segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Lamento urbano

Ela não aprecia o que eu escrevo;
É de uma indiferença comovente.
Talvez, algum juízo de valor;
Quem sabe uma reprovação.

Eu me decifro nas palavras
E me complico nelas também.
Com as mesmas que escrevo
Eu ouço o que não digo.

Há uma profunda contradição
Em escrever o que não diz
E em dizer o que não escreve.
Afinal, para que escreves?

Escrevo pela companhia,
Pelo soco na solidão,
Pela consciência perdida
E em busca de perdão
Ou paixão.

De onde escrevo já não há luz,
Além da terça-feira que invade
Com cobranças
De um dia da semana infeliz.

Tenho pena das terças;
Nunca serão como as sextas.
Tenho pena dos meus sentimentos;
Nunca serão mais que momentos.

Não rimo mais,
Só lamento.
Não acredito mais,
Só invento.

Há coragem na resignação,
Aprendizado na frustração.
Sem afeto na paixão,
Só lamento no coração.

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