sábado, 2 de julho de 2011

[JUBILEU] Xepa

Ele estava em uma semana decisiva em sua vida, mas ainda assim queria encontrar tempo para presenteá-la, o problema era que ele não sabia o que fazer, ou melhor, como fazer. Antes de tudo, precisava encontrá-la, o que não seria nada fácil. Procurou, fuçou, revirou, mas não achou. É... Não tinha muito a se fazer. Apesar disso, sabe como é, né? As vontades têm vida própria e vêm e vão quando bem entendem.

Então, ao fim de mais um incomum dia frio naquela cidade litorânea, sentou-se todo agasalhado à mesa, pegou uma xícara do café requentado do dia anterior e começou a matutar o que poderia fazer para presenteá-la. No frio da madrugada, enquanto o vento travava uma feroz luta contra o vidro das janelas, lá estava ele fazendo fluxogramas, gráficos, mapas... Pensou em chamá-la pra sair: quem sabe uma caminhada na praia ao entardecer? Ou então uma ida ao cinema? Quiçá uma ida ao estádio? Calculou as probabilidades. Poucas. E esbarrou, mais uma vez, na dificuldade em encontrá-la...

Os primeiros raios de sol já viam dançando pelos céus, quando, enfim, Eureka! Chegou a uma ideia após meter a mão nos bolsos do casaco e encontrar alguns Cruzados e duas moedas de centavos de Real. Decidiu presenteá-la com palavras.

Levantou-se rapidamente da mesa. Pegou as chaves sobre o sofá. Desceu os quatro andares de escadas e saiu correndo pelas ruas às 5:30 da manhã. E corria; e como corria! Encarava o vento frio das ruas ainda desertas com o peito. Ia pegando todas as palavras que via nas calçadas, nos letreiros, nos prédios, nos outdoors. Ia correndo sem destino. Correndo. Livre pelas ruas, caçando a liberdade das palavras.

Ao fim de 30 minutos, já havia feito a xepa. Já havia pegado todas as palavras que viu pelas ruas. Palavras simples, sem sofisticação, algumas até erradas. Chegou em casa com a adrenalina à flor da pele e sem esboçar qualquer cansaço, apesar da noite em claro e da caçada enlouquecida pelas ruas. Jogou as palavras todas sobre o papel. E começou.

Foram dias assim. Escrevendo. Escrevendo. Escrevendo. Juntando. Separando. Não dormia. Não sentia fome, nem sede. Alimentava-se das palavras e elas lhe bastavam. Era preciso comemorar o jubileu que se aproximava, preparar uma homenagem para ela. Só pensava nisso e em mais nada. E assim fez. Foram 6 dias assim. Um texto para cada dia. Até chegar a esse aqui. Ele sabia que ela não iria receber a homenagem, mas ainda assim quis fazer uma singela e silenciosa homenagem ao seu jubileu de zircão.

Terminado o último texto, ele pegou as palavras que ainda tinham sobrado e as jogou pela janela, para que voassem. Voassem. Voassem. Voassem. E chegassem ao mais longe que pudessem.

Talvez algum dia ela descobra a homenagem, mas isso não é o mais importante.

Um comentário:

Anônimo disse...

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