sexta-feira, 23 de julho de 2010

You only live twice

Estranho. Eu esperei ansiosamente por hoje para vir aqui escrever, mas não estou com muita vontade. Quero ver no que isso vai dar e te convido a aventurar-se comigo por essas linhas seguindo o trilho deixado pela minha falta de vontade.

Por que coloquei esse título na postagem? Logo eu que odeio a língua inglesa com todas as minhas forças e que não acho muito certo escrever coisas em uma outra língua que nem todos os meus leitores conhecem. Pode parecer frescura, mas eu não gosto de que façam isso nos textos que leio, principalmente naqueles livros de Direito nos quais o autor cita trechos em alemão, latim, francês ou italiano e não traduz achando que eu, leitor, tenho obrigação de saber o que está escrito...

Estou percebendo que eu estou enrolando vocês, o texto está beeeeeeeeeem preguiçoooooooooooso ...zzz - Mas então, voltando! Para aqueles que nunca ouviram a frase do título, aparentemente sem muito sentido, explico que a tirei do nome de um dos filmes da série 007, da década de 1960. Em português traduziram para "007 - Só se vive duas vezes" (pronto, traduzi o título para aqueles que não falam nada de inglês). A filha do Frank Sinatra, Nancy Sinatra, gravou uma linda música para o filme, se puder, ouça-a na versão cantada por ela, é uma letra bem bonita, apesar da letra não ter nada a ver com o tema do texto, só mesmo o título dela tem alguma relação com o que eu vou dizer abaixo.


Você tem e-mail? MSN? Skype? Orkut? Facebook? Twitter?... (tá... eu sei que é errado usar interrogação depois reticências, mas deixa assim) Ok, você deve ter pelo menos um deles, certo? Você já parou para analisar como a sua vida passou a ser invadida por essas modernidades, como você abriu as portas da sua privacidade para estranhos? Sim, estranhos. Não me refiro diretamente aos seus contatos, me refiro às empresas que abrigam a sua conta virutal. Ao se cadastrar em qualquer um deles, você permite que essas empresas possam monitorar sua vida de alguma forma: desde os seus dados iniciais que te exigem para criar uma conta até o que efetivamente você conversa virtualmente com os seus contatos. Conspiração? Não! Não é disso que estou falando. Me refiro apenas à forma sutil com que você entregou inconscientemente às grandes corporações o controle sobre informações confidenciais em sua vida.

Sabem o seu nome, localizam de onde você se conecta, sabem que tipo de site você mais frequenta, com qual frequência, sabem qual é o seu time (toda vez que entro na internet brota publicidade de camisas do Palmeiras, acho isso meio estranho...), sabem com quem você interage e, quiçá, o que você conversa por e-mail ou MSN e Skype... Não sei exatamente o que podem fazer com esses dados, mas NÃO ACREDITO EM CONSPIRAÇÕES. Apenas acho peculiar a forma com que cedemos nossos dados sem hesitar perante esses grandes estranhos...


O Orkut (não digo também o Facebook porque não o conheço bem) é o caso que julgo mais interessante. Nele as pessoas são capazes de expor o que têm de mais íntimo, e não é só para a empresa GOOGLE, expõem essas coisas a pessoas estranhas. Postam fotos com parentes, amigos, estranhos da balada. Preenchem um perfil repleto de gostos pessoais. Juntam-se a comunidades que expressam seus gostos e desgostos. Deixam recados (abertos ao público, dependendo da configuração da caixa de recados). Mostram-se alegres. Tristes. Sóbrias. Bêbadas. E por quê? Há um agir consciente nisso? Não há uma resposta simples para isso, há um conjunto de fatores que levam a esse comportamente e eu não sou soberbo a ponto de dizer quais são. Há pessoas que expõem tanto as suas vidas no Orkut que qualquer pessoa atenta que dedique meia-hora fuçando o perfil delas no orkut é capaz de montar um "dossiê" bem completo. Digo isso porque já fiz esse teste (sem fins maléficos, eu garanto!) algumas vezes e gastei menos de meia-hora para montar o dossiê.

Qual era a maior recomendação dada por seus pais (avós, irmãos ou tios) quando você era bem pequeno e ia para a escola? "Não fale com estranhos e não aceite presente de estranhos." Então me responda? Por que, hoje, que você já "entende os perigos do mundo", você fornece tantas informações aos desconhecidos pela internet? Talvez seja algo inconsciente, mas você faz isso com certa frequência. Se um desconhecido, na rua, te pedisse o seu nome completo e alguns dados intimos sobre você, você daria? Provável que não. Mas por que pela internet nem hesitamos em criar contas em dezenas de sites e em dizer quem somos e do quê gostamos?


Eu também faço o mesmo, não quero dar lição de moral em ninguém. Mas quero pensar junto com você sobre essa realidade. Tenho contas de e-mail no gmail, no hotmail e no yahoo, tenho MSN, Skype, Orkut (logo eu que era até maio de 2008 um crítico feroz dessas modernidades). Mas a minha ficha caiu sobre essa realidade no dia em que eu recebi um convite para criar meu Facebook. Eu pensei: "What porra is this? ("Que porra é essa?" - título de um CD do cantor Falcão) Esses caras já sabem meu nome, onde eu moro, meus gostos, sabem minhas senhas, agora querem me furtar mais o quê? Chega! Eu já abri minha privacidade demais para o mundo virtual! Não vou criar um!" Aí lançam o Twitter, aí pensei: "Agora virou putaria... Querem mais o quê? Saber quando eu vou ao banheiro em 140 caracteres? Não! Isso já é demais para mim! Também não vou aderir a esse troço! Vocês já sabem de mais sobre mim." E assim parei de aderir às novas redes sociais...

A verdade, senhores, é que as pessoas estão se entregando demais à vida virtual, estão vivendo apaixonadamente uma segunda vida ao mesmo tempo que a primeira. Para muitos, a segunda já se tornou a primeira! Parei para perceber isso bem um dia em que fiquei chateado ao ver que alguns contatos do meu MSN estavam inativos há muito tempo (logo, pararam de entrar ou me Bloquearam ou me DELETARAM! Que absurdo! Como que tiveram coragem de fazer isso comigo? hehe). A possibilidade de que tivessem me bloqueado ou deletado me fizeram perceber que em minha VIDA VIRTUAL talvez eu não seja tão querido, algo muito estranho para mim, que na VIDA Nº 1 sou sempre tão querido... A mera POSSIBILIDADE de terem feito isso comigo me mostrou que eu tinha uma 2ª vida, na qual eu nem sempre era percebido como eu sou de fato. Preocupante, não? Eu não quero ter uma 2ª vida, eu tenho por mero acidente. Eu sempre jogo coisas assim na regra dos 20 anos (eu não tive uma segunda vida por 18 anos, logo, vivi muito bem com uma só nesse período, assim só tenho uma segunda vida há 2 anos, então dá para descartar!). O problema todo é que algumas vezes a impressão que fazemos sobre alguém a partir da 2ª vida dela reflete no trato que teremos com ela na vida nº 1.


Loucuras do século XXI, no qual os laços se tornam cada vez mais efêmeros; no qual a vida virtual mostra-se mais conveniente do que a real, afinal, na virtual todos os laços podem ser feitos e desfeitos (como na velocidade de um adicionar e um deletar no MSN). Pessoas dizem namorar com pessoas que nunca viram de verdade, que nunca abraçaram, e com a mesma rapidez deixam de namorar essas pessoas. Pessoas dizem fazer sexo pela internet, quando na verdade nunca sentiram o toque da pele da outra pessoa. Pessoas brigam pela internet, xingam-se, falam coisas que não falariam numa briga cara a cara. Pessoas falam horas por MSN e quando se encontram de verdade não têm assunto, mal trocam um "oi". Muitas vezes as pessoas consideram mais verdadeiro um sorriso forçado numa foto com "amigos" colocada no Orkut do que um abraço real de um amigo sincero. Tudo está muito efêmero, parece que viver assim é menos complexo, sempre dá para "deletar" e "adicionar" as pessoas quando for mais conveniente, sem ter que dar explicações; assim como sempre dá para fazer um "control Z" e fingir que tudo sempre foi do mesmo jeito que antes.

Uma vida dentro da outra. Sabe de uma coisa? Acho que "You only live twice" faz algum sentido...

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