quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

"Livre", mas sem luz para guiar-se

Toda vez que passo um tempo fora de casa sinto desejo de escrever por aqui, você imagina por quê? É algo meio óbvio. A resposta é que tenho a oportunidade de ver melhor a realidade ao redor, já que é uma oportunidade de abondonar minha redoma de vidro. Foi assim que tive a oportunidade de observar a falta de rumo da juventude brasileira nas periferias.

Jovens totalmente desorientados, sem noções mínimas de valores morais, de respeito ao próximo e quase sempre tentando estar anestesiados da realidade. Viva aos tempos modernos! Viva à liberdade total! Pelo visto fazem muito bem à nossa juventude. Não nego que a juventude de hoje é mais livre para escolher seus rumos, contudo não posso deixar de salientar que não se pode escolher seus próprios rumos quando não se tem as direções mínimas para isso. Você não entendeu o que eu quis dizer? Explico.

A quem cabe a educação das crianças? (Essa pergunta ainda tem sentido, afinal, o homem ainda crê que as crianças precisam ser educadas, apesar delas parecerem cada vez mais independentes) Você diria que cabe à família, mas você já reparou que essa instituição está em crise? A desagregação familiar é fato concreto em nossa sociedade, não podemos fingir, não sejamos hipócritas! Quando falo em desagregação, penso em: filhos sem pai; jovens grávidas na adolescência; adolescentes com mais de um filho para criar; mulheres pobres com muitos filhos; pais sendo modernamente escravizados, ops, trabalhando o dia todo e sem tempo para os filhos; violência doméstica; pai e/ou mãe que chega(m) sempre alcoolizado(s) em casa; prostituição; abusos sexuais; e por aí vai...

Ok, creio que essa "família" moderna não tá dando conta de educar os filhos, a quem você apela para educar as crianças? Igreja? Eu diria que sim, afinal, no passado a família e a igreja andavam juntas na educação das crianças, e isso costumava funcionar bem. Tá bom, você vai alegar que era uma educação que estimulava o medo, pode até ser, mas ela ensinava algo que não se ensina mais tanto: respeito aos pais e ao próximo. Acontece é que nessa onda de independência e de liberdade total (Viva à liberdade total!) o homem passou a ver a igreja como um obstáculo à liberdade do homem civilizado e evoluído, como algo que a todo tempo prega que os melhores e mais fáceis meios para prosperar financeiramente na vida são errados, ou seja, o homem passou a ver a igreja como um grilo chato que fica gritando ideias antiquadas à ética do homem capitalista. O que fez o tão sábio homem moderno? Tem se mantido o mais afastado possível da igreja e tem afastado seus filhos dela também. Resultado, os pais perderam um importante aliado na educação de seus filhos.

Logo, o pepino de educar a molecada sem base familiar e religiosa sobrou para quem? Para a fantástica escola pública. Os moleques estão chegando na escola sem respeitar os pais, você acha que eles estão respeitando os professores e obedecendo-os? Você acha que eles estão dando valor para os esforços que os seus professores fazem para ensiná-los num cenário de escola pública sem estrutura? NÃO!

Diante da falta de educação familiar, religiosa e escolar, as crianças estão aprendendo muito com as mídias, afinal, estamos na era das comunicações, e nada consegue chamar mais a atenção dos mais jovens e incutir ideias capitalistas mais rapidamente do que os meios de comunicação. O que as mídias ensinam? "Se você quer ser alguém, você deve consumir os melhores produtos"; "Você deve ser sempre o mais esperto"; "Você precisa ter dinheiro para poder curtir a vida"; "Busque os meios mais fáceis e rápidos para enriquecer"; "Veja o outro como um obstáculo para seu sucesso". Tudo bem que as mensagens não são assim tão diretas, mas na prática querem dizer isso. Tais ideias são assimiladas pelos jovens da periferia, assim como por todos nós, contudo, no caso desses jovens que cresceram sem a devida educação e orientação, tais ideias são ainda mais sedutoras e parecem descrever algo 100% real, o que aumenta ainda mais a sensação de exclusão e acentua a necessidade de ter que de alguma forma tentar entrar para o mundo dos sonhos, o mundo da grana, pois só consumindo pode-se ser feliz.

É aí que aparecem as drogas, afinal, elas anestesiam a juventude pobre do sofrimento de fazer parte do mundo real e não daquele mundo dos carros e motos importados, das mansões, das famílias ricas e felizes, mundo de ilusões mostrado a todo tempo pelas mídias; por alguns momentos as drogas levam os jovens para um outro mundo. Elas também podem significar prosperidade econômica para essa juventude pobre e sem a devida formação escolar, já que o narcotráfico sempre está precisando de mão-de-obra e paga mais do que muitos empregos formais. O que atrai o jovem para esse "negócio" não é só a possibilidade de ter uma atividade que lhe remunere sem exigir estudo, mas a possibilidade de prosperar nesse ramo e de assim poder ter mais facilmente o acesso a produtos caros e de "marca", o que seria uma passagem de ida para o mundo dos sonhos capitalistas, uma passagem paga na maioria das vezes com a própria vida.

Essa grande cadeia explica em parte o crescente aumento do consumo de drogas nas periferias e consequentemente da violência nos grandes centros urbanos, onde as mídias são mais presentes. O engraçado é que os veículos de comunicação discutem o fenômeno alegando a falha estrutural das famílias brasileiras e a má gestão dos políticos, que gera desigualdades e que é incapaz de permitir a todos viver dignamente e em iguais condições de vida. Não discordo dos argumentos deles, mas eles esquecem de coisas fundamentais: das ideologias consumistas que veiculam; de como estimulam o consumo de futilidades que apresentam como sendo indispensáveis na vida; de como suas mensagens mercadológicas influênciam na vida dos jovens sem perspectivas de vida; entre outras coisas. Os meios de comunicação esquecem da colaboração deles porque é mais cômodo dar lição de moral, por meio dos telejornais, jogando a culpa na sociedade e no Estado e ficar vendendo ideias e produtos fúteis nas novelas, nos programas e nos comerciais. Hoje as mídias não dependem de fatos para exitirem, mas sim da venda de futilidades.

E aí? Aonde chegamos nesse grande pensamento abstrato em forma de bola de neve? O fato concreto é que os jovens da periferia estão cada vez mais desorientados, já que não têm mais bases familiares e nem religiosas, e, que estão: cada vez mais alienados pelas ideias que lhe são vendidas pelas mídias; cada vez menos ligados a valores morais mínimos para uma convivência pacífica em sociedade; e dispostos a roubar e matar para poder fugir de sua exclusão social e poder sonhar com as belezas do mundo capitalista.

Assim concluo que de que adianta gritarmos com todo o vigor que somos homens "livres", que derrubamos as ditaduras da igreja e dos governos e que podemos escolher nossos próprios rumos? A falta de uma educação familiar, religiosa e escolar que forneça os valores mínimos que um homem deve ter para viver em sociedade está fazendo com que apesar do poder de escolha aparentemente ilimitado trazido pelo século passado, os jovens da periferia não saibam escolher os melhores rumos, falta orientação! Essa falta de orientação protegida pela ideia de uma total liberdade irá trazer sérios problemas para esses jovens e consequentemente para toda a sociedade, logo, ou deixamos de hipocrisia e assumimos que não somos e não estamos prontos para sermos totalmente livres no atual estágio da sociedade capitalista, e, que ainda necessitamos educar e incutir valores morais nos jovens ou senão iremos ver nossa juventude caminhar na escuridão em direção ao abismo da "Falsa liberdade".

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