sexta-feira, 23 de julho de 2010

You only live twice

Estranho. Eu esperei ansiosamente por hoje para vir aqui escrever, mas não estou com muita vontade. Quero ver no que isso vai dar e te convido a aventurar-se comigo por essas linhas seguindo o trilho deixado pela minha falta de vontade.

Por que coloquei esse título na postagem? Logo eu que odeio a língua inglesa com todas as minhas forças e que não acho muito certo escrever coisas em uma outra língua que nem todos os meus leitores conhecem. Pode parecer frescura, mas eu não gosto de que façam isso nos textos que leio, principalmente naqueles livros de Direito nos quais o autor cita trechos em alemão, latim, francês ou italiano e não traduz achando que eu, leitor, tenho obrigação de saber o que está escrito...

Estou percebendo que eu estou enrolando vocês, o texto está beeeeeeeeeem preguiçoooooooooooso ...zzz - Mas então, voltando! Para aqueles que nunca ouviram a frase do título, aparentemente sem muito sentido, explico que a tirei do nome de um dos filmes da série 007, da década de 1960. Em português traduziram para "007 - Só se vive duas vezes" (pronto, traduzi o título para aqueles que não falam nada de inglês). A filha do Frank Sinatra, Nancy Sinatra, gravou uma linda música para o filme, se puder, ouça-a na versão cantada por ela, é uma letra bem bonita, apesar da letra não ter nada a ver com o tema do texto, só mesmo o título dela tem alguma relação com o que eu vou dizer abaixo.


Você tem e-mail? MSN? Skype? Orkut? Facebook? Twitter?... (tá... eu sei que é errado usar interrogação depois reticências, mas deixa assim) Ok, você deve ter pelo menos um deles, certo? Você já parou para analisar como a sua vida passou a ser invadida por essas modernidades, como você abriu as portas da sua privacidade para estranhos? Sim, estranhos. Não me refiro diretamente aos seus contatos, me refiro às empresas que abrigam a sua conta virutal. Ao se cadastrar em qualquer um deles, você permite que essas empresas possam monitorar sua vida de alguma forma: desde os seus dados iniciais que te exigem para criar uma conta até o que efetivamente você conversa virtualmente com os seus contatos. Conspiração? Não! Não é disso que estou falando. Me refiro apenas à forma sutil com que você entregou inconscientemente às grandes corporações o controle sobre informações confidenciais em sua vida.

Sabem o seu nome, localizam de onde você se conecta, sabem que tipo de site você mais frequenta, com qual frequência, sabem qual é o seu time (toda vez que entro na internet brota publicidade de camisas do Palmeiras, acho isso meio estranho...), sabem com quem você interage e, quiçá, o que você conversa por e-mail ou MSN e Skype... Não sei exatamente o que podem fazer com esses dados, mas NÃO ACREDITO EM CONSPIRAÇÕES. Apenas acho peculiar a forma com que cedemos nossos dados sem hesitar perante esses grandes estranhos...


O Orkut (não digo também o Facebook porque não o conheço bem) é o caso que julgo mais interessante. Nele as pessoas são capazes de expor o que têm de mais íntimo, e não é só para a empresa GOOGLE, expõem essas coisas a pessoas estranhas. Postam fotos com parentes, amigos, estranhos da balada. Preenchem um perfil repleto de gostos pessoais. Juntam-se a comunidades que expressam seus gostos e desgostos. Deixam recados (abertos ao público, dependendo da configuração da caixa de recados). Mostram-se alegres. Tristes. Sóbrias. Bêbadas. E por quê? Há um agir consciente nisso? Não há uma resposta simples para isso, há um conjunto de fatores que levam a esse comportamente e eu não sou soberbo a ponto de dizer quais são. Há pessoas que expõem tanto as suas vidas no Orkut que qualquer pessoa atenta que dedique meia-hora fuçando o perfil delas no orkut é capaz de montar um "dossiê" bem completo. Digo isso porque já fiz esse teste (sem fins maléficos, eu garanto!) algumas vezes e gastei menos de meia-hora para montar o dossiê.

Qual era a maior recomendação dada por seus pais (avós, irmãos ou tios) quando você era bem pequeno e ia para a escola? "Não fale com estranhos e não aceite presente de estranhos." Então me responda? Por que, hoje, que você já "entende os perigos do mundo", você fornece tantas informações aos desconhecidos pela internet? Talvez seja algo inconsciente, mas você faz isso com certa frequência. Se um desconhecido, na rua, te pedisse o seu nome completo e alguns dados intimos sobre você, você daria? Provável que não. Mas por que pela internet nem hesitamos em criar contas em dezenas de sites e em dizer quem somos e do quê gostamos?


Eu também faço o mesmo, não quero dar lição de moral em ninguém. Mas quero pensar junto com você sobre essa realidade. Tenho contas de e-mail no gmail, no hotmail e no yahoo, tenho MSN, Skype, Orkut (logo eu que era até maio de 2008 um crítico feroz dessas modernidades). Mas a minha ficha caiu sobre essa realidade no dia em que eu recebi um convite para criar meu Facebook. Eu pensei: "What porra is this? ("Que porra é essa?" - título de um CD do cantor Falcão) Esses caras já sabem meu nome, onde eu moro, meus gostos, sabem minhas senhas, agora querem me furtar mais o quê? Chega! Eu já abri minha privacidade demais para o mundo virtual! Não vou criar um!" Aí lançam o Twitter, aí pensei: "Agora virou putaria... Querem mais o quê? Saber quando eu vou ao banheiro em 140 caracteres? Não! Isso já é demais para mim! Também não vou aderir a esse troço! Vocês já sabem de mais sobre mim." E assim parei de aderir às novas redes sociais...

A verdade, senhores, é que as pessoas estão se entregando demais à vida virtual, estão vivendo apaixonadamente uma segunda vida ao mesmo tempo que a primeira. Para muitos, a segunda já se tornou a primeira! Parei para perceber isso bem um dia em que fiquei chateado ao ver que alguns contatos do meu MSN estavam inativos há muito tempo (logo, pararam de entrar ou me Bloquearam ou me DELETARAM! Que absurdo! Como que tiveram coragem de fazer isso comigo? hehe). A possibilidade de que tivessem me bloqueado ou deletado me fizeram perceber que em minha VIDA VIRTUAL talvez eu não seja tão querido, algo muito estranho para mim, que na VIDA Nº 1 sou sempre tão querido... A mera POSSIBILIDADE de terem feito isso comigo me mostrou que eu tinha uma 2ª vida, na qual eu nem sempre era percebido como eu sou de fato. Preocupante, não? Eu não quero ter uma 2ª vida, eu tenho por mero acidente. Eu sempre jogo coisas assim na regra dos 20 anos (eu não tive uma segunda vida por 18 anos, logo, vivi muito bem com uma só nesse período, assim só tenho uma segunda vida há 2 anos, então dá para descartar!). O problema todo é que algumas vezes a impressão que fazemos sobre alguém a partir da 2ª vida dela reflete no trato que teremos com ela na vida nº 1.


Loucuras do século XXI, no qual os laços se tornam cada vez mais efêmeros; no qual a vida virtual mostra-se mais conveniente do que a real, afinal, na virtual todos os laços podem ser feitos e desfeitos (como na velocidade de um adicionar e um deletar no MSN). Pessoas dizem namorar com pessoas que nunca viram de verdade, que nunca abraçaram, e com a mesma rapidez deixam de namorar essas pessoas. Pessoas dizem fazer sexo pela internet, quando na verdade nunca sentiram o toque da pele da outra pessoa. Pessoas brigam pela internet, xingam-se, falam coisas que não falariam numa briga cara a cara. Pessoas falam horas por MSN e quando se encontram de verdade não têm assunto, mal trocam um "oi". Muitas vezes as pessoas consideram mais verdadeiro um sorriso forçado numa foto com "amigos" colocada no Orkut do que um abraço real de um amigo sincero. Tudo está muito efêmero, parece que viver assim é menos complexo, sempre dá para "deletar" e "adicionar" as pessoas quando for mais conveniente, sem ter que dar explicações; assim como sempre dá para fazer um "control Z" e fingir que tudo sempre foi do mesmo jeito que antes.

Uma vida dentro da outra. Sabe de uma coisa? Acho que "You only live twice" faz algum sentido...

sábado, 17 de julho de 2010

Deixando o vício?

Acho que acabou, né? Odeio despedidas, seja de quem ou do quê for. Sempre me bate uma sensação de saudade, mesmo aquilo que tenha sido ruim deixa um certo vazio; por algum motivo que desafia a lógica, mesmo as coisas ruins ou as pessoas que não me trazem grande estima parecem boas e simpáticas na hora da despedida. Até entendo, mas não gosto da sensação de que algo não vai se repetir nunca mais.

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Mas dessa vez foi diferente, ela se foi sem deixar muitas saudades. Se foi me deixando a sensação de que foi ruim, o que contraria a minha lógica exposto acima. Sou futebolátra assumido (não daqueles capazes de matar por esse amor, mas apenas de sofrer por ele), logo, a Copa do Mundo representa um momento esperado ansiosamente, é o ápice desse amor, o ápice da loucura que guia os amantes do futebol, comigo não é diferente. Mas essa Copa foi diferente...

A Copa começou com um nível técnico (que não é preciso ser nenhum especialista para saber) fraco, muito ruim. Jogos monótonos; placares apertados; empates sem gols; jogadas sem brilho; parecia uma mulher muito bonita, mas recém-acordada e com os cabelos todos bagunçados. Eu e o mundo todo sabíamos que ela tinha potencial para melhorar (daí a lógica da mulher bonita recém-acordada), afinal, em tese, os melhores do mundo estavam lá, mas isso não se deu da maneira esperada.

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Tudo bem que o nível técnico melhorou após a 1ª rodada, mas ainda era pífio, mesmo para mim, um viciado que tem os seus sentidos e o seu senso crítico um pouco abalados diante da Copa do Mundo. Não digo que não ocorreram jogos emocionantes nessa fase inicial, pelo contrário, ocorreram alguns, mas, Sir, não confunda emoção com qualidade, pois um jogo de futebol pode ser considerado BOM por ser emocionante e ainda assim ter sido em qualidade técnica uma senhora porcaria, assim como um jogo pode ser sem emoção (por exemplo: um time engolir o outro em campo sem dar chances de defesa ao adversário) e ser BOM, em razão da qualidade, em razão da vistosidade do futebol jogado por uma das equipes. Assim, tiveram bons jogos na 1ª fase da Copa, jogos muito emocionantes, mas sem a menor qualidade.

Se foi a 1ª fase, aí pensei: "Será que agora que foram embora os ditos times fracos a Copa terá jogos mais vistosos?" Não. Fui enganado, a melhora foi muito tímida. Eu não vi, mas dizem que Japão e Paraguai personificaram a falta de qualidade dessa Copa em um jogo chato, monótono, estudado, medroso, que só foi decidido nos penaltis, olha que valia uma vaga na próxima fase.

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Foi uma Copa muito estranha! Os sul-americanos (Paraguai e Uruguai) pararam de descer a botinada nos adversários e resolveram "jogar" bola; os africanos jogaram um futebol responsável e tático (bem europeu) e ficaram quase todos na 1ª fase na COPA DO CONTINENTE AFRICANO; os japoneses e os coreanos (do sul, obviamente) conseguiram fazer jogos menos inocentes contra os europeus e até surpreenderam; os alemães jogaram um futebol leve e envolvente como os sul-americanos; os brasileiros começaram a jogar um futebol mais defensivo e previsível; "los pibes" de Maradona começaram a jogar bola após uma eliminatória pífia...

A Jabulani merece até um parágrafo só para ela, talvez tenha sido a maior de todas as esquisitices. Eu acho muito estranho uma bola chamar tanta a atenção em uma Copa do Mundo, é sinal que algo não andava bem. Dizem que ela era leve para aumentar o número de gols e deixar os jogos mais emocionantes, mas me pergunto: se nem ela conseguiu foi porque o negócio tava ruim mesmo. Ela me lembra a fita de Super Nintendo que foi lançada pela FIFA para a Copa de 1994, nos EUA, explico: Não é mistério para ninguém que a Copa de 1994 foi uma tentativa desesperada de popularizar o soccer nos EUA, e parece que tal fita de vídeo game foi no mesmo embalo, por quê? Porque tinha opções de jogo chamadas: "crazy ball" e uma outra que não lembro o nome que descaracterizavam o futebol para agradar os americanos. A "crazy ball" deixava a direção dos chutes tortos e os gols saíam de maneira inesperada e com mais frequência, já a outra opção criava um campo eletromagnético em volta do campo que não deixava a bola sair de campo. Coisas para agradar americano, que nunca entenderam como o mundo inteiro é capaz de amar o soccer, um jogo tão monótono, cujos gols demoram para sair, às vezes nem saem... Pois é, a Jabulani foi uma tentativa, real, de implantar a "crazy ball" e deixar o jogo com mais gols, mas o tiro saiu pela culatra, afinal, ela conseguiu deixar os jogos com ainda menos gols.

Outra bizarrice foi o polvo que adivinhava os jogos, isso mostra o quanto a Copa estava interessante... Pense comigo: quais recordações a Copa da África deixará em sua memória para contar aos netos: a Jabulani (a "crazy ball"); o polvo que adivinhava os jogos; e talvez o som das Vuvuzelas. Futebol mesmo eu garanto que você de pouco lembrará, mas não é culpa sua, o bom futebol esteve ausente a maior parte do tempo. Ah, não serei injusto, contarei aos meus netos (que soberba minha falar de netos nesse estágio da vida...) a história de Uruguai e Gana (um BOM jogo pelo aspecto da emoção, mas também fraco técnicamente), só isso eu lembrarei. Ah tá, lembrarei também de contar da pisada do Felipe Melo no Robben. Só!

http://www.abril.com.br/blog/copa-do-mundo-2010/files/2010/07/polvo-espanha-reuters-550.jpghttp://im.r7.com/outros/files/2C92/94A4/2988/228A/0129/93E5/F1B2/68AD/brasil-melo-pis%C3%A3o-hg-20100702.jpg

Amanhã faz uma semana que a Copa acabou e eu já quase não lembro dela, mal lembro quem ganhou a final. Esse é o capítulo mais trágico! Eu ouvi por 2 anos, desde a Eurocopa 2008, que o futebol espanhol é o melhor do mundo. Me perdoem, eu posso não ser especialista em futebol (apesar de eu acreditar que todos entendem um pouco de futebol, não havendo, assim especialistas, mas homens que ganham dinheiro para falar aquilo que é o óbvio), mas eu tive sono em dois jogos da Espanha, sendo que em um deles, contra a Alemanha, eu "pesquei". Falam do refinado e tático toque de bola espanhol, mas para mim não passa de um time que toca bola eternamente e que NÃO chuta à gol. Eles jogam um futebol burocrático, que toca muito e se der faz gol. Contra a Alemanha tocaram ("magicamente" para os especialistas) por 90 minutos e resolveram o jogo com um gol de cabeça (o que existe de mais bruto e selvagem no futebol) do "técnico" zagueiro Puyol, por que tocar tanto? Para ter que resolver com um gol de zagueiro, de cabeça? Igual fazem os times da Série D, no Brasil? Ah, fala sério... Em tese, o campeão mundial é o melhor do mundo no futebol, mas eu me recuso a considerar merecedor desse título um time que só fez 8 gols em 7 jogos, é como se esse futebol tão superior tivesse ganhado todos os jogos por 1x0. Não me curvo ao título espanhol!


E a Holanda? Desses eu tenho até receio de falar. Futebol robôtico, duro, violento e desleal muitas vezes, nada de especial, só cruzamentos na área e chutes de fora da área. Feio. Ah, mas eles estavem invictos há mais de 15 jogos, e daí? Era um futebol de resultado e só. Em nada lembrava a histórica "laranja mecânica", mesmo os holandeses consideraram essa seleção feia, quem sou eu para ir contra? Apesar disso, eu torci por ela na final, não pelo merecimento, mas pela minha antipatia pelo povo espanhol e para calar os que achavam lindo, esplêndido, delicioso, e técnico o futebol espanhol. Eu confesso que torci pela brutalidade do futebol holandês, pela falta de técnica. Eu quis que o mundo acordasse e visse que a Copa toda foi feia como o futebol holandês. Nada mais justo que o feio vencesse o burocrático.


A final foi como eu esperava: sem emoção, sem graça, chata e (como eu previ) sem gols! Amigo, pense: imagine que você nunca viu futebol e resolve pela primeira vez assistir, escolhe exatamente o jogo final da Copa do Mundo, afinal, em tese, seria o supra-sumo do futebol, o ápice do bom futebol, você iria ver o que o futebol tem em seu melhor. Como você se sentiria após Holanda e Espanha? Eu acho que eu nunca mais iria querer ver futebol. Dois times medrosos em campo, com medo de atacar. Futebol sem objetividade, burocrático. Sem jogadas capazes de tirar aquele suspiro. Futebol sem surpresas, previsível. Futebol defensivo. Faltas em excesso. Nada brilhante. O triunfo da tática sobre a técnica. Juro que chegou uma determinada hora que o meu maior desejo foi o de que alguém (mesmo os espanhóis) fizessem logo o gol só para acabar logo com a tortura. Eu não queria ver tudo decidido, outra vez, nos penaltis! Depois não entendem porque os americanos não gostam de futebol: eles tiveram o prazer de ver uma final de Copa entre Brasil e Itália, em 1994, que terminou em 0x0 após 120 minutos de jogo! E para a surpresa deles ainda tiveram jogadores que conseguiram perder penaltis! Foi muito traumático. Dizia Homer Simpson em um episódio sobre futebol: "Talvez eu dê sorte e consiga ver um gol". A final da Copa de 2010 foi a personificação disso, foi para fechar com chave de bosta uma Copa que foi nesse nível.


Eu, futebólatra, me pergunto: será esse o futuro do futebol? Tática acima da técnica. Eu tive medo nessa Copa, afinal, depois de 12 anos vendo futebol semanalmente, eu, pela primeira vez, consegui visualizar esquemas táticos dentro de campo. Eu vi a Holanda marcando por zona a Espanha! M-E-D-O. Eu nunca observo tática, mas dessa vez tava tudo muito claro, tudo muito mecânico, engessado, era impossível não reparar. Será esse o futuro do futebol? Jogadores brucutus, duros; técnicos obcecados por futebol tático?

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Espero que não! Me sinto como um viciado que foi informado que sua droga vai deixar de ser fabricada do jeito que era, que vai ficar mais fraca. Prefiro acreditar que em 2010 aquela mulher bonita acordou um pouco mais descabelada do que deveria, mas que em 2014 ela voltará a ser bela...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Monólogo dialogado

Dia desses, há exatamente uma semana, estava eu, véspera de prova, às 19 horas, com mais de 150 páginas ainda por ler sobre direito de família e desesperado após apenas 2 dias de estudo (quero deixar um agradecimento aos cobradores e motoristas de ônibus por terem me deixado 1 dia inteiro em casa estudando) e algo próximo de apenas umas 100 páginas lidas. O drama era maior porque eu ainda me recuperava do estrago psicológico da prova de processo civil II de terça-feira, na qual só um resultado importava: 8,5. O que você faria nessa situação? Se mataria para tentar ler as 150 páginas antes do dia seguinte amanhecer, certo? Eu não. Envergonhado por ter ficado o dia inteiro sozinho em casa e não ter feito nenhum afazer doméstico, resolvi lavar aquela pilha de louça do dia anterior que havia me comprometido a lavar para a minha cansada mãe, que por sinal não havia chegado do trabalho ainda na 5ª feira. Pronto, te localizei na situação.

Geralmente gosto de lavar louças (o único afazer que curto, por sinal), gosto de ver o detergente deixando tudo novo, bonito outra vez, com uma simples lavada... Gosto de pensar na vida enquanto converso com minhas mãos molhadas. Mas nesse dia tinha mais alguém naquela cozinha tradicionalmente deserta. Um menino sentado com as pernas morenas dobradas. Parecia brincar com algo nas mãos. Engraçado, quem costuma sentar assim na cozinha, desde pequeno... sou eu! Ele sou eu! Eu lembro daquele guri pequeno, com aqueles cabelos crespos grandes enchendo o saco da mãe enquanto ela lavava a louça dos outros. Mas espera aí! Ele parece não me ver aqui. Para, cara, melhor parar de estudar por hoje, você já está delirando, melhor ir dormir e acordar às 3 da matina e reviver aquela velha tática de estudo desesperado na madrugada.

Ignoro-o, volto os olhos para os pratos. Que lindos estão ficando... Eis que:

- Por que você está com medo? - disse o garotinho moreno
- Eu? Medo!? Tô não. - disse eu
- D., eu sei quando você está com medo, te conheço há 20 anos, esqueceu?
- Então você sabe que eu também não consigo mentir bem? Certo?
- Sim, seu medroso. Também sei qual é o seu medo, o mesmo de sempre... Sem necessidade. Você sabe que vai dar certo, sempre dá! Relembre comigo: "1990. Mãe solteira. Esse menino não vai ter futuro. Quem pariu Mateus que se balance. Casa dos outros. Outra casa. Mais uma casa. Uma mulher que resolveu acreditar que sozinha seria capaz. Uma mulher trabalhando. Te alimentando escondido. Você crescendo. Mãe, posso pegar aquilo na geladeira? Ninguém vai brigar? Você estudando. Ouvindo, vendo humilhações. Sonhos. Ônibus cheio. Mãe, a gente precisa mesmo pegar esse ônibus? Sim, meu filho. Filho, levante que já são 5:30, toma seu leite e vai tomar banho pra irmos ao ponto. Ela trabalhando e apostando em você. E você? Focado. Boas notas. Abrindo mão de outras coisas em busca do sonho. Sonhos. CEFETES. Você está lá, deu certo. Uma fresta aberta e você se atirando com a certeza de alguém que salta em direção a uma janela aberta até o canto. Sonhos. Sufoco. Dificuldades. UFES, quem é essa? Direito? Mas você não quer fazer História? Ser professor? É o preço do sonho, se jogue. Meu neto, é importante passar nessa tal de UFES? Sua mãe quebra o joelho na semana da 2ª fase. Você sozinho em casa, se virando, e, estudando, estudando, estudando... Já se foi a Redação. Foi a História. Queima o dedo no dia da última prova do vestibular. Será que não vai dar para fazer bem a prova? Eu aposto que dá. Mil caírão ao teu lado, dez mil à tua direita, mas nada chegará à tua tenda. Deu. Você entrou. No seu 1º dia você não sabia nem onde era o CCJE. Mais um anônimo". Olhe para a sua vida atual, não está ótima? Mas foi fácil?

- Não, não foi. - disse eu segurando o choro (não lembro mais a última vez que tive tempo de chorar), mas não chorei.
- E alguém falou que seria? Por que vai desistir agora? Desacreditar agora? Há uma mulher que nesses 20 anos apostou todas as fichas dela em você. Seus vizinhos sentem orgulho de você só de te conhecer de vista, sem saber a sua história. Seus amigos apostam em você sem conhecer a sua história. Há mais de 50 pessoas que confiam no seu sucesso. Você tá com medinho agora? Vai deixar o 1º engravatado te intimidar com uma provinha. A vida foi mais cruel com você e nem por isso você desistiu. Termine essa porra e engula aquele livro. Você não vai desistir agora. Se quiser, não faça por você, mas faça por aquela mulher que conta com você, pelas pessoas que acreditam em você. Eles acreditam em você e eu também! Você vai vencer essa provinha mixuruca e na vida também!
- Queria ter a sua certeza. Eu não confio tanto. - disse eu ainda um pouco teimoso
- Você já fez muito, poderia parar por aqui, mas você sabe que ainda dá para ir mais à frente. Todo mundo sabe disso. Trabalhe em silêncio e confie no seu sucesso. Vai dar tudo certo, porra!

Eu continuava de costas lavando as louças enquanto conversávamos, então, quando ele silenciou resolvi olhar para trás novamente. Ele não estava mais lá.

Eu engoli a vontade de chorar, lavei aqueles pratos com a certeza de que seria capaz de quebrar um deles com a mão em razão da força de vontade que me tomou naquele momento. O velho D., que não desistia nunca estava de volta! O foco voltara. Lembrei do lema: Trabalha e Confia. Apenas confie, não é preciso temer, quem trabalha pelo que quer, consegue, cedo ou tarde. Não é fácil, mas se consegue quando se quer muito e se trabalha firme por isso. Eu saí da pia disposto a conseguir. Disposto a lutar. Lembrando de que o mais importante não é simplesmente vencer ou competir, mas competir e tentar vencer, acreditando que a vitória é possível.

Não li as 150 páginas inteiras. Não havia lido toda a matéria. Mas preferi dormir pelo menos 4 horas e meia para garantir uma certa paz mental às 7:20. Fiz a prova. Tava fácil para todo mundo. Aprovação certa. Veio 3ª feira, o resultado de uma outra prova (processo civil II) que me levaria para a final com certeza, eu tirara 5,5 na primeira prova e tinha certeza que não tinha conseguido os 8,5 de que precisava na segunda prova. Tava muito difícil, apesar de eu ter estudado loucamente por 1 semana e meia. Realmente não consegui os 8,5, consegui 8,6, ou seja, 0,1 pontos a mais. Passei. Êxtase puro. Alegria sincera. Uma semana para naão se esquecer! Recebi hoje pela manhã o comunicado extra-oficial de que meu artigo científico será publicado no livro que comemora os 80 anos do meu curso. Como assim? O meu artigo ficará registrado nessa história? O do menino que ninguém dava nada por ele em 1990? Sim, o artigo do garotinho moreno. Daquele que apenas brincava sentado no canto da cozinha enquanto a mãe lavava a louça suja dos outros. Eu ainda gosto de sentar na cozinha enquanto minha mãe lava louças (as nossas), com as pernas do mesmo jeitinho. Eu nunca deixei de ser aquele menino e ele sempre foi eu.

Não quero que soe autoajuda. Não quero que tenha piedade. Não quero que ache bonita a história. Não quero que ache que eu quis te impressionar. Não ache soberba. Não conto essas histórias nem mesmo para os meus amigos mais íntimos. Não quero nada. Apenas quero que acredite em si mesmo. Acredite que se você acreditar no que faz você pode vencer. Acredite na vida. Acredite no seu trabalho. Acredite nos seus sonhos. E por fim: as melhores histórias são aquelas da vida real!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Dedicado a Policarpo Quaresma

UFA! Quase que minha postagem foi atingida pelo que chamamos no Direito de Preclusão Temporal! Quase que o maior espetáculo de Terra chega ao fim para nós e eu não falei nada sobre o evento. Tudo bem que o Brasil pode até vencer a Holanda daqui a 1 hora e meia e ganharmos mais uma sobrevida no evento, mas não vou arriscar, vou escrever antes que acabe tudo, antes que prescreva! Esse texto será redigido correndo, então, não repare na falta de profundidade ou em besteiras que eu falar. Vai sair do coração!

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Leitores, como AMO os tempos de Copa do Mundo, em que tudo, até as pessoas, ficam em verde, amarelo, azul e branco. Dia desses (em setembro de 2009), falei um pouco sobre minha paixão pela seleção brasileira, lembra? Mas hoje falarei um pouco diferente, falarei do amor pelo meu país. Eu sofro por amar esse país 365 (às vezes 366) dias por ano enquanto a maioria das pessoas só o amam um mês a cada 4 anos... Entretanto, eu não sou ciumento, não ligo que de repente todos comecem a amar o Brasil, por isso gosto tanto da Copa do Mundo. De verdade, eu AMO esse país todos os dias, adoro a sensação de viver aqui (apesar de meus romances secretos com a Argentina - não incluindo a seleção argentina - e com a Islândia), isso não quer dizer que eu não o critique de vez em quando, pois amar não é algo que deva ser feito cegamente, é preciso conservar um senso crítico sobre aquilo que se ama.

Durante esses dias de Copa, eu vejo ruas, casas e pessoas em verde e amarelo, bandeiras por todos os lados, gritos de BRASIL por toda parte. Tudo é BRASIL. As mulheres (não todas) aceitam ver futebol; todos estão na mesma sintonia, sentindo a mesma pulsação, respirando no mesmo compasso. Um amor gratuito por 1 mês. Todos amando incondicionalmente, como loucos apaixonados (para um possível pseudointelectual que por aqui passe: não tente entender, o futebol é assim, não há razão, tudo é sensação, isso não se explica, se sente). Eu me sinto feliz por esse patriotismo temporário, mas triste por saber que ele tem fim. Ok, você pode falar que o patriotismo pode levar a consequências nefastas; que os americanos... blá blá blá. Eu sei que tudo isso é verdade, sei de tudo isso, mas entenda algo, aqui eu estou falando de paixão, amor gratuito, isso não se mensura cientificamente.

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O que me deixa triste é saber que tudo talvez não passe só de paixão, algo temporário. Daqui a 4 horas, se os holandeses ganharem, bandeiras podem ser rasgadas, camisas jogadas ao chão e xingamentos à pátria proferidos por todos os cantos. Mas por que é assim? Porque ao contrário do que eu disse antes as pessoas não estão apaixonadas pelo Brasil, pela República Federativa do Brasil, mas pela SELEÇÃO BRASILEIRA. As pessoas não se sentem brasileiras quando torcem, mas SELECIONESES BRASILEIROS, o amor não é à pátria, Policarpo! Não é triste isso? Eu descobri que continuo amando com poucos aliados o país, a maioria das pessoas não o amam, nem durante a Copa. Meu texto pode parecer contraditório, mas eu quis antes induzir você ao erro, caro leitor.

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As pessoas se identificam com a seleção, não com o país. Amar um país envolve muito mais do que ficar gritando BRASIL a plenos pulmões, pintar o rosto com a bandeira, vestir uma camisa amarela, pôr uma bandeira na janela, soltar fogos após uma vitória da seleção. Amar um país significa entregar-se a ele, trabalhar por ele, acreditar nele, se comprometer com a construção dele, identificar-se com suas cores é apenas um detalhe. Eu quero esse país como você queria Policarpo, eu quero trabalhar por ele; contudo, não dou a minha vida por ele, mas por sua gente. Policarpo, somos idiotas? Somos muito ideológicos? Faz algum sentido nisso? Freud, seu falastrão, você pode nos ajudar?

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Não digo que seja uma obsessão, mas um amor gratuito por essa terra, uma vontade de fazê-la brilhar, de ajudar o seu povo. Eu sinto a pele arrepiar ouvindo o hino, carrego o hino da Bandeira na ponta da língua (Salve o lindo pendão da esperança/ Salve o símbolo augusto da paz...). Não. Eu não fui militar, mas acho que eles adorariam que eu fosse um. Só para esclarecer: Eu também não queria ter sido um, pois nas forças armadas há muitos interesses em jogo, Policarpo. Você viveu isso, te usaram. Precisamos ter cuidado com o nosso amor incondicional por esse país, há sempre espertos querendo se aproveitar desse sentimento.

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Mas então, o que eu quero com esse texto nada linear? Quero dizer a minha alegria em saber que por 1 mês a cada 4 anos as pessoas amam tão apaixonadamente esse país quanto a gente, Policarpo. Quero dizer que eu sei que eles amam a seleção e que eu finjo que eles amam o país só para ficar feliz. Policarpo, pena que em sua época não havia Copa do Mundo, que nem futebol jogavam por aqui, aposto que você ia adorar se meter no meio da multidão vestida de Brasil, ia gritar a plenos pulmões BRASIL fingindo ser um SELECIONÊS BRASILEIRO, mesmo no fundo você sabendo que você é BRASILEIRO. Por quê? Porque não temos ciúmes desse amor que sentimos, queremos que mais pessoas o tenham, mesmo que indiretamente, afinal, amar a seleção brasileira envolve amar indiretamente o Brasil, não é?

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Como diria Luther King: I HAVE A DREAM. Eu sonho com o dia em que as bandeiras brasileiras estarão hasteadas nas casas todos os dias; com o dia em que o verde e amarelo não sairá nunca de moda; com o dia em que as pessoas se comprometerão em trabalhar por esse país; com o dia em que todos acreditarão nesse país. Sonho com um "estado de Copa" permanente. Queria ver as ruas e as pessoas "de Brasil" o ano todo, não ia ser lindo, Policarpo?

Agora para vocês leitores: Repito, não sou cego a ponto de não ver as deficiências e os problemas do Brasil, lembra daquele papo de que não se deve amar sem senso crítico? Pois é, eu ainda guardo um senso crítico.

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Eu amo demais essa pátria, sempre, na alegria e na tristeza, em tempos de Copa ou não, apesar de que amar em tempos de Copa seja menos sofrido, tenho mais companhia, pseudocompanhia.

Sonhamos demais Policarpo, amamos demais. Freud, isso tem jeito?