quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Sara

Malandro não para, só dá um tempo...

O mundo anda muito chato ultimamente. Aliás, as pessoas andam muito chatas. Histéricas demais, mais precisamente. Um absoluto descontrole. Gritos, rosnados, mordidas, tiros e tudo mais que seja ariano e impulsivo. Um saco.

As pessoas andam muito extremas, armadas com pistolas ou balanças de julgamento nas cinturas. Primeiro atiram e depois julgam.

Perdi um pouco do encanto de escrever, de debater, de ensinar e (porque não) de aprender. Tudo anda muito à flor da pele. 

Voltamos aos tempos em que as pessoas acreditam em ameaça socialista, em necessidade de combater a expansão dos costumes e ideologias que ameaçam a família. Eu realmente ando sem paciência para conversar com essa gente sobre sociedade/política. Não consigo. Simplesmente não consigo.

Comprei uma piscina de plástico e coloquei na varanda do meu apartamento. Não quero saber de mais nada. Só me interessa assistir mesas redondas de futebol e conversar sobre amenidades.

Por menos praia e mais educação. Menos sol e mais inverno. Os tempos de frio ensinam e os dias de calor desatinam. Talvez seja isto: o aquecimento global queimou nossos miolos e elegemos um cara teimoso e retrógrado. Odeio gente teimosa. Na teimosia falta humildade, sobra orgulho e extremismo e escolhas impulsivas. Mas o que é a vida senão uma sucessão de escolhas burras? O problema é quando nós é que precisamos suportar as consequências das escolhas burras do outros e, pior, ter que corrigi-las.

Um freak show.

Estou me tornando, além de velho, um cara chato e azedo. Mas um cara azedo doce, tipo agridoce (aliás, odeio molho agridoce), para o qual as pessoas ainda olham com olhos de carinho e ternura. Esta é a minha salvação, saber que as pessoas ainda gostam de mim e, inclusive, me leem. Inclusive, se eu pessoalmente te falei deste blog é porque gosto muito de você e confio meus sentimentos e pensamentos a você. Não que seja uma honra, mas uma mostra de profundo respeito e consideração por sua pessoa, afinal, não me interessam os holofotes, elogios e etc em torno do que escrevo por aqui. Em tempos de extremismo, ter alguém com quem compartilhar nossos pensamentos, sem medo de tomar um tiro ou ter o coração pesado na balança de Anúbis, é uma honra.

Mas escrever tornou-se subversivo, coisa de ideologia marxista. Então tenho dedicado meus dias a trabalhos braçais, mesas redondas de futebol, pornografia e ao estudo adestrado para concursos. Daqui a pouco, vou capinar um quintal, pela honra do meu querido Brasil. Então não me julgue e não me espere para o próximo texto, porque pode demorar.

Brasil!

2 comentários:

Anônimo disse...

Como você disse "Malandro não para, só dá um tempo".
As vezes é bom dar um tempo do raciocínio e fazer escolhas impulsivas. Como diria minha avó, "tudo é de época".
Se fôssemos absolutamente racionais deixaríamos de viver muita coisa. A teoria do risco não é justa. Como calcular um risco somente pela premeditação?
Acho que vale a pena refletir sobre o termo que você usou inclusive: "Ariano".
Ares, segundo a mitologia impulsionava e curtia as guerras, acho que é a forma que ele encontrava paz. Sorte dele se conhecer para procurar o que o fazia feliz. Estranhamente, não ganhava todas as guerras, mas acho que gostava de as viver mesmo assim. Amante da Deusa do Amor, não era querido pela maioria, mas tinha contraditoriamente uma personalidade protetora.
No fim, somos todos antagônicos e a reflexão sobre nossa postura nos torna menos egocêntricos e detestáveis - eu gosto de pensar que isso significa ser excêntrico.

P.S. "à flor da pele" pode ser bom, assim como molho agridoce - gostos são diversificados, mas você poderia apenas ter comido um incompatível com seu paladar.

Don Quasímodo disse...

Depois de dias pensando, não sei o que dizer. Demorei também porque não tenho muito tido vontade de dizer, tenho preferido só ouvir. "Tudo é de época"...

Dificilmente quem comenta volta para ver, mas se um dia voltar, o que talvez eu possa lhe dizer que é fascinante como consigo divergir de você e concordar com seu ponto de vista. Isto traz em si um pouco desse antagonismo que você menciona.

Pessoalmente, não gosto de correr riscos, mas viver já é um risco, uma vez que estamos expostos a todo o tempo a uma série de variáveis imprevisíveis e incontroláveis. Então, no meu antagonismo, gosto de ter a falsa sensação de que tenho controle sobre algumas coisas, mesmo sabendo da quase completa incerteza que é viver.

Sobre Ares, obrigado! Me apeguei a uma das características que atribuem ao signo de áries: o agir impulsivo. Então fiz um jogo irônico de palavras com isto. E, de fato, tenho dificuldades em lidar com pessoas impulsivas (arianas ou não). Ninguém é impulsivo todo o tempo, mas alguns são impulsivos a maior parte do tempo. A vida tem seus momentos de impulsividade, bons e ruins. Mas tudo na vida é meio assim ("copo meio cheio / meio vazio"), as escolhas racionais também conduzem a resultados bons e ruins, afinal, basta uma variável não prevista no pensamento racional e tudo que se planejou pode dar muito errado. O racional não evita resultados ruins, mas traz ao espírito uma sensação de mais segurança (ainda que uma falsa segurança).

Por fim, é gosto, mas molho agridoce é ruim demais hahahaha Então, quando digo que me sinto cada vez mais agridoce, é uma autocrítica mesmo.