sexta-feira, 2 de julho de 2010

Dedicado a Policarpo Quaresma

UFA! Quase que minha postagem foi atingida pelo que chamamos no Direito de Preclusão Temporal! Quase que o maior espetáculo de Terra chega ao fim para nós e eu não falei nada sobre o evento. Tudo bem que o Brasil pode até vencer a Holanda daqui a 1 hora e meia e ganharmos mais uma sobrevida no evento, mas não vou arriscar, vou escrever antes que acabe tudo, antes que prescreva! Esse texto será redigido correndo, então, não repare na falta de profundidade ou em besteiras que eu falar. Vai sair do coração!

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Leitores, como AMO os tempos de Copa do Mundo, em que tudo, até as pessoas, ficam em verde, amarelo, azul e branco. Dia desses (em setembro de 2009), falei um pouco sobre minha paixão pela seleção brasileira, lembra? Mas hoje falarei um pouco diferente, falarei do amor pelo meu país. Eu sofro por amar esse país 365 (às vezes 366) dias por ano enquanto a maioria das pessoas só o amam um mês a cada 4 anos... Entretanto, eu não sou ciumento, não ligo que de repente todos comecem a amar o Brasil, por isso gosto tanto da Copa do Mundo. De verdade, eu AMO esse país todos os dias, adoro a sensação de viver aqui (apesar de meus romances secretos com a Argentina - não incluindo a seleção argentina - e com a Islândia), isso não quer dizer que eu não o critique de vez em quando, pois amar não é algo que deva ser feito cegamente, é preciso conservar um senso crítico sobre aquilo que se ama.

Durante esses dias de Copa, eu vejo ruas, casas e pessoas em verde e amarelo, bandeiras por todos os lados, gritos de BRASIL por toda parte. Tudo é BRASIL. As mulheres (não todas) aceitam ver futebol; todos estão na mesma sintonia, sentindo a mesma pulsação, respirando no mesmo compasso. Um amor gratuito por 1 mês. Todos amando incondicionalmente, como loucos apaixonados (para um possível pseudointelectual que por aqui passe: não tente entender, o futebol é assim, não há razão, tudo é sensação, isso não se explica, se sente). Eu me sinto feliz por esse patriotismo temporário, mas triste por saber que ele tem fim. Ok, você pode falar que o patriotismo pode levar a consequências nefastas; que os americanos... blá blá blá. Eu sei que tudo isso é verdade, sei de tudo isso, mas entenda algo, aqui eu estou falando de paixão, amor gratuito, isso não se mensura cientificamente.

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O que me deixa triste é saber que tudo talvez não passe só de paixão, algo temporário. Daqui a 4 horas, se os holandeses ganharem, bandeiras podem ser rasgadas, camisas jogadas ao chão e xingamentos à pátria proferidos por todos os cantos. Mas por que é assim? Porque ao contrário do que eu disse antes as pessoas não estão apaixonadas pelo Brasil, pela República Federativa do Brasil, mas pela SELEÇÃO BRASILEIRA. As pessoas não se sentem brasileiras quando torcem, mas SELECIONESES BRASILEIROS, o amor não é à pátria, Policarpo! Não é triste isso? Eu descobri que continuo amando com poucos aliados o país, a maioria das pessoas não o amam, nem durante a Copa. Meu texto pode parecer contraditório, mas eu quis antes induzir você ao erro, caro leitor.

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As pessoas se identificam com a seleção, não com o país. Amar um país envolve muito mais do que ficar gritando BRASIL a plenos pulmões, pintar o rosto com a bandeira, vestir uma camisa amarela, pôr uma bandeira na janela, soltar fogos após uma vitória da seleção. Amar um país significa entregar-se a ele, trabalhar por ele, acreditar nele, se comprometer com a construção dele, identificar-se com suas cores é apenas um detalhe. Eu quero esse país como você queria Policarpo, eu quero trabalhar por ele; contudo, não dou a minha vida por ele, mas por sua gente. Policarpo, somos idiotas? Somos muito ideológicos? Faz algum sentido nisso? Freud, seu falastrão, você pode nos ajudar?

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Não digo que seja uma obsessão, mas um amor gratuito por essa terra, uma vontade de fazê-la brilhar, de ajudar o seu povo. Eu sinto a pele arrepiar ouvindo o hino, carrego o hino da Bandeira na ponta da língua (Salve o lindo pendão da esperança/ Salve o símbolo augusto da paz...). Não. Eu não fui militar, mas acho que eles adorariam que eu fosse um. Só para esclarecer: Eu também não queria ter sido um, pois nas forças armadas há muitos interesses em jogo, Policarpo. Você viveu isso, te usaram. Precisamos ter cuidado com o nosso amor incondicional por esse país, há sempre espertos querendo se aproveitar desse sentimento.

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Mas então, o que eu quero com esse texto nada linear? Quero dizer a minha alegria em saber que por 1 mês a cada 4 anos as pessoas amam tão apaixonadamente esse país quanto a gente, Policarpo. Quero dizer que eu sei que eles amam a seleção e que eu finjo que eles amam o país só para ficar feliz. Policarpo, pena que em sua época não havia Copa do Mundo, que nem futebol jogavam por aqui, aposto que você ia adorar se meter no meio da multidão vestida de Brasil, ia gritar a plenos pulmões BRASIL fingindo ser um SELECIONÊS BRASILEIRO, mesmo no fundo você sabendo que você é BRASILEIRO. Por quê? Porque não temos ciúmes desse amor que sentimos, queremos que mais pessoas o tenham, mesmo que indiretamente, afinal, amar a seleção brasileira envolve amar indiretamente o Brasil, não é?

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Como diria Luther King: I HAVE A DREAM. Eu sonho com o dia em que as bandeiras brasileiras estarão hasteadas nas casas todos os dias; com o dia em que o verde e amarelo não sairá nunca de moda; com o dia em que as pessoas se comprometerão em trabalhar por esse país; com o dia em que todos acreditarão nesse país. Sonho com um "estado de Copa" permanente. Queria ver as ruas e as pessoas "de Brasil" o ano todo, não ia ser lindo, Policarpo?

Agora para vocês leitores: Repito, não sou cego a ponto de não ver as deficiências e os problemas do Brasil, lembra daquele papo de que não se deve amar sem senso crítico? Pois é, eu ainda guardo um senso crítico.

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Eu amo demais essa pátria, sempre, na alegria e na tristeza, em tempos de Copa ou não, apesar de que amar em tempos de Copa seja menos sofrido, tenho mais companhia, pseudocompanhia.

Sonhamos demais Policarpo, amamos demais. Freud, isso tem jeito?

2 comentários:

Paula Ceotto disse...

Li essa postagem há alguns dias, mas estava dolorida demais para comentar. Uma dor que, em copas do mundo, foi a maior de todas que experimentei até hoje. Talvez porque eu já esteja grande o suficiente para saber que quando nós brasileiros nos arriscamos a torcer pela nossa seleção, por mais que o grito de muitos possa ser de farra ou de folga, ou apenas grito, estamos torcendo por algo maior que uma seleção. É como se todo o nosso país fosse aquela seleção, e numa lógica ilógica, parece que somos nós lá, com nossas lutas e esperanças, com a nossa vontade de darmos certo na vida - que seria o paralelo da vitória do Brasil na Copa. A prova de que somos capazes de dar certo, de que vale a pena acreditar no rumo que demos para nossas próprias vidas.
Pode parecer muita poesia tudo isso, muita viagem, muito romantismo. Mas nossos gritos de torcedor não são apenas festa e copa, são gritos pela vida. Se fosse apenas farra, não choraríamos e cairíamos em luto com a eliminação. Ela é a morte, a decepção. Não sabemos lidar com ela, não queremos senti-la. A derrota não nos é suportável pois para nós ela é sinônimo de fim. Somos dramáticos e se pecamos é pela intensidade. Sentimos tanto que não aguentamos nos deixar sentir o necessário. E fugimos do luto pensando no renascimento da próxima copa. Porque em 2014... Não importa 2014 agora, mas achamos que importa. Precisamos acreditar que importa. Porque temos medo de olhar para o que temos agora: a derrota de um país, a descrença em cada um de nós, de nossa força enquanto nação.
Mas 2014 não tampará buraco, nem torcer para outras seleções. E não sabemos como lidar com isso.

Sobre Freud, bem... acho que ele falaria algo sobre projeção ou identificação.

É isso... escrito no afeto e de uma vez só, por alguém que também ama este país.

Don Quasímodo disse...

É bom se surpreender com as pessoas. Por algum motivo sem qualquer embasamento, eu jurava que você era daquelas pessoas que não se envolvia com as sensações ilógicas despertadas pelo futebol.

Quanto às suas ideias sobre o que representa para o brasileiro torcer pela seleção, eu concordo plenamente com a sua visão de que é mais do que simplesmente torcer (para não achar que estou mentindo, veja um post que eu fiz em setembro do ano passado chamado "Dormimos felizes", defendo a mesma ideia). Não é poesia e nem romantismo, realmente há uma projeção de nós mesmos naqueles jogadores, de nossos sonhos, não há explicação racional para isso, são os sentimentos que nos movem nesse caminho, por isso pode doer tanto a derrota. Se fosse um agir racional, saberíamos como reagir diante da derrota, não precisaríamos nos apegar em 2014 ou na possibilidade de vencer com outra seleção.

Quanto ao patriotismo, continuo achando que o amor pela seleção não é diretamente um amor pelo país, é algo mais ligado às sensações despertadas pelo futebol, ao NOSSO orgulho pelo sucesso do FUTEBOL brasileiro internacionalmente. Mas ainda assim eu acho esse amor indireto válido de alguma maneira, mesmo que seja só uma paixão repentina que se renova de 4 em 4 anos. Poderia ser pior... Por falar nisso, engraçado, parece que mais pessoas estão começando a demonstrar mais amor pelo país depois da Copa, muitas bandeiras (algumas enormes) continuam hasteadas nas casas, não é possível que seja só por preguiça... hehehe

Quanto ao Freud, foi só uma brincadeira, afinal, dizem que ele tem uma resposta para tudo. Por fim, gracias pelo comentário afetuoso e escrito de uma vez só (assim é mais natural).