Aprendi muitas coisas com os blogs que sigo, sobretudo sobre a liberdade de postar o que der na telha, sem compromisso de seguir sempre uma mesma temática e um jeito de escrever. Sinto falta de alguns blogs "inativos", como o Polvo. Por isso, gostaria de neste momento "dar uma" de Polvo, postando sobre algo que muito gostava de ver por lá, textos sobre filmes. Me perdoem a homenagem mal feita e sem conhecimento técnico de cinema.
Inicialmente, é preciso que se fique claro que entendo tanto de cinema quanto uma mulher comumente entende de futebol. Não entendo nada sobre a fotografia de um filme, por exemplo, e tenho dificuldades até mesmo para entender porque um diretor consegue ter tanto destaque se nem é ele que escreve o roteiro. Mas enfim... Vou falar sobre o que eu, leigo, senti de um filme que vi na calada da madrugada do último sábado/domingo (deixando claro que não era o filme "Emanuelle").
Na madrugada do último domingo me peguei vendo na Grobo um filme "feminino" e meio desatualizado: "Cisne Negro". Sim, demoro muito para ver filmes que fizeram sucesso, coisa em torno de anos. Queria entender porque este filme era tão falado.
Dizem que ganhou Oscar, mas ainda não parei pra conferir no Google, porque vai contra o que me propus a fazer aqui: falar só o que eu acho, com a pureza das minhas próprias impressões. Não me proponho a fazer uma sinopse do filme, logo, me parece um texto para quem já viu o filme.
O que me atraiu na chamada do filme foi a palavra perfeição, a busca de uma pessoa pela perfeição. Me identifiquei com a obsessão da personagem em ser perfeita naquilo que fazia. Não entendo nada de balé e tampouco conhecia a tal história dos cisnes, mas me interessei muito pela história do filme. "Cisne Negro" desperta diferentes sensações, a maioria delas ruins, uma agonia tremenda com aquelas viagens da personagem. O tempo todo trafegando entre a linha da realidade e da imaginação, sem que fique claro qual hora você está vendo a Nina delirando ou no mundo real. Até agora não sei muito bem o que era realidade e o que era imaginação dela. Ainda me pergunto se ela realmente morreu no final. Aliás, que final, senhores! Pelo que entendi, na história dos cisnes há uma mulher aprisionada dentro de um cisne e quer se libertar e o filme conseguiu fazer o oposto, ou seja, um cisne querendo se libertar de dentro de uma mulher. Que sacação! Eu diria que genial!
E a atriz? Aquela que não sei o nome. Não vou no google! Nicole Portman? Algo assim. Sei lá. Perfeita. Antes de dizer que ela é uma gata, uma magra com belos seios, preciso dizer que ela é a personificação de uma garota frágil. Perfeita para a Nina. É simplesmente angustiante ver aquela garota tão frágil, inocente e frígida ir se transformando em alguém tão diferente, tão forte, tão viva e ao mesmo tempo...tão morta. Ela começou a morrer no momento em que começou a ser intensa. Foi tão intensa que perdeu o controle da própria vida.
Outra coisa. Não entendo nada de balé, teatro, cinema e afins, mas que agonia que deu sentir que um/uma artista de qualidade pode precisar se "prostituir" para ter uma chance de brilhar; precisar puxar saco, se deixar assediar sexualmente por um diretor ou sei lá o quê. De alguma forma parecia que Nina não sabia dessa realidade, mas quando soube também não fez nada para evitar, se ofereceu ao jogo, embora em muitos momentos pareça estranhar e sentir nojo dessa realidade, se recusando a ceder de alguma forma. Nina é contraditória neste aspecto. Aliás, o que são aquelas cenas da Nina se masturbando e tendo uma relação sexual com sua "rival"? Como é bom ser homem e ver a Nicole (vou chamar ela de Nicole mesmo) fazendo caras e bocas nesta situação. Sem mais. Uma magra muito sensual!
Meu tempo tá acabando, mas preciso destacar que me identifiquei na busca da Nina pela perfeição. Me reconheci na Nina pré mudanças, na Nina disciplinada, mas frígida. Pude perceber que pouco vale ser disciplinado e não sentir o que está fazendo. Há pessoas que são tão boas que conseguem ser perfeitas sem disciplina excessiva, conseguem fazer com naturalidade o que sabem, como a rival da Nina na imaginação dela. E há outras que não são boas, mas que são tão disciplinadas em aprender algo que alguma hora se tornam boas. Apesar disso, de tanta disciplina esses obstinados não conseguem fazer o que aprenderam com naturalidade. A Nina, a meu ver, estava nessa segunda categoria, mas conseguiu chegar ao lado de lá, ingressar no lado dos naturalmente talentosos. É lindo vê-la passar de um lado para o outro gradativamente (junto com o cisne que vai saindo de dentro dela) e chegar à perfeição, mas é triste ver o preço que ela precisou pagar para ser perfeita e mudar de lado.
Amo a perfeição e, infelizmente, acho que ela existe. Acho que a perfeição é alcançada, por aqueles que são disciplinados e sem talento inato, sempre que eles agem no limite, entre o racionalmente possível para a maioria e a linha do até onde estão dispostos a ir por ela. Por isso acho tão bela e desafiante a perfeição, pois as pessoas "comuns" só chegam a ela quando arriscam ir além do que a maioria considera ser seguro ir. Mas o que é a perfeição? Não seria algo muito subjetivo? Pois então, Nina alcançou aquilo que seu diretor julgava ser perfeito. Esse é o risco de se amar a perfeição. O que cada um considera perfeito não é o que todos consideram. Algumas modelos acham que ficam mais próximas da perfeição quando param de comer. Para alcança-la elas acham que precisam ir além da linha do racionalmente possível, ou seja, do que é saudável.
Nadia Comaneci e o 10 perfeito. Detalhe que o placar não estava preparado para marcar uma nota 10 |
De alguma forma, Nina começou a morrer quando foi se aproximando da perfeição, indo além daquilo que poderia conquistar só tendo disciplina. Mas repito, o que é a perfeição? Para mim, leigo em balé, Nina era perfeita desde quando ainda era só uma bailarina normal. Mas para o diretor dela ela não era. Vale a pena ser perfeito? Alcançar a perfeição deve ser como usar crack, deve ser uma sensação boa muito rápida, que logo passa. Vale a pena buscar a perfeição? Se isto for o que te manter vivo, essa busca insana por limites a serem quebrados, talvez valha. Mas de que vale ir morrendo aos poucos para buscá-la? Será que não é melhor ser imperfeito, porém ser uma pessoa viva?
Senna pagou com a vida sua busca pela volta perfeita |
Tudo em 1 hora ou nada. Uma dentro e nada mais.
2 comentários:
Curti. Já tinha visto esse filme há bastante tempo, mas não havia conseguido elaborá-lo desse modo. Gostei. E é Natalie, e não Nicole, rs.
hahaha Quase acertei!
O lado bom da minha demora em ver filmes novos é que quando eu os vejo já nem lembro mais o que falaram deles na época que fizeram sucesso, aí ainda consigo preservar uma certa pureza nas minhas impressões pessoais sobre eles.
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