sábado, 18 de julho de 2015

Mon Dieu

Acelere!
Para viver.
Acelere!
Para sobreviver.

A vida pode ser veloz,
Não há tempo a perder.
Acelere no limite
Ainda que sem vencer.

Numa manhã estranha,
De tristeza tamanha,
Não deu para ganhar
E a morte ultrapassar.

Um choque forte
Que na TV não se pôde ver.
Silêncio obscuro,
Sem festa e lazer.

Assim se foi...
Mais um herói humano,
Um desafiante de máquinas,
Um domador de motores.

Foste bravo em Monaco,
Geraste alegria com dois pontos.
A lembrança dessa singeleza
Afasta um pouco da tristeza.

É hora de acelerar em outras pistas,
Vencer inesquecíveis corredores,
Contornar as curvas celestes
E beber champagne de outros sabores.

Vá, Bianchi!
O sofrimento acabou.
Será um eterno jovem
Na mente do torcedor.

Em memória de Jules Bianchi
Jules Bianchi

sábado, 11 de julho de 2015

Quem precisa de heróis?

Pretendo ser breve neste retorno forçado.

Sabe uma coisa que me incomoda muito? Heróis. Não os fictícios, dos quadrinhos e desenho animado.

Tenho como uma das máximas de minha vida profissional fazer o que precisa ser feito, aquilo que sou pago para fazer, sem choro nem vela. Mas tem muito gente que não é assim.

Por mais que se diga que não, algumas profissões possuem graus maiores de importância/responsabilidade do que outras. Nessa categoria, sem dúvidas, estão as carreiras de policial e bombeiro. 

Arriscar sua própria vida por outra pessoa, tendo que lutar contra chamas ou tiros, com certeza é um ato de bravura louvável. No entanto, na minha opinião, realizar tal ato profissionalmente, ou seja, sendo remunerado para tal finalidade, não torna ninguém herói. Penso que se você é pago para salvar vidas isso se torna um dever profissional e, dentro daquela máxima que citei anteriormente, se torna um apenas "fazer o que precisa ser feito".

Quem escolhe ser policial ou bombeiro não escolhe (ou não deveria escolher) ser herói, mas somente escolhe um ofício, ainda que de singular importância. 

No entanto, vivemos hoje (ou talvez sempre vivemos) uma era de capitães "Nascimento", na qual colocar uma arma na cintura se tornou sinônimo de licença para ser herói. Muitos policiais, infelizmente, pensam que quando vestem uma farda vestem na verdade uma roupa de super-herói e devem usar a arma que carregam consigo contra vilões. É uma imagem até romântica, pois os policiais, muitas vezes, sentem que podem salvar a sociedade apenas na base do tiro, prendendo "malfeitores que não são dignos de viver em liberdade".


Acontece que o crime é um fenômeno social cuja origem vai além do mero desejo individual de roubar, matar, estuprar... Apenas prender ou matar o máximo possível de pessoas que cometem crimes não resolve o problema da criminalidade, uma vez que esse problema passa pela pobreza, pela falta de acesso a serviços públicos e desemboca no desejo individual de delinquir. Assim, punir quem comete um crime é como atirar na ponta de um iceberg achando que destruí-la será capaz de eliminar o gigantesco bloco de gelo que está embaixo d'água.

A sociedade, em geral, espera heroísmo dos policiais, dentro daquela visão romântica de eliminação de vilões; por isso, ela se frustra toda vez que sente que os vilões estão vencendo. E os policiais, muitas vezes, compram essa história e acreditam nela. Talvez por causa disso sejam recorrentes na classe policial os sentimentos de que os policiais não são reconhecidos e de que os meios de comunicação sempre querem apenas denegrir a corporação perante a sociedade.

Vejo diariamente policiais e simpatizantes reclamando nas redes sociais que erros policiais são expostos à exaustão na imprensa e que ela não mostra os casos nos quais policiais fizeram partos de gestantes, salvaram animais, velhinhas indefesas e etc. Ora, meus caros, ser policial é salvar vidas e não querer louros por isso. É salvar vidas em vielas escuras e não se importar se alguém viu, noticiou etc. Por quê? Porque esse é seu trabalho. Lembra daquela máxima de fazer o que é pago a você para fazer? Pois é... Infelizmente é assim que funciona no mundo profissional dos seres humanos não heróis.

Sem querer ser desagradável, a imprensa é filha da puta com todo mundo, seja com o médico exemplar, mas que por um descuido deixou um paciente morrer ou com um policial espetacular, mas que matou por equívoco um inocente. É duro, eu sei, porém salvar criancinha, animais, velhinhas não dá nem a terça parte da audiência gerada por tragédias, erros humanos e por aí vai. Não é perseguição com a classe policial, pode acreditar.

Por isso eu realmente não entendo essa obsessão que a classe policial tem de querer ser tratada pela sociedade com heroísmo. A morte de um policial não o torna herói e não justifica uma reportagem jornalística em homenagem.

O que se deve perseguir é uma maior valorização salarial da carreira, o oferecimento de melhores condições de trabalho pelo Estado, mais treinamento e etc, haja vista que essa classe profissional se submete a riscos maiores do que praticamente todas as outras. Mas sério, exigir tratamento de herói pela sociedade e pela imprensa, com todo respeito que nutro pela profissão, é algo que não vejo o menor sentido.

Como disse, ninguém escolhe ser herói. As pessoas escolhem profissões.