sábado, 17 de julho de 2010

Deixando o vício?

Acho que acabou, né? Odeio despedidas, seja de quem ou do quê for. Sempre me bate uma sensação de saudade, mesmo aquilo que tenha sido ruim deixa um certo vazio; por algum motivo que desafia a lógica, mesmo as coisas ruins ou as pessoas que não me trazem grande estima parecem boas e simpáticas na hora da despedida. Até entendo, mas não gosto da sensação de que algo não vai se repetir nunca mais.

http://media.josevitor.blog.br/Imagens/hora_de_dar_tchau.jpghttps://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_ODR9U0ZUr6AeMod1P6Cdv81_N3d16X1-37uUCE1uf3KkvN9a95HfB6wmtv9UTlrGBDPojZhd45fY2VrN689ahjGNec-dJSDEYWEQ19LD-vD1SkSV8iCmpq3BJlzH48SWx-1WvbeAu88/s400/Adeus+amiga.jpeg

Mas dessa vez foi diferente, ela se foi sem deixar muitas saudades. Se foi me deixando a sensação de que foi ruim, o que contraria a minha lógica exposto acima. Sou futebolátra assumido (não daqueles capazes de matar por esse amor, mas apenas de sofrer por ele), logo, a Copa do Mundo representa um momento esperado ansiosamente, é o ápice desse amor, o ápice da loucura que guia os amantes do futebol, comigo não é diferente. Mas essa Copa foi diferente...

A Copa começou com um nível técnico (que não é preciso ser nenhum especialista para saber) fraco, muito ruim. Jogos monótonos; placares apertados; empates sem gols; jogadas sem brilho; parecia uma mulher muito bonita, mas recém-acordada e com os cabelos todos bagunçados. Eu e o mundo todo sabíamos que ela tinha potencial para melhorar (daí a lógica da mulher bonita recém-acordada), afinal, em tese, os melhores do mundo estavam lá, mas isso não se deu da maneira esperada.

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Tudo bem que o nível técnico melhorou após a 1ª rodada, mas ainda era pífio, mesmo para mim, um viciado que tem os seus sentidos e o seu senso crítico um pouco abalados diante da Copa do Mundo. Não digo que não ocorreram jogos emocionantes nessa fase inicial, pelo contrário, ocorreram alguns, mas, Sir, não confunda emoção com qualidade, pois um jogo de futebol pode ser considerado BOM por ser emocionante e ainda assim ter sido em qualidade técnica uma senhora porcaria, assim como um jogo pode ser sem emoção (por exemplo: um time engolir o outro em campo sem dar chances de defesa ao adversário) e ser BOM, em razão da qualidade, em razão da vistosidade do futebol jogado por uma das equipes. Assim, tiveram bons jogos na 1ª fase da Copa, jogos muito emocionantes, mas sem a menor qualidade.

Se foi a 1ª fase, aí pensei: "Será que agora que foram embora os ditos times fracos a Copa terá jogos mais vistosos?" Não. Fui enganado, a melhora foi muito tímida. Eu não vi, mas dizem que Japão e Paraguai personificaram a falta de qualidade dessa Copa em um jogo chato, monótono, estudado, medroso, que só foi decidido nos penaltis, olha que valia uma vaga na próxima fase.

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Foi uma Copa muito estranha! Os sul-americanos (Paraguai e Uruguai) pararam de descer a botinada nos adversários e resolveram "jogar" bola; os africanos jogaram um futebol responsável e tático (bem europeu) e ficaram quase todos na 1ª fase na COPA DO CONTINENTE AFRICANO; os japoneses e os coreanos (do sul, obviamente) conseguiram fazer jogos menos inocentes contra os europeus e até surpreenderam; os alemães jogaram um futebol leve e envolvente como os sul-americanos; os brasileiros começaram a jogar um futebol mais defensivo e previsível; "los pibes" de Maradona começaram a jogar bola após uma eliminatória pífia...

A Jabulani merece até um parágrafo só para ela, talvez tenha sido a maior de todas as esquisitices. Eu acho muito estranho uma bola chamar tanta a atenção em uma Copa do Mundo, é sinal que algo não andava bem. Dizem que ela era leve para aumentar o número de gols e deixar os jogos mais emocionantes, mas me pergunto: se nem ela conseguiu foi porque o negócio tava ruim mesmo. Ela me lembra a fita de Super Nintendo que foi lançada pela FIFA para a Copa de 1994, nos EUA, explico: Não é mistério para ninguém que a Copa de 1994 foi uma tentativa desesperada de popularizar o soccer nos EUA, e parece que tal fita de vídeo game foi no mesmo embalo, por quê? Porque tinha opções de jogo chamadas: "crazy ball" e uma outra que não lembro o nome que descaracterizavam o futebol para agradar os americanos. A "crazy ball" deixava a direção dos chutes tortos e os gols saíam de maneira inesperada e com mais frequência, já a outra opção criava um campo eletromagnético em volta do campo que não deixava a bola sair de campo. Coisas para agradar americano, que nunca entenderam como o mundo inteiro é capaz de amar o soccer, um jogo tão monótono, cujos gols demoram para sair, às vezes nem saem... Pois é, a Jabulani foi uma tentativa, real, de implantar a "crazy ball" e deixar o jogo com mais gols, mas o tiro saiu pela culatra, afinal, ela conseguiu deixar os jogos com ainda menos gols.

Outra bizarrice foi o polvo que adivinhava os jogos, isso mostra o quanto a Copa estava interessante... Pense comigo: quais recordações a Copa da África deixará em sua memória para contar aos netos: a Jabulani (a "crazy ball"); o polvo que adivinhava os jogos; e talvez o som das Vuvuzelas. Futebol mesmo eu garanto que você de pouco lembrará, mas não é culpa sua, o bom futebol esteve ausente a maior parte do tempo. Ah, não serei injusto, contarei aos meus netos (que soberba minha falar de netos nesse estágio da vida...) a história de Uruguai e Gana (um BOM jogo pelo aspecto da emoção, mas também fraco técnicamente), só isso eu lembrarei. Ah tá, lembrarei também de contar da pisada do Felipe Melo no Robben. Só!

http://www.abril.com.br/blog/copa-do-mundo-2010/files/2010/07/polvo-espanha-reuters-550.jpghttp://im.r7.com/outros/files/2C92/94A4/2988/228A/0129/93E5/F1B2/68AD/brasil-melo-pis%C3%A3o-hg-20100702.jpg

Amanhã faz uma semana que a Copa acabou e eu já quase não lembro dela, mal lembro quem ganhou a final. Esse é o capítulo mais trágico! Eu ouvi por 2 anos, desde a Eurocopa 2008, que o futebol espanhol é o melhor do mundo. Me perdoem, eu posso não ser especialista em futebol (apesar de eu acreditar que todos entendem um pouco de futebol, não havendo, assim especialistas, mas homens que ganham dinheiro para falar aquilo que é o óbvio), mas eu tive sono em dois jogos da Espanha, sendo que em um deles, contra a Alemanha, eu "pesquei". Falam do refinado e tático toque de bola espanhol, mas para mim não passa de um time que toca bola eternamente e que NÃO chuta à gol. Eles jogam um futebol burocrático, que toca muito e se der faz gol. Contra a Alemanha tocaram ("magicamente" para os especialistas) por 90 minutos e resolveram o jogo com um gol de cabeça (o que existe de mais bruto e selvagem no futebol) do "técnico" zagueiro Puyol, por que tocar tanto? Para ter que resolver com um gol de zagueiro, de cabeça? Igual fazem os times da Série D, no Brasil? Ah, fala sério... Em tese, o campeão mundial é o melhor do mundo no futebol, mas eu me recuso a considerar merecedor desse título um time que só fez 8 gols em 7 jogos, é como se esse futebol tão superior tivesse ganhado todos os jogos por 1x0. Não me curvo ao título espanhol!


E a Holanda? Desses eu tenho até receio de falar. Futebol robôtico, duro, violento e desleal muitas vezes, nada de especial, só cruzamentos na área e chutes de fora da área. Feio. Ah, mas eles estavem invictos há mais de 15 jogos, e daí? Era um futebol de resultado e só. Em nada lembrava a histórica "laranja mecânica", mesmo os holandeses consideraram essa seleção feia, quem sou eu para ir contra? Apesar disso, eu torci por ela na final, não pelo merecimento, mas pela minha antipatia pelo povo espanhol e para calar os que achavam lindo, esplêndido, delicioso, e técnico o futebol espanhol. Eu confesso que torci pela brutalidade do futebol holandês, pela falta de técnica. Eu quis que o mundo acordasse e visse que a Copa toda foi feia como o futebol holandês. Nada mais justo que o feio vencesse o burocrático.


A final foi como eu esperava: sem emoção, sem graça, chata e (como eu previ) sem gols! Amigo, pense: imagine que você nunca viu futebol e resolve pela primeira vez assistir, escolhe exatamente o jogo final da Copa do Mundo, afinal, em tese, seria o supra-sumo do futebol, o ápice do bom futebol, você iria ver o que o futebol tem em seu melhor. Como você se sentiria após Holanda e Espanha? Eu acho que eu nunca mais iria querer ver futebol. Dois times medrosos em campo, com medo de atacar. Futebol sem objetividade, burocrático. Sem jogadas capazes de tirar aquele suspiro. Futebol sem surpresas, previsível. Futebol defensivo. Faltas em excesso. Nada brilhante. O triunfo da tática sobre a técnica. Juro que chegou uma determinada hora que o meu maior desejo foi o de que alguém (mesmo os espanhóis) fizessem logo o gol só para acabar logo com a tortura. Eu não queria ver tudo decidido, outra vez, nos penaltis! Depois não entendem porque os americanos não gostam de futebol: eles tiveram o prazer de ver uma final de Copa entre Brasil e Itália, em 1994, que terminou em 0x0 após 120 minutos de jogo! E para a surpresa deles ainda tiveram jogadores que conseguiram perder penaltis! Foi muito traumático. Dizia Homer Simpson em um episódio sobre futebol: "Talvez eu dê sorte e consiga ver um gol". A final da Copa de 2010 foi a personificação disso, foi para fechar com chave de bosta uma Copa que foi nesse nível.


Eu, futebólatra, me pergunto: será esse o futuro do futebol? Tática acima da técnica. Eu tive medo nessa Copa, afinal, depois de 12 anos vendo futebol semanalmente, eu, pela primeira vez, consegui visualizar esquemas táticos dentro de campo. Eu vi a Holanda marcando por zona a Espanha! M-E-D-O. Eu nunca observo tática, mas dessa vez tava tudo muito claro, tudo muito mecânico, engessado, era impossível não reparar. Será esse o futuro do futebol? Jogadores brucutus, duros; técnicos obcecados por futebol tático?

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Espero que não! Me sinto como um viciado que foi informado que sua droga vai deixar de ser fabricada do jeito que era, que vai ficar mais fraca. Prefiro acreditar que em 2010 aquela mulher bonita acordou um pouco mais descabelada do que deveria, mas que em 2014 ela voltará a ser bela...

2 comentários:

O Polvo disse...

Concordo com muito do que foi dito. De fato, também achei esta Copa do Mundo tecnicamente patética. Belos dribles neste mundial foram raridades. A ousadia, então, só deu as caras nos momentos de desespero das seleções.

Compartilho ainda da opinião de que a Espanha jogou um futebol burocrático, tanto é que foi a campeã do mundo com o menor número de gols marcados. O futebol espanhol não me pareceu envolvente, mas sim pragmático, medroso e dependente do atacante David Villa, que sozinho fez mais da metade dos gols do time.

Mesmo não sendo muito entendido do assunto, ainda escreveria mais quatro ou cinco parágrafos sobre o que me desagradou nesta Copa do Mundo, mas reservo espaço agora para os aspectos positivos deste mundial.

A começar pela organização sul-africana. Antes do início da Copa colocou-se em dúvida a capacidade dos africanos de receberem um evento esportivo do porte de uma Copa. Mas sim, eles foram capazes. Estruturam o país, não somente no aspecto físico, mas também na questão humana, para receber um mundial de futebol. Quase não se viu, nem se ouviu falar de violência nos estádios, que, por sinal, eram belíssimos e nada deviam aos grandes estádios europeus. Aliás, a Copa da àfrica do Sul, como um todo, não perde em nada para os últimos torneios mundiais.

Voltando especificamente ao futebol, destaco ainda que se esta Copa do Mundo não foi brilhante do ponto de vista técnico (nem do tático), ela seguiu a tradição dos mundias de futebol em nos proporcionar belíssimas imagens, que não necessariamente representam momentos de alegria.

O desespero do atacante uruguaio Luiz Suarez ao impedir com a mão o gol de Gana, seguido da alegria ao ver o pênalti que cometeu essbarrar no travessão do arqueiro uruguaio; o choro incontido do paraguaio Óscar Cardozo (que perdeu um pênalti) ao fim do jogo contra a Espanha, que eliminou o Paraguai; o goleiro alemão Neuer vendo a bola chutada por Frank Lampard ultrapassar a linha de sua meta, na goleada germânica sobre os ingleses. Esses são apenas alguns momentos desta Copa que ficarão gravados por muito tempo nas mentes dos adoradores do futebol.

A mulher bonita, ainda que despenteada, é capaz de nos proporcionar grandes imagens, momentos inesquecíveis.

Continue escrevendo. Tá muito bom.
Abraço.

O Polvo.

Don Quasímodo disse...

Desde já agradeço a honra da sua visita, sr. Polvo!

É bom saber que não fui o único a achar burocrático o dito "revolucionário" futebol espanhol. Por alguns momentos pensei que eu não estivesse vendo os mesmos jogos da Espanha que os comentaristas da Copa estavam.

Quanto aos aspectos positivos do mundial, não nego que eles existiram e digo mais: concordo com você sobre a organização sul-africana. Eu torci para que desse certo e vi algo muito mais bem elaborado do que imaginei ser possível. Tenho até dúvidas sobre a possibilidade de o Brasil lidar até, e durante, 2014 tão bem com alguns problemas quanto os sul-africanos.

Sobre as imagens da Copa, não há dúvidas de que ficarão na memória algumas boas. Mas para mim a maior talvez não esteja entre as que você citou, não tenha sido mostrada dentro de campo, mas fora: destaco a alegria dos estádios, a festa popular em torno desse esporte universal chamado futebol; destaco a farra que os sul-africanos fizeram mesmo nos jogos mais chatos, eles conseguiram contagiar até os frios europeus, que logo aderiram também à moda das vuvuzelas e dos capacetes coloridos. Para mim, apesar de eu ter soado bem azedo no texto quanto às recordações que terei da Copa, a festa popular será a lembrança a mais marcante.

Quanto aos momentos dentro de campo, alguns poucos ficarão para sempre na memória, esta é a razão da minha tristeza de viciado: o fato de que serão POUCOS momentos, muitos POUCOS. Poderiam ter sido mais...

Por fim, acho que você entendeu a estranha analogia com a mulher bonita recém-acordada e despenteada. Ela tem SEMPRE um grande potencial, apesar de nem sempre mostrar-se no ápice de sua beleza.

Volte mais vezes!
Grande Abraço.