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segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Notas de carnaval

Estes dias vi na TV um programa de talentos musicais nos quais os jurados só tinham como opções as notas 9.7, 9.8, 9.9 e 10.

Para mim, isto foi o reconhecimento de nossa incapacidade, como sociedade, de lidar construtivamente com a crítica.

Naturalizamos a mediocridade. Nos conformamos com coisas feitas com razoabilidade dando a elas status de coisas feitas com excelência. Talvez por isto ficamos meio surpresos quando encontramos um bom serviço, como se encontrar um profissional que realmente seja bom ou excelente fosse a exceção, ao invés de ser a regra.

Quantos encanadores, mecânicos, eletricistas, montadores de móvel, instaladores de internet, taxistas, professores, médicos etc medíocres encontramos por aí. Parece que eles se multiplicam. E são todos pagos. Gente que presta serviço sem preocupação com qualquer padrão de qualidade. Sabe quando você senta num táxi? Não parece muitas vezes que você está fazendo um favor para ele ao invés de estar pagando pelo serviço dele? É tosco, para não dizer indecente.

E a gente se acostuma com isto, com nossa realidade de serviços mal prestados. E no fim, com essa naturalização, nos tornamos complacentes com a mal feito, nos tornamos mais tolerantes e perdemos um pouco de nosso senso crítico.

Você já viu a apuração do desfile das escolas de samba? A regra são notas que variam de 9.5 a 10, sendo que 9.5 torna-se uma nota ruim e uma nota igual ou inferior a 9 só é dada numa situação absurdamente ruim, tipo um carro alegórico travado no meio da passarela ou um acidente durante o desfile. Que mundo é este onde 9.5 é nota baixa? Um mundo de bajulamento, de supervalorização, totalmente destoante do mundo crítico e até do mundo escolar, no qual tirar um 8.5 é uma puta nota e tirar 9.5 é um orgasmo.

Vivemos uma sociedade de baixo nível crítico, no qual ouvir uma verdadeira crítica é confundido com perseguição pessoal, com inveja, despeito, recalque etc.

Em uma sociedade acostumada com coisas mal feitas aceitas como suficiente, a crítica soa como um acinte, como falta de sexo. Somos uma sociedade de mimados e mal acostumados com aquilo que não é bem feito. Somos acostumados com a falta de beleza e de graciosidade que resolve razoavelmente.

Um programa de TV no qual a pior nota possível é um 9.7 é um bom exemplo disto, um bom exemplo de como somos injustos com aquilo que é verdadeiramente bom e o aproximamos tanto daquilo que está longe de ser bom. Separamos por 0.3 o sublime do medíocre. Desestimulamos o trabalho bem feito ao valorizarmos tanto aquilo que não é bem feito. Se ser meia boca basta, ir além do razoável se torna uma questão meramente de consciência, de vontade de fazer sempre o melhor, algo muitas vezes mal compreendido e menosprezado.

No fim, razão assiste a Santo Agostinho: "Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem."

domingo, 15 de maio de 2016

Sonho

De novo?! Sim! Hoje sim, hoje sim! Todo domingo agora é assim, dia de "coluna" no blog. Semana agitada esta que acabou, derrubaram nossa presidente, tiraram o povo do poder. Era sobre isso que eu já ia escrevendo até que, ao ouvir as músicas que terminei de baixar, ouço Andrea Bocelli cantando isso aqui. Aí lembrei do milagre de segunda-feira dia 02/05/2016: Leicester City campeão. Todos os comentaristas, sites esportivos e demais profissionais do futebol já teceram longas linhas sobre o milagre de Leicester, por que não eu?

Quando penso em Leicester campeão, me sinto orgulhoso, sem nunca ter ido em Leicester, sem jamais conhecer alguém que um dia lá esteve. Quando começou nos fins de 2015 o campeonato nacional de futebol mais valioso do planeta Terra, ninguém, talvez só o mais bêbado dos ingleses, seria capaz de apostar que o nanico Leicester City FC, que nunca antes conquistara um título de expressão na Inglaterra e que brigara para não ser rebaixado no último campeonato, poderia escandalizar o mundo e vencer a tradicional Premier League.

Durante todo o campeonato, enquanto o Leicester teimava em brigar pelas primeiras posições, o mundo esportivo tratava com desdém as chances do clube ser campeão, afinal, o que poderia fazer o pequenino Leicester contra clubes tão tradicionais, campeões e ricos?

Mas foram chegando as rodadas finais, o pequeno clube inglês foi resistindo à força dos clubes mais ricos do mundo e atrasando o relógio da carruagem da cinderela, fazendo o mundo começar a suspeitar que o conto de fadas poderia ser uma história real. E assim foi rodada a rodada, com cada vez mais torcedores ao redor do mundo torcendo pelo sucesso do pequeno inglesinho frente à artilharia pesada dos multicampeões times da terra da rainha, até a inesquecível segunda-feira dia 02/05/2016, quando o Leicester sagrou-se campeão.

A história do Leicester é um conto de fadas do futebol, no qual um time formado por jogadores baratos rejeitados por grandes clubes, muitos mais acostumados em jogar as divisões secundárias do futebol inglês do que a primeira divisão, conseguiu sagrar-se campeão da liga nacional mais cara do planeta. É a história de um treinador italiano que nunca havia conquistado um grande título de verdade, que foi chutado em sua última experiência profissional e que apostou pizzas com seus jogadores em caso de vitórias durante a temporada, vindo agora, no fim da carreira, a ganhar respeito.

O milagre de Leicester é um pouco do milagre de nós mesmos, da gente comum, que precisa ter coragem para todos os dias disputar espaço com aqueles que são mais privilegiados financeiramente e intelectualmente, que precisa trabalhar firme para ter uma chance de sonhar, que precisa saber resistir nos momentos críticos que indicam não ser possível prosseguir. O sonho de Leicester representa aquele sonho que uma pessoa simples acha ousado até de sonhar e que, quando acontece, não se consegue nem acreditar.

Em um futebol moderno de cifras milionárias, Leicester representa a magia do esporte, a chama que não se apaga no coração dos amantes do esporte e da vida.

Andrea Bocelli prometeu ao seu amigo Claudio Ranieri, técnico italiano do Leicester, que cantaria no último jogo do time em casa, caso ocorresse o improvável título; e cumpriu. Em uma cena de arrepiar, Bocelli, que descobri ser cego, cantou para um estádio cheio de pessoas que mal acreditavam que o sonho tornou-se realidade. Bocelli, um cego, que carrega na voz o canto daqueles que fizeram e fazem, diariamente, aquilo que a lógica diz não ser possível, fechou de modo triunfante esse sonho da vida real. Obrigado, Leicester!


Me arrisco a dizer que até os céus pararam para contemplar esse espetáculo.

domingo, 1 de maio de 2016

Teoria do recato

Tempos de meias palavras; de cumprimento com mão mole; de necessaire, toilette e estrangeirismo desnecessário; de pratos gourmet; de recato.

Tempos de sofisticação forçada, no qual o que aparenta ser sofisticado ganha respeitabilidade. Ter classe e elegância, de modo geral, é algo contrário à nossa natureza animal. Analogicamente, Adão e Eva eram nus até pecarem, tendo optado voluntariamente pela "civilidade" de sempre usar vestes em detrimento da liberdade da vida nua.

O que explica vestir um terno e uma gravata em um dia infernalmente ensolarado e para trabalhar em algo que exija liberdade de movimento dos membros superiores? Civilidade. Aliás, para que servem as gravatas para além de ornamento? O que explica jantar um prato esteticamente bonito em um restaurante de alto padrão e voltar para casa com fome? Civilidade.

Ter classe se tornou um símbolo de evolução humana, como se quem consegue agir com elegância, consegue controlar seus instintos humanos de liberdade, consegue reprimir aquilo que lhe deixaria mais à vontade, fosse alguém mais desenvolvido. Afinal, não se nasce com "garbo e elegância", com classe, com civilidade; se adquire, se aprende.

É pecado ter classe? De forma alguma, mas é anti-natural não se fazer o que se quer somente porque isso pode ser considerado algo "feio", rude e ser utilizado para criar uma má impressão das pessoas acerca de você. A melhor coisa de "ser" é a liberdade de "ser", de forma que se restringir em prol de "parecer" é um aniquilamento de si mesmo.

Para algumas pessoas, no entanto, a elegância e a classe já estão de tal modo intrínseco no "ser" delas que simplificar significa um regresso, uma desevolução, um andar para trás, uma vez que já não sabem viver se não for com sofisticação, se não for com 15 talheres, mas nenhum dedo, para pegar com as mãos a "galinha" que insiste em escorregar do prato.

Às vezes tenho vontade de falar em público, com pronúncia portuguesa, as palavras estrangeiras que cada vez mais insistimos em utilizar sem necessidade, mas isso soaria estranho. Ainda quero ter coragem de chegar em uma loja que coloca "50% OFF" na vitrine e pedir para ir à "casa de banho" do estabelecimento. Sente como é feio falar "casa de banho" ("banheiro" em português de Portugal) com um brasileiro? Usar uma língua/expressão estrangeira para se comunicar com um povo que não fala aquela língua é algo como dizer que está enxergando as roupas invisíveis do imperador, é uma conduta de quem quer demonstrar classe, elegância, superioridade, sem necessidade.

Veja! Não estou a defender que as pessoas não podem ser elegantes, principalmente se só assim conseguem se sentir bem. Não estou a defender "voto de pobreza" ou que se finja simplicidade. Por outro lado, ninguém é obrigado a preferir champagne ao invés de xixa só porque beber a primeira ao invés da segunda é mais sofisticado. Veja! Não ser sofisticado e não ter classe não é pecado; aliás, me arrisco a dizer, voltando ao exemplo de Adão e Eva, que o pecado está mais na classe do que na falta de classe, afinal, o homem foi feito para a liberdade e, a partir do momento que achou necessário restringir sua liberdade com roupas incompatíveis com a temperatura de onde vive, com vocabulário estrangeiro e etc, boicotou um pouco de si mesmo, de sua divina liberdade.

Interessante que mesmo os mais sofisticados precisam ficar (ainda que parcialmente) nus para realizar suas necessidades básicas como pessoa, inclusive o sexo. Aliás, perder a classe expondo-se ao nu é um encontro com nossa verdadeira natureza, com quem somos a maior parte do tempo e não podemos expor, sendo assim injusta a vergonha que, em geral, sentimos ao expor nossas imperfeições físicas no momento da nudez. Dentro da ótica da civilidade, o sexo é uma deselegância, uma falta de recato, uma perda de autocontrole, de classe - diretamente relacionada com o livre exercício da liberdade humana, aquela que contemos em grande parte do tempo usando roupas, um vocabulário selecionado e com atitudes civilizadas.

Não desconsidero as questões de higiene por trás de alguns hábitos de civilidade. Aliás, civilidade é um mal necessário em muitos momentos, mas parece que cada vez mais a motivação para a civilidade excessiva é o caráter evolutivo, é o demonstrar o quanto somos evoluídos e capazes de aprender hábitos anti-naturais, como andar de salto alto, no caso das mulheres, e usar gravata, no caso dos homens. Quanto mais classe se demonstra, mais superioridade se exterioriza.

De verdade, respeito muito quem tem a inocência de segurar uma coxa de galinha com as mãos, de rir sem razão, de andar mal vestido e encardido, de não falar outra língua sem necessidade e de sair para comer em um restaurante e não voltar com fome para casa após comer pratos esteticamente bonitos.

É nessa inocência, na falta de medo de ser você e fazer o que lhe dá prazer, que mora a liberdade.

domingo, 24 de abril de 2016

Histeria!!!

Tempos de intolerância, nos quais sair às ruas de vermelho pode ser ato de subversão e andar de amarelo é sinal de cidadania.

Baile de favela. Ops. Baile das cores. Vermelho, cor de gente ruim. Amarelo, cor de gente do bem.

Fui trabalhar de vermelho no dia pós-golpe e fui olhado, mais do que quando eu usava vermelho no ano passado. Atualmente, quando me visto de vermelho, me sinto, de certa forma, praticando um ato atentatório, quase um terrorista. Mas me sinto livre e bem comigo mesmo. Sei lá, morenos ficam bem de vermelho.

A democracia não tem cor, ela tem, na realidade, a pluralidade de todas as cores. Mas se vermelho se tornou a cor da democracia, é de vermelho que vou, ainda que não sendo PT ou comunista.

Vivemos tempos de histeria. E não é pelos Beatles.

É preciso gritar histericamente. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

Apontar o dedo para "ladrões", "corruptos", "defensores de bandido". Gritar palavras de ordem. Pedir a volta da ditadura ou da monarquia (juro que até hoje não entendi o que pensam as pessoas que levam bandeiras do Brasil Império para manifestações patriotas. Até se fossem bandeiras portuguesas eu entenderia melhor). Como no livro "1984", quem não participa dos "dois minutos de ódio" deve ser olhado como suspeito.

Tempos loucos em que cores podem significar coisas que não passam pela mente; tempos de caça àqueles que pensam diferente; tempos de violência (intelectual, física, espiritual).

Me considero um pouco profeta por causa deste texto, porém ser profeta não costuma ser algo muito bom, principalmente em tempos de histeria coletiva. Gosto da palavra "histeria", parece exprimir caráter mais doentio do que a palavra "loucura", talvez porque muitos "loucos" não são loucos, mas gente histérica é sempre gente histérica.

A corrupção não nasceu em 2003 e tampouco os petistas do governo federal são mais corruptos do que os vereadores, prefeitos, deputados, governadores, todos ladrões, dos mais variados partidos, que temos aos montes por aí. Aliás, tampouco os petistas do governo federal são mais corruptos do que os tucanos do longínquo governo anterior. Inclusive, você já viu um tucano? Coisa mais covarde do mundo escolher uma ave tão linda, original, de cores tão vibrantes, para representar ideias tão conservadoras.

Não acredito muito em manifestações de rua para cobrar alguma coisa em nível federal, justamente porque tenho a sensação que em Brasília as coisas são decididas influenciadas somente, e digo, único e exclusivamente, por motivos políticos, por benesses possíveis de serem auferidas pelos políticos e seus tão estimados familiares. Se lixam se estamos nas ruas, como fizeram na época das "Diretas Já". Manifestações de rua com fins federais não mudam voto de indecisos e nem geram leis; no máximo, dão voz à quem quer gritar e não quer esperar até as eleições.

Mas manifestações contra problemas locais podem mudar muita coisa, visto, por exemplo, que, quando pressionados por câmaras cheias de gente, os vereadores de várias cidades "ficam com medo" e votam contra seus aumentos salariais que já estavam combinados nos bastidores políticos. Contraditoriamente, no entanto, raramente vamos às ruas contra problemas locais. Vai entender.

Acredito que serve mais à "luta" qualificar gente comum, que veio do povo, para ocupar cargos com poderes decisórios, seja no Judiciário, em escolas, na área médica e por aí vai. É como o golpe de 2016; ele não é feito pelas pessoas de amarelo nas ruas, mas por pessoas de aparência asséptica, cheias de ideologia, com poder para fazer o golpe independente e contrariamente da vontade da maioria. Dentro dessa lógica, por exemplo, as cotas são uma puta estratégia de revolução, de tentativa de mudar o país pelas instituições, criando oportunidade de colocar gente "de cor", que sabe o que é a vida fora do ar condicionado, em cadeiras que hoje, infelizmente, são ocupadas quase que na totalidade por quem não representa os interesses da maioria da população e tem alergia ao povo.

Eu realmente me assusto com a cisma que pessoas histéricas têm com o governo PT, com o MST, com os sindicatos. As pessoas não conhecem como funciona reforma agrária e, mesmo assim, se sentem no direito de dizer que MST é cheio de gente à toa, que tem preguiça de trabalhar e quer terra de graça para vender. No domingo passado, quando Cunha comandava o culto do golpe, encontrei uma vizinha no elevador que me disse que tinham saído vários ônibus do ES rumo à Brasília para acompanhar a votação e que "devia ser tudo gente do MST". Será que patriotas não viajam de ônibus? Deve ser mesmo coisa de esquerda, de gente pobre, esse negócio de viajar de ônibus. Sinceramente, não consigo nem argumentar com gente assim, prefiro ficar mudo e deixá-la pensar que me convenceu, ou não, enquanto torço para descer logo no meu andar.

Tem gente que pede, urgentemente, que "libertem o Brasil"; tem gente que diz que "não podemos deixar o Brasil virar uma Venezuela". Sempre me espanto com essas comparações. Você já foi ou conhece alguém que vive/viveu na Venezuela? O que você conhece da Venezuela além do que relatos? E da Coreia do Norte? Tenho como filosofia de vida que não dá para emitir opinião bem fundamentada sobre lugares e gente que não conhecemos. A Venezuela pode ser uma merda, ou não. Macri, o novo presidente argentino, por exemplo, tá fazendo um monte de reformas liberais, que podem não dar certo, e dizem que o Brasil precisa virar uma Argentina. Oi? Ninguém sabe o resultado das reformas feitas por ele, até porque não houve tempo para resultados seguros, e querem nos comparar à Argentina como modelo. Seja com Venezuela ou com Argentina, não dá. O PT quer implantar uma ditadura de esquerda no Brasil, com as maiores taxas de juros do mundo e permitindo que bancos tenham lucros bilionários? Realmente, se o PT tá querendo fazer isso aqui virar uma ditadura de esquerda usando desses métodos tão capitalistas, merece mesmo ser tirado do poder por incompetência.

Em tempos de histeria popular, Hitler fez sabões de judeu e os alemães apoiaram ou estavam tão cegos de histeria que nem perceberam.

sábado, 2 de janeiro de 2016

Devaneio Rodriguiano

Tomava todos os dias o mesmo ônibus urbano que ela, saindo às 11:30 do terminal rodoviário. Sempre a via na fila de espera. Uma jovem de uns 20 anos, morena clara, de cabelos castanhos com tons de loiro. Estimava que ela tivesse uns 1,70 m de altura. Na linguagem popular masculina, ela era uma cavala, uma gostosa de quadris e coxas voluntariosos, de corpo bem torneado e rosto bem desenhado. Ele tinha o costume de dizer que não casaria com uma mulher que não fosse capaz de conseguir segurar no colo. Aquela cavala talvez ele não conseguiria; não por ser gorda (pelo contrário), e sim pela magreza quase aidética dele e pelo corpo bem distribuído que aquela garota ostentava.

Já fazia cerca de um mês que Alves, jovem servidor público de 23 anos, comia aquela jovem com os olhos na fila de espera e no percurso de meia hora até a capital. Via ela descer todos os dias no mesmo ponto de ônibus - um ponto antes daquele em que ele descia para se dirigir à repartição onde trabalhava. Ficava imaginando para onde ela ia todos os dias, se tinha namorado, o que fazia da vida. A musa tinha um ar de garota meiga, sem aquelas nojentices comuns das garotas urbanas. "Veja só! Ela sequer usava fones de ouvido durante as viagens de ônibus!", pensava Alves.

De tanto vê-la diariamente naquele mesmo itinerário ao centro da capital, tinha a inocência de se sentir íntimo da guria. 

"Cabeça vazia, oficina do diabo", já diziam os antigos. 

Determinado dia, Alves, de caso pensado, resolveu sentar-se do lado daquela coisa linda. Já tinha planejado tudo. Iria deixar o ônibus afastar-se alguns minutos do terminal rodoviário e uns 5 minutos depois puxar assunto com tom de naturalidade. Sabia que, em geral, as jovens bonitas sentem-se inseguras ao serem abordadas por desconhecidos. Porém, inocentemente, acreditava que ela já tivesse em algum momento percebido que pegavam todos os dias o mesmo ônibus e que, por isso, se sentisse mais à vontade para conversar.

Pois bem. Sentou-se ao lado da linda moça e alguns minutos depois, Alves lhe disse em baixo tom de voz:

- Reparei que todos os dias pega esse mesmo ônibus, assim como eu. Você trabalha no centro?

Ela respondeu com um "Hã?", franzindo o rosto como quem não tivesse conseguido ouvir o que foi dito, seja pelo barulho do ônibus ou por não estar esperando ser abordada enquanto olhava pela janela a linda Baía de Vitória.

Alves repetiu a oração, que nesse momento já tinha quase um ar de prece. 

Ele esperava por uma resposta curta, de quem não quer assunto com um desconhecido, ou então, uma resposta em tom doce, convidativo a um prolongamento de conversa. Alves já havia tempos antes abordado uma garota que também pegava sempre esse mesmo ônibus. Naquela ocasião, foi respondido com desdém por uma linda italianinha de cabelos negros, que chegou a descer um ponto  antes do habitual para, talvez, se livrar mais rápido da investida de Alves. Esse episódio chateou profundamente o conquistador, que se sentiu equiparado, de alguma forma, a algum tarado maluco. Nunca mais dirigiu qualquer palavra à italianinha (e a recíproca era verdadeira), embora teimassem em pegar todos os dias o mesmo ônibus. 

"Quem sabe hoje será diferente", pensava esperançosamente o magro jovem de pele morena brasileira, 1,75 m, sem grande charme fora da carteira. 

O que se sucedeu foi algo que jamais passaria pelos planos de Alves, nem se ele ficasse pensando por meses em possíveis desfechos. A linda jovem respondeu à pergunta reiterada:

- Não, não. Estagio no centro. Ainda estou fazendo faculdade.

Ele sequer prestou atenção naquela resposta, dada em tom natural, incapaz de demonstrar interesse ou desdém. O que roubou a atenção do "terror das passageiras" foi outro detalhe: a moça tinha língua presa; muito presa, diga-se de passagem.

Alves ficou petrificado diante dessa inesperada situação. Em seus devaneios jamais imaginara que aquela potranca puro sangue falasse como o Cebolinha da Turma da Mônica. "Puta que pariu! Não é possível!" - praguejava ele mentalmente.

Não conseguia algo balbuciar. Tinha vontade de rir, não pelo problema da moça, mas pela surpresa da situação. Seu rosto, contraditoriamente, reagia com outras contrações. Franziu o rosto com ar de menosprezo. A moça aparentemente não percebeu a razão da estranha careta. Somente depois de um longo delay de uns 10 segundos conseguiu algo dizer. Disse qualquer coisa, fez uma pergunta qualquer, impensada, como que automática:

- Legal. Faz faculdade de quê?
- Direito. - respondeu a guria.

E Alves seguiu fazendo perguntas automáticas, sem cantadas, piadas ou outras observações. Falava como em piloto automático. Não conseguia parar de prestar atenção na língua presa da moça. E esse problema cada vez o incomodava mais. Mais. E mais. Porém ele seguia perguntando coisas, sem que ela perguntasse qualquer coisa sobre ele. Parecia um jogo masoquista, no qual ele forçava a garota a ostentar seu problema vocal e assim ganhava mais momentos de angústia com aquela estranha voz.

O incômodo foi crescendo no jovem conquistador. Isso foi lhe causando suor excessivo na testa. O estômago parecia revirar. Mas Alves seguia a perguntar, perguntar e perguntar. E a jovem respondia tudo com naturalidade, sem demonstrar interesse ou desdém. O moreno jovem foi ficando sem ar, como que prestes a explodir. Se branco fosse, estaria vermelho como semente de pau brasil.

Sem mais resistir, Alves, sem se preocupar em dizer algo que fizesse sentido, apenas disse à moça, em meia voz, a enigmática frase:

- Hoje não! Hoje não!

E de súbito levantou-se e deu sinal para descer no próximo ponto, um ponto antes daquele no qual habitualmente a linda moça descia no centro da cidade.

Quando o ônibus abriu as portas, Alves atirou-se para o lado de fora e pôs-se a vomitar na calçada, na frente daquele mundo de gente que ia e vinha. Vomitava a plenos pulmões, como quem estivesse disposto a cuspir tudo o que entrara mal pelos seus ouvidos e não conseguira absorver.

Estava livre.

A moça provavelmente nada entendera e talvez nem quisesse entender. Mas para Alves fora uma vingança pessoal contra as mulheres passageiras. Sentia-se vitorioso. Isso que importava.

No dia seguinte, no outro, no outro e ainda por meses, voltou a encontrar a cavala e a italianinha na mesma fila de espera e no mesmo ônibus. Mas desde então nunca mais dirigira alguma palavra a uma delas ou a qualquer outra mulher dentro de um ônibus, por mais linda que fosse.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Cadê o dinheiro?

Poucas coisas dividem tanto a opinião pública atualmente no Brasil como o fato de o país ser sede de uma Copa do Mundo em 2014 e de uma Olimpíadas em 2016.

Aqueles que se opõem à realização desses eventos no país sustentam quase em uníssono que é um desperdício de dinheiro público e que o Brasil, ao invés de assumir gastos bilionários com obras necessárias para ambos eventos esportivos, deveria investir esse dinheiro nas verdadeiras prioridades nacionais: erradicar a pobreza; melhorar a saúde e a educação pública etc. Isso pode parecer bonito e sensato. Mas, sinceramente, me soa algo muito utópico.

A verdade, pelo menos pra mim, é que somos um país rico. Minto, somos um país MUITO RICO. Em outras palavras, somos um país tão rico que seríamos capazes de sediar uma Copa do Mundo todo ano sem vivermos significativos problemas financeiros. Se faltam ensino e saúde de qualidade, por exemplo, não é por falta de dinheiro público, mas por má gestão pública, planejamento mal feito, má divisão e mau uso dos recursos existentes. O dinheiro existe, senhores!

Há servidores públicos de nível médio nesse país que ganham mais do que funcionários pós-graduados da iniciativa privada. Há obras públicas faraônicas realizadas para a prestação de serviços que sequer têm grande demanda. Há órgãos públicos nos quais as poltronas da sala de espera custam mais do que um dia de merenda de uma turma completa na escola pública. Há diárias recebidas por membros dos 3 Poderes em viagem que custam mais do que remédios que faltam diariamente nos hospitais públicos.

Neste país não falta dinheiro! É isso que às vezes me dá vontade de gritar a plenos pulmões pela janela do ônibus. Somos um país rico com mentalidade de país pobre. Tem gente (inocente) que realmente acredita que não sediar uma Copa do Mundo ou uma Olimpíadas assegura dinheiro para ser investido na educação ou na saúde. Esse dinheiro, se não fosse gasto nesses eventos, seria desperdiçado de outra forma. Seria, como de regra, comido pelos corruptos e pelos privilégios daqueles que vivem às custas do Estado e pouco produzem. Pra mim, é ilógico crer que os recursos não gastos com uma Copa e uma Olimpíadas poderiam, contrariando nosso histórico de mau uso de dinheiro público, ter sido empregados para atender demandas sociais. Nesse contexto, na minha visão, quem defende não gastar recursos realizando esses eventos é como o dono de uma propriedade improdutiva há décadas que não aceita tê-la usada para reforma agrária porque ainda pretende fazer uso dela no futuro. Economizar dinheiro não realizando a Copa e as Olimpíadas seria guardar dinheiro público sob a alegação de que queremos fazer com ele o que raramente fazemos.

Sinceramente, prefiro ver estradas, aeroportos, transporte urbano e outros serviços sendo melhorados NA MARRA porque vamos receber o mundo em 2014 e 2016 do que ver esse dinheiro sendo devorado, com sempre, pela falta de gestão dos administradores públicos. Os estádios estão custando caro? Há dinheiro consumido pela corrupção nas obras da Copa e das Olimpíadas? Sim. Outro sim. Serão bilhões investidos para no máximo 3 meses (somando os dois eventos) de pão e circo? Sim. Entretanto, também acredito que nem tudo será só tragédia. Ora, sediar tais eventos na fudida América do Sul vai mudar muito a visão que o mundo tem do Brasil e desse lado do planeta. Vai ter um efeito muito positivo para nossa respeitabilidade internacional. O mundo vai descobrir, enfim, que na América do Sul as pessoas não vivem em meio aos macacos e as anacondas, que nem toda brasileira é mulata, que só existe carnaval uma vez no ano e que aqui há coisas que funcionam tão bem ou até melhor do que na Europa.

Lamento discordar dos que acreditam que uma Copa e uma Olimpíadas são para nós apenas desperdício de dinheiro. Nesse assunto, o "povão alienado" que quer a Copa do Mundo me parece mais correto do que os intelectuais que são contrários a esses eventos. Erra (sonha) quem acredita que não gastar recursos públicos com Copa e Olimpíadas assegura dinheiro para prioridades nacionais. Esse gasto é mixaria para um país como o nosso. Desculpe, mas o Brasil não é pobre e não precisa economizar bilhões para conseguir atender demandas sociais. O dinheiro existe, me arrisco a dizer que sempre existiu. Se falta saúde, educação, segurança etc é porque falta gestão; bom uso dos recursos existentes. Que venha 2014 e 2016.

sábado, 10 de março de 2012

[FILÉ COM FRITAS] Brasil: o país do amanhã.

[FILÉ]

Definitivamente, o Brasil é o país do amanhã. O país do amanhã eu faço.

Cada dia mais me surpreendo com a capacidade do povo brasileiro de deixar tudo sempre para a última hora. Não sei se é algo cultural, genético ou sei lá o quê. Mas não é segredo para ninguém que, em regra, gostamos sempre de enrolar para resolver as coisas.

Somos a 6ª economia do mundo e em breve seremos a 5ª, dizem os especialistas. Em tese, seremos um dos grandes países do amanhã, juntamente com outros países emergentes, dizem os economistas. Contudo, me espanta como os economistas são tão confiantes em relação a isso. São todos cegos! Veem apenas o lado econômico da coisa, acreditam que uma economia forte faz um país ser grande. Partem de um pressuposto errado? Não. Só esquecem que esse pressuposto é válido apenas para países desenvolvidos, países que alcançaram elevados níveis de desenvolvimento social após aquelas décadas do chamado Estado do Bem-Estar Social; esquecem que abaixo da linha do pecado, digo, do Equador, o nível de desenvolvimento econômico não acompanha o desenvolvimento da educação, dos serviços públicos...

Para mim, no Brasil não tivemos a época do chamado Estado do Bem-Estar Social. Vivemos há décadas um sistema híbrido que alia liberalismo econômico com paternalismo social. E pagamos caro por isso. Queremos evoluir no campo social, mas os liberais ficam dizendo que isso é ideia retrógrada, que a época disso já passou, que o negócio é ser neoliberal, como os países desenvolvidos, aí ficamos no meio do caminho: entramos de cabeça no sistema neoliberal fingindo que já tivemos (como os países desenvolvidos efetivamente tiveram) um período de Estado Social. Resultado: temos crescimento econômico e queremos manter os avanços sociais que pensamos termos feito nas décadas passadas. Vai dizer que nunca ouviu algum especialista dizer que o SUS é o melhor sistema PÚBLICO de saúde do mundo e que precisamos mantê-lo cada vez melhor? Para mascarar os avanços sociais que não tivemos ficamos inventando bolsas migalhas por aí, auxílios assistencialistas que achamos que podem resolver de imediato as falhas crônicas do nosso sistema social. Queremos sempre mascarar o agora para resolver, se der, depois.

Essa parece ser a tônica da nossa política. Vivemos de promessas. Por quê? Porque acreditamos em promessas. Acreditamos sempre que alguém fará amanhã; e digo mais, nos contentamos em ter a esperança do amanhã. Acontece, entretanto, que desde os anos 70 somos o tal país do amanhã. De um amanhã que nunca chega e, para mim, enquanto continuarmos nesse espírito de resolver no futuro, nunca chegará. Voltando às promessas, destaco que também acreditamos nelas porque levamos nossas próprias vidas “na promessa”. Repito: não sei se é cultural, mas a verdade (pelo menos a minha) é que gostamos de deixar tudo para depois e só quando o depois está prestes a estourar na nossa fuça é que tomamos uma atitude enérgica. Até lá gostamos de “cozinhar o galo”. Para alguns, isso é preguiça, razão pela qual dizem que somos um povo preguiçoso, conclusão que cada vez mais luto para não ter.

Numa democracia representativa como a nossa, os governantes não são nada mais do que um espelho de quem os elege. Partindo dessa premissa como verdade, tenho que se o Poder Público sempre que pode retarda ações efetivas para resolver os problemas nacionais, é porque isso é reflexo do que os brasileiros costumam fazer para resolver seus próprios problemas. Talvez isso explique, em parte, a nossa paixão pelos “jeitinhos”, afinal, eles não são nada mais do que meras soluções improvisadas para problemas imediatos. Problemas que muitas vezes poderiam ter sido evitados se no passado tivéssemos agido de modo mais enérgico quando o problema ainda era pequeno. Costumamos esperar um vazamento virar um desmoronamento para agirmos de alguma forma efetiva. É comum, por exemplo, situações em que o Poder Público faz uma obra, deixa de herança um buraco mal tampado e só volta para fechá-lo efetivamente quando alguém cai nele e morre. Só agimos com pressão. Só rompemos a inércia quando se omitir já não dá mais; já não é mais opção. Por que esperar diversas pessoas serem atropeladas numa rodovia antes de se construir uma passarela? Por que esperar o corrupto roubar de novo para reclamar dele depois? Não o eleja então, cacete! Por que esperamos as coisas acontecerem do pior modo possível ou ficarem prestes a chegar nesse nível para agirmos?

E a burocracia? Quantas vezes você já teve a sensação de que ela existe só para você desistir de fazer algo? Parte do objetivo dela é este mesmo: desestimular cobranças por ações imediatas; dar tempo para o Poder Público enrolar para resolver o problema. O negócio é enrolar. Enrolar ou deixar para outra pessoa resolver amanhã; transferir o agir para depois e, de preferência, para outra pessoa.

Tenho me divertido muito com as obras da Copa do Mundo. Tudo muito lento e parecendo que não vai ficar pronto a tempo. O mundo civilizado está morrendo de medo de nós (da selva) não termos obras prontas para o mundial. Eles não nos conhecem... Eles não sabem que tudo aqui tem que “ter emoção”, ser feito com jeitinho e sufoco. Não teria graça ter feito tudo com 1 ano e meio de antecedência. Não seria uma copa brasileira; seria uma copa alemã ou japonesa no Brasil. Relaxem, gringos! Vai ficar tudo pronto (ainda que o cimento da arquibancada fique seco no dia do 1º jogo). Relaxem. Vocês vão poder se divertir na 6ª (ou até 5ª) economia do mundo. Semana passada o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, disse que precisávamos de um chute na bunda para acelerar as obras. Nossa! “Ui! Como somos delicados...” Para o governo brasileiro isso foi quase uma declaração de guerra. Pergunto: Que mentira o homem branco do norte disse? Ele disse apenas que somos muito tranquilos para fazer as coisas urgentes. Que estamos retardando mais do que deveríamos obras que já deveriam estar prontas (tanto estádios como infra-estrutura: estradas, aeroportos...). Nós somos muito engraçados mesmo: adoramos sermos bajulados; queremos ter razão, mesmo estando com a tarefa de casa atrasada. E ainda queremos justificar o porquê! Foi um puxão de orelha merecido! E digo mais, deveríamos ter vergonha por estarmos assumindo frente ao mundo todo que só estamos tentando resolver problemas de infra-estrutura porque temos que parecer bem organizados ao mundo durante a Copa e as Olimpíadas. Noutros termos, só estamos saindo da inércia para não passar vergonha, para aparentar sermos um país organizado. Não estaríamos movendo uma palha do lugar para melhorar os aeroportos e as estradas se não tivéssemos que receber o mundo em 2014 e 2016.

Somos assim. Desde muito tempo. Pensamos que tudo pode se ajeitar depois; quem sabe amanhã. Mas eu ainda acredito que o nosso amanhã vai chegar, afinal, como consta no título de um dos filmes de 007: O amanhã nunca morre.

A você que não sei (e "nunca" soube) se sente o mesmo que eu.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A guerra dos mundos

Era uma vez um mundo verde musgo. Tudo nele era rígido, tradicionalista e repressivo. Um dia esse mundo "caiu" e mudou de cor. Diziam que o mundo que o sucederia seria multicolorido como o povo que habitava esse mundo.

Anos depois e tudo ficou azul. A economia era azul. Diziam que o povo seria pintado de azul. Pintaram as empresas que sempre foram verde e amarelo de blue/bleu//blau/azzurro... Enfim, pintaram tudo que viram de azul, menos o povo. Esse, como sempre, manteve-se esquecido, esperando ansiosamente ser pintado com o mesmo azul que pintava as felizes pessoas que haviam recuperado o status social prejudicado anos antes por uma série de problemas econômicos vividos pelo país antes dele ficar azul. Uns poucos foram pintados de azul. Aqueles, de sempre. Querendo manter tudo azul, os azuis conseguiram por meio de uma manobra, um tanto o quanto marota, criar a possibilidade de reeleição para o cargo de presidente. Era preciso pintar ainda mais de azul aqueles que já eram azuis por natureza. E conseguiram, afinal, aquele bando de gente pintada de invisível tinha muito medo do vermelho em 1998. Sei lá, vermelho assustava, lembrava sangue.

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E lá fomos nós, para mais 4 anos azuis. Ou melhor. E lá se foram eles para mais quatro anos. Os invisíveis continuaram invisíveis, comendo as migalhas deixadas pelos azuis no prato. Migalhas como um salário mínimo de fome aqui, um tal de bolsa escola acolá. Mas tudo era azul, nunca se esqueça disso.

Então eis que chegamos em 2002 à beira do caos social. Era matar ou morrer. Ou os invisíveis recebiam uma cor ou iriam matar todos os azuis. O vermelho não assustava mais os "sem-cor", mas apenas os azuis. Para aqueles que nunca foram pintados, o vermelho não lembrava mais o sangue, mas a esperança, a esperança era vermelha. O vermelho representava o sangue dos azuis que iria jorrar à força naquele mês de outubro histórico. Aquelas eleições foram algo do tipo luta de classes: pobres invisíveis X ricos e classe média azuis. Os pobres, como maioria, venceram, enfim!

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E vieram os vermelhos. A porrada vinha de todos os lados. "O país vai quebrar". "A inflação vai voltar". "O Brasil perderá investimentos externos". Sim, senhores. A preocupação era totalmente FINANCEIRA. O medo não era em relação ao nível de vida das pessoas. Sei que a economia é um dos fatores que levam a um bom nível de vida da população, mas não é TUDO (isso é meio óbvio, mas os azuis nunca perceberam isso, até hoje). Mas aquele vermelho não era o mesmo vermelho de anos atrás. Era um vermelho meio azul. Vermelho com azul é roxo? Se for, digo, sem pudor que os vermelhos foram perdendo um pouco daquele fogo inicial e ficando roxos. A economia continuou como era no tempo do mundo azul. Na verdade, ela ficou ainda melhor, afinal, enfim, os invisíveis começaram a aparecer. Foram incluídos na economia nacional. Populismo? Assistencialismo? É fácil dizer isso morando no sudeste e nunca tendo passado fome. Mas garanto que para aqueles que não tinham nem o que comer na época do mundo azul, os programas sociais representaram dignidade, representaram vida, representaram ser vistos pelos caras lá de cima. Para quem nada tem, metade é o dobro, senhores. Não negue o que comer a essas pessoas alegando que isso é assistencialismo e populismo, afinal, os azuis, em nome de não serem taxados de populistas, nunca nem botaram comida no prato de milhões de invisíveis por 8 anos! Prefiro a informalidade,a quebra de regras que alimenta do que o moralismo que causa fome e morte. Veja esse "assistencialismo populista" pelos olhos de quem sempre se acostumou a passar fome desde os primórdios desse país.

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Corrupção. Mensalão. Dinheiro na cueca. Fizeram o caralho para derrubar os vermelhos. Mas eles nunca caíram. Por quê? Porque eles alimentaram e deram cor àqueles por quem os azuis nunca olharam. Quem antes morria de fome, será eternamente grato aos vermelhos, afinal, não tiveram suas vidas salvas pelos azuis em 8 anos.

Não nego que o governo vermelho não foi perfeito, longe disso. Mas também não sou hipócrita para afirmar que o mundo azul foi melhor.

Mas vamos ao que interessa: 2 º turno das Eleições 2010. Ou melhor. A guerra dos mundos: Mundo Vermelho X Mundo Azul. Não há propostas inovadoras para os velhos problemas. Há apenas uma rinha de galo na qual o Governo Lula duela contra o Governo FHC. Virou um duelo de desempate, algo como: seus 8 anos foram piores que os nossos. Estão discutindo o passado, senhores. Querem que domingo façamos o julgamento de qual governo foi melhor. Querem a prova real (aquela das continhas da 2ª série). Querem o tira-teima. O duelo de desempate, afinal, tá 8 a 8. As propostas de Serra e Dilma somem em meio ao debate de qual governo foi melhor. É como se estivéssemos que votar entre Lula ou FHC no domingo. Ninguém promete o novo, mas apenas retomar o velho. Saudades da 3ª via apontada por Plínio, que tinha razão em afirmar que Serra e Dilma eram muito parecidos. Vou além, a marionete dos intelectuais verdes, ops, Marina Silva, também não passava, no fundo, no fundo,
de um vermelho com azul com uns retoques de verde. Discurso mole para questões sérias. Papo antenado com o século XXI, agradável aos ouvidos jovens e intelectuais, mas que no fundo queria agradar a gregos e troianos com um discurso meio molenga, que dizia querer mudar, mas sem mudanças radicais. Ou seja, ela também era vermelho com azul... Duvida? Pesquise o discurso dos Partidos Verdes da Europa e como eles governam quando no poder. Esse verde bonito e que parece esperança camufla muita coisa dentro...

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Tá ridículo! Agressões recíprocas para todo lado. Até bolinha de papel na careca vira artefato de guerra e ameça à democracia (sim, a VEJA estampou o episódio da bolinha como um atentado à democracia). Os azuis dizem que os vermelhos são corruptos, apoiam Sarney, Collor. Mas e eles que sustentaram ACM (vulgo Toninho Malvadeza) por longos anos? Ah, esqueceram disso? Que partido HONESTO aceita fazer aliança com o DEMOCRATAS (ex-PFL), o partido mais corrupto de todos os tempos? Responda-me. Você acha normal o lema "O Serra é do BEM"? Isso não deveria ser algo presumido em um candidato à presidência? Por que é necessário reforçar essa ideia? Aí tem... Ah, o vice do Serra, Sr. Índio, é um ilustre desconhecido empurrado goela abaixo pelo DEMOCRATAS pra cima do Serra. Pareceu barganha. Quem é esse cara? Tenho medo dos azuis. Tenho medo dos que usam a religião como argumento para ganhar votos no século XXI. Tenho medo daqueles que mostram pastores pedindo votos para um candidato ao invés de propostas. Tenho medo daqueles que falam que se a candidata X ganhar o aborto será liberado. Por favor, alguém poderia avisar ao povo que o Presidente da República não cria leis, e sim o Legislativo? Alguém poderia avisar ao povo que um presidente não pode instituir o aborto por Decreto ou Medida Provisória? Tenho medo dos que exploram a ignorância dos mais humildes para ganhar voto. Tenho medo dos que pregam um futuro de depravações morais caso o vermelho vença (quase o apocalipse). Tenho medo dos que tentam se aproximar dos humildes prometendo um salário migalha maior, digo salário mínimo maior, e um 13º Bolsa Família. Tenho medo dos que chamam os aposentados de vagabundos e anos depois prometem aumentar o salário dos pensionistas em 10%. Tenho medo dos que tentam comprar o povo com esmolas maiores ao invés de projetos de inclusão social.

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Falam que o vermelho tá criando uma ditadura Chavista, que pintar tudo de azul irá oxigenar a política brasileira. Falam que a alternância de poder faz bem à democracia. Mas não foram vocês que criaram a reeleição para presidente? Contraditório... Criticamos a política americana pela falta de alternância no poder e fazemos igualzinho. Azul - Vermelho - Azul (de novo? Isso é alternar?). Pobre Plínio, que pena que daqui a 4 anos será a vez do Verde avermelhado em tons de azul chegar ao poder, queria tanto ver o seu vermelho sangue no poder... Que meu idolatrado Cristovam Buarque não ouça isso...

Só pra terminar, dizem que a Dilma é marionete e não sabemos de quem. É verdade. Marionete ela é. Mas garanto que aqueles que irão manipulá-la não fugirão muito da fórmula que deu tão certo nesses 8 anos, afinal, isso significaria perder o apoio popular. Meu medo é daqueles que estão junto com o Serra, pois esses conhecemos bem e SABEMOS do que são capazes, né, DEMOCRATAS? Sei que Dilma tende a ser 4 anos de estagnação, mas prefiro um mundo vermelho desbotando do que um novo velho mundo azul que irá descolorir todos aqueles que, enfim, ganharam cor a partir de 2002.

Desculpem a franqueza, mas prefiro ser claro no meu voto vermelho, assumir uma posição, do que me dizer imparcial, como a nossa imprensa covarde, e minar um candidato pelas costas, sem os leitores saberem claramente. Essa imprensa desrespeita a nós como público. Prefiro a sinceridade dos meios de comunicação americanos, que sempre assumem, PUBLICAMENTE, uma posição nas eleições. É pecado ser parcial? Não, desde que se avise isso ao público.

E o mundo continuará vermelho por mais 4 anos...

Um dos últimos textos deste blog

sábado, 4 de setembro de 2010

[Filé com Fritas] Ih, começou a palhaçada... (Parte II)

[FILÉ]

Vencida a insanidade do texto anterior, venho aqui dar continuidade às ideias do texto "Ih, começou a palhaçada... (Parte I)". Ah, antes de eu começar, só quero deixar uma pequena reflexão sobre a insanidade. Dia desses, enquanto via na TV um programa especial sobre hospícios, uma funcionária de um deles disse ter ouvido uma frase, mais ou menos assim, de um "louco": "Maluco é aquele que não foi louco o suficiente para resistir à loucura do mundo lá de fora." Faz sentido, né? Pois é, diante disso, não sei se larguei a insanidade de ontem ou se apenas retornei à ela... Mas deixa estar, vamos ao que interessa!

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Quando eu ainda não votava, eu era louco para poder votar, para poder participar, e não entendia como as pessoas não podiam achar isso legal. Eu ainda acho legal, mas entendo perfeitamente a frustração popular com as eleições, mesmo eu que sou tão animado com isso. Os candidatos são tão ruins que acho que votarei nulo para senador e para deputado federal, quanto ao cargo de presidente eu também estou caminhando nesse sentido, afinal, o candidato com as melhores ideias tem apenas um leve defeito: é socialista... hehe

O que o 1º domingo de outubro significa para a maioria das pessoas? A festa da democracia" (conforme dizem na TV)? Não. Eu respondo: um domingo chato em que eu não posso sair de casa sem ter que ir para uma escola cheia de gente votar num desses corruptos que estão por aí. É um dia tão chato que nem bebida é liberada, por sinal, o único dia do ano. Na verdade, tinham que liberar a bebida sim, afinal, tem candidato que para votar nele você precisa antes tomar coragem (tomar uns gorós) e tem outros que a dor na consciência por votar neles é tão grande que só bebendo para esquecer...

Clique nele e veja a propaganda dele na TV (não é vírus) hehe

Mas sério, agora. Se o voto não fosse obrigatório, você acha que a maioria das pessoas iria votar? Eu, sinceramente, acho que ia dar uns 30% ou 40% do eleitorado, isso se não desse menos. Gente, as pessoas estão desiludidas com a política brasileira, não acreditam nos políticos e nem acham que o voto delas pode fazer alguma diferença. Os defensores do voto obrigatório dizem que esse direito foi conquistado com muito esforço, com vidas, com sangue. Pelo povo brasileiro? Não, senhor. Com as vidas de pessoas realmente interessadas num país de voto livre e democrático (os utópicos do século XX). O povão nunca ligou muito para não poder votar para todos os cargos durante a ditadura, ele foi levado a achar que votar poderia ser melhor e acreditou, assim como também julgou que eleger Collor seria o melhor, mas isso se explica, afinal, o povo ganhou um direito que não sabia direito como usar, aí acabou usando de qualquer jeito, resultado: deu Collor! O nosso povo não tinha e ainda não tem uma consciência política desenvolvida, não entende muito o que o voto e os governantes representam.

Se votar é um direito (no sentido usual da palavra), porque eu não posso deixar de exercê-lo? É mais um direito ou dever? Se for direito (como dizem todos aos 4 cantos) eu não posso ser obrigado a exercê-lo, certo? Mas não é isso o que acontece. Sou defensor de que tudo que é feito por obrigação não é feito com muito zelo, inclusive votar. Creio que votar não pode ser uma obrigação, se é direito mesmo, não pode ser obrigação! Que me perdoem os que vão dizer: muitos deram a vida para que o povo pudesse votar, mesmo que seja errado. Eu defendo que conquistamos o direito, mas que não podemos ser obrigados a exercê-lo, afinal, o direito é meu, a escolha nas urnas é minha, eu não preciso fazer uma escolha que eu não quero. O simples fato de eu ter a prerrogativa de votar já é uma vitória, é suficiente, esse direito já é a vitória histórica, o seu exercício é outra questão. Ninguém pode ser obrigado a ser cidadão, no sentido de votar (cidadania engloga muito mais que votar). É recomendável, mas se você não quiser se envolver na vida do país, não se envolva, afinal, esse país é livre e você tem liberdade para fazer suas próprias escolhas. Não está na Constituição que ninguém pode ser discriminado por suas ideologias políticas? Logo, não querer votar é uma opção política e deve ser respeitada.

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Não entendo que o povo vai criar consciência política sendo obrigado a votar, isso não nasce desse jeito, envolve muitas outras questões. A verdade é que se houvesse um plebiscito acerca da obrigatoriedade do voto, o "NÃO" venceria. Considerando que o pilar central da democracia é a vontade popular, creio que a vontade do povo deva ser acatada: o voto deve ser facultativo. O pior de tudo é que enquanto ficamos nesse papo furado de "as eleições brasileiras é o maior evento democrático do mundo", esquecemos que no fundo o que gera a "festa da democracia" é um ato autoritário, não democrático: a obrigatoriedade do voto. Os defensores dessa festa estranha de gente esquisita têm receio de passar vergonha, de ficar escancarado para a sociedade brasileira que a maioria das pessoas "está nem aí" para a política e para o futuro do país. É preciso manter o jogo de aparências. Dar o direito de não votar pode abrir uma "caixa de pandora", afinal, ficará exposto o quanto nosso sistema democrático é falho e quanto não somos maduros para a vida democrática...

Defendo que somente aqueles realmente comprometidos com o país e maduros politicamente votem, afinal, esses eu tenho certeza que não deixarão de votar apenas pelo voto ser facultativo e pensam antes de votar. Digo mais, creio que facultar o voto vai diminuir o número de políticos eleitos à base de mentiras contadas ao povo, afinal, mais difícil do que ganhar votos, será convencer o povo a "perder" o domingo. Pode ser que somente os letrados continuem votando, só as classes mais altas da sociedade, mas isso tenderia a mudar com o tempo, posto que a população mais iletrada, que inicialmente deixou de votar por não entender a necessidade e a importância do voto, iria perceber que seu voto realmente pode mudar a ordem das coisas, iria perceber que aqueles eleitos sem a sua participação não são exatamente aqueles que representam o discurso popular, mas o discurso de um pequeno grupo nacional. Isso já acontece na prática, mas o povo não percebe em razão do "oba-oba" que gira em torno das eleições, em razão desse clima de o "povo" escolhendo. A faculdade do voto vai abrir os olhos do povo para a realidade e fazê-lo perceber que seu voto faz alguma diferença, vai torná-lo mais responsável quando decidir votar espontaneamente.

Hoje, o desgosto em votar é tão grande, que além de não entender o valor do voto, as pessoas têm ficado "putas" por serem obrigadas a fazer uma escolha que não querem, por isso estão zoneando com as eleições. Sim, zoneando, sacaneando, escrotizando com os rumos do país. O brasileiro gosta de fazer piada daquilo que não gosta, por isso está votando em pessoas famosas que não têm nada a oferecer à política. A época das urnas de papel trouxe algumas mostras disso, vide o ano em que "mosquito" foi eleito vereador em Vila Velha; casos assim aconteceram aos montes naquela época por todo o Brasil.

Em síntese, ou a gente para com essas farsas de voto obrigatório e de que temos "a maior festa democrática do mundo" e enxergamos o iceberg enorme que está debaixo de nossos narizes afundando o nosso país: um sistema democrático que é uma farsa e que não funciona. Ou a gente vai continuar vendo, eleições após eleições, o país sendo entregue pelo voto popular (pela soberania popular) nas mãos de pessoas que não têm condições de governá-lo. A escrotização das eleições só tende a aumentar ao longo dos anos se nada for feito, é algo natural, zuar com as eleições vai tornar-se a regra! Quem tem olhos e ouvidos, veja e ouça enquanto ainda há tempo. Pode ser que depois seja tarde demais...

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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Ih, começou a palhaçada... (Parte I)

Estava observando o meu blog dia desses e pensei: "Nossa, tá muito melancólico, parecendo um muro das lamentações, preciso retomar imediatamente os temas gerais e abstratos!". Então, eis-me aqui, sem meu "alter ego".


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Sabe a expressão do título? Então, ela foi dita milhares de vezes na última terça-feira, quiçá, milhões de vezes. É assim que uma parte significativa da população brasileira recebeu o início do horário eleitoral gratuito na TV. Na verdade, acho que muita gente deve ter dito assim: "Ih, começou a putaria!", mas achei melhor colocar diferente no título para não soar muito "boca suja". Por que as pessoas reagem assim diante da propaganda política na TV? Por que desligam a TV? Por que esbravejam? Por quê? Por quê? E mais porquês... Elas não gostam de perder a novela? Elas não gostam de perder mais de 30 minutos de lazer em frente a TV após um dia pesado de trabalho? Elas não gostam dos políticos? Talvez um pouco disso tudo. Mas acho que o que mais prevalece é desinteresse político.

As pessoas, em geral, não gostam de políticos. Têm aversão à política. Só gostam de falar dela para reclamar de políticos, da corrupção, para reclamar do salário mínimo... Reclamar, reclamar e reclamar. Só isso. E por quê? Porque, sintéticamente falando, não estão nada satisfeitas com nosso sistema político. As pessoas não se sentem representadas pelos políticos, não se sentem com voz ativa na política, se sentem como marionetes que a cada 2 anos são obrigadas a escolher alguém para governá-las.

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Dia desses, eu li algo do tipo em algum livro de Direito no qual eu estudava: "A essência da democracia é a representação popular, a concretização da vontade popular pelos representantes públicos". Nada novo, é verdade, mas algo que me levou ao seguinte pensamento: "Ok, se o sistema representativo está no alicerce da democracia, o que acontece quando as pessoas não se sentem NUNCA representadas? Algo está errado no sistema, certo?" Aí me perguntei: "Se as pessoas reclamam por não terem as suas vontades concretizadas por seus representantes, será que vale a pena manter esse sistema que desagrada a quase todos? Mantê-lo não seria violar a dita vontade popular?"

Não, eu não defendo a ditadura, mas também não tô muito certo de que a democracia é o que o povo quer. Disse, essa semana, um professor meu que viveu a ditadura: "Talvez a democracia não seja o melhor sistema, mas melhor com ela do que sem ela". O que seria melhor do que ela para atender aos anseios sociais? Vamos viajar um pouco? Então vamos: no fundo, o que se persegue é a concretização da vontade popular, afinal, todo o poder emana do povo (Isso está no art. 1º, parágrafo único da Constituição Federal), os três Poderes! Vamos concretizar essas vontades levando-as às últimas consequências? Bora então! Vamos realizar todos os desejos populares!

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O povo decidiu: não quer mais sistema representativo. O que será que ele quer no lugar? Ele quer, simplesmente, N-A-D-A. Cada um quer se decidir sozinho. Fazer o que der na telha. Ninguém quer votar e nem ser votado. Votar é chato. Campanha política é chata! Político é tudo ladrão! Chega, a gente quer decidir tudo na rua, como na Grécia, mas dessa vez com o POVO de verdade. Acordo 1: Ninguém mais trabalha! Faz só o que quiser o dia todo. Acordo 2: Não há mais vínculos obrigatórios entre as pessoas, cada um faz o que quiser, quando e como quiser. Ah, vai prevalecer a força, então, não haverá mais esse tal de Estado e nem os aparelhos repressivos. dele. Acordo 3: A partir de agora é tudo permitido. Você deve estar pensando: "Credo, será que o povo quer mesmo essas coisas?" Queremos voltar à barbárie? Sim, a gente quer. Queremos ser animais irracionais, viver livremente. Seria, enfim, a concretização do Estado de Natureza de Hobbes, afinal, dizem que tal Estado nunca existiu, não passa de uma criação ficcional. Na verdade, a gente não quer Estado, porque ele não somos nós. Ele representa os interesses de apenas um grupo da população. No fundo, no fundo, o povão não quer o Estado, também não quer a democracia, não quer ter que escolher representantes de sua vontade, ele quer participar, quer tutelar seus próprios interesses, só que isso não pode ser feito por representantes, só você sabe o que de fato você quer. Viu porque a democracia não faz muito sentido? Eu não sou você e você nunca estará totalmente satisfeito comigo como seu representante.

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Sei que o povo brasileiro quer, mas ele nunca vai fazer, afinal, o povo brasileiro não é revolucionário, não curte baderna. A gente nunca precisou de verdade LUTAR (no sentido de cair no braço mesmo) por algo. Não lutamos por independência, pelo fim da monarquia, pela proclamação da República, pelo fim da Ditadura. Sempre houve um grupo tomando frente em eventuais lutas e a massa assistindo. A massa nunca decide para valer. Será que ela lutou pelo fim da Ditadura? Nada. Ditadura ou democracia? Parece tudo igual ao povão. Por ele, ele segue reclamando da democracia por aí até o dia da volta da Ditadura ou o dia do Apocalipse e está tudo bom! Para ele, votar no PSDB e depois votar no PT é a mesma coisa. É tudo igual. E não está totalmente errado não, afinal, os partidos no Brasil não têm uma identidade, ideologias muito definidas. Proponho então criar o "PB do B", o "Partido Brasileirista do Brasil". Aquele que fará sempre o que o povo brasileiro quiser: seja soltar Barrabás ou levar o Neymar e o Ganso para a Copa.

Ah, um ponto delicado, o povo quer o anarquismo, sem querer querendo, mas quer que um símbolo nacional seja mantido intocável: a seleção brasileira. A única eleição da qual ele quer participar é a de novo técnico da seleção, cargo que poderá ser derrubado por meio de eleições regulares. A máquina futebolística precisa ser mantida. A única que precisa. O resto pode cair.

O PB do B vai entrar na luta nas próximas eleições, com a bandeira de que é preciso respeitar a vontade popular, lutar pelo fim de tudo. Defenderá que é preciso acabar com qualquer representação. O povo quer, ele pode. Quero pagar para ver. Ver no que vai dar. Ver quanto tempo isso dura (eu acho que durará eternamente, o povo brasileiro não faz mudanças).

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ATENÇÃO: Isto tudo não passa de uma grande brincadeira, qualquer semelhança com o real é mera coincidência. O PB do B não existe, assim como a democracia também não funciona NO BRASIL. É preciso mudar, talvez de sistema político ou talvez somente a maneira com que encaramos a política, isso é sério, em breve volto com a parte II...

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Dedicado a Policarpo Quaresma

UFA! Quase que minha postagem foi atingida pelo que chamamos no Direito de Preclusão Temporal! Quase que o maior espetáculo de Terra chega ao fim para nós e eu não falei nada sobre o evento. Tudo bem que o Brasil pode até vencer a Holanda daqui a 1 hora e meia e ganharmos mais uma sobrevida no evento, mas não vou arriscar, vou escrever antes que acabe tudo, antes que prescreva! Esse texto será redigido correndo, então, não repare na falta de profundidade ou em besteiras que eu falar. Vai sair do coração!

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Leitores, como AMO os tempos de Copa do Mundo, em que tudo, até as pessoas, ficam em verde, amarelo, azul e branco. Dia desses (em setembro de 2009), falei um pouco sobre minha paixão pela seleção brasileira, lembra? Mas hoje falarei um pouco diferente, falarei do amor pelo meu país. Eu sofro por amar esse país 365 (às vezes 366) dias por ano enquanto a maioria das pessoas só o amam um mês a cada 4 anos... Entretanto, eu não sou ciumento, não ligo que de repente todos comecem a amar o Brasil, por isso gosto tanto da Copa do Mundo. De verdade, eu AMO esse país todos os dias, adoro a sensação de viver aqui (apesar de meus romances secretos com a Argentina - não incluindo a seleção argentina - e com a Islândia), isso não quer dizer que eu não o critique de vez em quando, pois amar não é algo que deva ser feito cegamente, é preciso conservar um senso crítico sobre aquilo que se ama.

Durante esses dias de Copa, eu vejo ruas, casas e pessoas em verde e amarelo, bandeiras por todos os lados, gritos de BRASIL por toda parte. Tudo é BRASIL. As mulheres (não todas) aceitam ver futebol; todos estão na mesma sintonia, sentindo a mesma pulsação, respirando no mesmo compasso. Um amor gratuito por 1 mês. Todos amando incondicionalmente, como loucos apaixonados (para um possível pseudointelectual que por aqui passe: não tente entender, o futebol é assim, não há razão, tudo é sensação, isso não se explica, se sente). Eu me sinto feliz por esse patriotismo temporário, mas triste por saber que ele tem fim. Ok, você pode falar que o patriotismo pode levar a consequências nefastas; que os americanos... blá blá blá. Eu sei que tudo isso é verdade, sei de tudo isso, mas entenda algo, aqui eu estou falando de paixão, amor gratuito, isso não se mensura cientificamente.

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O que me deixa triste é saber que tudo talvez não passe só de paixão, algo temporário. Daqui a 4 horas, se os holandeses ganharem, bandeiras podem ser rasgadas, camisas jogadas ao chão e xingamentos à pátria proferidos por todos os cantos. Mas por que é assim? Porque ao contrário do que eu disse antes as pessoas não estão apaixonadas pelo Brasil, pela República Federativa do Brasil, mas pela SELEÇÃO BRASILEIRA. As pessoas não se sentem brasileiras quando torcem, mas SELECIONESES BRASILEIROS, o amor não é à pátria, Policarpo! Não é triste isso? Eu descobri que continuo amando com poucos aliados o país, a maioria das pessoas não o amam, nem durante a Copa. Meu texto pode parecer contraditório, mas eu quis antes induzir você ao erro, caro leitor.

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As pessoas se identificam com a seleção, não com o país. Amar um país envolve muito mais do que ficar gritando BRASIL a plenos pulmões, pintar o rosto com a bandeira, vestir uma camisa amarela, pôr uma bandeira na janela, soltar fogos após uma vitória da seleção. Amar um país significa entregar-se a ele, trabalhar por ele, acreditar nele, se comprometer com a construção dele, identificar-se com suas cores é apenas um detalhe. Eu quero esse país como você queria Policarpo, eu quero trabalhar por ele; contudo, não dou a minha vida por ele, mas por sua gente. Policarpo, somos idiotas? Somos muito ideológicos? Faz algum sentido nisso? Freud, seu falastrão, você pode nos ajudar?

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Não digo que seja uma obsessão, mas um amor gratuito por essa terra, uma vontade de fazê-la brilhar, de ajudar o seu povo. Eu sinto a pele arrepiar ouvindo o hino, carrego o hino da Bandeira na ponta da língua (Salve o lindo pendão da esperança/ Salve o símbolo augusto da paz...). Não. Eu não fui militar, mas acho que eles adorariam que eu fosse um. Só para esclarecer: Eu também não queria ter sido um, pois nas forças armadas há muitos interesses em jogo, Policarpo. Você viveu isso, te usaram. Precisamos ter cuidado com o nosso amor incondicional por esse país, há sempre espertos querendo se aproveitar desse sentimento.

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Mas então, o que eu quero com esse texto nada linear? Quero dizer a minha alegria em saber que por 1 mês a cada 4 anos as pessoas amam tão apaixonadamente esse país quanto a gente, Policarpo. Quero dizer que eu sei que eles amam a seleção e que eu finjo que eles amam o país só para ficar feliz. Policarpo, pena que em sua época não havia Copa do Mundo, que nem futebol jogavam por aqui, aposto que você ia adorar se meter no meio da multidão vestida de Brasil, ia gritar a plenos pulmões BRASIL fingindo ser um SELECIONÊS BRASILEIRO, mesmo no fundo você sabendo que você é BRASILEIRO. Por quê? Porque não temos ciúmes desse amor que sentimos, queremos que mais pessoas o tenham, mesmo que indiretamente, afinal, amar a seleção brasileira envolve amar indiretamente o Brasil, não é?

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Como diria Luther King: I HAVE A DREAM. Eu sonho com o dia em que as bandeiras brasileiras estarão hasteadas nas casas todos os dias; com o dia em que o verde e amarelo não sairá nunca de moda; com o dia em que as pessoas se comprometerão em trabalhar por esse país; com o dia em que todos acreditarão nesse país. Sonho com um "estado de Copa" permanente. Queria ver as ruas e as pessoas "de Brasil" o ano todo, não ia ser lindo, Policarpo?

Agora para vocês leitores: Repito, não sou cego a ponto de não ver as deficiências e os problemas do Brasil, lembra daquele papo de que não se deve amar sem senso crítico? Pois é, eu ainda guardo um senso crítico.

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Eu amo demais essa pátria, sempre, na alegria e na tristeza, em tempos de Copa ou não, apesar de que amar em tempos de Copa seja menos sofrido, tenho mais companhia, pseudocompanhia.

Sonhamos demais Policarpo, amamos demais. Freud, isso tem jeito?

domingo, 6 de setembro de 2009

Dormimos felizes

Esta vinda ao blog não estava prevista, por isso creio que será breve. O assunto que me traz aqui tão de repente é um sentimento especial que me tomou na noite de ontem, um sentimeno puro. Ontem a seleção brasileira de futebol se classificou com antecedência para a Copa do Mundo de 2010 após ganhar com certa facilidade da Argentina em território ARGENTINO por um delicioso 3 a 1.



Senhores, tal fato me deu extremo prazer e uma felicidade pura, como daquelas crianças que ganham um sorvete num passeio. Tenho certeza de que não fui o único brasileiro a sentir isso, sabe por quê (nem sei se escrevi esse "porque" corretamente, mas se te incomodo, leia minha 1ª postagem e veja o pedido que fiz lá)? Porque o futebol mexe com os sentimentos mais puros do brasileiro comum, mexe com a alma. Tudo na vida pode dar errado, mas se a seleção vence um jogo importante, por alguns instantes incalculáveis esquecemos de nossas vidas, somos o futebol brasileiro, somos só a alegria da vitória, nos sentimos mais do que somos.


A seleção brasileira é capaz de tornar aquele brasileiro que vive na miséria e que é esquecido pela sociedade o MELHOR DO MUNDO por alguns instantes, é capaz de fazê-lo esquecer sua dura realidade, é capaz de calar muitas vezes a fome que teima em gritar em seu estômago. Uma vitória do Brasil é capaz de torná-lo uma criança inocentemente feliz, despreocupada com qualquer problema de seu dia-a-dia. Uma vitória do Brasil substituiu uma despensa cheia, uma carteira assinada, tudo bem que por algumas horas. Mas e daí que o efeito é curto? Sensações boas podem não durar por muito tempo.

Os ditos intelectuais dizem que o futebol é o ópio do brasileiro comum. Sim. É. Mas é indispensável para nossas vidas, sem ele talvez o Brasil tivesse alguns sérios problemas, afinal, o futebol é uma válvula de escape para nossas aflições, preocupações e problemas de toda sorte. Ele mexe com nossos sentimentos mais puros. Aos ditos intelectuais eu deixo um recado: no futebol não há razão e nada faz sentido, tudo é 100% coração; pensar em futebol é pensar em sentimentos, por isso, não tentem entendê-lo, apenas sintam, entreguem-se ao insano. Ah, e sabe de uma coisa? Acho que todos os ditos intelectuais que não gostam de futebol e que o criticam têm inveja da alegria pura e sincera que sentimos com uma simples vitória no futebol, além daquela prazerosa sensação de poder que sentimos ao ver nossa seleção triunfar mundialmente.

Quis o destino que fossemos os melhores no esporte mais popular do mundo, o que dá a sensação maravilhosa de que somos mundialmente muito bons e reconhecidos em algo, mesmo quando passamos na rua despercebidos e nem somos notados pela sociedade, ou seja, mesmo quando somos um zero à esquerda. Por algumas horas somos muito bons, os melhores, como se nós estivéssemos vencido junto com os jogadores. Por algumas horas esquecemos da vida e do mundo ao redor. Tudo pode ser resolvido temporariamente por uma vitória brasileira no futebol.

Sabe de uma coisa? Ontem eu dormi feliz. Muito feliz. Dormi sem lembrar de qualquer outra coisa que me aconteceu nesses 19 anos, sem se arrependar de meus erros, sem reclamar de problemas, eu simplesmente dormi feliz, mas acho que não fui o único. Muitos merecidamente tiveram uma noite feliz, precisavam disso mais do que eu. Dormimos de alma limpa e leve. Simplesmente dormimos tomados pela mais pura felicidade. Isso bastou.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Você é esperto?

O brasileiro é o povo mais esperto do mundo. Sim, o mais esperto, mas não o mais inteligente. Nossa cultura valoriza a esperteza, não a inteligência. Ué, não são a mesma coisa? Creio que não. Leia, reflita e concorde ou não comigo.

Quando me refiro à inteligência, refiro-me a um elevado nível de conhecimento sobre qualquer assunto (capaz de fazer alguém estar acima da média), sendo o fator distintivo desse saber o fato dele ser perene. Um conhecimento perene não se desmancha espontâneamente de uma hora para outra e não pode ser adquirido facilmente, exige tempo e dedicação; a única possível exceção a essa regra (a única que eu cogito) seriam os casos de pessoas que já nascem com uma aptidão natural para algo, contudo, mesmo essas pessoas não descobrem suas aptidões rapidamente, elas necessitam desenvolver melhor suas aptidões e só assim construir um saber que possa atribuir-lhes dignamente o adjetivo de inteligente. Assim, todos podem ser inteligentes, afinal, todos podem construir conhecimentos perenes que atinjam um grau singular em relação ao saber das outras pessoas sobre um assunto, mas poucos realmente se interessam e buscam desenvolver seus saberes, são as causas disso que pretendo analisar aqui.

O brasileiro comum não almeja ser inteligente em algo, afinal, isso leva tempo; o que importa é ser esperto, é saber macetes, é saber jeitinhos. Muitos alegam que isso é exigência do mercado de trabalho, que é reflexo da deficiência das escolas, não discordo totalmente, mas o capitalismo e o Governo não podem e não devem ser apontados como os responsáveis por todos os males que vivemos em nossa sociedade, acusar sempre os dois é agir como alguns idosos que só têm um assunto: reclamar de doença. É ser um disco travado! O simples fato de não pensarmos em outras causas já representa o típico problema que pretendo apontar aqui, um problema que todos têm vergonha de assumir: o brasileiro tem preguiça de pensar!



Hã? Você achou uma ofensa? Não se ofenda comigo. Eu explico. É mais cômodo não pensar, pensar dá trabalho, toma tempo, pode não trazer respostas logo e cansa... Vamos parar de pensar e ir fazer outra coisa? Pode falar, é tentador parar aqui né, o texto é muito grande... última chance hein... 1...2...3... OK! Você resistiu, então vamos seguir. Quando digo preguiça de pensar eu não me refiro a ser burro, como erroneamente possa parecer, mas me refiro a ser muito prático e querer sempre levar alguma vantagem. Gostamos (eu me incluo, afinal, também sou brasileiro) de fórmulas feitas, gostamos de nos destacarmos pela esperteza, gostamos de crescer sem esforço, gostamos de dinheiro rápido e fácil, ou seja, gostamos da rapidez e da facilidade. Ser esperto é mais fácil do que ser inteligente, dá menos trabalho.


Exemplos disso podem ser visto em todas as faixas etárias, para exemplificar eu posso citar a galera (cada vez com mais adeptos) que se julga mais INTELIGENTE que os colegas e que o próprio professor ao passar com uma nota alta colando nas provas e não tendo que estudar. Sim, eles se acham INTELIGENTES. Hahahahaha. Eu não me contenho, eles são muito engraçados... Se fossem inteligentes eles iam se preocupar em aprender e não em colar, afinal, colando você não aprende, no primeiro vento tudo que você decorou ou colou é levado embora de você. Outros exemplos não faltam, olhe ao redor, todo mundo parece pensar assim, até você, a culpa é sua? Talvez em parte, mas todos são culpados, o problema é tão feio que parece até que a esperteza é algo genético do brasileiro. O problema é que já nos acostumamos a achar isso normal, até por isso nos sentimos tentados a agir assim, enquanto acharmos isso normal não vamos evoluir, pois essa mania de esperteza está corroendo nosso país, está corrompendo nossas instituições políticas, está corrompendo nossos servidores públicos, está corrompendo nossos estudantes, está corrompendo os ainda honestos, está corrompendo nossos valores morais.




O brasileiro está mais preocupado com o presente do que com o futuro, por isso prefere saber o suficiente para o momento em que vive, ele não pensa em aperfeiçoar o que já sabe, ele quer o saber momentâneo, ele quer a solução do agora, ele não quer saber soluções para diversas situações futuras. Devemos viver o presente, mas em matéria de conhecimento devemos pensar no futuro, é mais seguro ter um saber perene, afinal, o que você aprende ninguém mais te tira, faz parte de seu patrimônio pessoal. Achar soluções temporárias baseadas na esperteza dá prazer, dá uma sensação de que se é muito inteligente, mas é pura ilusão.

Nossa cultura acha bonito resolver tudo com esperteza, valorizamos os espertos como se fossem gênios, ninguém sabe, por exemplo, os nomes dos maiores cientistas do país, mas dos bandidos que deram grandes golpes sabemos e sentimos prazer em saber, mas quem engana a lei não é inteligente, pode no máximo ser esperto, afinal, alguma hora da vida ele sofrerá as consequências de seu saber temporário.


Até no futebol valorizamos mais os jogadores que conseguem enganar a arbitragem cavando faltas do que aqueles que persistem em tentar fazer uma jogada quando tocados pelo adversário

Cultuamos a esperteza e mal sabemos que assim cavamos nossa cova, estamos construindo um país que aparenta ao mundo ser confiável, forte e rico, mas por dentro estamos podres em nossa composição, só nós sabemos disso, mas não queremos acreditar. Podemos ficar mais ricos, mas em razão da esperteza de alguns, só uns poucos vão ter acesso a essas riquezas, coisas de um país de gente esperta...

Ainda é tempo de fazer algo, de tentar mudar esse vício cultural que NÃO É GENÉTICO do brasileiro, podemos mudar essa concepção de mundo aceita como natural em nossa sociedade, ah, mas sabe de uma coisa? Deixa isso pra lá, vai dar trabalho pensar no que fazer, vamos pro Orkut ou ver Big Brother, depois a gente pensa...