sexta-feira, 22 de abril de 2011

[FILÉ COM FRITAS] Monólogo dialogado II

[FRITAS]

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o diálogo abaixo é fictício e pode ser bem chato para quem não está com saco para textos sentimentalóides (é sério). Sinceramente, se fosse em outro blog e o texto não fosse meu, talvez eu nem lesse... (não estou fazendo doce)


ESTAÇÃO I - Caminito

http://eltonpacheco.files.wordpress.com/2008/05/caminito.jpg

Eu conhecia aqueles olhos suficientemente para saber que eles estavam - mais uma vez - inseguros. Eu via a insegurança naquela escuridão que me puxava aos confins, às retinas. Eu sabia que se não me manifestasse, não saberia o teor daquela incerteza tão explícita naquela implicitude, afinal, ele não entregava facilmente as suas emoções. Então perguntei, sem rodeios (com aquela cumplicidade típica dos amigos):

- Qué pasa, hermano? Aconteceu algo?
- Cara, você acha que um não pode ser um sim? - perguntou-me com um frágil ar de dúvida
- Ah, cara. Você sabe como eu sou bem quadrado. Logo, pra mim, não é não e sim é sim. Caso contrário, não haveria razão para existirem as duas palavras.
- Sim, isso é óbvio. Mas, saindo desse mundo linguístico no qual você está se apegando, ou seja, falando do mundo real; você não acha que uma pessoa pode dizer um não querendo dizer um sim e esperando que o não seja assim entendido? - perguntou ele tentando convencer-me
- Ou seja, se acredito que uma pessoa diga um querendo dizer o outro de propósito? Querendo ser entendida nas entrelinhas? - questionei
- Sim! - disse ele
- Talvez, mas ainda assim, creio que isso seja meio difícil de acontecer, porque a pessoa que faz isso está arriscando-se demais ao querer contar com o feeling da outra pessoa para ser bem entendida. Mas por que essa enrolação toda? Qual é o seu problema, afinal? - perguntei sem muita paciência com os rodeios dele
- Sei que você não gosta de falar sobre mulheres, mas é um problema envolvendo algo dito por uma delas a mim. - retrucou parecendo contar com a minha piedade
- Aff. Ainda bem que você sabe que não tenho muito saco pra ficar falando de mulher, afinal, esse papo é muito imaginativo, não conduz a conclusões e só cria mais dúvidas.
- É... eu sei desse seu bizarro ponto de vista. - respondeu-me entre risos e com um ar mais descontraído
- Aproveite então que estou de boa vontade e me conte o que a guria te fez.


ESTAÇÃO II - O mergulho na Eau Rouge

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- Tipo, eu cheguei numa garota que há tempos eu estava em dúvidas se deveria chegar. Pensei que talvez eu tivesse alguma chance, afinal, ela está há mais de um ano solteira e somos um pouco próximos.
- Hum... - disse eu, dando linha para ele seguir o tango argentino
- Pensei que talvez ela estivesse livre para viver novas experiências com pessoas diferentes e mergulhei na desafiante Eau Rouge.
- Eau Rouge? Que bela alegoria... - retruquei rindo.

Brincando um pouco mais com a alusão feita por ele, falei:
-Você sabe que poucos têm coragem para mergulhar na Eau Rouge com o pé embaixo até que ela chegue ao fim, né?
- Pois é, eu não tive aqueeeela coragem e mergulhei nela todo receoso. Resultado: ganhei um duvidoso não. Um não meio frio, mas embasado em argumentos tão plausíveis que soou como um "tente mais um pouco". Acho que apesar do não, ela quis me dar um sinal verde para acelerar um pouco mais e tentar um novo mergulho - falou-me com o ar de esperança daqueles que estão dispostos a recorrer de uma sentença


ESTAÇÃO III - Alcatraz

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Antes que eu falasse algo, ele emendou:

- Eu não consigo imaginar que uma guria tão disposta a viver novas coisas possa estar acorrentada há mais de 1 ano a um ex-namorado que parece não querer nada com ela. O não dela só pode ser um sim!
- Tá vendo porque não gosto de falar de mulher. Não tem o menor sentido ficar perdendo tempo tentando entender a cabeça delas. É perda de tempo, porra! - falei manifestando minha contrariedade em discutir o tema
- Talvez você tenha razão, mas eu preciso de uma orientação, cara. Tipo, o ex dela parece amar todas, mas ela, por algum motivo ilógico de mulher e ainda que não tenha mais nada com ele, parece ainda esperar uma decisão dele. O mais contraditório é que ela gosta de aparentar estar toda segura de si e de ter toda uma vida livre a experimentar.
- Ah, cara... Deixa ela resolver a vida dela com o ex então. Pula fora desse embrolho!
- Mas eu gosto dela! Além disso, não resta nada a se resolver entre ela e o ex; só ela parece ainda não ter percebido! Ela não vê que ela mesma se tranca numa prisão enquanto aguarda uma formal autorização de liberdade para conhecer outros caras. - disse-me como uma metralhadora giratória de argumentos
- Bicho, mulher tem dessas coisas; são muito sensíveis. Se autoflagelam por relacionamentos finalizados, sofrem de modo interminável por essas coisas. Sei lá, elas sofrem demais, falam de marcas, cicatrizes... É claro que eu nunca vivi um fim de relacionamento, mas não consigo imaginar que essas coisas do coração sejam tão dolorosas. Pra mim, apesar das boas lembranças de algo, tudo tem naturalmente uma validade e é preciso saber viver em meio a tantas despedidas: o fim é o fim e ponto. Pra mim, a pior dor é aquela da incerteza, não a de algo que chegou ao fim.
- Num é? Nisso eu concordo com você: o fim é o fim e ponto. É preciso saber se permitir; ter uma nova vida após o final de um relacionamento. É preciso sair da prisão!
- Avançamos um pouco então. - retruquei


ESTAÇÃO IV - O cantar do galo

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- É por isso que acho que o não dela só pode ser um sim! Um não que saiu acriticamente de alguém que se acostumou a dizer não desde que saiu de um relacionamento, já que sem perceber ela se manteve presa. - insitiu ele
- Pera lá, cara! De verdade, acho que você é que está se prendendo. Você está se agarrando às últimas esperanças para querer, como um alquimista, transformar um não em um sim. Talvez, essa garota precise de ajuda para se libertar de uma prisão, mas nada impede que ela, simplesmente, não queira nada com você. É triste, mas pode e tem grandes chances de ser apenas isso. Essa é a solução mais simples, a sua é que é muito complexa... - falei com a certeza de quem enfiava um punhal no peito dele
- Não, cara. Ela pode ter se feito de durona pra mim esperando eu insistir para depois me dar um sim! - falou com o ar descontrolado de quem tenta se segurar às últimas esperanças
- Lamento, cara, mas um não é sempre um não, ainda que sutil. - disse eu, certo de estar cravando ainda mais fundo o punhal
- Eu quero mostrá-la que posso tirá-la da prisão. Eu quero uma chance apenas, apenas uma... - contestou com o esforço daqueles que dão seus últimos suspiros
- Entendo, mas acho que você precisa respeitar o não dessa guria, ainda que ele seja apenas uma decorrência da prisão na qual ela pode ter se lançado ao terminar com o ex. Sabe por que? Um não é sempre um não...


ESTAÇÃO V - Chernobyl

http://hojemacau.com.mo/wordpress/wp-content/uploads/2011/04/Chernobyl.jpg

Depois disso, mergulhamos num sepulcral silêncio. E voltamos a estudar, afinal, isso é o que realmente importa.

Às vezes, o melhor a se fazer é silenciar algumas sensações...

2 comentários:

Fabríola disse...

Muito bom, fofinho!!

Don Quasímodo disse...

Achei o diálogo chato, principalmente por eu não ser bom em escrever narrativas e em falar sobre temas afetivos. Por isso, muito obrigado, Bri! (tanto pelo elogio ao texto, quanto pelo "fofinho" - hehe)