domingo, 8 de maio de 2016

Vida

Hoje é, oficialmente, dia das mães. Dia de celebração da vida, em seu duplo sentido. Pôr um ser no mundo, seja como pai ou mãe, representa celebrar uma vida que nasce e uma vida que renasce, daí o duplo sentido mencionado por mim.

Ser responsável por uma vida muda o modo de vermos nossas próprias vidas. Não precisa ser pai ou mãe para saber disso; basta, guardadas as devidas proporções, experimentar viver a sensação de ser responsável por cuidar de um ser que depende de você, como um animal de estimação ou uma planta. Aliás, atualmente, cuido de uma planta na varanda de meu quarto, uma planta que me seduz a cada semana com novos ramos verdinhos, que crescem fortes, bonitos, como se em agradecimento aos meus cuidados.

Poucas coisas podem ser tão enriquecedoras em nossas vidas como ter uma vida sob nossa dependência. Cuidar de uma vida valoriza nossa própria existência, nos torna importantes e, de alguma forma, mais preocupados em cuidarmos de nós mesmos.

Mas não se engane! Cuidar de uma vida também representa uma parcela de renúncia de si mesmo, abrir mão de parte de nossa individualidade, abrir mão de tempo (pouco ou muito), de momentos em que se desejava estar a fazer outra coisa, de oportunidades e por aí vai. Cuidar de uma vida dá trabalho, o qual pode ser recompensado ou não, a depender da visão de nós mesmos sobre a vida.

Dentro dessa lógica, escolher ter uma vida para cuidar mostra-se algo cada vez mais controvertido. Não é mistério para ninguém que vivemos em uma sociedade individualista, na qual nossos desejos e metas pessoais se sobrepõem, na maioria das vezes, à vida em sociedade. Nesse sentido, é cada vez mais comum vermos casais que optam por, primeiro, viverem anos "livres" de filhos para curtirem a vida a dois e alcançarem mais facilmente suas metas profissionais para, depois, quando houver tempo, terem filhos. 

Acontece, no entanto, que nem sempre o tempo passa e alcançamos nossas metas pessoais e então, quando ter filhos passa a não influir mais no insucesso pessoal alcançado, se decide tê-los. O problema é que, mais velhos e desgastados pela vida e por suas preocupações, nem sempre estamos no melhor momento de nós mesmos para se dedicar à vida de outro ser, surgindo dificuldades, às vezes, até para reunir condições físicas para brincar com uma criança e gastar energia com ela.

Decidir não ter filhos, cada vez mais, se tornou uma demonstração de individualismo, de garantia de mais de nós mesmos para nós e de menos de nós mesmos para os outros, ainda que nascidos de nós. Os valores propagados pela sociedade contemporânea indicam que a maternidade e a paternidade são obstáculos para nosso crescimento pessoal, de forma que devem ser evitados ou retardados ao máximo; quando na realidade, dentro daquela ótica de dupla celebração da vida, a maternidade/paternidade representa um renascimento de nossas próprias vidas, um recomeço necessário - de onde se extrai que ter com quem se preocupar além de nós mesmos pode, ao invés de um problema, ser o ingrediente necessário para aumentar nossa sede por conquistar o sucesso pessoal, ser o estopim da bomba.

Por sorte, a maioria dos nascimentos (pelo menos no Brasil) não são planejados, embora a lógica diga que isso é péssimo. Ainda bem que os bebês acontecem. A perpetuação do sentimento de humanidade agradece. A vida ainda respira.

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