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sábado, 22 de setembro de 2018

Raça

2 meses passam rápido. Parece que ainda ontem escrevia pela última vez. Já dizia Nelson, o Rodrigues, que a maior utopia do homem é encontrar um ouvinte. Ou talvez, acrescento eu, ter um blog para escrever, ser um muro de lamentações, confissões, declarações, divagações ou criação.

Às vezes é preciso carregar o piano no braço, com raça e "maracatu atômico". Só olhar pra frente e acreditar que a tempestade vai acabar e que se está quase chegando no local de descarregar o piano. Controlar a respiração e ir, firme, segurando a barra sem soltar. Tem que ter raça. Aliás, respeito quem tem raça no que faz. Raça envolve coração, comprometimento e coragem. Envolve confiar, andar sem saber se ao fim haverá um ponto de repouso para se descansar ou um piano ainda maior a ser carregar. E no fim, pode ser que não tenha valido de nada. 

Mas é preciso viver com raça. Nos faz mais inconsequentes, mais humanos.

Talvez Nelson nunca o tenha dito, mas ter certezas na vida parece fundamental. É preciso acreditar que na próxima manhã haverá uma vida a se viver, embora esta convicção dependa de tantas pequenas coisas que passam, desde a procedência da bala-bombom que compraram em um semáforo e me deram, até a "sorte" de não encontrar alguém armado na esquina de casa e cheio de maldade.

A vida é assim. Um encontro com a maldade a cada esquina, mas uma manhã de certezas a cada recomeço.

Quando se tem raça vive-se um momento de cada vez. Ter raça é sentir-se pleno e forte, ainda que sozinho em meio a uma tempestade em alto mar. É meio que se sentir potente, capaz de levantar todos os alicerces e sair puxando-os rua afora, como "O Incrível Hulk". É meio que ser capaz de arrastar tudo e todos que cruzem a nossa frente, sem olhar para trás o estrago que se está a fazer. É, muitas vezes, só tomar ciência da grandiosidade do que se fez depois que está feito. É enxergar o durante, sem saber como será o depois.

Raça é isto: a coragem de que tudo se pode resolver, ainda que não se saiba como e nem quando. Mas vai se resolver. Raça é uma forma de fé, talvez; porém uma fé ativa, daquelas que se trabalha e confia, como ensina a rosada bandeira do estado do Espírito Santo. Aliás, de rosado, agora só falo da bandeira.

Não quero passar a noite toda divagando ao som de Fagner, todavia, é preciso que seja dito: é preciso ter raça. 

É agindo com raça que resolvemos e descomplicamos.

Valorizo e respeito muito quem tem raça no que faz. Vejo vida. Entrega. Vejo coração, coisa tão rara nos dias de hoje, em que ninguém se envolve e se responsabiliza pelo que faz.

Talvez você esteja certa no auge da jovialidade e da maturidade de seus 22 anos. Talvez eu seja mesmo um romântico. Não um dos últimos, mas um romântico. Ainda não sei ao certo o que isto significa. Penso sobre, porém não sei se gosto da ideia de o ser. Prefiro ser visto como um raçudo, daqueles capazes de construir uma casa sozinho se preciso for.

Mas façamos um acordo. Há uma expressão popular que faz menção a fazer as coisas "no peito e na raça". Se peito significar fazer com coração, aceito ser um romântico. Um cara com raça e coração.

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Vida ou morte!

Os mistérios da morte me fascinam. Talvez ela ainda seja uma das poucas coisas sem respostas concretas neste nosso mundo cada vez mais científico. Ou melhor, o que se sucede após a morte. Ninguém sabe ao certo, com certeza, o que se passa, afinal, ninguém jamais conseguiu submeter à prova empírica a morte e voltar para contar o que descobriu.

Mais uma postagem reflexiva sobre a morte, como tantas que já fiz. O que me traz à morte novamente é um acontecimento ruim, como nas homenagens a Dan Wheldon, Marco Simoncelli e Jules Bianchi; é mais um falecimento surpreendente.

Ontem, primeiro dia do ano, faleceu de infarto um jovem de 28 anos. Um jovem muito alegre, engraçado e de boa conversa. Fomos contemporâneos do curso de Direito na mesma universidade no final de meu curso e tivemos poucos contatos, a maioria deles em jogos de futsal entre o time do qual eu era goleiro e o "xadrez do mal" dos Canalhas (nome do time dele): o suficiente para viramos amigos de Facebook. Por certo que ele, em sua expansividade, foi quem me adicionou, apesar das poucas palavras trocadas entre a gente nas quadras e nos corredores da Universidade. Apesar da pouca vivência, a certeza de que era um cara gente boa demais e meio bon vivant. Torcedor do mesmo time que eu e morador de uma "quebrada" de Cariacica (certeza de boa amizade, nunca me decepcionam).

Então eis que, na tarde de ontem, vejo que o mais querido dos Canalhas faleceu, na plenitude de seus 28 anos. Muitas mensagens perplexas de amigos próximos a ele. Um infarto aos 28 anos. Uma morte muito precoce, mas tenho certeza de que este canalha aproveitou tudo que a vida lhe ofereceu de diversão em seus poucos anos de vida. Foi feliz e deve ter morrido em paz. Esta fatalidade me lembrou outro colega de universidade, que foi assassinado aos 25 anos de idade por um maluco, enquanto, no desempenho de seu trabalho, tentava entregar uma intimação judicial trabalhista. Outro jovem; um brilhante jovem, aliás. Igualmente muito gente boa. Um menino bom.

Os jovens e os seus sonhos também morrem, quando menos esperamos. A morte é assim, democrática, sendo que viver muito é mera pretensão e presunção à qual nos abraçamos para não fazermos a todo custo tudo o que queremos fazer, à qual nos agarramos para não aproveitarmos a vida como se não houvesse amanhã. Acreditar que temos muito tempo é mera expectativa, mera presunção, na qual acreditamos de modo, até certo ponto, arrogante, diante da imprevisibilidade da morte.

Dois jovens mortos precocemente e me pus a pensar. Se não eles, o morto fosse eu?

Me pus a pensar  em quem largaria os afazeres da corrida vida cotidiana para ir se despedir de mim. Acho que sou muito querido. Se eu falecesse hoje, jovem como sou, talvez muita gente comparecesse para se despedir de mim ou desejaria fazê-lo. E a depender da causa da morte, talvez mais gente ainda comparecesse. 

E será que teria algum sentimento afetivo que iria para o túmulo comigo sem jamais ter sido dito? Será que alguém teria sentimentos afetivos a me dizer e se arrependeria por nunca ter me dito em vida?

Vamos à primeira parte. Algo iria para o túmulo comigo? Depois de muito pensar, concluí que não. Todos os que amo (no sentido mais amplo possível de "amar") sabem disso; seja por meus atos, minhas palavras e, recentemente, pelos meus bilhetes escritos a mão e por meus abraços. Em 2017, enfim, aprendi a abraçar as pessoas com sentimento de verdade, a valorizar os abraços. Poucas coisas podem ser tão gostosas e verdadeiras como um abraço sincero. E os bilhetinhos escritos a mão? Vieram em 2017 para transmitir ainda mais verdade ao que sinto pelas pessoas que considero especiais, para elas sentirem na simplicidade e delicadeza de uma mensagem escrita a mão o quanto os verdadeiros sentimentos são coisas únicas, não substituíveis por mensagens padrões reproduzidas em letras mecanizadas.

E agora a segunda parte. Ah a segunda parte... Não tenho como responder, afinal, se eu morreria sem saber, por certo que eu, hoje, vivo, ainda não sei o que as pessoas escondem sem me dizer. Talvez muita coisa teria deixado de me ser dita em vida porque somos bobos e arrogantes em acreditar que temos tempo nesta vida... Tudo que importa deve ser dito, o quanto antes. Aprendi isto um pouco tarde, mas talvez, ainda cedo, nesta vida. Por anos guardei sentimentos. Perdi tempo. Hoje, tão logo que o posso, tomo coragem e falo. Ando meio cansado de fazer cena, esconder. Se é preciso sofrer, melhor que se sofra logo, enquanto o outro é vivo. Porque depois que ele se for, de nada adiantará os sentimentos guardados e o sofrimento será muito pior, pois será por algo que não se fez e pela incerteza de algo que jamais poderá ser vivido diante da morte do outro.

Precisamos falar, confessar e expressar. Enquanto há vida. Enquanto podemos receber o abraço e a resposta dos sentimentos do outro, ainda que seja um sofrido, ainda que libertador, desprezo. Pode ser frustrante na hora, pode ser triste, mas quando fazemos nossa parte, estamos livres com nós mesmos e com o outro, de modo que, eventual arrependimento post mortem não nos perturbará, pois temos a certeza que falamos, expressamos o que sentimos.

Também me pus a pensar sobre o amor de casal. Em parte ainda sob efeito do filme Amantes (Two Lovers). Sabe? Às vezes me pergunto se em algum momento realmente encontramos um amor arrebatador, que nos complete em cada detalhe. Às vezes tenho a sensação de que a maioria de nós acredita que vá aparecer um par ideal em algum momento e, movidos por essa crença, bem como pelo sentimento não "perder tempo" com as "pessoas erradas", vamos descartando ao longo do tempo as oportunidades de viver com outras pessoas aquilo que acreditamos que ainda não seja o verdadeiro amor. E o tempo vai passando... Passando... E somente depois de algum tempo (quando a vida nos permite chegar até lá), meio cansados e desacreditados, nos dispomos a viver um amor que talvez não seja aquele amor arrebatador, com contornos de ideal, que esperávamos. E, só aí, descobrimos que este amor pode ser o verdadeiro amor e que podemos ser muito felizes com quem não acreditávamos ser o par ideal.

Sabe? Às vezes acho que está tudo errado no nosso ideário. Talvez, não se encontre o verdadeiro amor em uma pessoa específica, como algo fulminante, arrebatador. Acredito que o amor verdadeiro pode ser construído ao lado de uma pessoa que não seja a tal pessoa "encantada", mas que esteja disponível em nossa vida e verdadeiramente disposta a construir algo especial ao nosso lado. Amor é sentimento e sentimento se constrói, dia após dia, não surge pronto. Não estou a defender as uniões arranjadas, forçadas ou negociadas, mas a defender que devemos acreditar mais na força dos sentimentos que podem ser construídos ao lado de quem sentimos algum nível de afeto (ainda que não seja um afeto arrebatador) e se dispõe a nos amar da melhor maneira possível.

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O filme Amantes (Two Lovers) deixa um pouco essa sensação. Ao fim da obra, nosso ideário tradicional, nos conduz a pensar que o personagem principal escolheu casar-se com a mulher que não ama intensamente, mas que o ama verdadeiramente, somente para esquecer a tristeza causada pelo "não" daquela que parecia ser o esperado "amor da sua vida". No faz prever que seu futuro casamento será fadado ao fracasso. Mas despindo-se um pouco desta ideia corrente, é possível pensar que, no fim, o personagem principal, ao dizer "sim" a quem talvez não fosse o esperado "amor de sua vida", talvez tenha feito a escolha de quem acredita que amor se constrói e de que a vida pode ser curta demais para ficar-se à espera de uma suposta pessoa ideal. Ele escolheu viver, se dispôs a construir o sentimento de amor ao lado de uma pessoa que o ama verdadeiramente, mesmo após ter sido abandonado pela mulher que acreditou ser o "amor da sua vida".

Esta é a minha interpretação. O filme não mostra o resultado desta escolha, dando margens para múltiplas interpretações sobre o que ela pode ter resultado no futuro. Mas se pensarmos bem, o filme também não mostra quanto tempo o personagem viveu após esta escolha. Percebe? Às vezes pensamos demais só nas escolhas e nos esquecemos do precário tempo que nos resta de vida. Sobre ele nada sabemos.

Talvez, a vida seja isto, nos darmos conta de que, no fim das contas, não somos eternos, podemos morrer na precocidade dos 25 ou 28 anos, sem termos nos dado oportunidades de viver muitas coisas e de construir muitos sentimentos, inclusive o amor. Não há tempo a perder. Nós e as pessoas que nos cercam podemos partir sem que nos demos conta, enquanto ainda esperamos por coisas que venham a acontecer em nossas vidas e nas delas, acreditando, por mera presunção, que nós e elas viveremos por muito tempo. Que sejamos capazes de nos dispor e de entender que a vida, no fim das contas, é o ar soprado em nossas narinas por Deus e pode ser breve como uma respirada. Tudo que é vivo morre, às vezes muito cedo.

Vá em paz, canalha! Que sua vida tenha sido plena, enquanto durou.

domingo, 18 de agosto de 2013

Metalinguagem esquecida

Chegamos ao ponto.
À indiferença.
Um texto bom ou ruim
Sem qualquer audiência.

Saias curtas em meio a carroceiros,
Posso dizer e você não verá.
Então irei escrever,
Mas você não vai escutar.

A porta bate,
O último que sair apague a luz!
Não apagaram
Então fiquei de voyeur.

Eu ainda falo
Pra quem quiser ouvir,
Mas só tem eu aqui.
Assim é ruim.

A rima é pobre,
Mas nunca foi rica.
Agora é mais flagrante
Que preto não é sua cor favorita.

A história foi escrita.
Venceu quem faz dela sua vida.
Agiu. Levou.
Respeite quem pode chegar onde a gente não chegou...

Faltou poesia,
Sobrou prosa.
Faltou ação.
Não teve paixão.

Agora dá!
Mas não pode mais.
Perdi o voo.
Sobraram navios.

Viva Rio!
Rio de Piracicaba.
Como um menino
Indo pra Pindamonhangaba.

Bom é assim:
Plateia vazia;
Caneta livre.
Só eu li.

Àquele campeão que disse que as melhores corridas dele foram aquelas que ninguém viu.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

É lá! É lá!

É lá que eu deveria estar!

Foi essa a sensação que tive no histórico dia 20 de junho de 2013; dia no qual cerca de 100 mil capixabas foram às ruas da Grande Vitória protestar contra "isto tudo que tá aí". Neste dia eu fui liberado do trabalho às 15 horas, tempo de sobra para me juntar aos manifestantes que iriam sair às 18 horas do campus da UFES. Era lá que meu coração dizia que eu deveria estar. Meu coração. Não minha razão.

Era o dia do "Basta". O dia de mostrar a cara, de dizer ao mundo, àqueles que sabemos quem, que não dá mais e que uma parte considerável dos brasileiros não está tolerando mais "isto tudo que tá aí." Eu estava envolvido emocionalmente e iria me manifestar por ímpeto, por amor à nação, por orgulho ferido como brasileiro. Eu iria por uma questão de pele, visceral. Eu iria só pra poder gritar com o povo que existimos e precisamos ser vistos. Eu iria, mas não fui...

Como sempre, quando coloco minha razão para funcionar, eu me torno um cara de atos lentos. Quando penso demais ajo com delay. Dou respostas lentas. E foi isso que aconteceu. Pensei demais e acabei dentro de um ônibus indo pra Vila Velha às 15 e qualquer coisa da tarde. Comecei a pensar quais resultados concretos ir às ruas traria para a população e aí eu não fui mais. Não fui por falta de coração. Ou será que por excesso de suposta racionalidade?

Pensei que enquanto o povo marchava nas ruas às 20 horas os deputados estavam em suas casas rindo da cara da população, pensando em como o povo é tolo e voltará a votar errado em 2014. Pensei que ir à Assembleia Legislativa quando os representantes do povo não mais lá estivessem seria como que ir a um puteiro sabendo que todas as meninas foram pra casa. É como fazer greve à meia-noite. Vai surtir que efeito? Pensei que ir às ruas tem um valor imenso sob o aspecto de resgatar um pouco do comprometimento do brasileiro com o rumo das coisas e pode efetivamente surtir efeito quando se tem uma bandeira bem definida. Pensei que o povo ter ido às ruas com o rosto pintado pressionando o congresso a derrubar o Collor, bem como anos antes ter ido às ruas exigindo "Diretas Já" só surtiu algum efeito porque as manifestações populares tiveram metas bem traçadas. Pensei que as manifestações dos estudantes do ES em 2005 só conseguiram abaixar as tarifas de ônibus e o passe livre porque a razão das manifestações era clara. Pensei que ir às ruas gritar "basta" contra tudo não tem muito efeito. É simbólico, sem dúvidas, mas pouco efetivo. Pensei que ir às ruas exige um mínimo de bandeira de luta. Metas claras. Pensei que não basta ir às ruas com cartazes de "chega de corrupção" e não pressionar os órgãos públicos responsáveis por combatê-la, por exemplo.

Talvez ter estudado direito me fez ver as coisas sob um prisma mais sistêmico. Explico. Sou um defensor do "sistema". Um defensor do uso dos meios de luta propiciadas pelo sistema. Conhecer um pouco das leis brasileiras me fez entender que, na maioria das vezes, mais faz um cidadão que faz uma denúncia anônima no Ministério Público requerendo investigação e apuração de uma situação de aparente mau uso de dinheiro público do que 1 milhão de pessoas que vão às ruas gritar "Chega de corrupção", mas nem sabem a quem denunciá-la. Não é que uma manifestação não tenha valor. Não é isso. O que quero dizer é que a população faz mais quando denuncia os fatos de que toma conhecimento aos órgãos competentes para apurá-los e se organiza em associações civis para cobrar medidas eficazes junto a esses órgãos. Felizmente temos instrumentos fornecidos pelo próprio sistema para lutar contra a corrupção e outros males que milhares foram às ruas gritar contra. O que falta é fazer uso desses instrumentos de controle social. Saber que há corrupção todos sabemos, o que falta é fazermos uso dos meios existentes para combatê-la. Quantos sequer sabem a que órgão dirigir uma denúncia de irregularidades na atuação de um deputado? Não falta lei e nem sistema pra combater a corrupção. Por isso, acho que ajudo mais ensinando as pessoas sobre as competências de cada órgão público, a quem se dirigir, do que indo pra rua gritar "basta".

Ano que vem voltaremos a eleger corruptos. Elegeremos corruptos que ficaram rindo, do alto de suas coberturas na praia, das 100 mil pessoas que foram às 20 horas protestar/gritar/pedir "pelo amor de Deus" diante de uma assembleia legislativa vazia. Isso fará com que muitos digam que tudo foi em vão. Mas eu que não fui às ruas digo que aqueles que foram não agiram em vão. Ir às ruas é sinal de força, embora não mude muita coisa quando as bandeiras de luta não são bem delimitadas. Direi que perdemos uma boa chance dia 20 de junho de 2013; uma chance de ter abraçado uma grande bandeira que é capaz de mudar profundamente "tudo que tá aí". Poderíamos ter ido às ruas lutando só por "reforma política já". Algo assim é realmente capaz de mexer com o espírito dos corruptos. Tudo que um corrupto não quer é ir contra a opinião popular. Pressionar o Congresso a votar a reforma política com manifestações diárias Brasil afora, como foram os protestos por "Diretas Já" e pela queda do Collor, dá resultado prático. Vide a votação da PEC 37 nesta semana. Vários deputados que eram a favor dela mudaram repentinamente de ideia porque houve pressão popular de todos os lados. É preciso ter racionalidade ao levantar uma bandeira nas ruas. É preciso saber jogar o jogo. Saber "chantagear" os corruptos que fazem tudo para não contrariarem a opinião pública de milhões que foram às ruas. As manifestações populares têm esse poder. Os representantes do Legislativo sabem que nós sabemos o que eles fazem e se valem de nossa falta de organização para continuar fazendo o que fazem.

O povo foi às ruas no dia 20 de junho de 2013 apenas com o coração. Não dá pra ser só assim. Mas é perdoável, afinal, não dá pra todos levantarem uma mesma bandeira em uma manifestação que surgiu de forma tão espontânea. Eu também queria ter ido gritar, botar pra fora. Mas não dá pra ser sempre assim. O erro, a meu ver, é levar pra cada nova manifestação de grande mobilização popular nas ruas algo próximo de 10 a 20 reivindicações. Não dá. Quem tudo quer, nada tem. Melhor seria se todas as novas manifestações Brasil afora tivessem bandeiras nacionais em comum, mas isso é difícil de se pensar quando se fala em movimentos com milhares/milhões de pessoas. É preciso que nesse momento de rara união nacional saibamos lutar por aquelas questões que são mais urgentes aos interesses da população (reforma política, reforma tributária...). É preciso que não desperdicemos esse momento, porque o Congresso tá cagando pra gente e só cede quando é pressionado pela população de maneira reiterada em relação a um tema específico. Quando se luta por melhorias em tudo, corre-se o risco de cair no senso comum, de se perder a razão e não se alcançar nada.

Anote aí. Ano que vem muitos vão dizer que o "gigante voltou a dormir", que foi tudo em vão e voltarão a dizer que "este país não tem jeito", "só tem corrupto", que faltam recursos pra educação, saúde etc. Como disse, penso que 20 de junho de 2013 não terá sido em vão, mas ficará uma sensação de que poderia ter sido melhor aproveitado. Espero que isso motive novas manifestações populares, que possamos aprender com o erro do 20 de junho de 2013 e que a partir disso o brasileiro volte às ruas, só que agora com reivindicações mais claras e pontuais, porque se for pra gritar sempre contra "tudo que tá aí" não vai dar pra mudar muita coisa e vamos nos decepcionar.

In memoriam dos blogs falecidos que ainda sigo na esperança de que "acordem".

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Fala que eu te escuto

- Não existe almoço de graça. (mundo)
- O choro é livre.
- Posso pegar água aqui? (trabalhador)
- Não quero me meter nisso.
- Entre a legalidade e a justiça, deve prevalecer a justiça. (jurista do futebol)
- Amanhã é feriado? Sério?!
- Você vem? (atriz)
- Eu sinceramente ainda não tenho uma posição formada sobre isso.
- Ficou satisfeito com o resultado das eleições? (cidadão)
- Se eu der sorte, antes de chegar em casa eu ainda vejo um acidente.
- Você está acostumado com analogias mal feitas. (teimoso)
- Se forme e depois escreva.
- Você é o Fernando? (clérigo)
- Desconheço. Não fui eu quem fiz não.
- Ficou muito boa! (senhor)
- Me chamo Malcon. Cilenio Malcon.
- E a bonitinha? (Ronaldo)
- Não captou.
- Desafiador. (Kyotto)
- Claro! Negar água a você seria até pecado.
- Os alunos do Darwin não devem comer no RU. (socialista)
- Não penso em boicotar.
- No mundo de hoje todo mundo quer dar uma notícia antes dos outros. (papagaio ético)
- Nem o Jornal Nacional usou essa pesquisa.
- É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar. (facebook)
- E a pipa do vovô?
- London, London. (Caetano)
- Não sei que horas vou sair daqui.

"A grande utopia do homem é ser ouvido." (Nelson Rodrigues em um texto que li, mas não lembro o nome)

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Papel de pão

Prezado,
Às vezes sinto medo de suas inseguranças. Às vezes sinto medo de sua dedicação. Às vezes sinto medo de sua seriedade. Às vezes sinto medo de sua maluquez. Às vezes sinto medo de sua indecisão. Às vezes sinto medo de sua fraqueza. Às vezes sinto medo de sua disposição. Às vezes sinto medo de que você chegue onde quer chegar. Às vezes sinto medo de onde você vai chegar. Às vezes sinto medo dessa sua mania de se atirar desesperadamente acreditando que dá.
Às vezes sinto medo dos outros. Às vezes sinto medo de quem o elogia. Às vezes sinto medo de quem não aposta que você seja capaz. Às vezes sinto medo de quem faz juízos sobre você. Às vezes sinto medo de seus preconceitos. Às vezes sinto medo de suas opiniões. Às vezes sinto medo de seus momentos de fúria. Às vezes sinto medo de sua tranquilidade benevolente. Às vezes sinto medo de seus vícios. Às vezes sinto medo de sua ausência de vícios. Às vezes sinto medo de sua educação. Às vezes sinto medo das mulheres que não beijou. Às vezes sinto medo das mulheres que vão querer beijar você. Às vezes sinto medo de sua omissão. Às vezes sinto medo de seu agir extremado.
Às vezes sinto medo de seus pensamentos. Às vezes sinto medo de seus acertos. Às vezes sinto medo de seus erros. Às vezes sinto medo dela. Às vezes sinto medo daquilo que você não entende. Às vezes sinto medo do senhor seu chefe. Às vezes sinto medo do que você come. Às vezes sinto medo do que você desenha. Às vezes sinto medo das mulheres feias das quais você sente pena. Às vezes sinto medo dos seus momentos de soberba. Às vezes sinto medo do seu grito ausente. Às vezes sinto medo da sua morte. Às vezes sinto medo da sua sorte. Às vezes sinto medo dos seus medos. Às vezes sinto medo.
Às vezes sinto medo de mim.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

[FILÉ COM FRITAS] Fé na bala

[FILÉ]

*Dedicado ao meu amigo Tobs, para quem as postagens deste blog tornaram-se chatas e sem poder de entretenimento...


- Mãeeeeeeeeee, o filé queimou!

Não imaginava que eu demoraria tanto tempo para, enfim, oferecer a vocês o filé que prometi (implicitamente) na postagem "Anedota da vida real", há mais de 1 mês. Tá meio queimado por ter ficado muito tempo no forno, mas foi feito com carinho, espero que gostem...

Depois de todo mundo já ter falado sobre Tropa de Elite 2, acho que chegou a minha vez. Era a última 6ª feira de outubro e eu não precisava ir ao estágio. No cinema: Tropa de Elite 2, lançado há menos de um mês por essas bandas. Infelizmente eu não tinha ninguém para me acompanhar no cinema, afinal, todo mundo já havia visto ou então tinha algo para fazer naquela 6ª feira à tarde. Mas quer saber? Pensei: "Ir sozinho ao cinema não deve ser tão ruim. Deve, inclusive, ter suas vantagens." Fui.

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Eu estava tão empolgado antes do filme que parecia até que eu havia ganhado os ingressos de graça para vê-lo. Em geral eu não curto violência, incluindo nesse rol aqueles UFC's da vida (no máximo eu assisto uma luta de boxe). Mas eu sou sádico por violência nos filmes nacionais (detesto os filmes violentos enlatados, digo, americanos, ou de artes marciais), adoro aquele porradeiro repleto de palavrão falado em bom português, parece até que eu desconto minha violência assistindo-os (na falta de um joão-bobo serve...).

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjp1cwiUXZkI83E2JTyA0RmOHXHtd4AFMhzwvBiTRfYqJtz2Tr4XVI26P9PP4_wcs3-89Mwx98oaJsqgFMg5Go_xGBAR3ZMVPM5HXO0S6QXnjB-3ucFmTSFj4CKajDO8xddo3U3VztpnvTC/s400/ze_pequeno.jpg


Com Tropa de Elite 1 não foi diferente. A violência me seduziu do início ao fim. Apesar disso, eu gostei muito da mensagem, do enredo, do roteiro (sei lá como os críticos de cinema chamam isso). Eu enxerguei o Tropa de Elite 1 mais ou menos assim: "Temos um problema no Rio e a solução é a violência, é meter bala nos vagabundos, é subir no morro e aterrorizar. É fé na bala!" Ou seja, no primeiro filme a solução do problema era simples demais, era até confortante, afinal, a solução parecia ser subir com um grupo do BOPE em cada favela tomada pelo tráfico e atropelar tudo e todos (na verdade a expressão "tomada de favela" não é adequeada, pois só se toma o que antes pertencia a alguém, mas as favelas nunca pertenceram ao Estado, afinal, ele nunca subiu o morro com saúde, educação, saneamento, ele só subiu com polícia - para prender e matar -, portanto, as favelas não foram tomadas do Estado pelo tráfico pelo simples fato de que elas nunca foram do Estado, logo, elas podem ser, no máximo, conquistadas - não reconquistadas - por ele).

http://i1.r7.com/data/files/2C92/94A4/2C81/84DB/012C/9523/4A36/66FE/ocupa%C3%A7%C3%A3o-morro-alem%C3%A3o-tvi-20101128.jpg

E estás a valer. Começa a minha sessão solitária. Eu só queria mais um filme nacional cheio de palavrão e violência (assim como a maioria dos brasileiros que foram ver a continução do Tropa de Elite 1). Eu sabia que provavelmente o 2 não repetiria a violência extrema do 1, por isso eu esperava um filme mais "cabeça", o que poderia colocar todo o roteiro a perder e fazer do filme um grande fiasco para a maioria daqueles milhões que foram ao cinema atrás de violência e de humor sádico (ou você acha que esse filme deu tanta bilheteria porque as pessoas queriam ver um filme "cabeça"? O povo queria violência gratuita, que nem no 1º). Enfim, eu sabia que o 2º não seria tão violento, mas ainda assim eu queria ver algumas cenas memoráveis de socos e palavrões (acho que eu queria mesmo era ver uma partida de rúgbi) para esquecer dos meus pensamentos deprimentes e pessimistas acerca da violência urbana e do narcotráfico. Eu queria ser inundado por aquela fantasiosa fé na bala estampada no Tropa de Elite 1.

E o que eu vi? Polícia corrupta. Política aliada com o narcotráfico. O Estado que reprime também é o Estado que protege o ilícito. Milícias. Morte aos homens de boa vontade. Legislativo sujo. Os interesses escusos da imprensa. Sujeira, merda, caca, fezes, por todo lado. Caos.

Ou seja, o filme que deveria me anestesiar para essa realidade, me levar ao fabuloso mundo de Bambuluá através da violência gratuita, fez sangrar ainda mais as minhas concepções acerca da violência urbana e do narcotráfico. No Tropa 2 o BOPE vira uma máquina de guerra e não soluciona o problema do narcotráfico e da violência urbana? Por quê? Era essa a pergunta que eu não gostaria de me fazer, pois a resposta eu já sabia e o filme fez questão de esfregar na minha cara. Me senti, como estudante das leis, uma peça do sistema corrupto mostrado pelo filme. Me senti desânimado com o Direito. Me senti, mais uma vez, sem força para mudar o mundo. Me lembrei do que dizia um professor meu no 1º semestre de Direito: "Leis são como salsichas; você não sabe como ambas são feitas e é melhor que seja assim".

O filme me fez relembrar o mundo fora daquele cinema vazio. Não deixou soluções anestesiantes para o problema da violência urbana e do narcotráfico como o Tropa de Elite 1. Na verdade, não deixou soluções, ao contrário do 1º, no qual a solução era só meter bala. O filme acabou e eu sentia o peito e a mente pesados. Os olhos pareciam querer marejar. Minhas pernas pesavam ao sair do cinema. Nesse momento descobri que não se deve ver filmes assim sozinho, principalmente no cinema. Detestei o filme pela sinceridade. Eu fui em busca de soluções mentirosas para os problemas sociais que atormentam minha cabeça, e o que achei? Um filme muito real pro meu gosto. Por isso, saí tonto, mas resignado: "Não saio daqui sem sentir um pouco do gosto mentiroso de nossa sociedade!". Fui direto para o McDonald's (o que não fazia há muito tempo) e comi um delicioso Big Mac! Esqueci do mundo lá fora por longos minutos naquele picles, naquele queijo...


(coisa linda do papai...)

Espero que o filme tenha servido ao menos para mostrar aos que foram em busca de violência gratuita (repito, estimo que muita gente) que temos um grande problema social e que esse problema não se resume a fé na bala. Se bem que do jeito que eles são é capaz de terem pensado assim: "Que bom que isso é só no Rio..."

Cerca de um mês após meu "Mc Dia Infeliz" no shopping (em razão do filme), voltei a ter fé na bala (aquela mesma fé anestesiante de antes). Viram que lindo os tanques de guerra no Complexo de favelas do Alemão? Viram como no fim a solução é a violência? Viram como é simples? Viram como a violência da polícia é a solução? A imprensa fortaleceu bastante essa ideia no último mês e parece que muita gente embarcou (esperançoso) nessa, incluindo muitos daqueles que assistiram Tropa de Elite 2. Viram como esse infeliz filme estava errado e o Tropa de Elite 1 estava certo? A solução é meter bala! Né!? Diz que sim, diz...

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Recomendo uma leitura sobre o tema, uma só: Uma guerra pela regeografização do Rio de Janeiro. Entrevista especial com José Cláudio Alves

Um abraço!
Partiu!

domingo, 19 de setembro de 2010

A Igreja Católica precisa mudar?

[POLÊMICO]

Estou numa semana bem inspiradora, seria capaz de escrever uns 4 ou 5 textos com temáticas diferentes, mas o tempo não me permite. Mesmo sem dever, estou aqui, neste momento, somente porque quero dar um pouco mais de tempo à minha vida, deixando-me fazer o que der vontade e entregando-me mais aos impulsos dela (sem rasgação de seda ou quaisquer interesses escusos, dedico essa nova postura às reflexões que tive após ler o texto "Do que quero" do blog "
Lentiflor com Orégano").

Cheguei da igreja há cerca de 15 minutos e vim no caminho de volta pensando loucamente em escrever sobre um tema em especial, a intolerância com a Igreja Católica. Eu jurei a mim mesmo quando comecei o blog que não usaria esse espaço para falar de religião ou futebol, pois são dois temas que geralmente envolvem argumentos muito apaixonados e pouco racionais, criam muita discussão e dificilmente alguém entra nela disposto a ouvir os argumentos alheios e quiçá a mudar de posição. Mas não resisto; ao futebol eu já cedi em umas 3 postagens, agora cedo à religião: seja o que Deus quiser!

Para início de conversa: sou católico e me recuso a dizer-me praticante, pois ou você é católico ou você não é. Se você não acredita nos ideais dessa igreja, não lê a Bíblia, não participa da comunidade de alguma forma (nem que seja indo à igreja) e por isso se diz católico "não-praticante": você é um fanfarrão, pois isso não existe. Em religião, esse tipo de categoria não existe; ter uma religião não é "usa-la" de vez em quando (não é que nem saber falar uma língua estrangeira, por exemplo), é algo que deve fazer parte da sua rotina e não apenas nas datas comemorativas, como no Natal.

Dois. Sou favorável que cada um tenha sua própria religião livremente e sem criticar as alheias, pois religião é algo muito íntimo, que transcende o entendimento puramente racional (o que até dificulta discussões muito científicas sobre o tema). É preciso respeitar aquilo que é capaz de fazer alguém transcender sem entorpecentes, isso é coisa séria. Assim, apesar de achar um tanto quanto triste, respeito a falta de religiosidade de um número cada vez maior de pessoas. O que me interessa é que sua religião pregue o BEM ao próximo ou que você, sem religião, guie suas condutas pela prática do BEM, fora isso eu me reservo no direito de discordar dos rumos da sua vida, o que não significa discriminar. O que importa é a prática do BEM, isso não sou eu quem diz, eu já li isso na Bíblia e no Alcorão (Al BÁCARA - 2ª SURATA - "62. Os fiéis, os judeus, os cristãos, e os sabeus, enfim todos os que crêem em Deus, no Dia do Juízo Final, e praticam o bem, receberão a sua recompensa do seu Senhor e não serão presas do temor, nem se atribuirão."), provável que outros livros sagrados também digam algo parecido.

Penso que você não precisa nem acreditar em um Deus, ir à igreja ou fazer sei lá o quê, você só precisa guiar suas práticas pelo BEM. Posto isso, eu gostaria muito que os fiéis de outras religiões ou os sem religião, respeitassem as religiões alheias...

Minha igreja (a católica) tem dogmas e princípios um tanto rígidos. Muito se discute sobre as posições dela quanto ao celibato, ao homossexualismo, ao divórcio e ao sexo sem fins de procriação. Eu não concordo tanto com todas as posições, mas entendo-as perfeitamente e concordo com a rigidez da igreja. Para exemplificar, vou abordar o tema do sexo sem fins de procriação. Sou jovem, tenho hormônios à flor da pele como qualquer outro, tenho desejos, mas concordo que saí por aí querendo sexo a torto e a direito não é das condutas mais corretas. A Igreja Católica, desde os seus primódios, sempre defendeu a base familiar, então me diz: agora, 2010 anos depois, ela deve mudar de posição, defender a livre prática sexual sem casamento, só porque há menos de um 1 século tornou-se tolerável socialmente sair transando com qualquer um? A igreja não é cega, ela sabe que pessoas pegam AIDS e que os jovens não vão deixar de transar antes de casar só porque a igreja não permite; ela sofre pelos contaminados, mas sabe que deixar transar com preservativo é admitir a prática sexual sem vínculos familiares, o que seria uma afronta à família (aquela mesma que ela defende desde sempre).

Vamos pensar como a Igreja Católica: nosso livro de ensinamentos tem mais de 2010 anos, ele é um dos alicerces de toda a nossa estrutura. Podemos ir contra o que ele dispõe? Abrir precedentes? É claro que MUITAS regras (principalmente do Velho Testamento, pois eram regras de comportamento da época) não se aplicam mais, mas as do Novo Testamento, com a sua licença, estão, em grande parte, válidas, afinal, Jesus vem com um discurso que rebate grande parte dos costumes rígidos do Velho Testamento, ele ensina novos valores, mas ainda assim a família continua sendo protegida. Aposto que alguém já vem com algum exemplo do VELHO TESTAMENTO para tentar derrubar minha argumentação de que a Bíblia se opõe ao sexo antes do casamento. Mas segura sua onda aí, outro dia a gente discute mais sobre a Bíblia, primeiro você lê, depois faz uma análise sistemática (como um todo - NOVO e VELHO TESTAMENTO) do que está escrito e depois vem me dizer se ela se opõe ou não a tal prática, antes disso, guarde seu exemplo.

É claro que seria muito mais cômodo para a igreja ceder ao clamor social, ela ia "ficar bem na foto", ganhar novos fiéis e etc. Mas ela NÃO pode fazer isso, pois ela iria contra um de seus alicerces centrais, a Bíblia, correndo, assim o risco de perder a sua razão de ser. É tão verdade, que mesmo condenado a prática de sexo sem fins de procriação, ela desenvolve, por exemplo, programas de auxílio aos doentes com DST's e AIDS e com as crianças abandonadas por mães adolescentes: ela não se fecha a essas pessoas, apesar de não concordar com o agir que as deixou assim. O mesmo se diga dos gays: nunca vi um aviso na porta da minha igreja proibindo-os de frequentar a comunidade, pelo contrário, devem ter muitos por lá; nunca vi um sermão que dissesse para expulsarmos-os de lá, digo mais, não vejo olhares tortos para eles. Também nunca vi portas fechadas para divorciados e mães solteiras, caso assim fosse, eu e minha mãe nunca teríamos entrado. Então me diz: cadê a intolerância que afirmam que temos com essas pessoas? Uma coisa é se opor a práticas que ferem os ensinamentos da Bíblia, outra coisa é discriminar aqueles que agem assim. A Igreja Católica até pode se opor, mas não discrimina. Sacou?

Você está entendendo? Ela até enxerga as mudanças culturais, mas ela precisa ser engessada, pois a base dela nunca foi o que é socialmente mais bem visto. Ela sempre afrontou grande parte dos hábitos da sociedade ao longo de sua história, isso desde os primórdios, basta lembrar os motivos que levaram Jesus à crucificação. A Igreja Católica não deve ceder à sociedade, mesmo que isso signifique ser alvo de críticas e até de chacotas. Ela não pode se preocupar com o número de fiéis, ela não deve atirar em um de seus pés para atrair mais fiéis, por isso ela perde fiéis (ela sabe disso). A Igreja Católica sabe que aquilo que sempre pregou não pode mudar só por que a sociedade muda. Não é o HOJE que sustenta a Igreja Católica há tanto tempo, mas o SEMPRE. Se fosse pelo HOJE, ela já teria caído há muitos séculos.

Senhores, não se exautem! Eu não sou fascista e nem democrata cristão, mas também não sou tonto a ponto de achar que a minha igreja deve mudar só porque as pessoas querem. Na verdade, o que deve mudar é a postura das pessoas, não a Igreja Católica. As pessoas só devem buscar a Igreja Católica se sentirem-se identificadas com os valores defendidos por ela (ninguém é obrigado a seguir ideais que não quer) e não a Igreja que deve mudar só para PARECER bonita no quadro social fudido que temos. É fato notório que ela deve tentar se aproximar mais das pessoas, mas para isso não precisa mudar suas bases, essas não devem mudar NUNCA, sob pena de fazermos um transplante de cerébro nela e ela deixar de ser a Igreja Católica para tornar-se a Igreja do Querer Social. Peço sua boa vontade para um exercício mental: imagine que num mundo hipotético todas as pessoas concordassem com a Igreja Católica e só fizessem sexo depois do casamento, você acha que o mundo estaria tão zoneado no aspecto familiar e social? Não, né? Pois é, a igreja pensa o mesmo que você, por isso ela não muda, ela quer aquilo que parece melhor para a sociedade. Mesmo que pareça algo utópico.

Enfim, como eu te disse antes, eu não concordo em tudo com a minha Igreja, muitas vezes me pego indo contra o que ela defende, mas ENTENDO perfeitamente a POSIÇÃO dela. Ela precisa manter-se assim, rígida em alguns temas, mesmo eu preferindo (egoísticamente) que não fosse assim, afinal ia doer menos na MINHA consciência algumas condutas. Mas o jogo é esse, as regras já estão na mesa (desde a morte de Cristo), quem quiser aceitá-las venha até a Igreja Católica; quem não quiser: arrume outra Igreja, crie sua própria Igreja (uma que sempre vá apoiar os seus atos) ou não tenha religião alguma (mas pratique o BEM), só não me venha reclamar da minha Igreja: Ah, isso não!

Escrito por um cara que pensou em ser padre, quis ser professor de História e que vem tentando fazer Direito direito.

sábado, 10 de abril de 2010

A resposta pode ser simples

A hora é essa! Enfim, achei uma brecha para vir escrever aqui. Mais de um mês sem escrever... Leitor (ou melhor: pensador amigo) eu juro que tentei, juro que estive muito próximo de escrever, mas os estudos não deixaram. A única exceção foi o dia no qual eu salivava por vir escrever, já estalava os dedos, estava tudo pronto e... minha mãe quis usar o PC, aí eu deixei, afinal, ela quase não usa.

Neste período de ostracismo pensei muitas coisas, acompanhei o blog de todos os meus amigos e vi na lista de blogs do "Lentiflor com Óregano" que eu estava há muito tempo parado, deu vergonha da minha lentidão! Foi bom o tour pelos blogs (obrigado, amigos!), mas estou de volta ao meu lar.

http://blogs.diariodepernambuco.com.br/economia/wp-content/uploads/2008/08/blog.jpg

Vamos lá: Lembra que tema prometi na última postagem? Não? Normal, faz muito tempo que você leu, né? Prometi falar sobre o pseudointelectualismo (como são belas as regras da língua portuguesa...) e aprendi uma coisa sobre prometer temas: nunca faça isso! Você fica preso a um pensamento que não quer sair de uma hora para outra; quando você tem tempo para escrever, ele não vem; quando ele vem, você não tem tempo para escrever. Mas agora vai ( na verdade não sei no que isso vai dar)!

Deixa eu te fazer uma pergunta: Você já reparou que algumas coisas têm uma explicação muito simples e óbvia, mas que apesar disso algumas pessoas tentam explicá-las de modo muito complexo e mirabolante? Não sei você, mas eu fico meio confuso e até um pouco irritado quando isso ocorre, penso: "Meu Deus!!! Será que ninguém percebe que a resposta disso é tão óbvia? É tão simples! Será que eu sou um gênio ou os outros que são muito desatentos? Por que buscam chifres em cabeça de cavalo?" Na verdade, já faz um certo tempo que isso não me aflige tanto, pois passei a observar que isso tinha uma explicação: o pseudointelectualismo.

Vivemos em uma época em que as "verdadeiras" respostas estão na ciência, em que tudo precisa ter uma explicação científica, marginalizando-se outras fontes de saber. Tudo precisa ter uma lógica racional, científica, soar intelectual. Quando digo tudo, é tudo MESMO. Diante disso, não é espantoso vermos todos os dias pipocarem teorias novas sobre coisas óbvias, que não precisam de uma teoria para explicá-las. Ah, pensou em minha Teoria do João-Bobo, né? Não pense nela, eu não estava trabalhando cientificamente nela e nem quis usá-la como única explicação de algo, como fazem os pseudointelectuais.

Como exemplo, cito um exemplo dado por um amigo em uma postagem em outro blog: Você vê um cara de tênis e sem meias, por que você acha que ele está sem meias? Não me surpreenderia se você respondesse que ele está assim por pertencer a uma tribo urbana alternativa. Todavia, as respostas que deveriam vir primeiramente à sua cabeça deveriam ser: "Ele não possui meias" ou "Todas as meias dele estão molhadas". Não parece tão óbvio? Por que complicar? Por que ir tão longe buscar a resposta? A resposta pode não ter nada de intelectual, pode ser simples.

Estamos sendo contaminados com esse intelectualismo barato, que por soar científico nos tem convencido em muitas ocasiões. Eu vejo todos os dias na UFES um bando de pessoas que querem soar intelectuais inventando teorias e sistemas para coisas que não admitem esse tipo de coisa, coisas que não se explicam assim. Vejo pessoas que falam frases de efeito, que soam bonitas e intelectuais, mas que NÃO têm sentido algum. Consideramos intelectuais as pessoas erradas. Será que só eu percebo isso? Não é possível!

Os casos que mais me divertem são os relativos ao intelectualismo no vestuário, explico: Eu caio na gargalhada quando ligo a TV e vejo consultores de moda falando que, por exemplo, listras horizontais paralelas engordam o visual e que as verticais emagrecem (se eu tiver errado, garotas, me corrijam). Que teoria é essa? Ah, tem uma explicação intelectual, isso se baseia em estudos científicos de universidades estrangeiras (mais uma vez uma explicação cietífica para a coisa)... Você realmente acha que isso vai resolver o problema da silhueta? Que não vão perceber que você está um pouco acima do peso? Faça-me o favor! hahaha

Ela tem uns 10 kilos a menos na foto da direita

Olha que ainda nem falei dos blogs que têm por aí... Pseudointelectualismo puro! Estou sendo muito azedo? Se estiver, não é essa a intenção. Se discorda, comente, no final terei prazer em discutir com você as suas ideias. Mas voltando aos blogs, estão inventando de tudo por aí, vendendo gato por lebre, blefando ao som da língua intelectual. Querem dar aspecto científico à muitas besteiras, sabem que só assim vão convencer quem lê, precisa soar científico para convencer.

http://www.humorbabaca.com/upload/fotos/fotos_979_Cao%20intelectual.jpg

Eu faço o possível para manter-me longe dessa praga. Não veja meus pensamentos como explicações que quero vender ao mundo, explicações definitivas (longe disso), por isso são pensamentos abstratos, não uso teorias para explicar coisas (vale a pena ler minha 1ª postagem). Os pseudointelectuais buscam o sentido científico do pseudônimo Don Quasímodo, alguns chegam a dividí-lo em "quase mudo", enquanto, na verdade eu só quis esse nome porque quis algo que soasse incomum, feio. Por que um macaco pensando na foto do perfil? Nenhuma analogia intelectual, só quis ironizar uma vez que eu jogava o jogo WAR e um amigo disse que até mesmo um macaco de camiseta jogaria melhor do que eu, ou seja, apenas quis dar, ironicamente, os créditos do blog ao macaco, afinal, ele é melhor do que eu. Viu? Não é nada científico, não há metáforas intelectuais. É assim que as coisas são na maioria das vezes, só que a gente não tem conseguido perceber isso, nós queremos ver tudo a partir de óculos intelectuais. Por favor, não tente intelectualizar as coisas da vida, tente simplificá-las. As explicações podem ser (e são) óbvias muitas vezes.

Me despeço aqui, na certeza de que preciso falar mais desses patifes pseudointelectuais outro dia! Tenho mais a dizer sobre eles!

PS: O que pode ter me levado a terminar o assunto aqui? Pense! Pense! Responda! Errou. A resposta é: Já são mais de 15 horas e eu ainda não almocei, estou morrendo de fome. Viu? Há explicações simples para as coisas da vida. Mais simples do que a gente imagina. hahaha