domingo, 24 de setembro de 2017

Manifesto

Quando você disse simplesmente "Venha!", o chamado encontrou um soldado vencido, rendido, entregue e sofrido. Maltratado pelas emoções da vida, pelos jogos e por gente indecisa. Seu chamado encontrou um Ulisses resistente - moralmente resistente -, mas entregue, de fato, desde o primeiro "não". Como resistir a um sentimento tão espontâneo vindo de uma pessoa tão admirável e virtuosa? Como resistir a um chamado que até então ninguém teve coragem de fazer diretamente? Como resistir a um chamado de quem sabe o que propõe, diante de uma vida marcada por ofertas indecisas?

Ah, mas tem os riscos... Sempre tem os riscos. Inúmeros, aliás. Riscos bons e riscos ruins. Riscos certos e riscos incertos. Mas viver é um risco. Tivemos chances de morrer no dia de hoje. E não percebemos. De que valem os riscos, afinal, se não for para nos lembrarmos que não somos eternos e de que a vida é frágil como um sopro? Porém, eles existem. E os que mais temo são os que envolvem terceiros. Não temo por mim. Nunca escondi de ninguém que, ainda que com alguma vergonha/receio, assumo todos os meus atos, de modo honesto. Temo pelos outros, sobretudo pelos niños inocentes. Uma mulher deixa de ter direito a uma vida, deixa de ter direito a se realizar, quando se torna mãe? Não. Mas ela se torna eternamente responsável pelo o que cativas. E isso pesa.

Calma lá! Mas isto é uma radicalização! Focar no risco mais pesado é uma injusta forma de analisar a situação. E que situação! Maravilhosa e fantástica situação, no melhor sentido que essas palavras podem ter. Uma radicalização que vê além da paixão. E é preciso ir e pensar para o que está além da paixão? Ora, essa busca por riscos ofusca o momento, tira parte de sua cor. É preciso vivenciar, experimentar e deixar a vida dizer "qual bicho vai dar". Mas é inevitável! A experiência mostra que quando a vida aproxima dois românticos o "bicho" que dá é quase sempre o mesmo... Porém, a experiência de viver, ainda que por longos anos, nunca evitou que alguém pudesse morrer. Experiência não desvenda tudo. 

Este momento pode ser bem curto e ter consequências bem menores do que se pode imaginar. Pode ser só um lance. Uma paixão de primavera. Um afeto de almas que estão se decifrando e de corpos que estão se desejando. E isto não vai me frustrar, ainda que eu venha a me apaixonar. Então por que tanta indagação? Te prometo menos perguntas e mais ação. A resposta que parece mais óbvia a um olhar racional é a de que tudo não passa de uma grande loucura. Mas como diz um verso de uma banda que eu detesto: "Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão?"

Deixem ser. Deixem acontecer. Vivam! Melhor lembrar do que se viveu, do que sofrer pelo o que não se experimentou. Quando almas se encontram, elas precisam ter a oportunidade de se comunicar e de se sentir. Depois de se decifrarem, elas descobrem por si mesmas qual o grau de proximidade devem manter entre si. Não façam o mal e tudo será bem. Não se culpem, só assumam as responsabilidades pelo dever-ser.

Criar expectativas na vida é uma puta presunção, uma baita ideia de autoconservação, que precisamos manter para encontrar segurança e motivação. Mas, o que garante o próximo amanhecer? As escolhas ajudam a criar certa ideia de certeza; contudo, uma frágil certeza, desmanchável como fumaça no ar.

Então faça! Disponha-se! Entregue-se! Ame! Pois nunca é tarde e nada é irreversível, exceto a morte.

3 comentários:

Anônimo disse...

As pessoas deviam ser livres pra amar.

Anônimo disse...

Uns querendo amar e outros não podendo.
As pessoas deveriam ser livres pra amar.

Don Quasímodo disse...

Mas elas são livres. Acontece, no entanto, que nem tudo que nos é permitido nos é conveniente em determinados momentos. No fim, não nos permitir algo que podemos fazer não, deixa de ser um exercício de liberdade. Ainda que a escolha possa ter sido influenciada por questões sociais, morais etc., as escolhas são sempre nossas.