sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A guerra dos mundos

Era uma vez um mundo verde musgo. Tudo nele era rígido, tradicionalista e repressivo. Um dia esse mundo "caiu" e mudou de cor. Diziam que o mundo que o sucederia seria multicolorido como o povo que habitava esse mundo.

Anos depois e tudo ficou azul. A economia era azul. Diziam que o povo seria pintado de azul. Pintaram as empresas que sempre foram verde e amarelo de blue/bleu//blau/azzurro... Enfim, pintaram tudo que viram de azul, menos o povo. Esse, como sempre, manteve-se esquecido, esperando ansiosamente ser pintado com o mesmo azul que pintava as felizes pessoas que haviam recuperado o status social prejudicado anos antes por uma série de problemas econômicos vividos pelo país antes dele ficar azul. Uns poucos foram pintados de azul. Aqueles, de sempre. Querendo manter tudo azul, os azuis conseguiram por meio de uma manobra, um tanto o quanto marota, criar a possibilidade de reeleição para o cargo de presidente. Era preciso pintar ainda mais de azul aqueles que já eram azuis por natureza. E conseguiram, afinal, aquele bando de gente pintada de invisível tinha muito medo do vermelho em 1998. Sei lá, vermelho assustava, lembrava sangue.

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E lá fomos nós, para mais 4 anos azuis. Ou melhor. E lá se foram eles para mais quatro anos. Os invisíveis continuaram invisíveis, comendo as migalhas deixadas pelos azuis no prato. Migalhas como um salário mínimo de fome aqui, um tal de bolsa escola acolá. Mas tudo era azul, nunca se esqueça disso.

Então eis que chegamos em 2002 à beira do caos social. Era matar ou morrer. Ou os invisíveis recebiam uma cor ou iriam matar todos os azuis. O vermelho não assustava mais os "sem-cor", mas apenas os azuis. Para aqueles que nunca foram pintados, o vermelho não lembrava mais o sangue, mas a esperança, a esperança era vermelha. O vermelho representava o sangue dos azuis que iria jorrar à força naquele mês de outubro histórico. Aquelas eleições foram algo do tipo luta de classes: pobres invisíveis X ricos e classe média azuis. Os pobres, como maioria, venceram, enfim!

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E vieram os vermelhos. A porrada vinha de todos os lados. "O país vai quebrar". "A inflação vai voltar". "O Brasil perderá investimentos externos". Sim, senhores. A preocupação era totalmente FINANCEIRA. O medo não era em relação ao nível de vida das pessoas. Sei que a economia é um dos fatores que levam a um bom nível de vida da população, mas não é TUDO (isso é meio óbvio, mas os azuis nunca perceberam isso, até hoje). Mas aquele vermelho não era o mesmo vermelho de anos atrás. Era um vermelho meio azul. Vermelho com azul é roxo? Se for, digo, sem pudor que os vermelhos foram perdendo um pouco daquele fogo inicial e ficando roxos. A economia continuou como era no tempo do mundo azul. Na verdade, ela ficou ainda melhor, afinal, enfim, os invisíveis começaram a aparecer. Foram incluídos na economia nacional. Populismo? Assistencialismo? É fácil dizer isso morando no sudeste e nunca tendo passado fome. Mas garanto que para aqueles que não tinham nem o que comer na época do mundo azul, os programas sociais representaram dignidade, representaram vida, representaram ser vistos pelos caras lá de cima. Para quem nada tem, metade é o dobro, senhores. Não negue o que comer a essas pessoas alegando que isso é assistencialismo e populismo, afinal, os azuis, em nome de não serem taxados de populistas, nunca nem botaram comida no prato de milhões de invisíveis por 8 anos! Prefiro a informalidade,a quebra de regras que alimenta do que o moralismo que causa fome e morte. Veja esse "assistencialismo populista" pelos olhos de quem sempre se acostumou a passar fome desde os primórdios desse país.

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Corrupção. Mensalão. Dinheiro na cueca. Fizeram o caralho para derrubar os vermelhos. Mas eles nunca caíram. Por quê? Porque eles alimentaram e deram cor àqueles por quem os azuis nunca olharam. Quem antes morria de fome, será eternamente grato aos vermelhos, afinal, não tiveram suas vidas salvas pelos azuis em 8 anos.

Não nego que o governo vermelho não foi perfeito, longe disso. Mas também não sou hipócrita para afirmar que o mundo azul foi melhor.

Mas vamos ao que interessa: 2 º turno das Eleições 2010. Ou melhor. A guerra dos mundos: Mundo Vermelho X Mundo Azul. Não há propostas inovadoras para os velhos problemas. Há apenas uma rinha de galo na qual o Governo Lula duela contra o Governo FHC. Virou um duelo de desempate, algo como: seus 8 anos foram piores que os nossos. Estão discutindo o passado, senhores. Querem que domingo façamos o julgamento de qual governo foi melhor. Querem a prova real (aquela das continhas da 2ª série). Querem o tira-teima. O duelo de desempate, afinal, tá 8 a 8. As propostas de Serra e Dilma somem em meio ao debate de qual governo foi melhor. É como se estivéssemos que votar entre Lula ou FHC no domingo. Ninguém promete o novo, mas apenas retomar o velho. Saudades da 3ª via apontada por Plínio, que tinha razão em afirmar que Serra e Dilma eram muito parecidos. Vou além, a marionete dos intelectuais verdes, ops, Marina Silva, também não passava, no fundo, no fundo,
de um vermelho com azul com uns retoques de verde. Discurso mole para questões sérias. Papo antenado com o século XXI, agradável aos ouvidos jovens e intelectuais, mas que no fundo queria agradar a gregos e troianos com um discurso meio molenga, que dizia querer mudar, mas sem mudanças radicais. Ou seja, ela também era vermelho com azul... Duvida? Pesquise o discurso dos Partidos Verdes da Europa e como eles governam quando no poder. Esse verde bonito e que parece esperança camufla muita coisa dentro...

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Tá ridículo! Agressões recíprocas para todo lado. Até bolinha de papel na careca vira artefato de guerra e ameça à democracia (sim, a VEJA estampou o episódio da bolinha como um atentado à democracia). Os azuis dizem que os vermelhos são corruptos, apoiam Sarney, Collor. Mas e eles que sustentaram ACM (vulgo Toninho Malvadeza) por longos anos? Ah, esqueceram disso? Que partido HONESTO aceita fazer aliança com o DEMOCRATAS (ex-PFL), o partido mais corrupto de todos os tempos? Responda-me. Você acha normal o lema "O Serra é do BEM"? Isso não deveria ser algo presumido em um candidato à presidência? Por que é necessário reforçar essa ideia? Aí tem... Ah, o vice do Serra, Sr. Índio, é um ilustre desconhecido empurrado goela abaixo pelo DEMOCRATAS pra cima do Serra. Pareceu barganha. Quem é esse cara? Tenho medo dos azuis. Tenho medo dos que usam a religião como argumento para ganhar votos no século XXI. Tenho medo daqueles que mostram pastores pedindo votos para um candidato ao invés de propostas. Tenho medo daqueles que falam que se a candidata X ganhar o aborto será liberado. Por favor, alguém poderia avisar ao povo que o Presidente da República não cria leis, e sim o Legislativo? Alguém poderia avisar ao povo que um presidente não pode instituir o aborto por Decreto ou Medida Provisória? Tenho medo dos que exploram a ignorância dos mais humildes para ganhar voto. Tenho medo dos que pregam um futuro de depravações morais caso o vermelho vença (quase o apocalipse). Tenho medo dos que tentam se aproximar dos humildes prometendo um salário migalha maior, digo salário mínimo maior, e um 13º Bolsa Família. Tenho medo dos que chamam os aposentados de vagabundos e anos depois prometem aumentar o salário dos pensionistas em 10%. Tenho medo dos que tentam comprar o povo com esmolas maiores ao invés de projetos de inclusão social.

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Falam que o vermelho tá criando uma ditadura Chavista, que pintar tudo de azul irá oxigenar a política brasileira. Falam que a alternância de poder faz bem à democracia. Mas não foram vocês que criaram a reeleição para presidente? Contraditório... Criticamos a política americana pela falta de alternância no poder e fazemos igualzinho. Azul - Vermelho - Azul (de novo? Isso é alternar?). Pobre Plínio, que pena que daqui a 4 anos será a vez do Verde avermelhado em tons de azul chegar ao poder, queria tanto ver o seu vermelho sangue no poder... Que meu idolatrado Cristovam Buarque não ouça isso...

Só pra terminar, dizem que a Dilma é marionete e não sabemos de quem. É verdade. Marionete ela é. Mas garanto que aqueles que irão manipulá-la não fugirão muito da fórmula que deu tão certo nesses 8 anos, afinal, isso significaria perder o apoio popular. Meu medo é daqueles que estão junto com o Serra, pois esses conhecemos bem e SABEMOS do que são capazes, né, DEMOCRATAS? Sei que Dilma tende a ser 4 anos de estagnação, mas prefiro um mundo vermelho desbotando do que um novo velho mundo azul que irá descolorir todos aqueles que, enfim, ganharam cor a partir de 2002.

Desculpem a franqueza, mas prefiro ser claro no meu voto vermelho, assumir uma posição, do que me dizer imparcial, como a nossa imprensa covarde, e minar um candidato pelas costas, sem os leitores saberem claramente. Essa imprensa desrespeita a nós como público. Prefiro a sinceridade dos meios de comunicação americanos, que sempre assumem, PUBLICAMENTE, uma posição nas eleições. É pecado ser parcial? Não, desde que se avise isso ao público.

E o mundo continuará vermelho por mais 4 anos...

Um dos últimos textos deste blog

sábado, 2 de outubro de 2010

E se hoje fosse o último dia?

Já faz algum tempo que tenho pensado nisso...

Você aceita fazer um exercício de imaginação comigo? Se sim, vamos lá!

Situação hipotética 1: Por algum motivo fui informado de qual será o dia exato de minha morte. Sim. Com precisão e sem chances de erro. Inclusive, morrerei às 23:50 (o mesmo horário em que nasci). Hoje é a véspera desse dia. Já cuidei de todas as questões burocráticas e agora me resta um dia todo para que eu dê os últimos suspiros. São 22 horas da véspera e paro para pensar no que farei amanhã para usar as últimas horas que me restam. Virar a noite acordado? Não... Uma das coisas que sempre tive prazer em fazer na vida foi dormir, logo, não quero perder essa última chance. Acordar que horas? Umas 4 da matina e ir até a praia ver o sol nascer? Não. Acordando todos os dias às 5:30 eu sempre vi o nascer do sol, apesar de nunca ter me atentado muito para isso. Por que fazer isso só agora, no último dia? Eu estaria enganando a mim mesmo! Ok, então, nada de nascer do sol. Acordarei umas 9 horas. E o resto do dia? O que fazer? Como planejar o que fazer no último dia? Já sei. Farei coisas que nunca tive coragem e/ou tempo de fazer. Hum, o dia será chuvoso, do jeito que sempre gostei! Então vou tomar um último banho de chuva, daqueles bem demorados, capaz de deixar a camisa colada ao corpo. Depois vou entrar no meio de uma pelada de rua com crianças e jogarei com elas uns minutos, no meio da lama deixada pela chuva. Quero um último momento com os meus amigos. Não uma festa, porque nunca fui o tipo de cara que curtiu festas, principalmente, aquelas feitas para mim, afinal, sempre fiquei um tanto o quanto envergonhado, sem jeito (tímido), apesar da gratidão que festas assim proporcionam. Quero um encontro casual com eles. Ouvir a história do alistamento do Tob's e das morsas uma última vez. Rir ao relembrar de alguns momentos hilários vividos juntos. Ah, também quero ver um bom jogo de futebol: um Boca Juniors X Palmeiras como aqueles das Copas Libertadores da América de 2000 e de 2001 (mas com o Palmeiras vencendo no fim). Quero dizer um "hasta la vista" e um "eu te amo" para alguns familiares. Quero ler um pouco de literautra. Quero também tocar a campainha da casa (que não sei onde fica) daquela garota e dizer assim: "Desde que te vi a 1ª vez, gostei de você. Tentei te dizer isso de "n" modos, mas acho que não me fiz entender claramente ou você fingiu não perceber. Nunca tive a certeza da sua certeza, por isso hoje quero tê-la. Me diz apenas um 'sim' ou um 'não' e terás dado a resposta que nunca encontrei. De qualquer modo, queria passar aqui para te ver uma última vez." O fim da cena pode ser um beijo de filme ou um "não" educado. Mas de qualquer forma eu poderia "dormir em paz", arrependido do tempo perdido ou certo de que não perdi nada. Eu também quero dar abraços em estranhos, sorrir e gargalhar com desconhecidos, ouvir histórias de mendigos, ser amigo dos sem amigos. Enfim, não sei se dará tempo de fazer tudo, afinal, como diria Paulo Leminski: "Haja hoje para tanto ontem", mas eu quero fazer todas essas coisas amanhã...

Situação hipotética 2: Já são 16 horas de mais um dia comum, de um dia em que nem me passa pela cabeça morrer. Mas e se, de surpresa, eu morrer hoje, agora? O que eu não terei feito? Terei deixado de dizer aos meus amigos o quanto eles são importantes para mim. Terei deixado de dizer "eu te amo" a muitas pessoas por vergonha ou por achar que isso sempre esteve implícito no conviver do dia-a-dia junto delas, por exemplo, à minha mãe (não devo ter dito isso para ela nem umas 50 vezes na vida, o que é muito pouco, apesar do amor incondicional que tenho por ela). Terei deixado de ter feito coisas que deram vontade por falta de tempo ou por pura vergonha. Terei deixado de dizer, hoje de manhã (02/10) àquela garota da hipótese 1, ao invés de um tímido "oi", que ela estava muito bonita de amarelo, apesar de eu a achar sempre linda e de ela ser mais bonita de roxo; terei deixado de dizer muitas outras coisas a essa mesma garota. Terei deixado de começar a escrever o meu livro. Terei deixado de abraçar e de gargalhar com desconhecidos na rua. Terei deixado de ter sentido "n" sensações que nunca senti. Terei deixado de ir à Buenos Aires e à "La bombonera". Terei deixado de começar a correr (sim, correr; simplesmente correr, como o Forrest Gump). Terei deixado de ajudar muitas pessoas quando pude. Terei deixado de ter feitos muitas perguntas que teriam mudado o rumo da vida. Terei deixado de arriscar, de "pôr a faca entre os dentes" em momentos que me acovardei. Terei deixado uma vida inacabada.

Enfim, o que quero dizer é que seu último dia pode ser daqui a muitos anos ou pode ser... HOJE. Você não sabe e NUNCA saberá quando ele será. Então, não desperdice o seu tempo, faça tudo que puder para aproveitar tudo; busque tornar certeza algumas incertezas. Na pior das hipóteses, hoje não será o seu último dia e você poderá viver tudo de novo amanhã, com ainda mais intensidade. Você pode usar amanhã para fazer tudo aquilo que não deu tempo de fazer hoje, já pensou?

Não digo que seja fácil viver assim, mas digo que dá, isso só depende de você e da sua vontade. O depois pode ser tarde demais e pode nem chegar...

[Fui inspirado por uma propaganda de carro na qual um cara acorda, pega uma lista e faz todas as coisas que têm anotado nela, como se fosse o seu último dia. Mas no dia seguinte ele acorda e pega uma nova lista para fazer tudo aquilo que ainda não fez, como se o novo dia pudesse ser o seu último dia. Detalhe que dentro da gaveta que ele pega a nova lista tem muitas outras do mesmo tipo]