Esta última semana me falaram de você, referindo-se como sendo a "mulher da minha vida". Achei estranho, pois já não te vejo há não sei quanto tempo e não sinto mais o que sentia por você. Mas quando meu amigo disse que tinha algo a dizer sobre a "mulher da minha vida", sabia que só poderia estar falando de você.
Sorri amarelamente. Expliquei a ele sobre a mudança de sentimentos, relatei brevemente sobre alguns affairs que vivi enquanto estive longe daqui e tentei lhe convencer de que não sentia mais nada por ti. Não sei se convenci. Ele me disse que te encontrou em um evento e que você estava divinamente linda. Ponderei, marotamente, que você nem é tão bonita, tem o corpo magro... mas ele insistiu que ainda assim você estava linda.
Guardadas as devidas proporções e considerando se tratar de uma infeliz comparação, foi como falar de drogas com um dependente que está há pouco tempo "limpo". Tentei tratar a situação com indiferença, afastar o rótulo de "mulher da minha vida". De fato, não penso mais em você e não idealizo nada, como outrora. Vivi affairs depois que parei de lembrar de você. Me envolvi e até tristeza por outra senti.
Mas você não se apaga, segue como uma estranha lembrança que insiste em permanecer. Eu sei porque: é uma história mal resolvida, parada no capítulo de introdução. Você é minha Capitu, deixou a eterna dúvida se eu teria conseguido algo com você ou não. E tem um problema. Eu detesto coisas mal resolvidas e não sossego enquanto não dou um jeito de resolver. Talvez eu te veja como um problema a resolver ou uma história a terminar de escrever.
Hoje sou mais objetivo. Lapidado pelas experiências. Se voltar a te encontrar e conseguir algum espaço, talvez eu não vá enrolar muito tempo e vou tentar logo resolver, escrevendo uma conclusão até sem antes passar pelo enredo. Agora é diferente. A introdução já foi escrita lá pelos idos de 2000 e qualquer coisa, não tem como apagar. Contudo, minha filha, se eu tiver interesse de escrever o enredo antes de partir pra conclusão, vou escrevê-lo de forma surpreendente. Tenho menos purismo, arcadismo e inocência em relação a você. Tenho mais objetivismo e, quem sabe, mais "safadismo". Não tenho mais a pretensão de te ter para sempre. Aprendi que umas beijocas, para quem tem língua, é sentimento. Infelizmente. Talvez seja apenas isso que você queira.
Não espero mais nada. Não penso em te encontrar. Mas sei que agora que voltei para a cidade, qualquer hora em um 514/532 desses, isso pode se realizar. Que não falem mais de você como "mulher da minha vida", porque toda vez que falam, isso me faz voltar a lembrar. Talvez você seja o gatilho que preciso ou só um fantasma que vez ou outra eu tenho que encarar.
Minha conclusão é a de que ainda te quero, mas não te quero mais, te quero menos. Daqueles quereres que só temos de vez em quando.
Hoje não.