sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O mundo pesa nas costas, não ?

Começo neste texto a pagar uma dívida de uns 4 meses atrás, quando numa noite de sexta-feira como a de hoje tive uma conversa reveladora, por MSN, com um velho amigo. Gostei tanto da conversa que até a salvei e me comprometi de digitaliza-la aqui. Ah, o título é uma frase da conversa, que por sinal não foi dita por mim.

Como bons amigos que somos, falamos de diversas coisas, criamos até teorias, até que chegamos num assunto crucial que me fez querer digitalizar a conversa em um texto. Falávamos da falta de espontaneidade no agir das pessoas, até que surge a observação:
"X" diz:
se fabricam cérebros hoje



O tema está meio vago até agora, né? Não, eu não sou hippie e não vou lhe falar de um assunto hippie, revolucionário ou comunista. O simples fato de você me achar assim já reflete que uma parte de seu cérebro foi fabricada, afinal, falar de temas abstratos é tido socialmente como "coisa de hippie", de revolucionário esquerdista. Eu também comecei esse blog assim, lembra de quando eu critiquei isso no "Tempo, tempo, tempo..." ? Então, meu cérebro também foi fabricado, mas desde aquele dia eu parei de levá-lo na manutenção da Rede Globo e da Revista Veja; tá eu confesso, de vez em quando eu passo por lá, mas é só pra adicionar um arquivo de "assuntos para puxar papo com poutras pessoas". Ah, no "Tempo, tempo, tempo..." eu critiquei os filósofos, mas nisso eu não mudo, continuo achando-os um bando de egoístas.

Voltando a falar dessa fabricação de cérebros na atualidade, será que tem como fugir dessa produção em massa? Sim, doutores, e eu já dei a resposta antes, sabe qual é? PENSANDO. Querem nos dar todas as respostas, o que nos é cômodo, mas se quisermos pensar nunca seremos fabricados, pelo menos não totalmente. No livro "1984" de George Orwell (leia, é simplesmente espetacular), por exemplo, o Estado controla e vigia todos os comportamentos das pessoas, mas não consegue saber o que elas pensam. Sim, amigo, podem te impedir de agir, mas nunca de pensar, nunca saberão o que passa na tua cabeça, isso só você sabe e só você pode controlar. Você tem a chave da sua liberdade!




Ok, te dei uma dica, mas não a solução, pense em uma solução na sua cabeça (eu adoraria adivinhar o que você tá pensando agora, talvez esteja achando que eu seja algum tipo de louco). Sabe porque fabricam nossos cérebros? Porque deixamos. Sim. Você não pensa porque quer, você aceita soluções prontas porque não quer pensar e produzi-las, você quer manter-se dominado, você deixa que dominem os seus pensamentos. Lembra o que eu disse antes? Ninguém pode controlar o que você pensa. Contudo, nada impede que fabriquem o que você vai pensar; não é uma ótima forma de controle? Pronto, agora você já sabe como se fabricam os cérebros.

Você se sente desmotivado pra pensar? Isso é normal. Amigo, andam te desestimulando a pensar, uma das armas é a "socialização da mediocridade" (créditos ao professor Geraldo pelo termo), estão, por exemplo, despolitizando as pessoas, sabe como? Veja como estão usando a mídia na atualidade, veja como é construtiva a programação das TVs. Por que passa novela toda hora? Por que há mais de 15 anos passa Domingão do Faustão? Essa internet que só incentiva o ócio... Você passa mais tempo colhendo informações ou olhando coisas aleatórias, como esse blog, na internet? Quem banca a imprensa? Quem detem os meios de informação? A elite, certo? É óbvio que só vão veicular informações que estejam de acordo com os seus interesses. Ué? Estranho? Claro que não, se você é o dono, você vai deixar veicular informações que vão contra os seus interesses? Seja sincero... O problema todo é que eles negam que fazem isso, não assumem, dizem assim: "Somos imparciais e blá blá blá blá".


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As mídias fugiram do controle, não estão mais ligadas aos seus objetivos iniciais, o jornalismo , por exemplo, não se pauta nos fatos, mas no interesse financeiro dos detentores e parceiros dos meios de comunicação. Hoje, as mídias são instrumentos de dominação, do pior tipo de dominação: da dominação intelectual. Conduzem nossos pensamentos para um caminho desejado por elas e a gente aceita por não estar afim de pensar ou não ter tempo para isso (afinal trabalhar o dia todo não deixa tempo para pensar).

Sabe quem poderia nos ajudar a fugir dessa dominação? O universitário. Temos tempo para pensar e somos a elite do saber, mas não usamos e nem queremos usar nossos conhecimentos de mundo para acordar a sociedade. Enquanto essa elite universitária ficar só queimando as células cerebrais fumando maconha e ficar discutindo os problemas da sociedade somente dentro da universidade, apenas no campo teórico, não vamos ter revolução alguma. Esses putos falam de Marx lá dentro da Universidade e esquecem de que se só eles pensarem em revolução e deixarem as mídias guiarem o povão aqui fora nada vai sair. Eu odeio esses marxilóides, enchem a boca para pregar ideias que não eram nem do próprio Marx, ideias deturpadas e mal interpretadas ao longo do tempo. Hoje, nem Marx seria marxista, e eu muito menos.


O universitário fica discutindo o mundo e o universo dentro da Universidade, pensando com outras pessoas que pensam, não leva a luz do saber a quem não pensa, a quem tem quase 100% do cérebro fabricado. Enquanto isso as elites estão trabalhando, elas veem o potencial desse povo que não pensa; esse povo é como um gigante dormindo. As elites tocam flauta para ele continuar dormindo, enquanto isso, cadê os pensadores? Estão fumando maconha e pensando em cima da barriga do gigante que dorme. Os pensamentos podem ser egoístas e é assim que os pensadores de hoje querem que seja, querem pensar para eles mesmos e somente entre eles, deixando o gigante dormir ao som da flauta. É essa mesma a realidade?

"X" diz:
SIM

"Don Quasímodo" diz:
vc discorda de algo dito?

"X" diz:
não
"X" diz:
O mundo pesa nas costas né "Don Quasímodo" ...

"Don Quasímodo" diz:
cara, o q vc pensa ao dizer essa frase?

"X" diz:
acho que vocÊ entende o que estou dizendo


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUp60sHljheTTrq5gHxhjJu9dAWhLMUrTfqWLbrwEJnax2-Wkf8bZYBaP7zZJx0kg6nErN9wPK1IPQp49zjkVrMiY7AW-rxiMIZMnzAXK0cYI4fjK9PU0AeCa3_rfjH60NyoI3WAQ72mcb/s320/josias+e+o+mundo.jpg

Sim, amigo, eu entendi o que ele quis dizer e creio que se o mundo não pesa nas suas costas, deveria pesar. Se você não tem um cérebro 100% fabricado, você tem um dever em relação ao mundo, você sabe qual. Os ombros podem suportar o mundo, cérebros livres podem salvar o mundo. Somos fortes para isso, não sozinhos é claro. Temos que lutar, lutar no limite de nossas forças, sempre. Vamos fechar as fábricas cerebrais. Vamos montar nós mesmos os nossos cérebros, ainda há tempo!

3 comentários:

Fernando Colombi disse...

"Don Quasímodo", primeiramente devo lhe dizer que tenho uma interpretação diversa em relação ao livro de George Orwell, 1984. No livro a ênfase maior é a dominação do pensamento por meio de instrumentos de manipulação e medo, como a novilíngua e a tele-tela. Desta feita, sou menos otimista do que você quando se refere a incapacidade de saberem o que nós, povo, pensamos. Os novos filósofos do nosso tempo - os marketeiros - sabem muito bem o que pensamos: consumir, consumir e consumir. E no livro, o Grande Irmão conseguiu com que as pessoas por meio da novi-língua utilizassem de um vocabulário onde seu pensamento era, além de limitado, também dominado.
Quanto do ódio aos maconheiros marxistas... não fique preocupado com eles, preocupe-se bastante com você mesmo, seja o exemplo que você quer ver realizado no mundo e não tente impor fardos e pesos nas costas das outras pessoas, muitas delas apenas não querem carregar fardo algum. E quem somos nós para obrigá-las? É difícil fazer isso né? eu pelo menos acho! me pego várias vezes cometendo, o que eu considero hoje, um erro. Recomendo um bom livro que trata de maneira bem sensível sobre isso: A insustentável leveza do ser - Milian Kunddera.
Um grande abraço e sucesso nas suas escolhas!
obs: é massa trocar idéia com maconheiro marxista! heheheh

Don Quasímodo disse...

Fala, Bad

Então, cara. 1984 é o meu livro favorito, mas eu li apenas uma única vez, logo, não lembro exatamente de tudo, mas o que lembro me dá embasamento para divergir um pouco de vc sobre ele. De fato, o Partido usou-se de mecanismos para tentar controlar o pensamento das pessoas. A pergunta que te faço é: Do que o Partido tinha medo? Por que o controle dos pensamentos? Exatamente porque o pensamento é o estopim da bomba. É pensando que as pessoas são capazes de colocar em risco os que detém o poder. Apesar dos pesares, os governos atuais ainda não usam de recursos drásticos como as tele-telas ou a criação de um novo vocabulário para manipular os pensamentos, eles se usam de recursos que fornecem informações mais abstratas sobre nossos pensamentos, como o monitoramento de atividades na internet/telefone e o acesso a alguns dados pessoais. Enfim, não têm acesso aos nossos pensamentos mais íntimos, essa é a questão. No próprio 1984, Winston conseguiu fazer, por um longo tempo, muitas coisas sem que o Partido soubesse sobre suas ideias contrárias ao regime, já que os seus pensamentos mais íntimos não foram facilmente identificados pelo Partido. Seus planos só se tornaram explícitos em decorrência de uma série de acontecimentos que foram explicitando as suas ideias no plano físico. Portanto, nos dias atuais ainda vejo luz, muita luz no fim do túnel, pois os marketeiros ainda não conseguiram com sucesso mapear e manipular os nossos pensamentos mais íntimos. É claro que eles trabalham para isso de variadas maneiras, inclusive tentando desenvolver cada vez mais uma sociedade consumista, na qual consumir seja uma obsessão, esteja no centro de todo agir. Talvez o consumismo seja a novi-língua deles. Todavia, eu ainda levo muita fé nas populações iletradas do "3º mundo", aqui tudo ainda parece aberto a mudanças, os modelos de controle europeus e norte-americanos sempre precisam passar por adaptações, nunca funcionam de primeira (desde a República até o constitucionalismo), tudo aqui é muito plural, o que torna muito difícil criar pensamentos e hábitos padronizados. O consumismo é uma realidade que se consolida de modo crescente por aqui, mas não parece que o cenário a ser construído esteja acabado como nos EUA e na Europa, e sim, que o cenário de dominação caminha para o desfecho, usando-se de outras técnicas de dominação além da criação de hábitos consumistas, como uma educação classista que não estimula mudanças sociais.

Aí entram os marxilóides, não os marxistas. Entram aqueles que pensam em uma linda revolução apenas dentro dos MUROS da Universidade, aqueles que dizem PENSAR no povo (numa revolução popular) sem EXPLICAR isso ao povo, sem fazê-lo acordar para o cenário de dominação silenciosa que se desenha há séculos nesse lado do mundo e que está prestes a atingir o seu desfecho.

Eu não me preocupo com os caras que não querem fazer nada pelo mundo e que preferem queimar suas horas e os neurônios fumando erva. Cada um faz o que quer da vida e pode direcioná-la como bem entender, fazendo, por exemplo, escolhas pessoais como querer carregar o mundo nos ombros ao lado de outras pessoas ou cagar para os problemas da humanidade. Liberdade de pensamento propicia coisas assim. Ninguém precisa salvar o mundo se não quiser.

Entretanto, creio que viver em sociedade pressupõe, ainda que tacitamente, um envolvimento social, afinal, tudo que você faz, mesmo quando caga para o mundo, tem um impacto para toda uma coletividade (por exemplo, a maconha que um cara que está cagando para o mundo compra só para se divertir sozinho ou com os amigos causa um impacto para toda a coletividade ao financiar o crime e gerar mais violência na sociedade).

[continua]

Don Quasímodo disse...

Quem sou eu para impor escolhas a alguém? Não tenho esse direito e muito menos esse poder. Todavia, nada me tira da cabeça que é um desperdício num país onde reina o analfabetismo funcional, aqueles que têm a chance de ter acesso ao conhecimento e à educação e, consequentemente, de poder fazer algo para mudar a ordem das coisas quererem se omitir, como se não tivessem encargo social algum. Repito, ninguém pode obrigar o universitário a se importar e a querer fazer algo pelo mundo fora do MURO da Universidade, mas então que ele, pelo menos, não se diga marxista se nada quiser fazer, pois ele pode ser tudo ao se omitir, menos um marxista. Uma coisa anula a outra. Essa é a razão da minha revolta. Quer se fuder para o mundo? Ok. Mas não venha então ficar falando que defende uma revolução popular. Enquanto a fumaça sobe nas acaloradas discussões acerca de Marx do lado de dentro do MURO, o pau tá quebrando lá fora. O povo segue ignorante e aprendendo a novi-língua dos marketeiros. É preciso começar a levar os pensamentos para fora da Universidade e a acordar o povo enquanto ainda há tempo, caso contrário, estarão todos assinando a sentença definitiva de dominação do povo pelas elites, incluindo os que se intitulam marxistas e que não querem fazer nada pelo mundo (só querem fumar uma ervinha em paz pro resto da vida).

O universitário PODE se calar e fumar seu baseado em paz, longe do mundo e dentro da Universidade, essa escolha é um direito pessoal, no entanto, ele não DEVERIA ligar o "foda-se" para o mundo. Isso soa covarde, soa como assistir um crime e preferir não se envolver quando se pode evitá-lo. É como ser livre para escolher e escolher deixar o criminoso atacar a vítima. A consciência pode não pesar, apesar da omissão, mas você não deixa de ter se envolvido, ainda que indiretamente. Portanto, não querer carregar fardo nenhum nem sempre é apenas uma questão de escolha pessoal, podem haver muitos prejudicados em razão dessa escolha...

Espero ter conseguido se melhor entendido. Todavia, se discordar e quiser retomar o tema, fique à vontade para comentar de novo. Gosto destas trocas de ideias. Ah, obrigado pela sugestão de leitura!

Um abraço, camarada.