quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Voltemos

O mundo é dos meninos e das meninas.

Dos impúberes e dos púberes; dos pubis que balançam; da impetuosidade que incomoda; da ansiedade que executa; da originalidade que choca; da jovialidade que seduz; da irresponsabilidade que marca; da inconsequência que assusta; da coragem que confronta; da disposição que produz.

Mas os mocinhos e as mocinhas não marcam a história. Ela é escrita pelos cretinos; por aqueles que espancam qualquer esperança de futuro na humanidade; maltratam corações; traem a confiança; desprezam o amor; frustram expectativas; agridem; assediam; e, no fim, cansam todos nós.

As pessoas andam cansadas, sem fé, sem nada. Generalizamos a decepção, aquela que nos rouba qualquer expectativa de fé na mocidade e na verdade dos sentimentos humanos. Cansamos. Perdemos a disposição em lidar com gente. No fim, parecem todos iguais, dispostos a sugarem nossa energia vital até o fim e, após, partir. Viramos conchas, daquelas que se fecham em seus próprios problemas, que não parecem ter fim.

Mas há muito mundo fora de nós.

Cheio de gente como a gente: desiludida, mas que ainda acredita; humilhada, mas ainda de pé; devendo, mas planejando viagem e fazendo festa; com 28 dentes, mas que sorri; cheia de tarefas, mas vendo série; sofrendo, mas amando; "fora de forma", mas sensualizando.

Se todo mundo desiste, os cretinos triunfam. Se todo mundo se cala, os ignorantes falam. Então, falemos, fazemos e acontecemos!

Se você se isola, o seu universo (cada um é um universo) deixa de expandir e você atrofia até não mais ter motivo para existir.

Vamos pra cima. O negócio é incomodar, falar, descabelar, estar lá, não se isolar. Vem! Vamos pra dentro deles. Juntos. Se você se esconde, eu entendo que pessoas como você e eu devem se esconder e outros também vão querer se esconder. Não se esconda, não nos escondamos. Silêncio pra quê? Temos mais é que falar mesmo. Meter a boca. Sabemos que não somos cretinos, então, não nos tratemos como os cretinos fazem ou como eles merecem.

Voltemos. Ocupemos. Fazemos. Acontecemos.

No fim, o mundo precisa dos meninos e das meninas. E precisamos todos do mundo.

domingo, 19 de novembro de 2017

Desembaraço

Às vezes falta um nome,
Alguma palavra de definição,
Para aquilo que nos consome
Sem pedir licença ou perdão.

Pobre condição humana,
De seres vulgo racionais.
Perdemos da vida semanas
Por respostas demais.

A desilusão do passado
Contamina o futuro,
Faz um presente fracassado
E impede o amor puro.

O soneto da liberdade
Não exige sarradas com solidão.
Acredite que há verdade,
Pode me dar o seu coração.

Se eu não for merecedor,
Será justo o seu não amar.
Mas se o motivo for dor,
Podemos ao menos tentar.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Goleiro

Dos 9 anos de idade até os 23 anos de idade, o futebol nunca me ofereceu nada além de ser um goleiro; um razoável goleiro, é verdade. Mas poucas coisas me fizeram tão bem ao longo de todos estes anos.

Os goleiros são como os anjos. Voam pelos ares como se tivessem asas e exercem a nobre missão de proteger sem nenhum sentimento de vaidade.

O goleiro é um destemido. Um bravo. Atira-se em bolas violentas e nos pés de adversários sem medo de machucar-se.

Ao goleiro, só interessa proteger a sua meta e garantir a vitória ao seu time. Todo o resto é bobagem. Não lhe preocupam as lesões.

Os goleiros são heróis. Alguns são santos, fazem milagres. Salvam. Garantem a alegria do povo. Evitam derrotas. Pegam pênaltis. Conquistam títulos. Estes momentos, raros na maior parte do tempo, são sublimes. Toca-se o céu com as pontas dos dedos, sem luvas. E um goleiro jamais esquece.

Mas o goleiro também é um coitado. Falha. Sofre. Vai do céu ao inferno em uma fração de segundos. É criticado, desmerecido, acusado, vaiado, xingado. É o vilão. Quando um gol é perdido, é o time quem perdeu um gol e a responsabilidade se dilui. Contudo, quando um goleiro toma um gol, ele é o principal responsável pela meta violado, no sentir dos torcedores.

No fim, o goleiro é só um homem.

Vence, mas sofre. Mais sofre do que recebe louros. Tem consciência da importância do que é e do que faz. Conhece a dureza de seu ofício. Lembra dos rápidos momentos de vitória, sem esquecer da realidade de joelhos ralados, hematomas, dedos entortados e dos ossos quebrados. Ninguém dentro de um campo imagina as angústias e tristezas que habitam o coração silencioso de um goleiro. Los recuerdos dolorosos. As derrotas e os gols que não se pôde evitar. Um voo mal calculado, um salto retardado, um momento de afobamento ou de excesso de confiança: GOL. A bola está dentro da rede. Resta um olhar resignado para trás. 

Não se deixe enganar. Ser goleiro é conviver com a brevidade do sucesso e a certeza do fracasso. Ser goleiro é uma luta constante contra o insucesso. Saber que mesmo que o time vença, somente ele viverá o fracasso de ter sido vencido em um ou mais gols sofridos. Cada gol tomado é um fracasso, ainda que o time vença. Cada gol que não pôde ser evitado, apesar de todo o esforço, é um fracasso. Uma bola a ser buscada no fundo das redes com o silêncio do coração. Mas um goleiro nunca pode deixar de acreditar, mesmo após mais um fracasso.

No fim das contas, nesta vida, todos somos um pouco goleiros. Temos que lidar com mais frequência com os momentos de fracasso e de dor do que com breves momentos de sucesso e glória.

Porém, somente alguns aceitam a responsabilidade que é ser goleiro nesta vida. Ser goleiro é cuidar e proteger, ainda que sem ser notado. É ser o responsável por proteger o amor de alguém, ainda que em silêncio. Ser goleiro é se machucar, se ralar, se quebrar, mas não deixar a vida de alguém se esvaziar. O sucesso desta empreitada traz ao goleiro grande satisfação pessoal, ainda que uma satisfação silenciosa.

Ocorre que, como dito, os goleiros falham e causam tristeza, mágoa ou chateação, ainda que não tenham agido com más intenções.

Ser goleiro também é admitir seus próprios erros.

Me desculpe.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Me deixe sofrer

Viver pode ser muito estranho. Às vezes, ser bom não é o suficiente. Geralmente o mundo nos exige que sejamos excelentes para sermos suficientes, mas em outras ocasiões inexplicáveis, o mundo nos exige que sejamos medianos ou ruins para que possamos dar certo.

Tempos em que se entregar causa insegurança e desconforto. Tempos em que oferecer o coração causa apreensão. Céus! Que mundo é este? O mandamento maior só pode ser o amor. Não é possível ser triste com amor, mas é possível ser feliz sem amor; aliás, que felicidade triste.

Talvez seja a forma com que apresento minha proposta. Uma vez, me disseram que, de tão bela minha proposta, seria muito difícil negá-la sem algum constrangimento. Me sinto grato, mas gratidão não enche o coração. De que valem elogios, sentimentos tão supostamente nobres, se no fim eles são descartados como os amores pobres? Agradeço, mas não entendo.

E é difícil entender. Talvez a oferta intimide e eu pareça perdidamente apaixonado por você. Mas Não! Não estou apaixonado por ninguém neste momento. De verdade! E de tanta insistência, estou a me oferecer a todas as gentes. Afinal, se sou tão bom, preciso ser bom no maior número possível de corações... Acredite! Estou a olhar para todas, infelizmente. Afinal, talvez o seu suficiente esteja em uma escolha mediana ou ruim, exija que você rejeite a escolha excelente.

Uma pena chegar nos lugares certos nas horas erradas. Uma pena se oferecer para as pessoas nas horas erradas. A culpa não é das pessoas, afinal, ninguém é obrigado a estar disponível quando o outro está. Entendo. Resignadamente entendo. Uma hora ei de bamburrar. Mas quem eu encontrar, talvez possa achar estranhamente muito boa a minha oferta e querer recusá-la.

Não quero causar dúvidas! E esta também não é uma forma de pressionar. Mas eu preciso dizer ao mundo que talvez eu seja o "cara excelente" que é proibido de amar. Por favor, entenda o meu lado. É tão estranho ouvir que sou uma pessoa cheia de atributos, MAS que não posso te amar. É de dar um nó na cabeça. É tão estranho ouvir sempre que o problema não está em mim, mas que eu não mereço sofrer. Teria eu nascido para ser um anjo e estou a ser protegido dos sofrimentos humanos? Escrevo porque não sei mais o que fazer.

Aos 20 e poucos anos, o tempo parece eterno. Parece que tudo pode ser feito a qualquer tempo e que tudo pode ser sanado a qualquer momento. Temos a ilusão de que nossos dias são certos, quando a existência de cada um deles não passa de uma firme e convicta presunção.

Tempos estranhos em que em nome de não frustrar, de não fazer sofrer, não nos deixamos amar. Isto é lindo, não deixa de ser uma prova de amor, ainda que de um amor fraterno, que nos impõe o dever de cuidar uns dos outros. Em nome do sentimento de proteção, acreditamos evitar que o amor se torne uma desilusão.

Mas o que é a desilusão, senão uma prova de que dentro de nós bate um coração? Só ama quem sente e só sente quem vive. E viver, também é sofrer. Em tudo Jesus viveu a condição humana, sobretudo no sofrimento. Ser humano também é sofrer. E se eu não puder sofrer, não sou digno de viver.

No momento, não amo ninguém, penso eu. E ninguém quer me deixar amar, por medo do sofrimento que eu possa vir a experimentar. Dizem que não sou digno de sofrer, que tenho muitos dons a proporcionar. Mas se não sou digno de sofrer, não sou digno de viver e nem de amar. Um copo de água e amor não se pode negar a ninguém.

Me deixe sofrer! Me deixe viver! Me deixe tentar amar!