sábado, 13 de agosto de 2011

Smell

É o cheiro. Dizem que ele está por toda parte. Quem tem nariz, cheire.

Cheiro de podridão. O cheiro civilizado da Europa me dá náuseas. É cheiro de excremento. O cheiro das veias abertas da América Latina cheias de bosta. O cheiro do sangue ralo das crianças africanas derramado. No fim, se você balançar direitinho a taça de vinho ainda dá pra sentir um pouco do cheiro da pólvora. Cheire.

Cheiro de ferrugem. Ideias velhas para trazer o novo. Cheiro dos dentes podres do cão que ladra e não morde. Cérebros cheios de ideias vazias. Marx tem mau hálito e barba cheirando à marofa. Aroma de silêncio em meio aos gritos. Cheire.

Cheiro de gente. À venda por alguns xelins ou vendida sem olhar os dentes. Por toda a parte. É o cheiro da liberdade do Novo Mundo. Buenos aires trazem o cheiro amadeirado de sangue com plata. Cheiro de hipocrisia com falso moralismo e... deixe eu adivinhar... corrupção! Que delícia! Cheire.

Enquanto isso, contorno a Sainte Devote em direção à Mirabeau sentindo o leve frescor da Riviera Francesa dissipando o cheiro da gasolina do meu V8. É um cheiro frutado de juros e dividendos misturado com cabernet sauvignon. Se você cheirar bem dá pra sentir um aroma silvestre de carne humana em pratos africanos de fome. Bon Appetit. Cheire.

Cheiro de fumaça. O futuro está nas pontas dos charutos. Cheiro de tarde vazia cheia de balas e doenças. Cheiro de corpos ao chão. Os urubus esperam sem pressa a refeição da tarde caminhar nua em meio a ossos e moscas. O tempo não pára. Aroma de morte. Smells like Somalia. Cheire.

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Às crianças somalis que todos os dias deixam vidas que nunca começaram.