistema democrático que é uma farsa e que não funciona. Ou a gente vai continuar vendo, eleições após eleições, o país sendo entregue pelo voto popular (pela soberania popular) nas mãos de pessoas que não têm condições de governá-lo. A escrotização das eleições só tende a aumentar ao longo dos anos se nada for feito, é algo natural, zuar com as eleições vai tornar-se a regra! Quem tem olhos e ouvidos, veja e ouça enquanto ainda há tempo. Pode ser que depois seja tarde demais...

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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Ih, começou a palhaçada... (Parte I)

Estava observando o meu blog dia desses e pensei: "Nossa, tá muito melancólico, parecendo um muro das lamentações, preciso retomar imediatamente os temas gerais e abstratos!". Então, eis-me aqui, sem meu "alter ego".


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Sabe a expressão do título? Então, ela foi dita milhares de vezes na última terça-feira, quiçá, milhões de vezes. É assim que uma parte significativa da população brasileira recebeu o início do horário eleitoral gratuito na TV. Na verdade, acho que muita gente deve ter dito assim: "Ih, começou a putaria!", mas achei melhor colocar diferente no título para não soar muito "boca suja". Por que as pessoas reagem assim diante da propaganda política na TV? Por que desligam a TV? Por que esbravejam? Por quê? Por quê? E mais porquês... Elas não gostam de perder a novela? Elas não gostam de perder mais de 30 minutos de lazer em frente a TV após um dia pesado de trabalho? Elas não gostam dos políticos? Talvez um pouco disso tudo. Mas acho que o que mais prevalece é desinteresse político.

As pessoas, em geral, não gostam de políticos. Têm aversão à política. Só gostam de falar dela para reclamar de políticos, da corrupção, para reclamar do salário mínimo... Reclamar, reclamar e reclamar. Só isso. E por quê? Porque, sintéticamente falando, não estão nada satisfeitas com nosso sistema político. As pessoas não se sentem representadas pelos políticos, não se sentem com voz ativa na política, se sentem como marionetes que a cada 2 anos são obrigadas a escolher alguém para governá-las.

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Dia desses, eu li algo do tipo em algum livro de Direito no qual eu estudava: "A essência da democracia é a representação popular, a concretização da vontade popular pelos representantes públicos". Nada novo, é verdade, mas algo que me levou ao seguinte pensamento: "Ok, se o sistema representativo está no alicerce da democracia, o que acontece quando as pessoas não se sentem NUNCA representadas? Algo está errado no sistema, certo?" Aí me perguntei: "Se as pessoas reclamam por não terem as suas vontades concretizadas por seus representantes, será que vale a pena manter esse sistema que desagrada a quase todos? Mantê-lo não seria violar a dita vontade popular?"

Não, eu não defendo a ditadura, mas também não tô muito certo de que a democracia é o que o povo quer. Disse, essa semana, um professor meu que viveu a ditadura: "Talvez a democracia não seja o melhor sistema, mas melhor com ela do que sem ela". O que seria melhor do que ela para atender aos anseios sociais? Vamos viajar um pouco? Então vamos: no fundo, o que se persegue é a concretização da vontade popular, afinal, todo o poder emana do povo (Isso está no art. 1º, parágrafo único da Constituição Federal), os três Poderes! Vamos concretizar essas vontades levando-as às últimas consequências? Bora então! Vamos realizar todos os desejos populares!

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O povo decidiu: não quer mais sistema representativo. O que será que ele quer no lugar? Ele quer, simplesmente, N-A-D-A. Cada um quer se decidir sozinho. Fazer o que der na telha. Ninguém quer votar e nem ser votado. Votar é chato. Campanha política é chata! Político é tudo ladrão! Chega, a gente quer decidir tudo na rua, como na Grécia, mas dessa vez com o POVO de verdade. Acordo 1: Ninguém mais trabalha! Faz só o que quiser o dia todo. Acordo 2: Não há mais vínculos obrigatórios entre as pessoas, cada um faz o que quiser, quando e como quiser. Ah, vai prevalecer a força, então, não haverá mais esse tal de Estado e nem os aparelhos repressivos. dele. Acordo 3: A partir de agora é tudo permitido. Você deve estar pensando: "Credo, será que o povo quer mesmo essas coisas?" Queremos voltar à barbárie? Sim, a gente quer. Queremos ser animais irracionais, viver livremente. Seria, enfim, a concretização do Estado de Natureza de Hobbes, afinal, dizem que tal Estado nunca existiu, não passa de uma criação ficcional. Na verdade, a gente não quer Estado, porque ele não somos nós. Ele representa os interesses de apenas um grupo da população. No fundo, no fundo, o povão não quer o Estado, também não quer a democracia, não quer ter que escolher representantes de sua vontade, ele quer participar, quer tutelar seus próprios interesses, só que isso não pode ser feito por representantes, só você sabe o que de fato você quer. Viu porque a democracia não faz muito sentido? Eu não sou você e você nunca estará totalmente satisfeito comigo como seu representante.

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Sei que o povo brasileiro quer, mas ele nunca vai fazer, afinal, o povo brasileiro não é revolucionário, não curte baderna. A gente nunca precisou de verdade LUTAR (no sentido de cair no braço mesmo) por algo. Não lutamos por independência, pelo fim da monarquia, pela proclamação da República, pelo fim da Ditadura. Sempre houve um grupo tomando frente em eventuais lutas e a massa assistindo. A massa nunca decide para valer. Será que ela lutou pelo fim da Ditadura? Nada. Ditadura ou democracia? Parece tudo igual ao povão. Por ele, ele segue reclamando da democracia por aí até o dia da volta da Ditadura ou o dia do Apocalipse e está tudo bom! Para ele, votar no PSDB e depois votar no PT é a mesma coisa. É tudo igual. E não está totalmente errado não, afinal, os partidos no Brasil não têm uma identidade, ideologias muito definidas. Proponho então criar o "PB do B", o "Partido Brasileirista do Brasil". Aquele que fará sempre o que o povo brasileiro quiser: seja soltar Barrabás ou levar o Neymar e o Ganso para a Copa.

Ah, um ponto delicado, o povo quer o anarquismo, sem querer querendo, mas quer que um símbolo nacional seja mantido intocável: a seleção brasileira. A única eleição da qual ele quer participar é a de novo técnico da seleção, cargo que poderá ser derrubado por meio de eleições regulares. A máquina futebolística precisa ser mantida. A única que precisa. O resto pode cair.

O PB do B vai entrar na luta nas próximas eleições, com a bandeira de que é preciso respeitar a vontade popular, lutar pelo fim de tudo. Defenderá que é preciso acabar com qualquer representação. O povo quer, ele pode. Quero pagar para ver. Ver no que vai dar. Ver quanto tempo isso dura (eu acho que durará eternamente, o povo brasileiro não faz mudanças).

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ATENÇÃO: Isto tudo não passa de uma grande brincadeira, qualquer semelhança com o real é mera coincidência. O PB do B não existe, assim como a democracia também não funciona NO BRASIL. É preciso mudar, talvez de sistema político ou talvez somente a maneira com que encaramos a política, isso é sério, em breve volto com a parte II...

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Papai, mete porrada neles!

Olá, senhor leitor persistente. Obrigado por não ter me largado após o último pensamento abstrato, por isso vou tentar te presentear com algo melhor hoje. O tema de hoje é... Não, eu não vou entregar tão fácil assim, vai ter que ler!

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Sábado passado eu fui daqui de Vila Velha para Viana de ônibus: uma das poucas viagens que faz você achar que pagar R$ 2,15 (se bem que eu como vagabundo para a sociedade, ops, estudante, só pago R$ 1, 075 de passagem) não é um assalto, mas um presente, dada a distância que é chegar lá. Tudo ia na mais pura normalidade, um 526 lotado num sábado à tarde. Mas uma gritaria INFERNAL no fundo, eram jovens vindos das praias de Vila Velha de volta para casa, em Cariacica ou Viana. Eles berravam, falavam obscenidades, trocavam socos de brincadeira, falavam besteiras e palavras que remetiam às drogas, como: "fulana só dá bola pro gerente, não gosta de vapor não" ou "fulana, vou comer na sua casa, a larica tá matando". Com todo respeito a você, mas eu tava cagando e andando para isso. Eles são só jovens (tal como eu, apesar de eu parecer ter 60 anos) voltando depois de um dia de praia; o que fazem de suas vidas não me diz respeito e não me interessa.

Estava bem chata aquela viagem em pé ouvindo gracinhas, mas nada que não desse pra suportar com boa vontade e compreensão. Mas o "caldo começou a engrossar" quando começaram a puxar a linha do "sinal" de brincadeira e o ônibus começou a parar para ninguém descer. O cobrador ficou cobrando explicações da turma do fundão. Como resposta ouvi: "Aí fulano, para de puxar a parada, senão vai tomar um 12, vamo respeitar o trabalho do cara". Até então só ouvi comentários soltos de pessoas insatisfeitas com a algazarra, mas nada dirigido diretamente à turma. Eis então que um valentão sai estrategicamente do fundo do ônibus, fica DO MEU LADO e grita: "Ô motorista, para o ônibus no posto da polícia que tem ali na frente e manda prender a galera do fundo!". Eu pensei: "Bosta, porque o cara vem falar isso do meu lado, daqui a pouco sobra pra mim de graça, logo pra mim, que não tô nem aí." Não, o ônibus não parou, a turma parou de puxar a linha, mas continuou falando besteira; o valentão ficou quieto e não deu em nada.

Que fezes, hein! Eu não falei nada digno até agora, né? Mas espere, vou chegar lá (acredito e espero).

Eu comecei a pensar durante a viagem, que por sinal é bem longa e permite fazer muitas filosofalavagens. Por que alguém clamou pela polícia? Não querendo ser o advogado do diabo, mas o que aqueles jovens fizeram de errado, além de serem mal-educados? O quê? Nem funk ouviam (hehehe). Só falavam besteiras, futilidades. Não ameaçaram ninguém, só falavam alto e coisas que assustam as pessoas comuns. Eles mesmos se policiaram a parar de puxar a cordinha se ameaçando mutuamente de dar 12, e resolveu! Para quê chamar a polícia? Para pegar os jovens pelas orelhas e descer a porrada? Era isso que o povão imaginava e talvez quisesse. Mas te pergunto: o que ia resolver em larga escala? Ah, a viagem ia seguir naquele silêncio habitual dos ônibus e que todos adoram. Mas o que ia mudar para a sociedade? N-A-D-A. Aqueles jovens não seriam educados com uma sessão de porrada da polícia. A polícia seria chamada para conter a falta de educação deles, para manter a ordem, talvez até os enquadrasse em algum artigo por pertubação da ordem pública (não sei se existe um artigo próprio disso, afinal, ainda estou aprendendo direito penal...).

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O que concluí, conforme eu já disse no texto " 'Livre,' mas sem luz para guiar-se", é que aqueles jovens não foram educados para viver em sociedade, respeitar o direito das outras 50 pessoas que pagaram pela passagem e que querem viajar em silêncio. Isso é culpa deles? Só deles não, provável que não tenham sido educados em casa, nem na igreja e muito menos na escola. Onde foram educados para respeitar o próximo? Onde? Aprenderam na lei das ruas, lá não há espaço para aprender essa boiolagem de respeito ao próximo, lá não se pensa, se age. Pra quê pensar em respeito? O negócio é viver, é agir, fazer e acontecer. Correr atrás de dinheiro, de poder, de mulher, de tênis da NIKE... Não há tempo pra pensar em moral. Repito, quem os educou? E quem quer perder tempo os educando? A moral das ruas é viver para você mesmo, dane-se a ignorância da juventude; você reparou que eu me lixei para zorra deles também, certo? Eu também me lixei para a educação deles, mas pelo menos eu não acreditei que a polícia ia educá-los.

Onde quero chegar? A culpa não é só deles, é minha, é sua, é de cada um. Nós não queremos educar ninguém para viver respeitando o próximo. Volta e meia nos deparamos com os ignorantes que nossa sociedade livre está produzindo, que nós estamos deixando ser produzidos, os ignorantes do século XXI, aqueles que não sabem como viver em um grupo que não seja o seu. Incomoda cruzar com eles, né? Sabe o que a gente faz? Vamos chamar o papai Estado e mandar ele sumir com esses mal-educados daqui, mandar ele descer a porrada, matar, esconder, enterrar, exilar, segregar na favela, sumir com eles daqui, não quero sentir que a culpa é minha, não quero assumir que o problema começa dentro da minha casa. Melhor fingir que isso não é problema meu, deixa o Estado educar na porrada! A porrada nos mal-educados tranquiliza a sociedade, dá a falsa sensação que vai educar e corrigir, fazer um papel que não soubemos fazer. Se porrada educasse alguém para a vida em sociedade... Ai ai...

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Só para esclarecer, chamar a polícia talvez fosse cabível no caso, mas seria uma solução provisória e limitada ao universo daquelas pessoas do ônibus, não traria pessoas educadas ao convívio social, apenas amenizaria a algazarra do ônibus, apenas ia ser útil a 50 pessoas, mas à nossa sociedade não. Eu posso ter viajado muito nesse texto, mas ainda acho que só precisamos educar melhor nossas crianças, para depois não ter que "apanhar" delas e querer chamar o papai Estado para descer o porrete nelas, enquanto, na verdade, tivemos um momento para educá-las, tivemos a nossa hora e deixamos escapar, por quê? Porque não queríamos educá-las...