Escrevo aqui, primeiro, porque ninguém mais lê blogs, então, o que aqui estiver, pouco ou nunca será lido. Blog tornou-se "cringe". Segundamente, se é que essa palavra existe, escrevo porque hoje estou triste e este é o único sentimento que eu realmente não gosto de compartilhar.
Constatei, hoje ainda, que estou cada vez mais calvo. Isto nunca me incomodou verdadeiramente, mas confesso que me assusta em alguma medida observar o quanto meus cabelos estão simplesmente parando de crescer na parte frontal de minha cabeça. Muito rapidamente. Talvez aos 35 eu não terei mais cabelo algum na metade da frente da cabeça. Confesso que essa velocidade me assusta, mais do que o ritmo de derretimento das geleiras e o aquecimento global. Eu espero que até os 35 eu encontre alguém que realmente não se importe de amar um cara calvo.
Por falar nisso, eu acho que sou orgulhoso em alguma medida. Sexo é bom, mas isso não significa que eu deva instalar o Tinder para transar com as pessoas. Por outro lado, eu me considero realmente um cara legal. Talvez isto seja um referencial errado. Mas eu me acho legal (ou acredito demais em quem diz isso sobre mim). E por me achar um cara verdadeiramente legal, eu sou orgulhoso o suficiente para não correr atrás de quem eu acho que possa ter me esnobado. E isso é muito louco, porque eu sou um cara cada vez mais calvo e que, de vez em quando, também precisa transar.
Talvez, mais forte em mim do que o desejo sexual seja o senso de orgulho pessoal, de não me sujeitar a qualquer farelo de afeto por alguns momentos de divertimento. Mas reiterando, eu sou um cara calvo. O que eu penso que sou? O calvo príncipe William? Afinal, o que eu quero nessa vida?
Hoje, descobri que uma pessoa se prostitui. Isso me deixou bem triste. Talvez seja o motivo da minha tristeza de hoje. Eu realmente não consigo julgar. Aliás, nem cabe a mim qualquer tipo de julgamento nesse sentido. Mas eu me sinto triste em pensar que alguém se prostitui por necessidade. É um sentimento de que todos falhamos e não fomos capazes de evitar algo assim. Eu sinto nojo e meu estômago chega revira só de pensar em alguém tendo que se prostituir. Eu tinha vontade de dar tudo que tenho na minha conta pra essa pessoa. Talvez, se eu fosse só na vida, eu faria isso. Prevejo que serei um velho muito solidário, se sozinho eu for.
Nessas horas, eu penso que eu realmente tenho um coração bom. Eu me revolto com coisas que eu deveria me revoltar, me entristeço com coisas que eu deveria me entristecer, mas eu estou preocupantemente calvo. E isso, não é suficiente para resolver meus problemas. Eu realmente nutri algum afeto por todas as pessoas que me disseram que eu seria um cara legal, mas que elas não estavam em um bom momento na vida para se envolver com ninguém. Eu não julgo mais a verdade dessa justificativa, porque não cabe a mim julgar onde mora a verdade no que as pessoas dizem para a gente com ar de verdade. Me resta querer acreditar em todas as pessoas. Eu sempre acredito no que me dizem. E, por isso, eu só fiquei com a parte que me interessa dessas justificativas, qual seja, aquela que diz que eu sou um cara legal. E assim, vocês criaram um monstro, porque nunca me disseram que o problema seria eu ser calvo, magro, pau grande, morar com a mãe, ter paladar infantil, ser muito doce e outros defeitos do tipo. Vocês me enganaram, pois falaram apenas que eu era um cara legal. Deixaram a mim a tarefa de descobrir todo o resto. Triste.
E assim, vamos. Tentando ser menos calvo, menos magro, menos pau grande, menos apegado com a mãe, menos paladar infantil e tentando exercitar um temperamento mais rude e grosseiro. No fim, tudo parece um grande jogo, cujo único sentido seja trabalhar e deixar-se ficar calvo quando a vida quiser deixar. Se tiver como evitar que alguém se prostitua na vida, o faça. Ninguém merece vender o corpo para sobreviver. A mim, resta crescer. Jogar, viver, deixar viver e, porque não, deixar morrer.
Me desculpem, seus cringes. Hoje eu tô triste. Não tenho outro motivo para escrever.