quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A Teoria do João-Bobo

Acho, ops, acredito ("achar é mania de boteco" - palavras de um professor de uma de minhas escolas antigas) que depois desse texto você não vai ler mais nada que eu escrever, vai achar-me doido ou na melhor das hipóteses, um bobo, mas leia e, se puder, comente.

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Sabe aqueles dias em por algum motivo (razoável ou não) você está muito irritado e é capaz de surrar alguém? O que você faz nesses dias? Age com ódio do mundo ou apenas fica remoendo sua fúria internamente? Seja lá qual foi sua resposta, você age errado! Sim, hermano, você age errado! Por quê? Vou tentar te convencer...

A raiva é algo natural em qualquer pessoa (nossa, agora descobri a pólvora...), todavia a maneria de reagir a ela é sempre variável de pessoa para pessoa, enquanto uns simplesmente estouram com o primeiro infeliz que atravessa a sua reta, outros (mais frios) preferem guardar esse sentimento e ficar ruminando que nem vaca. Considero que estourar imediatamente seja a saída menos pior (apesar de eu sempre optar pela segunda solução no dia a dia - nova ortografia); quando se tem raiva temos uma energia extra para agir, uma energia que não deve ser simplesmente desperdiçada sendo armazenada, mas usada o mais rápido possível. O certo é que essa energia, mesmo não usada logo, ou seja, sendo armazenada, não se perde, mas é bem provável que você não consiga controlá-la e faça uma besteira sem querer quando não queria.

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Assim, guardar sentimentos de fúria por muito tempo é sempre um problema, afinal, alguma hora você pode simplesmente surtar e ter um ataque de fúria (não é exagero meu) e acabar vitimando inocentes. O surto pode até tardar, mas não é evitável (a não ser que você passe por algum episódio que seja capaz de matar toda sua energia "raivosa", algo que lhe leve ao "nirvana" e lhe deixe zen em seu cotidiano de uma hora para outra). A verdade é que a maioria dos acumuladores de fúria surtam e geralmente por alguma razão bem idiota; creio que não estou sendo muito claro, então imagine isso: a fúria é um líquido e uma pessoa um balde vazio; uma pessoa que guarda sua fúria não colocando-a para fora no momento em que ela surgiu vai guardando-a dentro de si, vai enchendo o balde de líquido, até que chega o momento em que o balde fica cheio de fúria acumulada por dias, meses ou anos e transborda, um transbordamento que pode ser gerado por um copo americano de fúria ou por uma humilde e singela gotinha (como é um pisão levado no ônibus). O que quero dizer? Quero dizer que ao acumular muito no balde você pode colocar tudo pra fora de uma vez por causa de uma simples gota, ou seja, você pode ter uma reação muito furiosa por causa de algo idiota e agir desproporcionalmente.

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Tá, então estourar na mesma hora do fato desencadeador da raiva é o melhor, né? Mais ou menos, pois estourar imediatamente é sempre um risco, porque você, dado o nível de raiva e o descontrole natural dela, pode descarregá-la toda sobre algum inocente que não tem nada a ver com a origem de sua fúria, mas que atravessou a sua frente no exato momento em que você se irou. Ou seja, você pode colocar sua raiva pra fora logo, mas contra quem não devia... Aí já era, a besteria tá feita, o desconhecido já foi xingado, você já trocou empurrões com um qualquer, você já ofendeu um amigo ou um parente, isso se não tiver feito coisa pior. Aí é a hora que você me pergunta: Ok, seu mané metido a filósofo, mas então como é que você me manda estourar imediatamente se eu posso acabar fazendo merda? (se o Lula já falou a palavra "merda" em um discurso, então tá liberado o uso dessa palavra, agora falta o Manoel Carlos colocá-la no linguajar de sua novela das 8 para que as pessoas deixem de pudor de falá-la em público)

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Aí entra a parte da minha loucura. A minha solução é: João-Bobos (acho que esse plural tá errado, mas, ah, você entendeu) para todos!!! Hã? Como assim? Ao invés de descontar a fúria em outras pessoas, simplesmente espancaríamos nossos João-Bobos. Todos teriam os seus, ou melhor, teríamos João-Bobos públicos. Que maluquice é essa?

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Imagine você chegar em casa todos os dias e ter em quem descontar sua energia raivosa! Alguém disposto a receber toda a sua raiva que está louca para sair de você. Alguém em quem você pode descontar sua fúria sem medo e receio. Alguém que todos os dias pode assumir uma face diferente (um dia pode ser um professor que não leu seu trabalho, outro dia o seu emprego chato, outro dia um primo que não vai embora de sua casa, outro dia ele pode ser o Obina, e por aí vai...). Ah, só pra esclarecer, creio que a raiva, ao contrário de outros sentimentos, como o amor, não precisa de outro ser humano para ser expressada, pode ser expressada por meio de objetos. Então: NÃO APOIO AMAR ROBÔS E NEM FAZER AMIZADE COM ELES!

Voltando... Imagine descartarmos nossa raiva todos os dias, nunca acordar com raiva, nunca dormir com raiva. Imagine não pegar aquele ônibus bem cedo no qual o motorista, com raiva da mulher, frea bruscamente toda hora só pra descontar sua raiva. Imagine não ter uma professor que dá uma prova difícil só porque tá com raiva da turma. Imagine não encarar seu irmão mal-humorado logo de manhã. Imagine não levar bronca de graça de alguém nervoso. Imagine não levar porrada de graça do policial que tem raiva do emprego e do salário que tem. Imagine quantos crimes deixariam de ocorrer, quantas vidas se manteriam preservadas. Imagine...

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Só mais duas observações: Para descontar sua raiva num João-Bobo, você teria que guardar a sua raiva por alguns minutos ou horas, só até encontrar algum João-Bobo na rua ou chegar em casa e surrar o seu. Esse armazenamento não seria ruim como aquele que questionei acima, mas benéfico, o único acúmulo de raiva benéfico. Outro ponto a esclarecer: Não acho que devemos ser passíveis diante das coisas, ser ovelhinhas tranquilas, só acho que não devemos punir inocentes por coisas que não deram causa, descontarmos nossa raiva em quem não merece, daí a utilidade dos João-Bobos, são meros canalizadores neutros de energia raivosa, só isso, não algo para tornar as pessoas passivas diante do mundo.

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João-Bobo é mais paz na sua cidade! É mais paz na sua casa! João-Bobo é emprego nas fábricas! É comércio sempre movimentado (afinal, eles não são eternos e seriam 180 milhões de unidades, fora os que seriam públicos). Adote um João-Bobo! Dá até nome de um programa social: "Meu 1º João-Bobo".

Brincadeiras à parte, pense na ideia (sem acento agora).

4 comentários:

Paula Ceotto disse...

Acho que bater em um joão-bobo não seria tão bobo assim. Ajuda a descarregar. Almofada, colchão, sofá... tudo serve também. Alivia, mas nas horas mais insanas não dá muita vontade de contar até dez ou guardar a raiva pra desforrar depois. Talvez porque raiva seja algo mais que vontade de bater e descarregar. Creio mesmo que seja, desde o dia em que um professor meu disse que ninguém chora por raiva. Há algum outro afeto envolvido. Isso me fez pensar muito e concordar, enfim. Raiva às vezes é tristeza, às vezes é dor; frustração ou mesmo amor. Raiva é uma palavra meio genérica, até, de tanta coisa que ela comporta.

P.S.: Era para eu saber quem você é?

Paula Ceotto disse...

Ah! Gracias pelo comentário em 'la experiencia divina'.

Dani disse...

Programa Social?? acho q não; mas seria sim um inicio para o controle ñ só emocionalmas tb fisica, pois ampliaria as visoes para o certo e logico e ñ para o duvidoso.

mas as vezes o unico joão bobo q queremos é nós mesmos, pois nada nos constrange tanto como nossas atitudes impensadas.

Don Quasímodo disse...

Então, eu não tinha pensado por esse lado, Powah Kyotto (um dia vou te perguntar sobre esse pseudônimo). Eu concordo com vc quando diz que raiva é um termo que pode ser bem genérico, mas na ocasião de meu texto eu pensei apenas no sentido de "bater e descarregar", não pensei nessas outras possibilidades. Estou pensando nelas agora (e acho que pensarei por um bom tempo).

Danielle, a ideia de Programa Social foi só uma maneira irônica de encaixar a ideia de socializar Joãos-Bobo e as políticas sociais atuais. Veja esse texto como sério e brincalhão, lembrando que em toda brincadeira há uma ponta de verdade (ou seriedade, no caso). E concordo com a afirmação de que, às vezes, nós mesmos somos o joão-bobo desejado, exatamente por aquilo dito por Powah, raiva não é só bater e descarregar, há algum afeto envolvido, pode ser só frustração consigo mesmo. Mas no texto eu pensei só no sentido de bater e descarregar.