A Copa do Mundo me fez adquirir um novo comportamento: não consigo assistir os jogos sofríveis do Campeonato Brasileiro sem fazer alguma outra coisa simultaneamente. Neste momento, enquanto passo os olhos em mais uma derrota do meu time no campeonato brasileiro, escrevo o rascunho da postagem a mão em uma folha de papel.
Tenho muita coisa pra escrever aqui no blog, mas este macaco de camisetas que vos escreve está de mudança para outra cidade em alguns dias em razão da nomeação em um concurso público e por isso está com a cabeça a mil.
Mas então.
O tema desta postagem está meio velho, mas preciso expor minha opinião sobre ele.
Há cerca de um mês, uma garota gaúcha se tornou assunto nacional ao ser flagrada chamando de "macaco", aos gritos, o goleiro Aranha, do time do Santos, durante a vitória desse time por 3x0 sobre a equipe Grêmio, em Porto Alegre/RS.
Esse fato foi amplamente noticiado pela imprensa brasileira, gerando indignação nacional. Resultado: a tal gaúcha foi demitida de seu emprego; teve a casa incendiada por um lunático; está respondendo a inquérito policial; e se tornou alvo de toda sorte de críticas.
Onde quero chegar. Cara, essa gente toda não sabe o que é a atmosfera de um campo de futebol. Não! Não tô dizendo que a gaúcha não praticou um ato de ofensa e tampouco estou apoiando a conduta dela. Mas não consigo ver no ato dela a mesma carga de reprovabilidade que os meios de comunicação deram.
Eu, indivíduo pardo de pai negro, apoiador das cotas raciais e favorável a toda forma de inclusão social da população negra, achei tudo um grande escândalo e espetáculo exagerado.
Quem, como eu, vai ao estádio, ainda que nos estádios amadores do Espírito Santo, sabe que durante uma partida de futebol vive-se tudo muito intensamente (além da racionalidade). Pessoas pacatas são capazes de xingar a mãe do juiz e dos atletas durante todo o jogo, de mandar todos ou alguns dos que estão em campo se foderem (até os jogadores do próprio time). Em resumo, nada é racional em um campo de futebol. Aliás, os próprios jogadores se xingam durante os jogos, tudo para desestabilizar psicologicamente o oponente. As ofensas fazem parte do futebol de maneira tão natural quanto o fato de a bola ser redonda.
Ao pé da letra, xingar o juiz de "filho da puta" é crime, assim como também é chamar um jogador do time adversário de "viado" etc. Mas por que ninguém se revolta com os autores dessas ofensas? É tudo crime, minha gente! Assim como chamar um atleta de "macaco". Só muda o delito, mas são todas condutas criminosas.
GOOOOOOL DO MEU TIME! VAMOS, PORRA! EMPATAMOS O JOGO!
Voltando...
É muita hipocrisia esse povo todo de uma hora para outra achar inaceitável a conduta da gaúcha, mas no domingo essa mesma gente ir no estádio e chamar os jogadores do time adversário de "viados". Ué? "Macaco" não pode, mas chamar de "viado" pode? O peso das ofensas são diferentes?
Onde quero chegar. Pra mim, torcedor é tudo "doente" dentro de um estádio. Alguns mais, outros menos, mas todos "doentes".
GOOOOOOOL DE NOVO! VIRAMOS, CARALHO!
Voltando...
Se a torcida perde o controle racional durante o jogo, quem tem que ser punido pelos excessos é o time. Não UM torcedor individualmente. No caso concreto, o Grêmio foi eliminado da competição por causa do comportamento de sua torcedora e outros ao redor dela. Perfeito! Uma decisão padrão Europa e sem precedentes por aqui, onde tudo acaba em multas ridículas para os times de futebol. Punições ao clubes reprimem os torcedores de fazerem merda.
O torcedor é um "doente" que geralmente ama seu time acima de quase tudo. Por isso, ofende e se excede dentro do estádio. O torcedor prefere não fazer merda e vigiar os outros para também não fazerem se souber que seu time pode ser punido por suas condutas. Já punir UM torcedor individualmente pode até fazer o torcedor punido mudar suas condutas, mas tem efeito quase que nenhum sobre os demais.
Pra mim, foi lamentável a crucificação da gaúcha "doente" pelo Grêmio como se ela fosse uma racista nazista, digna de toda punição. Pra mim, ela errou, cometeu um crime, mas não fez algo que justificasse o tratamento que recebeu de nossa sociedade, que, diga-se de passagem, não é nem um pouco racista em suas práticas cotidianas...
Rotular de racista quem xinga em um campo de futebol, pra mim, é um excesso, haja vista as insanidades que os torcedores gritam sem pensar no calor de partidas de futebol. Veja se isso não é um depoimento de uma pessoa "doente" por um clube:
Ela fala mais do Grêmio, sua paixão, do que efetivamente do que fez. Pra mim, ela é "doente" pelo Grêmio, de fato, e não propriamente uma racista.
E digo mais. É preciso sensibilidade para saber diferenciar a conduta de quem ofende um adversário no calor do jogo daquela conduta de quem, de maneira premeditada, leva uma banana e faixas racistas para um campo de futebol, por exemplo. Pra mim, não dá pra colocar tudo no mesmo balaio.
Porém, infelizmente, nossa sociedade gosta de ser hipócrita, de dar peso igual para coisas diferentes; de achar mais reprovável a conduta individual da gaúcha branca em um campo de futebol do que as condutas de policiais que diariamente discriminam a população negra em suas abordagens de "suspeitos" e dos governantes que fecham os olhos para políticas de inclusão dos negros.
Quem dera se os problemas raciais de nosso país se resumissem a ofensas individuais proferidas por torcedores dentro de estádios de futebol.
A propósito, sabe o jogo que eu tava assistindo enquanto escrevia? Ganhamos daquele time de merda!
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